30 de agosto de 2014 • 13h46 • atualizado às 13h51
Mulheres yazidis são vendidas para jihadistas na Síria
Elas são casadas à força na Síria com combatentes do Estado Islâmico
Refugiada yazidi é fotografada em Dohuk; dezenas de mulheres estão sendo escravizadas por jihadistas
Foto: Youssef Boudlal / Reuters
Dezenas de mulheres yazidis capturadas no Iraque pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI) foram obrigadas a se converter ao Islã e vendidas para ser casadas à força na Síria com combatentes deste grupo jihadista, informou uma ONG.
Por sua vez, em um artigo publicado no New York Times, o secretário americano de Estado, John Kerry, defendeu a formação de uma coalizão mundial para lutar contra o EI.
O EI, que semeia o terror nos territórios que controla no Iraque e na Síria, "dividiu entre seus combatentes 300 meninas e mulheres da comunidade yazidi que haviam sido sequestradas no Iraque nas últimas semanas", informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
"Entre estas 300 mulheres, ao menos 27 foram vendidas e casadas" com membros do EI nas províncias setentrionais de Aleppo e Raqa e na de Hasaka (nordeste), informa a ONG, que conta com uma rede de fontes civis, militares e médicas na Síria.
"Cada mulher foi vendida por 1.000 dólares, depois de ter sido convertida ao Islã", disse.
Os yazidis são uma comunidade de língua curda não muçulmana.
O OSDH não sabe se as demais mulheres foram vendidas e forçadas a se casar, mas garante que são consideradas prisioneiras de guerra.
Declarou que há três semanas dignitários árabes e curdos da província de Hasaka tentaram libertar estas mulheres oferecendo dinheiro aos jihadistas com a alegação de que queriam se casar com elas, mas o grupo extremista rejeitou sua oferta.
No dia 12 de agosto, o relator especial da ONU sobre a liberdade de religião e de crenças, Heiner Beilefeldt, disse que se tinha notícia de execuções e sequestros de centenas de mulheres e crianças pelo EI, e de casos de mulheres vendidas a combatentes deste grupo ultrarradical.
O EI segue uma versão do Islã denunciada pela maioria das correntes islamitas. Tanto na Síria quanto no Iraque multiplica as decapitações, os apedrejamentos ou inclusive as crucificações contra os que considera seus inimigos.
A partir de Istambul, um funcionário provincial informou neste sábado que o número de yazidis refugiados na Turquia devido ao avanço dos jihadistas era de 16 mil e pode aumentar ainda mais.
Repercussão internacional
Em uma coluna no New York Times, Kerry pediu uma "resposta unitária liderada pelos Estados Unidos e pela coalizão de nações mais ampla possível" contra o EI, responsável pela decapitação do jornalista americano James Foley, entre outras.
Kerry declarou que tentará junto com o secretário de Defesa, Chuck Hagel, formar esta coalizão coincidindo com a cúpula da Otan prevista para os dias 4 e 5 de setembro. Posteriormente ambos viajarão ao Oriente Médio.
"Não permitiremos que o câncer do EI se estenda a outros países. O mundo pode enfrentar esta praga e no fim vencê-la", disse, afirmando que o EI tem objetivos genocidas.
O presidente americano, Barack Obama, admitiu nesta semana que seu país, que bombardeia os jihadistas no norte do Iraque, ainda não tem uma estratégia para lutar contra eles na Síria.
Mas Kerry afirmou que Obama apresentará um plano durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, cujo país assume a presidência em setembro.
O rei saudita, Abdullah, advertiu durante uma cúpula regional que, se as grandes potências agirem com negligência, os jihadistas "chegarão à Europa em um mês e no mês seguinte aos Estados Unidos".
Em terra, na Síria capacetes azuis filipinos enfrentaram neste sábado rebeldes sírios que os cercavam desde quinta-feira nas Colinas de Golã, fronteiriças com Israel, anunciou o governo filipino.
Um total de 72 capacetes azuis filipinos estavam bloqueados em duas posições por rebeldes, que exigiam que entregassem as armas. Foi possível tirar um dos dois grupos, mas o segundo "é atualmente alvo de um ataque", declarou o ministro filipino da Defesa, Voltaire Gazmin.
Em quase três anos e meio, a violência na Síria deixou 191 mil mortos, segundo a ONU, e fez com que mais da metade dos habitantes abandonassem suas casas.