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Mensagem
por Clermont » Ter Mar 04, 2014 9:49 am
RUSSOFOBIA.
Patrick J. Buchanan - 4 de março de 2014.
Com o envio de tropas russas para a Criméia, nossos falcões da guerra estão cuspindo fogo. A russofobia está desvairada, e as páginas dos editoriais estão em chamas.
Barack Obama deve fazer uma sintonia fina e refletir sobre como os presidentes da Guerra Fria lidaram com choques, de longe mais sérios, com Moscou.
Quando as divisões de tanques do Exército Vermelho esmagaram os combatentes da liberdade húngaros, em 1956, matando 50 mil, Eisenhower não levantou um dedo. Quando Khrushchev construiu o Muro de Berlim, Kennedy foi até Berlim e pronunciou um discurso.
Quando as tropas do Pacto de Varsóvia esmagaram a Primavera de Praga, em 1968, Lyndon Johnson não fez nada. Quando Moscou deu ordens ao general Wojciech Jaruzelski para esmagar o "Solidariedade", Ronald Reagan recusou a assumir compromissos com Varsóvia.
Estes presidentes não viam nenhum interesse vital dos Estados Unidos correndo perigo nestas ações soviéticas, ainda que brutais. Eles percebiam que o tempo estava do nosso lado na Guerra Fria. E a história provou que estavam certos.
Qual é o interesse vital dos Estados Unidos na Criméia? Zero. De Catarina, A Grande, à Khrushchev, a península pertenceu à Rússia. O povo da Criméia é 60 porcento russo étnico.
E se a Criméia votar pela secessão da Ucrânia, com que moral vamos negar-lhes este direito, quando nós bombardeamos a Sérvia por setenta e oito dias para conseguir a secessão do Kosovo?
Por toda a Europa, nações separaram-se desde o fim da Guerra Fria. A partir da União Soviética, Tcheco-Eslováquia e Iugoslávia, surgiram vinte e quatro nações. A Escócia está votando sobre a secessão neste ano. A Catalunha pode ser a próxima.
Porém, hoje, nós temos o Wall Street Journal descrevendo o envio de soldados pela Rússia para ocupar aeródromos na Ucrânia como uma "blitzkrieg" que "leva a guerra até o coração da Europa", embora a Criméia esteja mais a leste, até do que nós costumávamos chamar de Europa Oriental.
O Journal pede que o porta-aviões George W. Bush seja enviado para o Mediterrâneo Oriental e que belonaves da 6ª Esquadra americana sejam enviadas para o Mar Negro.
Mas, por quê? Não temos aliança alguma que exija que enfrentemos a Rússia pela Criméia. Não temos interesse vital nenhum lá. Por quê enviar uma frota, só para parecermos durões, escalar a crise e arriscar um confronto?
O Washington Post chama a ação de Putin de "ato nu de agressão armada no centro da Europa." A Criméia está no centro da Europa? Estamos pagando o preço pelo nosso fracasso em ensinar geografia nas salas de aula.
O Post também pede por um ultimato à Putin: saia da Criméia, ou vamos impor sanções que "afundarão o sistema financeiro russo."
Embora nós e a União Européia possamos arruinar a economia da Rússia e derrubar seu sistema bancário, isto seria sábio? E se Moscou responder cortando os créditos da Ucrânia, cobrando os débitos de Kiev, recusando-se a comprar seus produtos e aumentando o preço do petróleo e do gás?
Isso deixaria a UE e os EUA com a responsabilidade por uma nação lixeira, do tamanho da França e quatro vezes mais numerosa do que a Grécia. Estarão Angela Merkel e a UE dispostos a assumir este ônus, depois de resgatarem os PÌIGS - Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha?
Se chutarmos a Rússia para fora da tenda, para onde achamos que Putin se voltará, se não a China?
Isso não é um apelo para ignorar o que está ocorrendo, mas para compreendê-lo e atuar de acordo com os interesses de longo prazo dos Estados Unidos.
As ações de Putin, embora enervantes, não são irracionais.
Depois de vencer a competição para a Ucrânia juntar-se a sua união alfandegária, chutando uma tímida UE para escanteio com uma oferta de $ 15 bilhões mais um bônus de petróleo e gás subsidiados para Kiev, ele viu sua vitória ser roubada.
Turbas formaram-se na Praça Maidan, ergueram barricadas, enfrentaram a polícia com porretes e coquetéis "molotov", impuseram uma capitulação depois da outra, ao presidente eleito, Viktor Yanukovych, e então o derrubaram, o botaram para correr do país, o "impicharam", capturaram o parlamento, rebaixaram a língua russa e declararam a Ucrânia como parte da Europa.
Para os americanos isso pode parecer democracia em ação. Para Moscou, tem o aspecto de um "Putsch da Cervejaria" bem-sucedido, com até mesmo jornalistas ocidentais reconhecendo que havia neonazistas na Praça Maidan.
Na Criméia e na Ucrânia oriental, russos étnicos viram um presidente que elegeram e um partido que apoiávam, derrubados e substituídos por partidos e políticos hostis à Rússia com a qual eles mantém ancestrais laços culturais, religiosos e históricos.
Mesmo assim, Putin está correndo um risco sério. Se a Rússia anexar a Criméia, nenhuma grande nação reconhecerá isso como legítimo, e ele perderá o restante da Ucrânia, para sempre. Se ele fatiar e anexar a Ucrânia oriental, ele poderá detonar uma guerra civil e uma segunda Guerra Fria.
O tempo não está, necessariamente, do lado de Putin. John Kerry pode estar certo sobre isto.
Mas, quanto aos chamados dos falcões, trazer a Ucrânia e a Geórgia para a OTAN, será dar a estas nações, profundamente dentro do espaço da Rússia, o mesmo tipo de garantias de guerra que o Kaiser deu à Áustria em 1914 e os britânicos deram aos coronéis poloneses em março de 1939.
Estas garantias de guerra levaram a duas guerras mundiais, que os historiadores podem ainda concluir que foram os golpes de morte na civilização ocidental.