RÚSSIA
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Re: RÚSSIA
Já li muitos anos atrás um livro sobre a guerra do Paraguai escrito por um oficial inglês que lutava no exército de Solano López (acho que como mercenário, não me recordo bem, mas havia vários ingleses e outros estrangeiros lutando pelo lado paraguaio no início da guerra). O testemunho dele é muito interessante, por ser de primeira mão e feito por alguém "neutro" que tinha até certas simpatias pelos paraguaios. Os pontos mais importantes dos quais me recordo eram os seguintes:
- O exército do Paraguai tinha algumas coisas interessantes, como promoções à oficialidade apenas por merecimento (enquanto no exército brasileiro da época o que valia era o título e a família). Mas era um exército primitivo, formado em sua maioria por índios que ainda marchavam descalços (em parte por falta de costume no uso de botas, em parte por não haver botas para todos de qualquer jeito, então elas foram proibidas para os praças).
- O Solano López e sua família eram tidos em bem baixa conta pelo autor. Ele descreve o Paraquai como uma grande fazenda de propriedade da família López, que a controlava com mão de ferro totalmente em função de seus interesses pessoais. Estaria mais próximo do que é hoje uma Coréia do Norte do que de uma nação realmente civilizada e avançada.
- A indústria Paraguaia era de inexistente a atrasada, esta história de que seria a nação maia avançada da AS é história da carochinha. Eles não produziam canhões ou qualquer tipo de armamento um pouco mais sofisticado, não tinham estaleiros, os arsenais mal conseguiam produzir munição e armas brancas, e até os uniformes dos oficiais eram feitos com tecidos importados (os soldados no mais das vezes vestiam roupas de tecidos grosseiros). Grande parte das ações dos paraguaios eram justamente dirigidas ao apresamento de equipamentos do inimigo, a própria Batalha do Riachuelo foi uma tentativa deles de tomar os navios de nossa marinha (a nau capitânia da frota paraguaia nesta ação já era um vapor brasileiro apresado).
- Grande parte dos mortos paraguaios civis teria sido por conta de fome e doenças causadas pela desagregação da sociedade e da economia do país em função do recrutamento de soldados e do consumo de recursos para manter a guerra, e não por supostos assassinatos cometidos por brasileiros, argentinos ou uruguaios. O autor do livro não lutou até o final da guerra, abandonou (ou foi capturado, não me lembro) o exército paraguaio após perceber que não existiam mais chances de vitória. Mas sabendo que se fosse derrotado seria provavelmente executado por crimes que suas tropas haviam cometido (e foram muitos, o inglês autor do livro menciona que as ações dos soldados paraguaios eram extremamente bárbaras desde o início do conflito), Solano López ainda estendeu a guerra por alguns anos, sacrificando seu país na tentativa de obter salvação pessoal.
O inglês autor do livro não fala uma palavra sobre a pretensa influência da Inglaterra sobre o Brasil ou a Argentina antes e durante a guerra, com a intenção de prejudicar o Paraguai. Ao contrário, fica claro que a Inglaterra nem se daria ao trabalho de tentar prejudicar uma nação tão atrasada e sem importância, e que a culpa da guerra seria totalmente do próprio Solano López com sua megalomania expansionista. Tanto que no início dos combates o Brasil estaria totalmente despreparado e teria tido enorme dificuldade em montar as forças que enviaria para a ação e em fazê-las chegar até o teatro, algo que não condiz com a idéia de que o país estaria planejando uma agressão por procuração contra o Paraguai. Aliás, que eu me lembre à época as relações entre o Brasil e a Inglaterra nem estavam nos seus melhores dias.
Leandro G. Card
- O exército do Paraguai tinha algumas coisas interessantes, como promoções à oficialidade apenas por merecimento (enquanto no exército brasileiro da época o que valia era o título e a família). Mas era um exército primitivo, formado em sua maioria por índios que ainda marchavam descalços (em parte por falta de costume no uso de botas, em parte por não haver botas para todos de qualquer jeito, então elas foram proibidas para os praças).
- O Solano López e sua família eram tidos em bem baixa conta pelo autor. Ele descreve o Paraquai como uma grande fazenda de propriedade da família López, que a controlava com mão de ferro totalmente em função de seus interesses pessoais. Estaria mais próximo do que é hoje uma Coréia do Norte do que de uma nação realmente civilizada e avançada.
- A indústria Paraguaia era de inexistente a atrasada, esta história de que seria a nação maia avançada da AS é história da carochinha. Eles não produziam canhões ou qualquer tipo de armamento um pouco mais sofisticado, não tinham estaleiros, os arsenais mal conseguiam produzir munição e armas brancas, e até os uniformes dos oficiais eram feitos com tecidos importados (os soldados no mais das vezes vestiam roupas de tecidos grosseiros). Grande parte das ações dos paraguaios eram justamente dirigidas ao apresamento de equipamentos do inimigo, a própria Batalha do Riachuelo foi uma tentativa deles de tomar os navios de nossa marinha (a nau capitânia da frota paraguaia nesta ação já era um vapor brasileiro apresado).
- Grande parte dos mortos paraguaios civis teria sido por conta de fome e doenças causadas pela desagregação da sociedade e da economia do país em função do recrutamento de soldados e do consumo de recursos para manter a guerra, e não por supostos assassinatos cometidos por brasileiros, argentinos ou uruguaios. O autor do livro não lutou até o final da guerra, abandonou (ou foi capturado, não me lembro) o exército paraguaio após perceber que não existiam mais chances de vitória. Mas sabendo que se fosse derrotado seria provavelmente executado por crimes que suas tropas haviam cometido (e foram muitos, o inglês autor do livro menciona que as ações dos soldados paraguaios eram extremamente bárbaras desde o início do conflito), Solano López ainda estendeu a guerra por alguns anos, sacrificando seu país na tentativa de obter salvação pessoal.
O inglês autor do livro não fala uma palavra sobre a pretensa influência da Inglaterra sobre o Brasil ou a Argentina antes e durante a guerra, com a intenção de prejudicar o Paraguai. Ao contrário, fica claro que a Inglaterra nem se daria ao trabalho de tentar prejudicar uma nação tão atrasada e sem importância, e que a culpa da guerra seria totalmente do próprio Solano López com sua megalomania expansionista. Tanto que no início dos combates o Brasil estaria totalmente despreparado e teria tido enorme dificuldade em montar as forças que enviaria para a ação e em fazê-las chegar até o teatro, algo que não condiz com a idéia de que o país estaria planejando uma agressão por procuração contra o Paraguai. Aliás, que eu me lembre à época as relações entre o Brasil e a Inglaterra nem estavam nos seus melhores dias.
Leandro G. Card
- irlan
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Re: RÚSSIA
A Questão Christie tem algo haver com a guerra?*
*Vamos continuar a conversa no tópico correto?
*Vamos continuar a conversa no tópico correto?
Na União Soviética, o político é roubado por VOCÊ!!
- LeandroGCard
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Re: RÚSSIA
Não acredito que tivesse diretamente. E indiretamente seria contra ela, ou pelo menos indicaria que o último país a declarar guerra ao Paraguai para agradar a Inglaterra seria o Brasil .irlan escreveu:A Questão Christie tem algo haver com a guerra?*
*Vamos continuar a conversa no tópico correto?
Leandro G. Card
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Re: RÚSSIA
O autor era inglês, não? fonte fidedigna por natureza..........
Essa história não bate, então para lutar contra índios pé descalços se juntaram Brasil, Argentina e Uruguai?
Vejamos outras fontes:
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http://www.urutagua.uem.br/005/06his_milanesi.htm
1. Introdução
A Guerra do Paraguai, a mais longa e devastadora da história da América do Sul, resultou no aniquilamento do Paraguai, o mais desenvolvido país de toda a América Latina até o início do confronto. Os combates se realizaram na segunda metade da década de 1860 e envolveram as forças armadas do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai.
Antes do conflito, desde o início da re-ocupação do território conhecido hoje como América do Sul, a área da Bacia do rio da Prata – formada pela Argentina, pelo Uruguai e pelo Paraguai, e banhada por rios consideráveis como o Paraná, o Paraguai e o Uruguai – foi sempre muito disputada. No século XIX, a navegação marítima e fluvial predominava sobre os demais meios de transporte. “Com a implantação da navegação a vapor, a região se tornava cada vez mais importante, intensificando-se o movimento comercial nos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e no estuário do Prata.” (CARMO, 1989, p. 45). Daí a importância da Bacia Platina: dela dependia o comércio da Argentina, do Uruguai, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e, principalmente, do Paraguai e do Mato Grosso, que não dispunham de outro meio para alcançar o oceano. Segundo o historiador Pedro Bastos (1983, p. 154), ela também escoava a prata extraída do Peru e da Bolívia.
2. O Modelo Econômico e Social Paraguaio
O primeiro governante do Paraguai foi Gaspar Rodríguez de Francia (1776-1840). Ele governou de 1814 a 1840. Francia tentou estabelecer a livre navegação no Prata, mas os comerciantes dos portos de Buenos Aires e Montevidéu insistiam em cobrar pesadas taxas. Nesta época, A Argentina se recusava a reconhecer a independência do Paraguai. Os poderosos comerciantes do porto de Buenos Aires - o principal da bacia - desejavam reunificar toda a região platina[1]. Isto posto, restou à república guarani trilhar uma política de desenvolvimento auto-sustentado – ao contrário dos demais países da região – na qual o Estado controlava a economia de tal modo que a estrutura sócio-econômica se voltava para os interesses da população e a independência do país. Tal estrutura era livre de burocratas e cortesãos. Para Denise Pereira, “(...) a solução foi uma resposta à ameaça portenha contra a independência paraguaia, e não se deve concluir que o modelo de desenvolvimento econômico foi livre opção de ditadores afeiçoados ao povo”. (PEREIRA, 1987, p. 222).
Francia considerava os grandes proprietários e comerciantes como categorias perigosas, pois eram aliados em potencial de Buenos Aires. Durante sua gestão, o Estado atacou os privilégios dos ricos, as oligarquias de seu país. Ele confiscou as “(...) terras cujo direito de posse as classes proprietárias não puderam comprovar”. (DANTAS, 1989, p. 157). A Igreja Católica foi nacionalizada com o confisco de seus bens e propriedades. Realizou-se a primeira grande reforma agrária da América do Sul: metade das terras foi arrendada a camponeses e indígenas, os quais receberam implementos agrícolas, sementes e cabeças de gado. Havia muitas fazendas sob o controle do Estado.
“Em 1840, o Paraguai praticamente não possuía analfabetos. Seu desenvolvimento agrícola permitia-lhe produzir tudo quanto sua população necessitava e sua atividade industrial era capaz de produzir ferramentas, armas e outros utensílios”. (LUCCI, 1985, p. 36-37). Diante disso, conclui um autor[2] que havia pouca pobreza no país.
O sucessor de Gaspar Rodríguez de Francia, Carlos Antonio López, que permaneceu no poder até 1862, contratou técnicos e enviou centenas de estudantes para o exterior com o objetivo de modernizar a economia. O país atingiu esta meta, a indústria paraguaia tornou-se a mais avançada da América do Sul. Foram instaladas ferrovias, estaleiros, indústrias bélicas, metalúrgicas, têxteis, de calçados, de louças, de materiais de construção, de instrumentos agrícolas, de tintas e de papel, além do telégrafo e da grande Fundição de Ibicuí.
A nação mais desenvolvida da América do Sul protegia a produção local. Assim, a balança comercial era sempre favorável e a moeda era forte e estável. Claudius Ceccon (1986) afirma que as exportações paraguaias valiam duas vezes mais que as importações. Para Eduardo Galeano, a intervenção do Estado na economia era quase total, pois “(...) noventa e oito por cento do território paraguaio era de propriedade pública”. (GALEANO, 1985, p. 207).
O Paraguai havia conseguido eliminar a oligarquia, a escravidão, a violência, a miséria e o analfabetismo. Era o único país sul-americano que tinha uma indústria de base. “O único que não tinha dívida externa ou interna. O único praticamente sem analfabetos”. (CHIAVENATO, 1998, p. 33). A economia crescia sem a interferência de empréstimos estrangeiros. O desenvolvimento econômico autônomo e sustentado do Paraguai era uma exceção na América Latina, uma vez que os demais países recorriam freqüentemente aos banqueiros estrangeiros, notadamente aos ingleses. Enquanto os países aliados, contra os quais ele lutaria na guerra que estava por vir, “(...) tinham suas economias voltadas para o mercado externo, a economia paraguaia voltava-se muito mais para o atendimento das necessidades internas”. (NADAI, 1985, p. 76).
O historiador Júlio José Chiavenato (1998) aponta um problema não superado pelos governantes paraguaios: a inexistência de uma intelectualidade capaz de apreender a natureza do confronto com o capital inglês. Como também não havia uma classe dirigente vinculada aos interesses da nação, a interpretação da conjuntura política internacional teria ficado comprometida, uma vez que os presidentes ficariam praticamente “solitários” à frente do governo. Esta tese, de acordo com nossa “leitura”, é questionável. Seria possível que poucos indivíduos permanecessem “solitários” no comando de um país por cerca de meio século, apoiados apenas pelas massas (não intelectualizadas e afastadas da participação política)?
3. As Forças Armadas
De acordo com Borges Hermida (1986); Boni e Belluci (s/d); e Elian Alabi Lucci (1987), Carlos López aumentou consideravelmente o poder militar de seu país. Ele sabia que a Argentina ambicionava reconstruir o antigo vice-reino do Prata, o que pressupunha a re-anexação da nação guarani. Ao final de seu governo, de acordo com Raymundo Campos (1983), o exército paraguaio era o melhor da América Latina. Seu sucessor, Solano López, deu continuidade a esse trabalho de organização e fortalecimento militar.
3.1 Discordâncias
Pretendemos, neste capítulo, apresentar um levantamento das informações, presentes nos livros por nós analisados, a respeito dos efetivos militares à disposição dos países diretamente envolvidos na guerra da Tríplice Aliança[3] em 1864, às vésperas do conflito. Estes “dados” estão listados na tabela da página seguinte, na qual não estão arroladas as populações das forças armadas da Argentina e do Uruguai devido à escassez destes subsídios em nosso corpus.
Chiavenato acredita que o exército do Paraguai era constituído por cerca de 40 mil homens em 1864; por sua vez, Antaracy Araújo (1985) assegura que tal exército era composto por 100 mil homens. Não há consenso sequer a respeito da população paraguaia da época. Para Max Justo Guedes (1995), ela era formada por 300 a 400 mil habitantes, menos da metade do número divulgado pela maioria dos autores consultados – 800 mil pessoas. A divergência entre as fontes consultadas é tão grande que somos tentados a seguir pelos caminhos do ceticismo. É preciso, entretanto, tentar entender o que determina a multiplicação das divergências e das concepções distorcidas do processo histórico.
TABELA: Comparação das informações sobre os efetivos militares disponíveis no início da campanha
AUTOR
EXÉRCITO PARAGUAIO
EXÉRCITO BRASILEIRO
EXÉRCITO ALIADO
FERREIRA
140 mil (1)
x (2)
x
ARAÚJO
100 mil
x
30 mil
BASTOS
80 mil
x
x
BONI; BELLUCI
80 mil
x
45 mil
HERMIDA
80 mil
17 mil
x
GUEDES
Entre 28 mil e 57 mil + reservistas (entre 20 mil e 28 mil). Total: de 48 mil a 85 mil
17 mil a 20 mil + 200 mil da Guarda Nacional.
Entre 232 mil a 240 mil
NADAI
64 mil
x
27 mil
LUCCI
64 mil
x
x
PEREIRA
64 mil
18 mil
27 mil
SANTOS
64 mil
x
27 mil
COTRIM
60 mil
x
x
CHIAVENATO
40 mil
x
x
LACAMBE
4 vezes o brasileiro
¼ do paraguaio
x
FONTE: Livros didáticos brasileiros de história do Brasil.
NOTAS:
(1) Incluindo a força policial. Entretanto, Ferreira assegura que “o Paraguai, no início das hostilidades, colocou 80 mil soldados em combate”. (FERREIRA, 1986, p. 128).
(2) Utilizamos a letra “x” para indicar que a informação não consta no referido texto.
4. A Reação da Inglaterra
“Durante o século XIX, a Inglaterra foi a potência hegemônica no mundo, ampliando constantemente seu império colonial e impondo sua vontade pela força, especialmente nos países ao sul do Equador”. (CAMPOS, 1983, p. 136). A independência dos países latino-americanos, com a honrosa exceção do Paraguai, o único destes ainda não penetrado pelo capital inglês, não era completa, pois eram dependentes do capitalismo mundial.
A guerra ocorreu num período caracterizado pela expansão da produção e das trocas inglesas e pelo aumento do número dos investimentos britânicos na região. No estuário do Prata, os ingleses realizavam intenso comércio, “(...) exportando seus produtos industrializados e importando matérias-primas. (SANTOS, 1990, p. 51). Na segunda metade do século XIX, do ponto de vista econômico, a Inglaterra substituiu Portugal na condição de metrópole do Brasil, afirma Elza Nadai.
O comércio brasileiro era quase todo feito com a Inglaterra: ela era o principal comprador de café e fornecia a maior parte dos produtos industrializados que se consumiam no Brasil. Além do comércio, as estradas, os bancos e muitas empresas eram inglesas; portanto, os valores e os padrões ingleses acabaram por se impor como modelos para a sociedade brasileira. (NADAI, 1985, p. 74).
Elza Nadai e Elian Lucci (1987) asseguram que o Brasil atuava na região platina, sobretudo quando havia revoltas ou guerras, também como representante dos interesses da Inglaterra. Estes dois países, assim como a França, eram contrários à reunificação dos países platinos, à consolidação de qualquer “grande nação” na região, pois desejavam a livre utilização da rede hidrográfica platina. Foram, portanto, razões comerciais que levaram os governos ingleses a apoiar os movimentos de independência na América Espanhola – inclusive no Paraguai – e no Brasil.
A Inglaterra, no século XIX, exportava aproximadamente 70% da sua produção, constituída por produtos industrializados. Ela necessitava de novos compradores para estas mercadorias e de diversificar suas fontes de suprimento de matérias-prima. Além de não ser um grande exportador destes produtos, nem um voraz consumidor de mercadorias inglesas, o Paraguai impedia a entrada dos capitais provenientes da Grã-Bretanha. Deste modo, seu modelo econômico independente “(...) não era bom para o comércio inglês, que do Paraguai comprava o mate e a ele nada vendia”. (ARAÚJO, 1985, p. 37). José Dantas (1984) afirma que os produtos industrializados do Paraguai já começavam a abastecer a América do Sul. Para outro autor, Elian Lucci (1985), a guerra de Secessão norte-americana lançou a economia britânica em uma crise que acentuou ainda mais sua necessidade de destruir a república guarani, a qual possuía terras férteis e excelentes para o cultivo do algodão – matéria-prima vital para a fortíssima indústria têxtil da Inglaterra, que até então dependera das provisões dos Estados Unidos.
Os capitalistas ingleses estavam inquietos com o perigoso exemplo da experiência paraguaia de desenvolvimento, que poderia influenciar as políticas de outros países sul-americanos. Conseqüentemente, não foi por acaso que tais capitalistas estimularam e alimentaram a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, financiando os aliados – Brasil, Argentina e Uruguai – com grandes empréstimos.
4.1 Imperialismo Inglês Versus Imperialismo de Solano López
Muitos autores discordam da interpretação acima. Diferentemente de nós, eles não incluem os interesses dos capitalistas ingleses entre as principais causas do conflito. Dentre aqueles por nós consultados, integram este grupo os seguintes historiadores: Max Justo Guedes (1995); Américo Lacambe (1979); Arthur da Costa Sobrinho (s/d); Olavo Leonel Ferreira (1986); Álvaro de Alencar (1985); Ana Maria de Morais e Maria Efigênia Lage de Resende (1979); Sérgio Buarque de Holanda (s/d); Vital Darós (s/d); Geraldo Arcênio (s/d); Boni e Belluci (s/d); Milton B. Barbosa Filho e Maria Luiza Santiago Stockler (1988); Borges Hermida (1986); e Lúcia Carpi (1985). Elza Nadai também pode ser incluída graças a um livro publicado em 1985, mas ela muda sua interpretação no livro didático que publica em 1990. Entre os 39 textos consultados, pelo menos 14 pertencem a esse grupo, sendo que 13 deles sequer citam o nome da referida potência.
Em geral, os escritores mencionados no parágrafo anterior substituem a argumentação baseada nas determinações do capitalismo internacional, o qual se manifesta mais claramente nas ações imperialistas da maior potência econômica do planeta, por uma versão que culpa as iniciativas imperialistas de Solano López, realizando a condenação moral deste presidente. Foi interessante constatar que cinco dentre eles não se preocupam em descrever o modelo econômico e social do Paraguai e que três não mencionam as trágicas conseqüências do conflito para a república guarani – lacunas que não verificamos em nenhum dos historiadores esforçados em relacionar a atuação da Inglaterra com a destruição do exemplo paraguaio de desenvolvimento.
Existem, entretanto, estudiosos que combinam os dois fatores para compor suas interpretações.
5. O Projeto de Solano López
Na gestão de Francisco Solano López, a orientação da política econômica do Estado não sofreu grandes modificações. Assim como seu antecessor, ele contratou vários profissionais de alto nível de instrução na Europa para fortalecer o parque industrial de seu país. Eduardo Galeano (1985) assegura que o protecionismo sobre a indústria nacional e o mercado interno foi muito reforçado em 1864. Para Gilberto Cotrim, o objetivo daquele presidente “(...) era fazer do Paraguai um país forte e soberano”. (COTRIM, 1987, p. 54). Mas, em boa medida, o Paraguai já era um país forte e soberano. Quantos países europeus, chamados por nós de desenvolvidos, podiam, em meados do século XIX, afirmar que estavam livres da miséria, da violência e do analfabetismo? Solano López, provavelmente, apenas desejava consolidar o desenvolvimento de seu país.
Mesmo defendendo e realizando o protecionismo econômico, interessava à república guarani ver suas embarcações e mercadorias navegando com liberdade a bacia rio-platense. “Do ponto de vista paraguaio, a independência do Uruguai era a melhor garantia para manter livre o trânsito no estuário do Prata”. (PEREIRA, 1987, p. 222). A independência do Uruguai era vital para a manutenção de um equilíbrio de poderes na região. Tal equilíbrio garantia, na opinião de Solano López, a segurança, a integridade territorial e a independência do Paraguai.
Muitos historiadores declaram que a maior preocupação de Francisco López era garantir o controle sobre os rios platinos ou conseguir uma saída direta para o oceano por meio da ampliação do território paraguaio. Mariana Nunes, por exemplo, sustenta ser isto “(...) imprescindível para a continuidade do processo de modernização do Paraguai”. (NUNES, s/d). É preciso questionar esta afirmação de Nunes e descobrir o quão necessário era para esse país assegurar a comunicação direta com o oceano na gestão de Solano López. Isto é muito importante, pois o argumento utilizado por Mariana Nunes fundamenta uma tese que denominaremos de “Paraguai Maior”.
5.1 Projeto “Paraguai Maior”
“Paraguai Maior” e “Grande Paraguai” são os nomes atribuídos por dezenas de autores aos supostos planos expansionistas de Solano López. Segundo eles, o território deste “Grande Paraguai” se estenderia até o mar. Em verdade, porém, as descrições não coincidem. Osvaldo de Souza, por exemplo, afirma que o “Grande Paraguai” iria dos “Andes ao Atlântico”, “(...) abrangendo o Uruguai, províncias argentinas e, no Brasil, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina”. (SOUZA, 1987, p. 48). De outro lado, Sérgio Buarque de Holanda e Denise Pereira garantem que Solano López desejava incorporar ao seu país apenas “(...) antigas áreas das missões argentinas e das reduções jesuítas no sul do Brasil”. (HOLANDA, s/d, p. 33).
Consultamos cerca de 20 livros didáticos que incluem este projeto de expansão territorial entre as causas fundamentais da guerra. A maioria deles utiliza a expressão “Paraguai Maior” ou a expressão “Grande Paraguai”. Entretanto, nenhum destes historiadores se preocupa em revelar a procedência de tais nomes, o que consideramos uma falha grave de documentação.
6. A Formação da Tríplice Aliança
“Desde sua independência, em 1811, o Paraguai procurou se isolar dos conflitos platinos”. (SILVA, 1994, p. 28) [4]. Francisco Solano López, porém, por considerar fundamental para seu país a manutenção da independência do Uruguai, abandona essa posição de neutralidade e firma com este país um tratado militar de ajuda mútua. Este pacto era conhecido pelo governo brasileiro, pois o presidente paraguaio deixou claro que declararia guerra ao Brasil caso as tropas do Império invadissem o Uruguai.
Em um livro didático publicado em 1989, José Dantas menciona que a Argentina e o Brasil assinaram em 1857, sete anos antes de “explodir” o conflito, “(...) um protocolo secreto onde manifestavam a intenção de se aliarem contra a nação guarani caso esta se recusasse a abrir o rio Paraguai à livre navegação”. (DANTAS, 1989, p. 158).
Renato Mocellin (1985), Claudius Ceccon (1986), Júlio José Chiavenato (1998), José Dantas (1984) e mais um autor[5], cujo nome não conseguimos identificar, destacam o fato de que o Tratado de Tríplice Aliança entre o Império do Brasil, a República Argentina e a República Oriental do Uruguai foi secretamente engendrado um ano antes de sua publicação. Chiavenato (1998) cita documentos – cartas e artigos de jornal – que provam o caso. Segundo Mocellin e Chiavenato (1998), esta farsa tornou-se pública na época, uma vez que vários países “(...) protestaram contra esse plano premeditado de destruir e partilhar o Paraguai”. (MOCELLIN, 1985, p. 33). É certo que a versão oficial dos signatários tenta encobrir o nascimento precoce do pacto.
As bases do Tratado de Tríplice Aliança foram lançadas numa reunião entre José Antônio Saraiva, político brasileiro; Rufino de Elizalde, diplomata argentino; Venâncio Flores, militar e político uruguaio; e o diplomata inglês Thornton. O acordo tinha como seus objetivos principais estabelecer a partilha de uma grande fração do território paraguaio; “(...) tirar do Paraguai a soberania sobre seus rios; (...) responsabilizar o Paraguai por toda a dívida de guerra; não negociar qualquer trégua (...) até a deposição de Solano López”. (CARPI, 1985, p. 158) [6]. Ele estipulava o saque do país e a destruição de suas instalações industriais. Seu texto é contraditório, pois afirma respeitar a integridade territorial da república guarani ao mesmo tempo em que determina unilateralmente novas fronteiras.
7. Os Efeitos da Guerra
7.1 Paraguai
Este país – o qual era o mais desenvolvido da América do Sul antes da guerra – ficou arrasado: sua população foi reduzida a uma pequena parcela e sua economia foi destruída. “Desde então o Paraguai não mais se recuperou, sendo até hoje um dos países mais pobres da América Latina”. (BARBOSA FILHO; STOCKLER; 1988; p. 38). Os vencedores implantaram o “livre-cambismo” e o latifúndio. Tudo foi saqueado e vendido: as terras e as propriedades estatais foram vendidas a capitalistas estrangeiros. Em poucos anos o Paraguai contraiu uma enorme dívida com os ingleses. O país, até mais que o Uruguai, ficou sob a influência e o controle do Brasil.
O conflito entre os aliados e a nação guarani foi um dos maiores massacres da história das Américas. Os historiadores divergem enormemente a respeito do número de mortos e do tamanho do território perdido pelo Paraguai. Morais e Resende (1979) afirmam que, para cumprir o tratado de aliança, a integridade territorial e a independência do Paraguai foram mantidas. Isso é falso. Estas autoras devem partir de um curioso ponto de vista. Para elas, as terras incorporadas pelo Brasil e pela Argentina estariam sob o poder ilegítimo do governo paraguaio ou eram “terras de ninguém”. Somente desta maneira pode-se compreender a posição das autoras e o próprio Tratado da Tríplice Aliança como algo diferente de propaganda cínica.
Chiavenato (1998) e Mocellin (1985) declaram que a república paraguaia perdeu 140 mil km² de terras. Para Dantas (1984), foram 40 mil km². Max Justo Guedes (1995) acredita numa perda de 40% do território. Segundo ele e Costa Sobrinho (s/d), as perdas populacionais do Paraguai foram grosseiramente exageradas pela grande maioria dos historiadores e devem ser de 15% a 20% da população pré-guerra – entre 50 mil e 80 mil mortes. Em geral, os autores informam que mais de 75% dos paraguaios foram mortos.
Ao contrário dos aliados[7], o Paraguai teve de confiar em seu próprio arsenal e estaleiros, pois não comprou armas e navios com dinheiro emprestado em Londres. Infelizmente, ele foi obrigado pelos vencedores a assumir uma pesada dívida de guerra que nunca teve condições de pagar. Muitos anos depois, “(...) os próprios aliados reconheceram que o Paraguai jamais teria condições de saldar as dívidas de guerra e acabaram por perdoá-las”. (NADAI, 1985, p. 78).[8]
7.2 Aliados
O Brasil perdeu muitas vidas e grandes recursos financeiros. “O temor de que os bolivianos ajudassem Solano López levou o governo brasileiro a ceder ao ditador boliviano Melgarejo a região do Acre”. (MOCELLIN, 1985, p. 35). “Para Argentina e Brasil [e também para o Uruguai], a guerra aumentou a dependência ao capital inglês, mas desafogou suas dificuldades financeiras imediatas”. (CHIAVENATO, 1998, p. 93).
O número de negros no Brasil sofreu uma grande queda, uma vez que havia um branco para cada 45 negros nas forças brasileiras. A navegação brasileira dos rios Paraná e Paraguai foi garantida. O Império, de acordo com Eduardo Galeano (1985), ganhou mais de 60 mil km² de território e levou muitos prisioneiros paraguaios como mão de obra escrava. O exército brasileiro ficou mais unido e ganhou importância política. Ele tornou-se um centro de contestação à escravidão e ao Império, e aderiu às campanhas abolicionista e republicana. A guerra do Paraguai foi uma das causas da queda do Império brasileiro.
As províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes tiveram grandes lucros vendendo provisões aos exércitos aliados. A Argentina ficou com 94 mil km² de terra paraguaia, segundo Eduardo Galeano (1985) e Claudius Ceccon (1986).
7.3 Inglaterra
Os bancos ingleses financiaram os aliados e receberam altos juros. “(...) Os prejuízos que os países envolvidos tiveram foram muito maiores do que os benefícios. Só a Inglaterra saiu ganhando, e duplamente: recebeu com juros o dinheiro que havia emprestado (...) e passou a vender seus produtos ao Paraguai”. (PILETTI; PILETTI; 1989, p. 22).
8. Considerações Finais
Classificamos as interpretações da Guerra da Tríplice Aliança em três grupos. No primeiro se encontram aqueles que identificam o “Projeto Paraguai Maior” de Solano López como causa principal do conflito; no segundo, os que afirmam que o conflito foi causado “(...) pelo rompimento da estrutura dominante do imperialismo inglês” (CHIAVENATO, 1998, p. 37); e no terceiro, intermediário entre os outros dois, os historiadores que combinam em suas explicações os interesses de todos os países envolvidos e não apontam uma causa principal.
Não acreditamos nos autores do primeiro grupo. Eles incorrem na ideologia “estatista”, que considera o Estado como um sujeito autônomo. Assim, por exemplo, Mariana Nunes realiza uma inversão de causas e conseqüências ao afirmar que os comerciantes de Buenos Aires impuseram restrições ao comércio paraguaio em represália à política econômica de Francia, “(...) que acabava com o poder de infiltração de Buenos Aires”. (NUNES, s/d). Em nossa interpretação, e também na de Denise Pereira (1987), a política econômica e social de Francia é uma resposta à ameaça portenha contra a autonomia do Paraguai.
Em segundo lugar, não encontramos nada que prove a necessidade absoluta de Solano López ampliar o território paraguaio. Para nós, a presença de um diplomata inglês nas negociações que resultaram no secreto pacto dos aliados não é simples acaso. O nome Tríplice Aliança esconde a existência de uma outra aliança presidida pela Inglaterra. Sabe-se que a participação das forças do Uruguai foi quase insignificante se comparada com a ajuda dos empréstimos ingleses aos países aliados. Os aliados provavelmente não seriam os vencedores sem este apoio.
Encontramos contradições e, principalmente, lacunas nos livros didáticos. Estas obras apresentam muito resumidamente os temas. A documentação praticamente inexiste neles. Desta forma, o risco de realizar simplificações é bastante grande. Apenas uma pequena fração dos autores se preocupa em apresentar o conteúdo de forma não dogmática, mostrando as diferentes interpretações existentes. Alguns realizam isto de maneira atrapalhada ao oferecer textos contraditórios entre si.
Seria muito interessante realizar um estudo que comparasse as interpretações da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai apresentadas pelos livros didáticos paraguaios com as interpretações apresentadas pelos livros didáticos brasileiros. Isto nos ajudaria a compreender a influência do sentimento nacionalista e do etnocentrismo na elaboração dos textos dos historiadores.
Essa história não bate, então para lutar contra índios pé descalços se juntaram Brasil, Argentina e Uruguai?
Vejamos outras fontes:
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http://www.urutagua.uem.br/005/06his_milanesi.htm
1. Introdução
A Guerra do Paraguai, a mais longa e devastadora da história da América do Sul, resultou no aniquilamento do Paraguai, o mais desenvolvido país de toda a América Latina até o início do confronto. Os combates se realizaram na segunda metade da década de 1860 e envolveram as forças armadas do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai.
Antes do conflito, desde o início da re-ocupação do território conhecido hoje como América do Sul, a área da Bacia do rio da Prata – formada pela Argentina, pelo Uruguai e pelo Paraguai, e banhada por rios consideráveis como o Paraná, o Paraguai e o Uruguai – foi sempre muito disputada. No século XIX, a navegação marítima e fluvial predominava sobre os demais meios de transporte. “Com a implantação da navegação a vapor, a região se tornava cada vez mais importante, intensificando-se o movimento comercial nos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e no estuário do Prata.” (CARMO, 1989, p. 45). Daí a importância da Bacia Platina: dela dependia o comércio da Argentina, do Uruguai, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e, principalmente, do Paraguai e do Mato Grosso, que não dispunham de outro meio para alcançar o oceano. Segundo o historiador Pedro Bastos (1983, p. 154), ela também escoava a prata extraída do Peru e da Bolívia.
2. O Modelo Econômico e Social Paraguaio
O primeiro governante do Paraguai foi Gaspar Rodríguez de Francia (1776-1840). Ele governou de 1814 a 1840. Francia tentou estabelecer a livre navegação no Prata, mas os comerciantes dos portos de Buenos Aires e Montevidéu insistiam em cobrar pesadas taxas. Nesta época, A Argentina se recusava a reconhecer a independência do Paraguai. Os poderosos comerciantes do porto de Buenos Aires - o principal da bacia - desejavam reunificar toda a região platina[1]. Isto posto, restou à república guarani trilhar uma política de desenvolvimento auto-sustentado – ao contrário dos demais países da região – na qual o Estado controlava a economia de tal modo que a estrutura sócio-econômica se voltava para os interesses da população e a independência do país. Tal estrutura era livre de burocratas e cortesãos. Para Denise Pereira, “(...) a solução foi uma resposta à ameaça portenha contra a independência paraguaia, e não se deve concluir que o modelo de desenvolvimento econômico foi livre opção de ditadores afeiçoados ao povo”. (PEREIRA, 1987, p. 222).
Francia considerava os grandes proprietários e comerciantes como categorias perigosas, pois eram aliados em potencial de Buenos Aires. Durante sua gestão, o Estado atacou os privilégios dos ricos, as oligarquias de seu país. Ele confiscou as “(...) terras cujo direito de posse as classes proprietárias não puderam comprovar”. (DANTAS, 1989, p. 157). A Igreja Católica foi nacionalizada com o confisco de seus bens e propriedades. Realizou-se a primeira grande reforma agrária da América do Sul: metade das terras foi arrendada a camponeses e indígenas, os quais receberam implementos agrícolas, sementes e cabeças de gado. Havia muitas fazendas sob o controle do Estado.
“Em 1840, o Paraguai praticamente não possuía analfabetos. Seu desenvolvimento agrícola permitia-lhe produzir tudo quanto sua população necessitava e sua atividade industrial era capaz de produzir ferramentas, armas e outros utensílios”. (LUCCI, 1985, p. 36-37). Diante disso, conclui um autor[2] que havia pouca pobreza no país.
O sucessor de Gaspar Rodríguez de Francia, Carlos Antonio López, que permaneceu no poder até 1862, contratou técnicos e enviou centenas de estudantes para o exterior com o objetivo de modernizar a economia. O país atingiu esta meta, a indústria paraguaia tornou-se a mais avançada da América do Sul. Foram instaladas ferrovias, estaleiros, indústrias bélicas, metalúrgicas, têxteis, de calçados, de louças, de materiais de construção, de instrumentos agrícolas, de tintas e de papel, além do telégrafo e da grande Fundição de Ibicuí.
A nação mais desenvolvida da América do Sul protegia a produção local. Assim, a balança comercial era sempre favorável e a moeda era forte e estável. Claudius Ceccon (1986) afirma que as exportações paraguaias valiam duas vezes mais que as importações. Para Eduardo Galeano, a intervenção do Estado na economia era quase total, pois “(...) noventa e oito por cento do território paraguaio era de propriedade pública”. (GALEANO, 1985, p. 207).
O Paraguai havia conseguido eliminar a oligarquia, a escravidão, a violência, a miséria e o analfabetismo. Era o único país sul-americano que tinha uma indústria de base. “O único que não tinha dívida externa ou interna. O único praticamente sem analfabetos”. (CHIAVENATO, 1998, p. 33). A economia crescia sem a interferência de empréstimos estrangeiros. O desenvolvimento econômico autônomo e sustentado do Paraguai era uma exceção na América Latina, uma vez que os demais países recorriam freqüentemente aos banqueiros estrangeiros, notadamente aos ingleses. Enquanto os países aliados, contra os quais ele lutaria na guerra que estava por vir, “(...) tinham suas economias voltadas para o mercado externo, a economia paraguaia voltava-se muito mais para o atendimento das necessidades internas”. (NADAI, 1985, p. 76).
O historiador Júlio José Chiavenato (1998) aponta um problema não superado pelos governantes paraguaios: a inexistência de uma intelectualidade capaz de apreender a natureza do confronto com o capital inglês. Como também não havia uma classe dirigente vinculada aos interesses da nação, a interpretação da conjuntura política internacional teria ficado comprometida, uma vez que os presidentes ficariam praticamente “solitários” à frente do governo. Esta tese, de acordo com nossa “leitura”, é questionável. Seria possível que poucos indivíduos permanecessem “solitários” no comando de um país por cerca de meio século, apoiados apenas pelas massas (não intelectualizadas e afastadas da participação política)?
3. As Forças Armadas
De acordo com Borges Hermida (1986); Boni e Belluci (s/d); e Elian Alabi Lucci (1987), Carlos López aumentou consideravelmente o poder militar de seu país. Ele sabia que a Argentina ambicionava reconstruir o antigo vice-reino do Prata, o que pressupunha a re-anexação da nação guarani. Ao final de seu governo, de acordo com Raymundo Campos (1983), o exército paraguaio era o melhor da América Latina. Seu sucessor, Solano López, deu continuidade a esse trabalho de organização e fortalecimento militar.
3.1 Discordâncias
Pretendemos, neste capítulo, apresentar um levantamento das informações, presentes nos livros por nós analisados, a respeito dos efetivos militares à disposição dos países diretamente envolvidos na guerra da Tríplice Aliança[3] em 1864, às vésperas do conflito. Estes “dados” estão listados na tabela da página seguinte, na qual não estão arroladas as populações das forças armadas da Argentina e do Uruguai devido à escassez destes subsídios em nosso corpus.
Chiavenato acredita que o exército do Paraguai era constituído por cerca de 40 mil homens em 1864; por sua vez, Antaracy Araújo (1985) assegura que tal exército era composto por 100 mil homens. Não há consenso sequer a respeito da população paraguaia da época. Para Max Justo Guedes (1995), ela era formada por 300 a 400 mil habitantes, menos da metade do número divulgado pela maioria dos autores consultados – 800 mil pessoas. A divergência entre as fontes consultadas é tão grande que somos tentados a seguir pelos caminhos do ceticismo. É preciso, entretanto, tentar entender o que determina a multiplicação das divergências e das concepções distorcidas do processo histórico.
TABELA: Comparação das informações sobre os efetivos militares disponíveis no início da campanha
AUTOR
EXÉRCITO PARAGUAIO
EXÉRCITO BRASILEIRO
EXÉRCITO ALIADO
FERREIRA
140 mil (1)
x (2)
x
ARAÚJO
100 mil
x
30 mil
BASTOS
80 mil
x
x
BONI; BELLUCI
80 mil
x
45 mil
HERMIDA
80 mil
17 mil
x
GUEDES
Entre 28 mil e 57 mil + reservistas (entre 20 mil e 28 mil). Total: de 48 mil a 85 mil
17 mil a 20 mil + 200 mil da Guarda Nacional.
Entre 232 mil a 240 mil
NADAI
64 mil
x
27 mil
LUCCI
64 mil
x
x
PEREIRA
64 mil
18 mil
27 mil
SANTOS
64 mil
x
27 mil
COTRIM
60 mil
x
x
CHIAVENATO
40 mil
x
x
LACAMBE
4 vezes o brasileiro
¼ do paraguaio
x
FONTE: Livros didáticos brasileiros de história do Brasil.
NOTAS:
(1) Incluindo a força policial. Entretanto, Ferreira assegura que “o Paraguai, no início das hostilidades, colocou 80 mil soldados em combate”. (FERREIRA, 1986, p. 128).
(2) Utilizamos a letra “x” para indicar que a informação não consta no referido texto.
4. A Reação da Inglaterra
“Durante o século XIX, a Inglaterra foi a potência hegemônica no mundo, ampliando constantemente seu império colonial e impondo sua vontade pela força, especialmente nos países ao sul do Equador”. (CAMPOS, 1983, p. 136). A independência dos países latino-americanos, com a honrosa exceção do Paraguai, o único destes ainda não penetrado pelo capital inglês, não era completa, pois eram dependentes do capitalismo mundial.
A guerra ocorreu num período caracterizado pela expansão da produção e das trocas inglesas e pelo aumento do número dos investimentos britânicos na região. No estuário do Prata, os ingleses realizavam intenso comércio, “(...) exportando seus produtos industrializados e importando matérias-primas. (SANTOS, 1990, p. 51). Na segunda metade do século XIX, do ponto de vista econômico, a Inglaterra substituiu Portugal na condição de metrópole do Brasil, afirma Elza Nadai.
O comércio brasileiro era quase todo feito com a Inglaterra: ela era o principal comprador de café e fornecia a maior parte dos produtos industrializados que se consumiam no Brasil. Além do comércio, as estradas, os bancos e muitas empresas eram inglesas; portanto, os valores e os padrões ingleses acabaram por se impor como modelos para a sociedade brasileira. (NADAI, 1985, p. 74).
Elza Nadai e Elian Lucci (1987) asseguram que o Brasil atuava na região platina, sobretudo quando havia revoltas ou guerras, também como representante dos interesses da Inglaterra. Estes dois países, assim como a França, eram contrários à reunificação dos países platinos, à consolidação de qualquer “grande nação” na região, pois desejavam a livre utilização da rede hidrográfica platina. Foram, portanto, razões comerciais que levaram os governos ingleses a apoiar os movimentos de independência na América Espanhola – inclusive no Paraguai – e no Brasil.
A Inglaterra, no século XIX, exportava aproximadamente 70% da sua produção, constituída por produtos industrializados. Ela necessitava de novos compradores para estas mercadorias e de diversificar suas fontes de suprimento de matérias-prima. Além de não ser um grande exportador destes produtos, nem um voraz consumidor de mercadorias inglesas, o Paraguai impedia a entrada dos capitais provenientes da Grã-Bretanha. Deste modo, seu modelo econômico independente “(...) não era bom para o comércio inglês, que do Paraguai comprava o mate e a ele nada vendia”. (ARAÚJO, 1985, p. 37). José Dantas (1984) afirma que os produtos industrializados do Paraguai já começavam a abastecer a América do Sul. Para outro autor, Elian Lucci (1985), a guerra de Secessão norte-americana lançou a economia britânica em uma crise que acentuou ainda mais sua necessidade de destruir a república guarani, a qual possuía terras férteis e excelentes para o cultivo do algodão – matéria-prima vital para a fortíssima indústria têxtil da Inglaterra, que até então dependera das provisões dos Estados Unidos.
Os capitalistas ingleses estavam inquietos com o perigoso exemplo da experiência paraguaia de desenvolvimento, que poderia influenciar as políticas de outros países sul-americanos. Conseqüentemente, não foi por acaso que tais capitalistas estimularam e alimentaram a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, financiando os aliados – Brasil, Argentina e Uruguai – com grandes empréstimos.
4.1 Imperialismo Inglês Versus Imperialismo de Solano López
Muitos autores discordam da interpretação acima. Diferentemente de nós, eles não incluem os interesses dos capitalistas ingleses entre as principais causas do conflito. Dentre aqueles por nós consultados, integram este grupo os seguintes historiadores: Max Justo Guedes (1995); Américo Lacambe (1979); Arthur da Costa Sobrinho (s/d); Olavo Leonel Ferreira (1986); Álvaro de Alencar (1985); Ana Maria de Morais e Maria Efigênia Lage de Resende (1979); Sérgio Buarque de Holanda (s/d); Vital Darós (s/d); Geraldo Arcênio (s/d); Boni e Belluci (s/d); Milton B. Barbosa Filho e Maria Luiza Santiago Stockler (1988); Borges Hermida (1986); e Lúcia Carpi (1985). Elza Nadai também pode ser incluída graças a um livro publicado em 1985, mas ela muda sua interpretação no livro didático que publica em 1990. Entre os 39 textos consultados, pelo menos 14 pertencem a esse grupo, sendo que 13 deles sequer citam o nome da referida potência.
Em geral, os escritores mencionados no parágrafo anterior substituem a argumentação baseada nas determinações do capitalismo internacional, o qual se manifesta mais claramente nas ações imperialistas da maior potência econômica do planeta, por uma versão que culpa as iniciativas imperialistas de Solano López, realizando a condenação moral deste presidente. Foi interessante constatar que cinco dentre eles não se preocupam em descrever o modelo econômico e social do Paraguai e que três não mencionam as trágicas conseqüências do conflito para a república guarani – lacunas que não verificamos em nenhum dos historiadores esforçados em relacionar a atuação da Inglaterra com a destruição do exemplo paraguaio de desenvolvimento.
Existem, entretanto, estudiosos que combinam os dois fatores para compor suas interpretações.
5. O Projeto de Solano López
Na gestão de Francisco Solano López, a orientação da política econômica do Estado não sofreu grandes modificações. Assim como seu antecessor, ele contratou vários profissionais de alto nível de instrução na Europa para fortalecer o parque industrial de seu país. Eduardo Galeano (1985) assegura que o protecionismo sobre a indústria nacional e o mercado interno foi muito reforçado em 1864. Para Gilberto Cotrim, o objetivo daquele presidente “(...) era fazer do Paraguai um país forte e soberano”. (COTRIM, 1987, p. 54). Mas, em boa medida, o Paraguai já era um país forte e soberano. Quantos países europeus, chamados por nós de desenvolvidos, podiam, em meados do século XIX, afirmar que estavam livres da miséria, da violência e do analfabetismo? Solano López, provavelmente, apenas desejava consolidar o desenvolvimento de seu país.
Mesmo defendendo e realizando o protecionismo econômico, interessava à república guarani ver suas embarcações e mercadorias navegando com liberdade a bacia rio-platense. “Do ponto de vista paraguaio, a independência do Uruguai era a melhor garantia para manter livre o trânsito no estuário do Prata”. (PEREIRA, 1987, p. 222). A independência do Uruguai era vital para a manutenção de um equilíbrio de poderes na região. Tal equilíbrio garantia, na opinião de Solano López, a segurança, a integridade territorial e a independência do Paraguai.
Muitos historiadores declaram que a maior preocupação de Francisco López era garantir o controle sobre os rios platinos ou conseguir uma saída direta para o oceano por meio da ampliação do território paraguaio. Mariana Nunes, por exemplo, sustenta ser isto “(...) imprescindível para a continuidade do processo de modernização do Paraguai”. (NUNES, s/d). É preciso questionar esta afirmação de Nunes e descobrir o quão necessário era para esse país assegurar a comunicação direta com o oceano na gestão de Solano López. Isto é muito importante, pois o argumento utilizado por Mariana Nunes fundamenta uma tese que denominaremos de “Paraguai Maior”.
5.1 Projeto “Paraguai Maior”
“Paraguai Maior” e “Grande Paraguai” são os nomes atribuídos por dezenas de autores aos supostos planos expansionistas de Solano López. Segundo eles, o território deste “Grande Paraguai” se estenderia até o mar. Em verdade, porém, as descrições não coincidem. Osvaldo de Souza, por exemplo, afirma que o “Grande Paraguai” iria dos “Andes ao Atlântico”, “(...) abrangendo o Uruguai, províncias argentinas e, no Brasil, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina”. (SOUZA, 1987, p. 48). De outro lado, Sérgio Buarque de Holanda e Denise Pereira garantem que Solano López desejava incorporar ao seu país apenas “(...) antigas áreas das missões argentinas e das reduções jesuítas no sul do Brasil”. (HOLANDA, s/d, p. 33).
Consultamos cerca de 20 livros didáticos que incluem este projeto de expansão territorial entre as causas fundamentais da guerra. A maioria deles utiliza a expressão “Paraguai Maior” ou a expressão “Grande Paraguai”. Entretanto, nenhum destes historiadores se preocupa em revelar a procedência de tais nomes, o que consideramos uma falha grave de documentação.
6. A Formação da Tríplice Aliança
“Desde sua independência, em 1811, o Paraguai procurou se isolar dos conflitos platinos”. (SILVA, 1994, p. 28) [4]. Francisco Solano López, porém, por considerar fundamental para seu país a manutenção da independência do Uruguai, abandona essa posição de neutralidade e firma com este país um tratado militar de ajuda mútua. Este pacto era conhecido pelo governo brasileiro, pois o presidente paraguaio deixou claro que declararia guerra ao Brasil caso as tropas do Império invadissem o Uruguai.
Em um livro didático publicado em 1989, José Dantas menciona que a Argentina e o Brasil assinaram em 1857, sete anos antes de “explodir” o conflito, “(...) um protocolo secreto onde manifestavam a intenção de se aliarem contra a nação guarani caso esta se recusasse a abrir o rio Paraguai à livre navegação”. (DANTAS, 1989, p. 158).
Renato Mocellin (1985), Claudius Ceccon (1986), Júlio José Chiavenato (1998), José Dantas (1984) e mais um autor[5], cujo nome não conseguimos identificar, destacam o fato de que o Tratado de Tríplice Aliança entre o Império do Brasil, a República Argentina e a República Oriental do Uruguai foi secretamente engendrado um ano antes de sua publicação. Chiavenato (1998) cita documentos – cartas e artigos de jornal – que provam o caso. Segundo Mocellin e Chiavenato (1998), esta farsa tornou-se pública na época, uma vez que vários países “(...) protestaram contra esse plano premeditado de destruir e partilhar o Paraguai”. (MOCELLIN, 1985, p. 33). É certo que a versão oficial dos signatários tenta encobrir o nascimento precoce do pacto.
As bases do Tratado de Tríplice Aliança foram lançadas numa reunião entre José Antônio Saraiva, político brasileiro; Rufino de Elizalde, diplomata argentino; Venâncio Flores, militar e político uruguaio; e o diplomata inglês Thornton. O acordo tinha como seus objetivos principais estabelecer a partilha de uma grande fração do território paraguaio; “(...) tirar do Paraguai a soberania sobre seus rios; (...) responsabilizar o Paraguai por toda a dívida de guerra; não negociar qualquer trégua (...) até a deposição de Solano López”. (CARPI, 1985, p. 158) [6]. Ele estipulava o saque do país e a destruição de suas instalações industriais. Seu texto é contraditório, pois afirma respeitar a integridade territorial da república guarani ao mesmo tempo em que determina unilateralmente novas fronteiras.
7. Os Efeitos da Guerra
7.1 Paraguai
Este país – o qual era o mais desenvolvido da América do Sul antes da guerra – ficou arrasado: sua população foi reduzida a uma pequena parcela e sua economia foi destruída. “Desde então o Paraguai não mais se recuperou, sendo até hoje um dos países mais pobres da América Latina”. (BARBOSA FILHO; STOCKLER; 1988; p. 38). Os vencedores implantaram o “livre-cambismo” e o latifúndio. Tudo foi saqueado e vendido: as terras e as propriedades estatais foram vendidas a capitalistas estrangeiros. Em poucos anos o Paraguai contraiu uma enorme dívida com os ingleses. O país, até mais que o Uruguai, ficou sob a influência e o controle do Brasil.
O conflito entre os aliados e a nação guarani foi um dos maiores massacres da história das Américas. Os historiadores divergem enormemente a respeito do número de mortos e do tamanho do território perdido pelo Paraguai. Morais e Resende (1979) afirmam que, para cumprir o tratado de aliança, a integridade territorial e a independência do Paraguai foram mantidas. Isso é falso. Estas autoras devem partir de um curioso ponto de vista. Para elas, as terras incorporadas pelo Brasil e pela Argentina estariam sob o poder ilegítimo do governo paraguaio ou eram “terras de ninguém”. Somente desta maneira pode-se compreender a posição das autoras e o próprio Tratado da Tríplice Aliança como algo diferente de propaganda cínica.
Chiavenato (1998) e Mocellin (1985) declaram que a república paraguaia perdeu 140 mil km² de terras. Para Dantas (1984), foram 40 mil km². Max Justo Guedes (1995) acredita numa perda de 40% do território. Segundo ele e Costa Sobrinho (s/d), as perdas populacionais do Paraguai foram grosseiramente exageradas pela grande maioria dos historiadores e devem ser de 15% a 20% da população pré-guerra – entre 50 mil e 80 mil mortes. Em geral, os autores informam que mais de 75% dos paraguaios foram mortos.
Ao contrário dos aliados[7], o Paraguai teve de confiar em seu próprio arsenal e estaleiros, pois não comprou armas e navios com dinheiro emprestado em Londres. Infelizmente, ele foi obrigado pelos vencedores a assumir uma pesada dívida de guerra que nunca teve condições de pagar. Muitos anos depois, “(...) os próprios aliados reconheceram que o Paraguai jamais teria condições de saldar as dívidas de guerra e acabaram por perdoá-las”. (NADAI, 1985, p. 78).[8]
7.2 Aliados
O Brasil perdeu muitas vidas e grandes recursos financeiros. “O temor de que os bolivianos ajudassem Solano López levou o governo brasileiro a ceder ao ditador boliviano Melgarejo a região do Acre”. (MOCELLIN, 1985, p. 35). “Para Argentina e Brasil [e também para o Uruguai], a guerra aumentou a dependência ao capital inglês, mas desafogou suas dificuldades financeiras imediatas”. (CHIAVENATO, 1998, p. 93).
O número de negros no Brasil sofreu uma grande queda, uma vez que havia um branco para cada 45 negros nas forças brasileiras. A navegação brasileira dos rios Paraná e Paraguai foi garantida. O Império, de acordo com Eduardo Galeano (1985), ganhou mais de 60 mil km² de território e levou muitos prisioneiros paraguaios como mão de obra escrava. O exército brasileiro ficou mais unido e ganhou importância política. Ele tornou-se um centro de contestação à escravidão e ao Império, e aderiu às campanhas abolicionista e republicana. A guerra do Paraguai foi uma das causas da queda do Império brasileiro.
As províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes tiveram grandes lucros vendendo provisões aos exércitos aliados. A Argentina ficou com 94 mil km² de terra paraguaia, segundo Eduardo Galeano (1985) e Claudius Ceccon (1986).
7.3 Inglaterra
Os bancos ingleses financiaram os aliados e receberam altos juros. “(...) Os prejuízos que os países envolvidos tiveram foram muito maiores do que os benefícios. Só a Inglaterra saiu ganhando, e duplamente: recebeu com juros o dinheiro que havia emprestado (...) e passou a vender seus produtos ao Paraguai”. (PILETTI; PILETTI; 1989, p. 22).
8. Considerações Finais
Classificamos as interpretações da Guerra da Tríplice Aliança em três grupos. No primeiro se encontram aqueles que identificam o “Projeto Paraguai Maior” de Solano López como causa principal do conflito; no segundo, os que afirmam que o conflito foi causado “(...) pelo rompimento da estrutura dominante do imperialismo inglês” (CHIAVENATO, 1998, p. 37); e no terceiro, intermediário entre os outros dois, os historiadores que combinam em suas explicações os interesses de todos os países envolvidos e não apontam uma causa principal.
Não acreditamos nos autores do primeiro grupo. Eles incorrem na ideologia “estatista”, que considera o Estado como um sujeito autônomo. Assim, por exemplo, Mariana Nunes realiza uma inversão de causas e conseqüências ao afirmar que os comerciantes de Buenos Aires impuseram restrições ao comércio paraguaio em represália à política econômica de Francia, “(...) que acabava com o poder de infiltração de Buenos Aires”. (NUNES, s/d). Em nossa interpretação, e também na de Denise Pereira (1987), a política econômica e social de Francia é uma resposta à ameaça portenha contra a autonomia do Paraguai.
Em segundo lugar, não encontramos nada que prove a necessidade absoluta de Solano López ampliar o território paraguaio. Para nós, a presença de um diplomata inglês nas negociações que resultaram no secreto pacto dos aliados não é simples acaso. O nome Tríplice Aliança esconde a existência de uma outra aliança presidida pela Inglaterra. Sabe-se que a participação das forças do Uruguai foi quase insignificante se comparada com a ajuda dos empréstimos ingleses aos países aliados. Os aliados provavelmente não seriam os vencedores sem este apoio.
Encontramos contradições e, principalmente, lacunas nos livros didáticos. Estas obras apresentam muito resumidamente os temas. A documentação praticamente inexiste neles. Desta forma, o risco de realizar simplificações é bastante grande. Apenas uma pequena fração dos autores se preocupa em apresentar o conteúdo de forma não dogmática, mostrando as diferentes interpretações existentes. Alguns realizam isto de maneira atrapalhada ao oferecer textos contraditórios entre si.
Seria muito interessante realizar um estudo que comparasse as interpretações da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai apresentadas pelos livros didáticos paraguaios com as interpretações apresentadas pelos livros didáticos brasileiros. Isto nos ajudaria a compreender a influência do sentimento nacionalista e do etnocentrismo na elaboração dos textos dos historiadores.
"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
- FOXTROT
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Re: RÚSSIA
Gostaria que o senhores se manifestassem sobre os itens 7.2, 7.3 e 8.
Eu sei, consta o nome de "Eduardo Galeano" como uma das fontes, o que pode afetar a "turma da direita", mas o artigo é bem elaborado, com diversos outros autores como referência e não apenas "um oficial inglês ou um diplomata inglês"....
Interessante que a guerra foi financiada pelos bancos ingleses a juros bem elevados, cujo os vencedores mais perderam do que propriamente ganharam com a guerra e mesmo assim, foram à guerra.
A pergunta que não quer calar, por que se uniram 3 países (sendo as 2 maiores economias da região) para combater um exercito de índios pé descalços?
Que tal era a prontidão do nosso exercito que precisou de empréstimo para lidar com índios?
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Eu sei, consta o nome de "Eduardo Galeano" como uma das fontes, o que pode afetar a "turma da direita", mas o artigo é bem elaborado, com diversos outros autores como referência e não apenas "um oficial inglês ou um diplomata inglês"....
Interessante que a guerra foi financiada pelos bancos ingleses a juros bem elevados, cujo os vencedores mais perderam do que propriamente ganharam com a guerra e mesmo assim, foram à guerra.
A pergunta que não quer calar, por que se uniram 3 países (sendo as 2 maiores economias da região) para combater um exercito de índios pé descalços?
Que tal era a prontidão do nosso exercito que precisou de empréstimo para lidar com índios?
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Re: RÚSSIA
Você esta distorcendo a verdade, esta fazendo as perguntas erradas.FOXTROT escreveu: A pergunta que não quer calar, por que se uniram 3 países (sendo as 2 maiores economias da região) para combater um exercito de índios pé descalços?
Que tal era a prontidão do nosso exercito que precisou de empréstimo para lidar com índios?
Saudações
A pergunta certa deveria ser: Quem foi invadido pelos índios pés descalços?
No jeito que você apresenta o seu ponto de vista, parece que deveríamos ter deixado os índios pés descalços com metade do nosso país..para não sermos chamados de imperialistas ou genocidas.
- suntsé
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Re: RÚSSIA
O mais engraçado que o fato dele ter invadido o território dos 3 países vizinhos é ignorado.FOXTROT escreveu: Em segundo lugar, não encontramos nada que prove a necessidade absoluta de Solano López ampliar o território paraguaio. Para nós, a presença de um diplomata inglês nas negociações que resultaram no secreto pacto dos aliados não é simples acaso. O nome Tríplice Aliança esconde a existência de uma outra aliança presidida pela Inglaterra. Sabe-se que a participação das forças do Uruguai foi quase insignificante se comparada com a ajuda dos empréstimos ingleses aos países aliados. Os aliados provavelmente não seriam os vencedores sem este apoio.
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Re: RÚSSIA
Vai ver a Inglaterra na época a maior potencia do mundo dominando 1/3 dele deveria estar muito preocupada com a poderosa nação paraguaia que ameaçava todo seu poderio exportando banana e tabaco dai a família real inglesa mandou telepaticamente o vassalo do solano lopez nos invadir para ela assim iniciar seu plano de eliminação dessa poderosa nação de índios pés descalços.
Afinal quando alguém te agride gratuitamente você deve abaixar as calças pra ele, se você não quiser ser visto como o agressor.
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Re: RÚSSIA
Prefiro encerrar esse caso com uma pergunta, o que você acha que Brasil, Uruguai e Argentina teriam ou deveriam ter feito com ou sem a existência da Inglaterra?FOXTROT escreveu:Gostaria que o senhores se manifestassem sobre os itens 7.2, 7.3 e 8.
Eu sei, consta o nome de "Eduardo Galeano" como uma das fontes, o que pode afetar a "turma da direita", mas o artigo é bem elaborado, com diversos outros autores como referência e não apenas "um oficial inglês ou um diplomata inglês"....
Interessante que a guerra foi financiada pelos bancos ingleses a juros bem elevados, cujo os vencedores mais perderam do que propriamente ganharam com a guerra e mesmo assim, foram à guerra.
A pergunta que não quer calar, por que se uniram 3 países (sendo as 2 maiores economias da região) para combater um exercito de índios pé descalços?
Que tal era a prontidão do nosso exercito que precisou de empréstimo para lidar com índios?
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Re: RÚSSIA
Suntsé, eu nunca neguei que o regime do Solano era ditatorial e expansionista, no entanto, não creio que ele arrumaria bronca contra 2 gigantes por conta própria, certamente foi incentivado a invadir!
Exemplos desse tipo de manipulação é o que mais temos, ou alguém esquece que Saddam Hussein interpretou equivocadamente a postura de um diplomata norte americano sobre qual seria a posição ianque, caso o Iraque invadisse o Kuwait?
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Exemplos desse tipo de manipulação é o que mais temos, ou alguém esquece que Saddam Hussein interpretou equivocadamente a postura de um diplomata norte americano sobre qual seria a posição ianque, caso o Iraque invadisse o Kuwait?
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"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
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Re: RÚSSIA
Isso é uma questão de causa e consequência; se argentinos e uruguaios cobravam pesados tributos pela navegação, penso que o Paraguai cedo ou tarde pegaria em armas, e se fez isso, acho que seu exercito tinha mais que índios pés descalços.....Marechal-do-ar escreveu:Prefiro encerrar esse caso com uma pergunta, o que você acha que Brasil, Uruguai e Argentina teriam ou deveriam ter feito com ou sem a existência da Inglaterra?FOXTROT escreveu:Gostaria que o senhores se manifestassem sobre os itens 7.2, 7.3 e 8.
Eu sei, consta o nome de "Eduardo Galeano" como uma das fontes, o que pode afetar a "turma da direita", mas o artigo é bem elaborado, com diversos outros autores como referência e não apenas "um oficial inglês ou um diplomata inglês"....
Interessante que a guerra foi financiada pelos bancos ingleses a juros bem elevados, cujo os vencedores mais perderam do que propriamente ganharam com a guerra e mesmo assim, foram à guerra.
A pergunta que não quer calar, por que se uniram 3 países (sendo as 2 maiores economias da região) para combater um exercito de índios pé descalços?
Que tal era a prontidão do nosso exercito que precisou de empréstimo para lidar com índios?
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O Brasil poderia (tentar) resolver a questão diplomaticamente como tantas vezes foi feita, porém, se o Paraguai atacou os vapores, não restava outra alternativa, se não, a guerra.
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Re: RÚSSIA
De volta a Rússia
Vila Olímpica de Sochi é a primeira grande surpresa dos Jogos
SOCHI, Rússia, 04 Fev 2014 (AFP) - Com vista para o Mar Negro e as montanhas do Cáucaso, a vila olímpica de Sochi foi a primeira agradável surpresa para os atletas, convencidos que encontrariam na Rússia um ambiente mais austero.
A três dias da cerimônia oficial dos Jogos, os bares e a salas de musculação ainda não vivem cheios e concorridos na vila costeira, uma das três vilas olímpicas destes Jogos, com as outras duas situadas na montanha, em Rosa Khoutor.
As bandeiras coreanas, canadenses, australianas, eslovacas e britânicas que surgem nas varandas das residências, porém, são prova de que boa parte dos locatários esperados para o grande evento já se encontram em suas habitações.
A "prefeita" desta pequena vila é Elena Isinbayeva, a rainha do salta com varo.
"Espero que todos se sintam em casa", diz a campeã russa, que agora escolhe as palavras com prudência após causar grande controvérsia com comentários homofóbicos no ano passado.
Por enquanto, a estrela do esporte russo ainda não recebeu nenhuma reclamação, pelo contrário.
"Mar Negro à direita, montanhas à esquerda"
"É melhor do que eu esperava. Na Rússia, nunca se sabe o que vamos encontrar...", declara Jenni Hiirikoksi, uma das jogadoras da seleção finlandesa de hóquei no gelo, recém desembarcada em Sochi.
O patinador de velocidade Bob de Jong também esperava outra coisa: "Não esperava que isto fosse ser tão bonito, visto o nível dos hotéis da região. É realmente muito melhor".
De Jong tem autoridade para falar sobre o assunto. Medalhista de bronze nos 1000 m em Vancouver, o holandês participa de todos os Jogos Olímpicos de Inverno desde 1998 e sabe o que esperar de uma vila olímpica. Segundo ele, os apartamentos em Sochi são bem grandes se comparados com os de Nagano (1998), por exemplo.
"É realmente uma bela vila. Tudo é perto, podemos fazer tudo de bicicleta", explicou o patinador.
A paisagem da região também não deixa ninguém indiferente. "Se olhar para a direita, você vê o Mar Negro. Se olhar para a esquerda, você vê montanhas incríveis", conta Fabien Abéjean, psicólogo da equipe de short track canadense.
Sob o sol radiante, o mar é sempre um convite, mas duas fileiras de barreiras separam a costa das residências. A preocupação com a segurança é clara e o acesso à vila é muito restrito. É preciso ter as credenciais corretas e aguentar os inevitáveis procedimentos de segurança, parecidos com os dos aeroportos.
A segurança é visível, mas não é opressora. Palmeiras, por exemplo, são usadas para esconder antenas e radares e os milhares de integrantes das forças de ordem presentes em Sotchi vestem as mesmas roupas dos voluntários.
"Eu não tinha percebido que eram policiais. Quando perguntei o motivo de alguns voluntários vestirem roupas de cores diferentes, me disseram que os de roxo eram da polícia", conta a patinadora artística francesa Vanessa James. "É bem pensado, assim não assusta".
Entre Vancouver e Turim As ameaças de atentados de islamitas do Cáucaso, que já atacaram Volgogrado em dezembro do ano passado, não parecem tirar o sono dos atletas.
"Eu não penso nisso, estamos aqui para competir. No aeroporto, vimos que a região e a vila são muito vigiadas", explica Morgan Cipres, parceiro de Vanessa James, que não esconde a satisfação de ver que "tudo está muito bem organizado".
Na vila de Rosa Khutor, na montanha, perto do centro de esqui Estilo Livre, os chalés, recém acabados, não foram vistos com o mesmo entusiasmo.
"É formidável ver esta montanha fantástica dotada de teleféricos, mas não sei se alguém pagaria por uma habitação como esta", questiona o esquiador alpino austríaco Romed Baumann.
"O alojamento em Vancouver era melhor, mas em Turim era bem pior", explicou o esquiador Klaus Kroll. Mas, como lembra Baumann, o que importa é que "a neve é incrível, vai compensar o tempo ruim que tivemos durante toda a temporada".
Vila Olímpica de Sochi é a primeira grande surpresa dos Jogos
SOCHI, Rússia, 04 Fev 2014 (AFP) - Com vista para o Mar Negro e as montanhas do Cáucaso, a vila olímpica de Sochi foi a primeira agradável surpresa para os atletas, convencidos que encontrariam na Rússia um ambiente mais austero.
A três dias da cerimônia oficial dos Jogos, os bares e a salas de musculação ainda não vivem cheios e concorridos na vila costeira, uma das três vilas olímpicas destes Jogos, com as outras duas situadas na montanha, em Rosa Khoutor.
As bandeiras coreanas, canadenses, australianas, eslovacas e britânicas que surgem nas varandas das residências, porém, são prova de que boa parte dos locatários esperados para o grande evento já se encontram em suas habitações.
A "prefeita" desta pequena vila é Elena Isinbayeva, a rainha do salta com varo.
"Espero que todos se sintam em casa", diz a campeã russa, que agora escolhe as palavras com prudência após causar grande controvérsia com comentários homofóbicos no ano passado.
Por enquanto, a estrela do esporte russo ainda não recebeu nenhuma reclamação, pelo contrário.
"Mar Negro à direita, montanhas à esquerda"
"É melhor do que eu esperava. Na Rússia, nunca se sabe o que vamos encontrar...", declara Jenni Hiirikoksi, uma das jogadoras da seleção finlandesa de hóquei no gelo, recém desembarcada em Sochi.
O patinador de velocidade Bob de Jong também esperava outra coisa: "Não esperava que isto fosse ser tão bonito, visto o nível dos hotéis da região. É realmente muito melhor".
De Jong tem autoridade para falar sobre o assunto. Medalhista de bronze nos 1000 m em Vancouver, o holandês participa de todos os Jogos Olímpicos de Inverno desde 1998 e sabe o que esperar de uma vila olímpica. Segundo ele, os apartamentos em Sochi são bem grandes se comparados com os de Nagano (1998), por exemplo.
"É realmente uma bela vila. Tudo é perto, podemos fazer tudo de bicicleta", explicou o patinador.
A paisagem da região também não deixa ninguém indiferente. "Se olhar para a direita, você vê o Mar Negro. Se olhar para a esquerda, você vê montanhas incríveis", conta Fabien Abéjean, psicólogo da equipe de short track canadense.
Sob o sol radiante, o mar é sempre um convite, mas duas fileiras de barreiras separam a costa das residências. A preocupação com a segurança é clara e o acesso à vila é muito restrito. É preciso ter as credenciais corretas e aguentar os inevitáveis procedimentos de segurança, parecidos com os dos aeroportos.
A segurança é visível, mas não é opressora. Palmeiras, por exemplo, são usadas para esconder antenas e radares e os milhares de integrantes das forças de ordem presentes em Sotchi vestem as mesmas roupas dos voluntários.
"Eu não tinha percebido que eram policiais. Quando perguntei o motivo de alguns voluntários vestirem roupas de cores diferentes, me disseram que os de roxo eram da polícia", conta a patinadora artística francesa Vanessa James. "É bem pensado, assim não assusta".
Entre Vancouver e Turim As ameaças de atentados de islamitas do Cáucaso, que já atacaram Volgogrado em dezembro do ano passado, não parecem tirar o sono dos atletas.
"Eu não penso nisso, estamos aqui para competir. No aeroporto, vimos que a região e a vila são muito vigiadas", explica Morgan Cipres, parceiro de Vanessa James, que não esconde a satisfação de ver que "tudo está muito bem organizado".
Na vila de Rosa Khutor, na montanha, perto do centro de esqui Estilo Livre, os chalés, recém acabados, não foram vistos com o mesmo entusiasmo.
"É formidável ver esta montanha fantástica dotada de teleféricos, mas não sei se alguém pagaria por uma habitação como esta", questiona o esquiador alpino austríaco Romed Baumann.
"O alojamento em Vancouver era melhor, mas em Turim era bem pior", explicou o esquiador Klaus Kroll. Mas, como lembra Baumann, o que importa é que "a neve é incrível, vai compensar o tempo ruim que tivemos durante toda a temporada".
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Re: RÚSSIA
Qua , 05/02/2014 às 08:52
ONU diz que Rússia deveria anular lei contra gays
Agência Estado
O comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a infância pediu que a Rússia revogue a lei que proíbe "propaganda" gay à qual menores possam ter acesso
Em relatório divulgado nesta quarta-feira, o painel observa que o objetivo inicial da lei é proteger as crianças, mas que ela "encoraja a estigmatização e a discriminação contra" gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, o que inclui crianças.
O Comitê para os Direitos da Criança disse que teme que "vagas definições do que é propaganda levem a ataques e perseguições" à comunidade gay russa, o que pode incluir abusos e violência contra essas pessoas.
A lei, aprovada pelo presidente Vladimir Putin em julho do ano passado, é vista por ativistas como uma proibição de praticamente qualquer expressão dos direitos dos gays e está no centro das atenções, na medida em que a Rússia sedia os Jogos Olímpicos de Inverno, que começam nesta semana no balneário de Sochi. Fonte: Associated Press.
http://atarde.uol.com.br/mundo/materias ... ontra-gays
ONU diz que Rússia deveria anular lei contra gays
Agência Estado
O comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a infância pediu que a Rússia revogue a lei que proíbe "propaganda" gay à qual menores possam ter acesso
Em relatório divulgado nesta quarta-feira, o painel observa que o objetivo inicial da lei é proteger as crianças, mas que ela "encoraja a estigmatização e a discriminação contra" gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, o que inclui crianças.
O Comitê para os Direitos da Criança disse que teme que "vagas definições do que é propaganda levem a ataques e perseguições" à comunidade gay russa, o que pode incluir abusos e violência contra essas pessoas.
A lei, aprovada pelo presidente Vladimir Putin em julho do ano passado, é vista por ativistas como uma proibição de praticamente qualquer expressão dos direitos dos gays e está no centro das atenções, na medida em que a Rússia sedia os Jogos Olímpicos de Inverno, que começam nesta semana no balneário de Sochi. Fonte: Associated Press.
http://atarde.uol.com.br/mundo/materias ... ontra-gays
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Re: RÚSSIA
Três dias antes de Sochi04/02/2014 | 18h17
ONG divulga compilação de atos homofóbicos na Rússia
Imagens de agressão contra homens e mulheres gays aumentam clima de perigo que permeia as Olimpíadas de Inverno
A ONG Human Right Watch (HRW) publicou nesta terça-feira uma compilação de registros em vídeo de diversos ataques a gays e lésbicas na Rússia.
A divulgação ocorre a três dias do início da Olimpíada de Inverno em Sochi. O evento tem sido usado por diversos grupos de defesa dos direitos humanos para condenar a política de impunidade a agressores da comunidade LGBT em vigor no país.
O vídeo da HRW mostra espancamentos e humilhações de grupos contra indivíduos homossexuais, a maior parte deles, segundo a ONG, registrada e colocada na internet pelos próprios agressores.
Também há depoimentos sobre a recusa da polícia de investigar e punir tais agressões.
— Fechando os olhos para o ódio da retórica e da violência homofóbicas, as autoridades russas mandam uma mensagem perigosa, enquanto o mundo está à sua porta para as Olimpíadas, de que não há nada de errado atacar homossexuais — diz Tanya Cooper, pesquisadora da HRW.
De acordo com a organização, as vítimas muitas vezes são atacadas em público ou sequestradas após encontrarem alguém que pensam ser um encontro.
Mês passado, o presidente russo Vladimir Putin tentou minimizar os medos de que homossexuais possam estar em perigo durante as Olimpíadas
— (Os gays) podem se sentir em liberdade, mas, por favor, deixem as crianças em paz — disse.
Assista ao vídeo:
ONG divulga compilação de atos homofóbicos na Rússia
Imagens de agressão contra homens e mulheres gays aumentam clima de perigo que permeia as Olimpíadas de Inverno
A ONG Human Right Watch (HRW) publicou nesta terça-feira uma compilação de registros em vídeo de diversos ataques a gays e lésbicas na Rússia.
A divulgação ocorre a três dias do início da Olimpíada de Inverno em Sochi. O evento tem sido usado por diversos grupos de defesa dos direitos humanos para condenar a política de impunidade a agressores da comunidade LGBT em vigor no país.
O vídeo da HRW mostra espancamentos e humilhações de grupos contra indivíduos homossexuais, a maior parte deles, segundo a ONG, registrada e colocada na internet pelos próprios agressores.
Também há depoimentos sobre a recusa da polícia de investigar e punir tais agressões.
— Fechando os olhos para o ódio da retórica e da violência homofóbicas, as autoridades russas mandam uma mensagem perigosa, enquanto o mundo está à sua porta para as Olimpíadas, de que não há nada de errado atacar homossexuais — diz Tanya Cooper, pesquisadora da HRW.
De acordo com a organização, as vítimas muitas vezes são atacadas em público ou sequestradas após encontrarem alguém que pensam ser um encontro.
Mês passado, o presidente russo Vladimir Putin tentou minimizar os medos de que homossexuais possam estar em perigo durante as Olimpíadas
— (Os gays) podem se sentir em liberdade, mas, por favor, deixem as crianças em paz — disse.
Assista ao vídeo:
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Re: RÚSSIA
Foxtoop,
Esta história toda de um Super-Paraguai destruído pela malevolência britânica com o Brasil, a Argentina e o Uruguai como seus verdugos contratados é muito romântica e comovente, mas não tem nenhuma sustentação na realidade. O Paraguai da década de 1860 era um país pequeno, atrasado e sem a menor capacidade de sequer chamar a atenção da Inglaterra, o que dirá incomodá-la a ponto de fazê-la criar uma aliança sul-americana para destruir o potencial rival.
Basta observar a população mencionada no próprio texto que você colocou para ver o absurdo das afirmações que dão conta da "grandeza" do país à época. As estimativas mais otimistas colocam a população de todo o Paraguai em 800 mil pessoas, com outras fontes citando cerca de metade disso. Como tão pouca gente em um país sem recursos e fechado poderia constituir uma ameaça sequer perceptível para a poderosa Inglaterra e suas imensas possessões espalhadas por todo o mundo? Para você ter uma idéia, veja as estimativas de população dos países envolvidos no imbróglio em 1860 (alguns anos antes do início da guerra) e compare-as com as 400 a 800 mil almas que teria o Paraguai no início das hostilidades:
- Brasil: 8,4 milhões
- Inglaterra: 28,5 milhões
- Apenas a grande Londres: 3,2 milhões
- Argentina (em 1870): 1,8 milhões
Acho que já dá para perceber a insignificância do Paraguai à época, não? Diversas afirmações do texto são absurdamente exageradas, em um ufanismo que distorce completamente a realidade da situação de um país com população escassa, sem recursos, praticamente sem comércio exterior e sem nenhuma base para tornar-se a potência industrial e econômica descrita. A sociedade do Paraguai na década de 1860 tinha sim algumas características distintivas, como o fato de ser dominada pelos pequenos proprietários rurais ao invés dos grandes latifundiários do Brasil e da Argentina, e a dificuldade de comércio com o exterior levou sim ao desenvolvimento de um certo nível de auto-suficiência em produtos industriais. Mas estamos falando de substituir mantas de lã por ponchos de algodão, ou talheres de prata por outros de madeira trabalhada. Como já mencionei, sequer havia indústria de calçados suficiente para fornecer botas para os soldados, imagine então siderurgia pesada ou indústrias mecânicas avançadas!
O link abaixo contém uma análise crítica destes trabalhos que apresentavam o Paraguai como uma potência importante no contexto sul americano ou mesmo mundial, sugiro fortemente sua leitura:
http://www.socialismo-o-barbarie.org/hi ... ocidio.htm
É um texto relativamente grande e com linguagem as vezes um tanto rebuscada, mas sem dúvida é bastante esclarecedor sobre a origem destas lendas do Super-Paraguai. Só para ilustrar, eu separei alguns trechos interessantes que dão o tom da crítica:
Depois faça uma comparação desapaixonada entre as descrições do Super-Paraguai feitas por estes autores que querem apresentar a Guerra do Paraguai como uma grande conspiração inglesa, e os relatos das mais variadas fontes que descrevem um país atrasado, limitado e tratado como propriedade particular pela família López. E veja qual dos dois tipos de relato tem maiores possibilidades de corresponder aos fatos.
Um grande abraço,
Leandro G. Card
Esta história toda de um Super-Paraguai destruído pela malevolência britânica com o Brasil, a Argentina e o Uruguai como seus verdugos contratados é muito romântica e comovente, mas não tem nenhuma sustentação na realidade. O Paraguai da década de 1860 era um país pequeno, atrasado e sem a menor capacidade de sequer chamar a atenção da Inglaterra, o que dirá incomodá-la a ponto de fazê-la criar uma aliança sul-americana para destruir o potencial rival.
Basta observar a população mencionada no próprio texto que você colocou para ver o absurdo das afirmações que dão conta da "grandeza" do país à época. As estimativas mais otimistas colocam a população de todo o Paraguai em 800 mil pessoas, com outras fontes citando cerca de metade disso. Como tão pouca gente em um país sem recursos e fechado poderia constituir uma ameaça sequer perceptível para a poderosa Inglaterra e suas imensas possessões espalhadas por todo o mundo? Para você ter uma idéia, veja as estimativas de população dos países envolvidos no imbróglio em 1860 (alguns anos antes do início da guerra) e compare-as com as 400 a 800 mil almas que teria o Paraguai no início das hostilidades:
- Brasil: 8,4 milhões
- Inglaterra: 28,5 milhões
- Apenas a grande Londres: 3,2 milhões
- Argentina (em 1870): 1,8 milhões
Acho que já dá para perceber a insignificância do Paraguai à época, não? Diversas afirmações do texto são absurdamente exageradas, em um ufanismo que distorce completamente a realidade da situação de um país com população escassa, sem recursos, praticamente sem comércio exterior e sem nenhuma base para tornar-se a potência industrial e econômica descrita. A sociedade do Paraguai na década de 1860 tinha sim algumas características distintivas, como o fato de ser dominada pelos pequenos proprietários rurais ao invés dos grandes latifundiários do Brasil e da Argentina, e a dificuldade de comércio com o exterior levou sim ao desenvolvimento de um certo nível de auto-suficiência em produtos industriais. Mas estamos falando de substituir mantas de lã por ponchos de algodão, ou talheres de prata por outros de madeira trabalhada. Como já mencionei, sequer havia indústria de calçados suficiente para fornecer botas para os soldados, imagine então siderurgia pesada ou indústrias mecânicas avançadas!
O link abaixo contém uma análise crítica destes trabalhos que apresentavam o Paraguai como uma potência importante no contexto sul americano ou mesmo mundial, sugiro fortemente sua leitura:
http://www.socialismo-o-barbarie.org/hi ... ocidio.htm
É um texto relativamente grande e com linguagem as vezes um tanto rebuscada, mas sem dúvida é bastante esclarecedor sobre a origem destas lendas do Super-Paraguai. Só para ilustrar, eu separei alguns trechos interessantes que dão o tom da crítica:
Dê uma estudada no link e nas diversas referências incluídas nele, e procure visualizar as enormes dificuldades que teria uma nação como o Paraguai da década de 1860 para se encaixar nas descrições que se faz dele como grande potência. Pense nas dificuldades que passou e ainda passa o próprio Brasil para se aproximar das economias mais desenvolvidas, e imagine como poderia ser possível um país com população quase insignificante e praticamente isolado conseguir isso em algumas poucas décadas partindo de uma economia agrária primitiva lá atrás no século XIX.-> Destaque-se a enorme impertinência da proposta de industrialização, mesmo moderada, para país isolado, de mercado minúsculo, população acanhada [uns duzentos mil habitantes, no início do período francista], com meios de transporte limitados e matérias-primas escassas. Um país dominado por rústica agricultura de subsistência que se servia, como principal instrumento de produção, raramente do arado de madeira, utilizando comumente, “a guisa de enxada”, as “omoplatas de vaca ou de cavalo, rijamente atadas a um cabo de pau”!
-> O trote-galope nacional-patriótico de R. LO. Núñez acelera-se ainda mais ao descrever o governo de Carlos Antonio López. O Paraguai teria sido o “primeiro país da América do Sul que contou com uma empresa siderúrgica e metalúrgica [...]”.[34] Teria lançado “o primeiro navio construído na América Latina, o Iporã, de 226 toneladas fundidas [sic] em Ybycuí.” Seria sinal de avanço o envio como bolsistas de “grupo de jovens promissores rumo à Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos”.[35] “Dom Carlos deixou um país próspero e independente. [...] O único com estaleiros, indústrias metalúrgicas, têxteis, de armas e munições, telégrafo, frota mercante, marinha de guerra, ferrovias e imprensa gráfica [...].”[36] Um país de “economia quase totalmente planificada”!
- A fundição de ferro de Ybycuí, a mais de 123 quilômetros de Asunción, era sustentada pelo Estado, para fins militares, escapando literalmente da produção capitalista propriamente dita. O Iporã, finalizado em 1856, era barco fluvial, de casco de madeira, de acanhados trinta metros e quatro canhões, de 70 HP, e capacidade de deslocamento de 226 toneladas – que o autor apresenta como fundidas em Ybycuí! Não há qualquer primazia na construção do pequeno barco! Apenas um exemplo: em 1767, no Arsenal Real da Marinha do Rio de Janeiro, entre outras embarcações, construiu-se a nau São Sebastião, deslocando 1.400 toneladas, com 64 canhões! [/i]
- As primeiras ferrovias da América Latina foram inauguradas no Peru e no Chile em 1851; no Brasil, em 1854; na Argentina, em 1857, etc. Todas elas anteriores à paraguaia, que entrou em funcionamento em 1861. Três anos após o fim da guerra, o Império brasileiro tinha mais de mil quilômetros de ferrovias; antes do fim do conflito, o Paraguai jamais ultrapassou os oitenta quilômetros!
- O punhado de bolsistas enviado ao exterior assinalava não avanço, mas desenvolvimento muito limitado do ensino superior no Paraguai, que contou apenas com o Seminário de San Carlos, para formar clérigos, fechado pelo doutor Francia, pela sua enorme inutilidade.[38] Handicap negativo devido em boa parte às limitadas exigências culturais de sociedade essencialmente camponesa. A Universidad de Córdoba, onde estudou Francia, foi fundada em 1621! Em 1808, o Brasil escravista começou a ter faculdades de Medicina, Engenharia, Direito, Farmácia. Já na Colônia, possuía Escola Militar.
Depois faça uma comparação desapaixonada entre as descrições do Super-Paraguai feitas por estes autores que querem apresentar a Guerra do Paraguai como uma grande conspiração inglesa, e os relatos das mais variadas fontes que descrevem um país atrasado, limitado e tratado como propriedade particular pela família López. E veja qual dos dois tipos de relato tem maiores possibilidades de corresponder aos fatos.
Um grande abraço,
Leandro G. Card