sapao escreveu:Leandro, eu falo do que acredito:
1-Partindo do principio que a Russia arrendou um SSN para a India, eu ACREDITO que caso fosse essa a vontade do Brasil poderiamos seguir pelo mesmo caminho. E as dificuldades se deram justamente pelo tipo de compra que o Brasil vai fazer, o qualificando a ser independente.
Acho que seia muita mais facil se optassemos pela prateleira em troca do fim de ARAMAR. Como disse, não iamos ficar chupando o dedo.
Amigo Sapão,
A Índia JÁ É uma potência nuclear e uma das maiores potências militares do planeta, está situada em uma região onde existem nada menos do que três outras potências nucleares, tem uma ligação militar com a Rússia que vem de várias décadas e recentemente passou a ser vista pelos EUA como um contraponto ao crescimento do poder da China. Uma situação geopolítica muitíssimo diferente da nossa.
Além disso ela já está construíndo seus próprios submarinos nucleares (pelo caminho contrário a nosso, já tem o casco e agora vai desenvolver o reator), e o arrendamento do sub russo é basicamente para desenvolvimento de expertise operacional e doutrina, pois a frota de sub's nucleares os indianos vão construir eles mesmos. Nestas condições não havia muito o que o restante do mundo quisesse ou pudesse fazer em termos de pressão, a Índia terá uma marinha com sub's nucleares com ou sem ajuda externa, e ficar criando problemas porque a Rússia arrendou uma unidade para eles seria perda de tempo e um erro diplomático.
No nosso caso a situação geopolítica é muito distinta, estamos no quintal dos EUA e não temos vizinhos bem armados e expansionistas que justifiquem um aumento de nossa capacidade militar. Se achamos que vamos precisar de sub's nucleares é justamente para evitar pressões militares de potências extra-continentais que tenham o costume de exercer este tipo de diplomacia. E elas não iriam nos ajudar justamente a nos tornar imunes a suas pressões, nem deixar que ninguém de fora o fizesse.
Agora, se tivermos um programa e sub's nucleares autóctone crível ou seja, se elas perceberem que uma frota de SSN's-BR é inevitável, então pode até mesmo ser que liberem navios deste tipo para nós se quisermos ajudar a bancar o complexo industrial-militar deles. Mas antes temos de qualquer jeito que investir na nossa própria capacidade de desenvolver este tipo de belonave, ou então nada feito. É neste contexto que a França fez o acordo conosco, e ainda assim foi muito escrupulosa em excluir a parte da propulsão nuclear.
2- A EMBRAER poderia ser envolvida em um processo assim se quisesse e houvesse vontade? Eu acho que sim, desde que fosse viavel, e o GF teria que garantir isso a ela. Você acha que não.
Ok então.
Eu acredito sim que a Embraer poderia tranquilamente entrar em um programa de desenvolvimento de um caça nacional de qualquer categoria, e inclusive acho que ela chegaria a bom termo neste projeto em prazo muito menor do que tem sido visto no restante do mundo, pois se tem uma coisa que caracteriza a Embraer é justamente a agilidade no desenvolvimento de novos projetos. Mas como uma empresa responsável ela só se envolveria com um projeto assim se o GF bancasse o grosso dos custos, assim como está acontecendo no caso do KC-390, e é perfeitamente natural que seja assim. E em todo caso ainda teríamos uma grande dependência de ítens estrangeiros, disso não há como escapar. Mas a Suécia, a Índia e outros também trabalham assim e ninguém reclama.
O que eu questiono é se de fato valeria à pena o desenvolvimento de um projeto destes no nosso país, principalmente se a idéia for tentar desenvolver uma caça pesado de quinta geração da categoria de um PAK-FA ou de um J-20. Os custos que para qualquer caça já seriam altíssimos explodiriam neste caso, e mesmo que tudo desse certo no final a FAB mal poderia operar umas poucas dezenas de unidades do avião (veja que os próprios EUA não vão operar nem 200 F-22), tornando o programa completamente inviável.
Se falássemos em algo mais simples, da categoria de um J-10 ou de um Gripen-NG (com um pouco mais de cuidado na redução do RCS, já que o projeto seria novo) e se utilizasse o programa F-X para alavancar o desenvolvimento (negociando ToT's específicas para o projeto do novo avião, adotando a mesma motorização, a mesma aviônica, etc...) talvez fosse possível baixar os custos de desenvolvimento e garantir uma escala maior de produção (quem sabe umas 200 unidades) com a fab operando um Hi-Lo mix, e aí sim o programa poderia ficar viável, mesmo que marginalmente. E dependendo do custo poderia até ter alguma chance de sucesso internacional, pois competiria principalmente contra versões modernizadas de aviões projetados há mais de 20 anos. Mas acho sinceramente que se o brasil comprar qualquer um dos três candidatos do FX-2 esta oportunidade estará perdida, então simplesmente não acredito em um caça nacional para o meu tempo de vida (e espero durar ainda pelo menos uns 50 anos).
Fora isso a única opção é entrar em alguma parceria que permita distribuir os custos e aumentar o número de unidades. Mas não sei se haverá alguma realmente possível no período em que precisaríamos (para substituir o F-5M e o A1-M daqui a uns 15 anos), pois o PAK-FA, o F-35 e o J-20 já estão em um nível de desenvolvimento que não vale mais à pena entrar como parceiro, é melhor comprar logo de prateleira. E não acredito muito nesta história de parceria turco-italiana para um quinta geração... .
Grande abraço,
Leandro G. Card