Ameaça REAL ao Brasil
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
O que foi que o Greenpeace falou do derramamento de petróleo no Golfo do México?
José Maria.
José Maria.
- Francoorp
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
Tem uma súmula no Sitio deles, da uma olhada e tire suas conclusões...José Maria Rangel escreveu:O que foi que o Greenpeace falou do derramamento de petróleo no Golfo do México?
José Maria.
http://www.greenpeace.org/brasil/
Tem uma enorme manchete de inicio que fala de um "gigantesco" vazamento de petróleo... na CHINA!!!
E tem esta reportagem aqui também... fala muito da BP... 10 linhas, e a da China tem mais de 30:
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Not ... -desgraca/
- Marino
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
BBC:
Amazônia
Ponte pode ameaçar preservação da Amazônia, diz 'Guardian'
Ápice do desmatamento na última década ocorreu em 2004
O desenvolvimento econômico da Amazônia aliado à proteção ambiental da floresta é um dos grandes desafios do Brasil, segundo reportagem publicada nesta quinta-feira pelo jornal britânico The Guardian.
Comentando a construção da ponte Manaus-Iranduba, que atravessa o rio Negro ligando a capital do Amazonas à selva e ao resto da região, o jornal afirma que novas “auto-estradas e oleodutos permitem acesso às vastas riquezas naturais do Brasil, mas ameaçam a maior floresta tropical do mundo”.
“A enorme estrutura simboliza o crescente desenvolvimento no coração da maior floresta tropical do mundo e vai trazer as tão necessárias oportunidades econômicas para aqueles que vivem na outra margem”, diz o Guardian.
Mas segundo o diário, ambientalistas temem que a ponte, em conjunto com novas auto-estradas e oleodutos, além do aumento da população local, cause ainda mais destruição na floresta.
O jornal mapeia os recentes avanços em termos de conexão na Amazônia, citando a BR-319, que vai ligar Manaus a Porto Velho, e os oleodutos planejados pela Petrobras entre Porto Velho e Manaus, passando por Urucu, Iranduba e Manacapuru.
Segundo a reportagem, apesar da aprovação dos moradores e políticos locais, “a questão para ambientalistas, cientistas e ativistas é se todas essas riquezas podem ser distribuídas mantendo as árvores centenárias da Amazônia de pé”.
“Sua perda contínua levaria a mudanças climáticas e privaria o mundo de seu mais diverso estoque de vida animal e de plantas.”
Estradas
Estima-se que, na última década, 75% do desmatamento da Amazônia tenha ocorrido a um raio de 45 quilômetros das estradas locais, que garantem o acesso das madeireiras, diz o jornal.
A destruição da floresta, no entanto, caiu dramaticamente desde seu ápice, em 2004, até 2009, quando estava 75% mais baixa.
“Mas é difícil determinar se a queda se deve ao aumento do monitoramento do governo – o que significa que o desmatamento está sob controle permanente – ou às flutuações no preço da soja e da carne, à valorização do real, ou ao aumento de produtividade nas áreas já desmatadas.”
Para o Guardian, as mudanças propostas no código florestal a serem votadas ainda este ano, que poderiam aumentar enormemente a proporção de terras que os proprietários poderiam desmatar legalmente, ameaçariam a região.
“A tensão entre o desenvolvimento econômico e a proteção de um recurso global é um grande desafio para o Brasil, um enorme país com grande diferença entre ricos e pobres e extensa corrupção a níveis local e nacional”, afirma o jornal, para quem a maior esperança para a preservação da floresta amazônica é o esquema de créditos de carbono conhecido como REDD, atualmente em negociação na ONU.
Amazônia
Ponte pode ameaçar preservação da Amazônia, diz 'Guardian'
Ápice do desmatamento na última década ocorreu em 2004
O desenvolvimento econômico da Amazônia aliado à proteção ambiental da floresta é um dos grandes desafios do Brasil, segundo reportagem publicada nesta quinta-feira pelo jornal britânico The Guardian.
Comentando a construção da ponte Manaus-Iranduba, que atravessa o rio Negro ligando a capital do Amazonas à selva e ao resto da região, o jornal afirma que novas “auto-estradas e oleodutos permitem acesso às vastas riquezas naturais do Brasil, mas ameaçam a maior floresta tropical do mundo”.
“A enorme estrutura simboliza o crescente desenvolvimento no coração da maior floresta tropical do mundo e vai trazer as tão necessárias oportunidades econômicas para aqueles que vivem na outra margem”, diz o Guardian.
Mas segundo o diário, ambientalistas temem que a ponte, em conjunto com novas auto-estradas e oleodutos, além do aumento da população local, cause ainda mais destruição na floresta.
O jornal mapeia os recentes avanços em termos de conexão na Amazônia, citando a BR-319, que vai ligar Manaus a Porto Velho, e os oleodutos planejados pela Petrobras entre Porto Velho e Manaus, passando por Urucu, Iranduba e Manacapuru.
Segundo a reportagem, apesar da aprovação dos moradores e políticos locais, “a questão para ambientalistas, cientistas e ativistas é se todas essas riquezas podem ser distribuídas mantendo as árvores centenárias da Amazônia de pé”.
“Sua perda contínua levaria a mudanças climáticas e privaria o mundo de seu mais diverso estoque de vida animal e de plantas.”
Estradas
Estima-se que, na última década, 75% do desmatamento da Amazônia tenha ocorrido a um raio de 45 quilômetros das estradas locais, que garantem o acesso das madeireiras, diz o jornal.
A destruição da floresta, no entanto, caiu dramaticamente desde seu ápice, em 2004, até 2009, quando estava 75% mais baixa.
“Mas é difícil determinar se a queda se deve ao aumento do monitoramento do governo – o que significa que o desmatamento está sob controle permanente – ou às flutuações no preço da soja e da carne, à valorização do real, ou ao aumento de produtividade nas áreas já desmatadas.”
Para o Guardian, as mudanças propostas no código florestal a serem votadas ainda este ano, que poderiam aumentar enormemente a proporção de terras que os proprietários poderiam desmatar legalmente, ameaçariam a região.
“A tensão entre o desenvolvimento econômico e a proteção de um recurso global é um grande desafio para o Brasil, um enorme país com grande diferença entre ricos e pobres e extensa corrupção a níveis local e nacional”, afirma o jornal, para quem a maior esperança para a preservação da floresta amazônica é o esquema de créditos de carbono conhecido como REDD, atualmente em negociação na ONU.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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- Sterrius
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
eu acho hiliario (pra nao dizer triste) como algumas pessoas defendem que as cidades amazonicas continuem como ilhas. Desconectadas do resto do mundo.
Estradas, um direito tão basico como o de ir e vir pelo chão ao inves de voar ou levar dias de barco sendo negado apenas pq ele mora numa area de floresta.
Estradas, um direito tão basico como o de ir e vir pelo chão ao inves de voar ou levar dias de barco sendo negado apenas pq ele mora numa area de floresta.
- Francoorp
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
Bastaria proibir o desmatamento a X Km da estrada... e das cidades também. Assim ainda sobraria floresta pra cacete.
- prp
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
Quando lula fez um discurso em Manaus ele pos no seus devidos lugares essa corja de ambientalista vagabunda.
Ele disse que esse pessoal ambientalista é contra as estradas na amazonia porque nunca tiveram que andar 15 dias de barco para percorrer uma distancia que se faz em 12 horas de carro escutando um barulho infernal dos motores dos Pec Pec, ele disse que, quer queiram quer não, vai dar esse direito basico de ir e vir para o povo amazonense e que seria o primeiro a viajar na 319 de manaus até o Acre de carro.
E depois perguntam porque ele tem 90% de aprovação por essas bandas que cá.
Ele disse que esse pessoal ambientalista é contra as estradas na amazonia porque nunca tiveram que andar 15 dias de barco para percorrer uma distancia que se faz em 12 horas de carro escutando um barulho infernal dos motores dos Pec Pec, ele disse que, quer queiram quer não, vai dar esse direito basico de ir e vir para o povo amazonense e que seria o primeiro a viajar na 319 de manaus até o Acre de carro.
E depois perguntam porque ele tem 90% de aprovação por essas bandas que cá.
- suntsé
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
Mesmo apesar de alguns ecuivocos, como na questão da raposa serra do sol, ele ele é um dos melhores presidentes que o Brasil ja teve.prp escreveu:Quando lula fez um discurso em Manaus ele pos no seus devidos lugares essa corja de ambientalista vagabunda.
Ele disse que esse pessoal ambientalista é contra as estradas na amazonia porque nunca tiveram que andar 15 dias de barco para percorrer uma distancia que se faz em 12 horas de carro escutando um barulho infernal dos motores dos Pec Pec, ele disse que, quer queiram quer não, vai dar esse direito basico de ir e vir para o povo amazonense e que seria o primeiro a viajar na 319 de manaus até o Acre de carro.
E depois perguntam porque ele tem 90% de aprovação por essas bandas que cá.
- Luiz Bastos
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
prp escreveu:Quando lula fez um discurso em Manaus ele pos no seus devidos lugares essa corja de ambientalista vagabunda.
Ele disse que esse pessoal ambientalista é contra as estradas na amazonia porque nunca tiveram que andar 15 dias de barco para percorrer uma distancia que se faz em 12 horas de carro escutando um barulho infernal dos motores dos Pec Pec, ele disse que, quer queiram quer não, vai dar esse direito basico de ir e vir para o povo amazonense e que seria o primeiro a viajar na 319 de manaus até o Acre de carro.
E depois perguntam porque ele tem 90% de aprovação por essas bandas que cá.
Já vi que tu tavas la, não?
- Marino
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
Valor:
ENTREVISTA - PAUL ROMER, PROFESSOR EM STANFORD
Por que ser pobre?
Por Leandra Peres, para o Valor, de Washington
É possível convencer o governo de um país a abrir mão da administração de partes de seu
território para entregá-las a uma administração estrangeira? O economista americano Paul Romer,
professor em Stanford e indicado em 1997 pela "Times" como um dos 25 americanos mais influentes do
mundo, acha que cidades autônomas, assim criadas, são viáveis - politicamente, inclusive -, e poderiam
constituir uma solução para países de menor renda ganharem capacidade própria de crescimento, com o
apoio de um outro país, em estágio superior de desenvolvimento. Seria um modo de substituir a
costumeira e simples ajuda, bilateral ou proveniente de organismos internacionais, pelos benefícios do
investimento vindo de fora. Os recursos - também na forma de tecnologia - seriam atraídos pela
funcionalidade de um sistema produtivo-administrativo, implantado naqueles núcleos autônomos, regido
por regras estabelecidas em contrato firmado entre o país concedente e o disposto a assumir
responsabilidades de governança. No seu projeto, esses espaços de racionalidade tecnoburocrática são
chamados de "charter cities" - cidades governadas nos termos de uma "carta" contratual.
Romer entende que o Brasil é um dos países "mais interessantes" para gerenciar essas cidades
autônomas e que seria plausível aplicar a ideia no Haiti, por exemplo, que ele considera um candidato
potencial para aplicação da ideia. Mas o mesmo modelo serviria para uma espécie de ocupação
preservacionista da Amazônia. É uma proposta ousada, sem dúvida, que dificilmente não seria
associada a inspirações de natureza neocolonialista. Romer nega validade ao juízo, enquanto explica do
que se trata com a autoridade e respeitabilidade granjeadas como renovador da teoria do crescimento
econômico. Aos 55 anos, grisalho, mas com uma expressão jovem e olhos que brilham quando explica o
potencial que enxerga nas suas "charter cities", Romer conversou com o Valor numa cafeteria, em
Washington.
Valor: O que é exatamente uma cidade autônoma?
Paul Romer: A cidade pode ter várias formas. O que há em comum é um pedaço de terra
desabitado e de tamanho suficiente para abrigar uma cidade, um acordo que estabeleça as regras que
vão governar esse local e a liberdade para que residentes, investidores e empresas possam ir e vir. Um
país doa a terra para a construção da cidade e muitas vezes também é de lá que virão os residentes. Ou
a maior parte deles. Outro país ou um grupo deles terá o papel de garantidores, espécie de fiadores de
que as regras serão cumpridas e respeitadas.
Valor: Não é uma espécie de neocolonialismo?
Romer: Não. A grande diferença é que todos os passos seriam absolutamente voluntários. Há
sugestões para que se construa uma dessas cidades no Haiti. Para isso, o governo do Haiti e de outro
país, o Brasil, por exemplo, teriam que negociar os termos em que a cidade seria administrada e
encontrar um local que não é habitado ou onde a população é esparsa o suficiente para ser
desapropriada e devidamente compensada ao sair. Então, todas as pessoas que fossem morar nessa
cidade o fariam voluntariamente, ninguém seria obrigado a morar lá ou submetido a regras com as quais
não concordasse. Isso é absolutamente diferente de qualquer experiência colonial ou das invasões
militares dos Estados Unidos no Haiti.
Valor: Ainda assim, significaria abrir mão de soberania em favor de um outro país. Isso é
factível?
Romer: Não defendo nenhuma mudança de fronteiras, que é o que define soberania. Trata-se de
controle administrativo. E isso já existe. Alguns países, por exemplo, contratam empresas ou
organizações sem fins lucrativos para cuidar da aduana.
Valor: Por que o senhor sugere um acordo desse tipo entre o Haiti e o Brasil?
Romer: O Brasil está assumindo um papel muito maior no cenário mundial - economica e
politicamente. Um projeto que envolva a parceria entre duas nações teria muito mais ressonância se um
país em desenvolvimento fizesse um acordo com o Brasil. O Brasil foi uma colônia e não um colonizador.
Isso resolveria uma das principais preocupações dessa proposta: a de que se recriem as péssimas
experiências de países ocidentais desenvolvidos, tentando, de alguma maneira, tomar conta das
pessoas em outros países.
Valor: Como funcionaria essa cidade autônoma gerenciada pelo Brasil no Haiti?
Romer: Poderia ser o que eu chamo de "modelo banco central". O administrador da cidade seria
nomeado como o presidente de um banco central. Essa pessoa teria uma missão clara a cumprir, que
seria definida pelos governos brasileiro e haitiano. Poderia haver um mandato fixo, de quatro ou seis
anos, depois do qual esse executivo seria avaliado. O Haiti talvez não tenha uma democracia
consolidada em 15 ou 20 anos, mas o Brasil claramente tem e poderia, com isso, garantir um controle
democrático efetivo na cidade. É como se você fixasse uma "meta de inflação" e deixasse o
administrador tomar a decisão sobre a taxa de juros. Ele teria bastante flexibilidade para tomar as
decisões necessárias para cumprir o mandato que lhe foi dado.
Valor: Então a cidade seria um "mini-Brasil" dentro do Haiti, com as mesmas leis e regras
brasileiras?
Romer: Essa seria uma decisão dos dois governos. Imagine que, para atrair investidores para a
nova cidade, as disputas comerciais fossem adjudicadas de acordo com a lei britânica, que é
tradicionalmente considerada um modelo internacional. Já a legislação criminal poderia ter bases no
modelo de outro país. A ideia é usar o que já foi testado e funciona. O que for mais efetivo para garantir a
criação de empregos. Em vez de se ficar limitado a experiências históricas, estaríamos testando para ver
o que funciona.
Valor: Os cidadãos dessa cidade poderiam votar para garantir esse controle democrático?
Romer: Num primeiro momento, nem haveria pessoas lá para votar, já que a cidade começaria
do zero. Então, seria necessário começar com um administrador que fosse nomeado. É preciso lembrar
que as pessoas tiveram disposição de ir para Hong Kong [que esteve sob a tutela do Reino Unido
durante 155 anos] onde não podiam votar. Outros procuram hoje oportunidades em lugares, como Dubai,
onde são tratados como cidadãos de segunda classe. A ausência do voto não impediria as pessoas de ir
para essa nova cidade, mas, se fosse introduzido gradualmente, acho que se construiria uma
democracia mais efetiva.
Valor: O acordo teria uma data para acabar?
Romer: Isso dependeria dos dois países. O Haiti pode querer que a cidade seja reintegrada ao
país depois de certo número de anos. Dessa forma, a maior parte dos residentes teria necessariamente
que ser haitiana. Mas se o país quisesse construir uma cidade como Hong Kong, com 10 milhões de
habitantes, teria que atrair gente de todo o Caribe e América Central. Para o Haiti, ter uma cidade que se
transforme no "hub" de toda uma região pode ser tão benéfico que o país pode decidir não reintegrar
essa cidade.
Valor: Os custos de construir uma nova cidade são altos. Quem pagaria por eles?
Romer: A cidade se pagaria por meio do aumento do valor da terra. A autoridade administrativa
seria dona da terra e poderia alugar para investidores interessados em se instalar na nova cidade. O
governo de Cingapura faz isso: aluga a terra para investidores. O administrador também poderia recorrer
a investidores privados para construir a infraestrutura de água, eletricidade, até mesmo ruas. Para isso,
teria que negociar tarifas e regras que pudessem ser garantidas por décadas futuras. Até esse momento,
o Brasil não teria gasto nada. É claro que precisaria pagar os salários das autoridades locais, juízes,
policiais, professores etc. Mas também receberia pelo serviço prestado como administrador. O
interessante nesse modelo é que embute os incentivos para que a cidade seja bem administrada. A
autoridade investe em educação, não por um dever moral, mas porque uma força de trabalho mais
preparada significa salários mais altos e empresas dispostas a pagar mais pelo espaço que ocupam ali.
Valor: Que benefícios o Brasil teria, além de receber pela administração?
Romer: O Brasil precisa se perguntar que tipo de papel vai querer ter no cenário mundial. Um
deles pode ser o de fazer as coisas de sempre e se sair bem na foto. É isso o que a maioria dos países
faz hoje - manda o dinheiro e diz as coisas certas. Mas todos os que estão fazendo isso não estão
conseguindo quase nada. Outra alternativa é o Brasil se comprometer a melhorar as condições de vida
num país e até mesmo numa região. E mostrar que isso pode ser feito por meio de um novo modelo. É
claro que, quando os objetivos são ousados, há riscos, mas os benefícios podem ser tão grandes que
vale a pena.
Valor: O Haiti tem condições de negociar um acordo como esse num momento tão difícil
para o país?
Romer: Não tenho certeza se o governo do Haiti atualmente tem independência e força suficiente
para tentar um acordo voluntário desse tipo. É uma questão em aberto.
Valor: O senhor já tratou desse assunto com o governo brasileiro?
Romer: Ainda não.
Valor: O senhor escreveu um artigo sobre como a criação dessas cidades poderia ajudar
na preservação de florestas na Indonésia. O raciocínio também vale para a Amazônia?
Romer: Sim. A urbanização ajudaria muito a preservação e o reflorestamento no mundo todo. O
que as pessoas querem é a chance de uma vida melhor. E se a única maneira para isso é cortando
árvores, vão cortar. Mas se tiverem a chance de trabalhar numa fábrica, mandar as crianças para uma
escola, vão fazer isso. Se forem construídas cidades habitáveis e com um padrão de vida que essas
pessoas possam pagar, vão morar lá.
Valor: O senhor cita Hong Kong como o exemplo mais próximo do que seria uma cidade
autônoma bem-sucedida. Por que, então, Macau não atingiu o mesmo desenvolvimento?
Romer: Se um grande número de cidades autônomas for fundada, como recomendo, algumas
não vão dar certo. Mas esse é um risco com o qual eu acho que podemos conviver. Há também algumas
lições que podem ser aprendidas da experiência em outras ex-colônias inglesas e em Macau. Hong Kong
foi única porque o mandato dado ao governador-geral era para fazer a ilha crescer tanto em termos de
população quanto de PIB per capita. Não era para viabilizar negócios lucrativos para empresas inglesas
ou para extrair riquezas. O cálculo que os ingleses fizeram é que, se a cidade fosse um sucesso,
conseguiriam renovar o acordo com a China. Isso mostra que, se o executivo de uma cidade tiver o
mandato correto, pode fazer coisas bastante boas. Se não, há exemplos mais que suficientes do que
pode acontecer de ruim.
Valor: O senhor diz que Hong Kong serviu de modelo para as zonas econômicas especiais
na China continental, mas foi o próprio governo chinês quem implementou o projeto. Por que, no
caso das cidades autônomas, seria preciso a interferência de outro governo?
Romer: Um dos motivos é escala. Alguns dos países mais pobres do mundo têm uma população
total de 2 ou 5 milhões de pessoas e não teriam escala para uma cidade com um aeroporto que fosse um
"hub" para rivalizar com qualquer outro no mundo. Além disso, a China, quando iniciou as zonas
econômicas, já tinha alcançado coisas básicas, como uma criminalidade sob controle. Alguns países não
conseguem garantir nem isso hoje. Nesse caso, talvez seja mais rápido fazer parcerias com outros
países.
Valor: A crise financeira afetou os países mais desenvolvidos e supostamente com as
melhores regras. Isso não mostra que copiar as normas de um país para outro pode não ser a
melhor solução?
Romer: Se eu estivesse trabalhando num acordo para o funcionamento de uma das cidades
autônomas, não teria o sistema financeiro dos Estados Unidos como inspiração. Olharia com muito mais
atenção o que Canadá, Índia ou Brasil fizeram. Uma cidade autônoma de sucesso não será um lugar
onde as regras são impostas por algum ditador e não há legitimidade. Imagine uma cidade que garanta
absoluta igualdade entre os sexos. As primeiras pessoas a se mudar para lá serão aquelas que
consideram esse princípio correto. Então, em vez de ser uma imposição, essa seria uma regra
desenhada para atrair as pessoas que concordam com a ideia. Num segundo momento, a cidade talvez
atraia as pessoas que não têm muita certeza sobre se esse conceito funciona, mas estão dispostas a ver
como é a vida num lugar assim. À medida que as pessoas vêm e vão e a cidade é bem-sucedida, os
conceitos se espalham e isso pode mudar sociedades inteiras.
Valor: O restante da população do país que não conseguir ir morar nessa cidade estaria
condenado a condições piores de vida?
Romer: A minha resposta é para que se construa outra cidade e outra e mais outra. Talvez
algumas famílias realmente prefiram ficar, já que as normas da cidade não as agradam. Mas o efeito
líquido seria empurrar o mundo na direção de melhores práticas e condições de vida.
Valor: Essa não é uma visão muito otimista?
Romer: Historicamente, é assim que tem acontecido. Charles II, rei da Inglaterra, quis ampliar a
liberdade de religião, mas foi derrotado pelo Parlamento. O rei deu um domínio nos Estados Unidos a
William Penn, um "quaker", e deixou que ele definisse as regras de funcionamento desse território. Penn
garantiu liberdade religiosa. Quem é que foi para a Pensilvânia? Os "quakers", mas também os católicos
e pessoas de qualquer outra religião que queriam liberdade. De uma hora para outra, a Pensilvânia se
transformou no primeiro lugar no mundo onde havia liberdade religiosa e separação entre igreja e
Estado. Em algum momento, lugares como Massachusetts e Virgínia tiveram que ceder. Exatamente
porque havia competição.
Valor: Como assim?
Romer: O conceito das cidades autônomas é recriar as condições da fronteira americana onde os
governos tinham que tratar as pessoas bem. O motivo pelo qual os Estados Unidos se tornaram, de certa
forma, progressistas em sua fundação - garantindo às mulheres o direito de propriedade à terra, falando
em igualdade para todos ou oferecendo educação universal - não foi porque eram moralmente
superiores. Mas porque havia cidades competindo para atrair moradores. Agora vivemos o momento
oposto. Há pouquíssimos lugares que aceitam imigrantes e milhares de pessoas em busca de uma
oportunidade melhor. Dessa forma, os poucos lugares que permitem a entrada de imigrantes podem
tratá-los realmente mal. Então, se um país como o Brasil se dispuser a construir grandes cidades para
mudar esse equilíbrio de forças, de tal forma que haja competição por pessoas, todos esses lugares
estarão oferecendo condições de vida muito melhores aos seus habitantes.
Valor: Algum país já aceitou a sua proposta?
Romer: O presidente de Madagascar, que é um empresário bem-sucedido e tinha planos
ambiciosos para o desenvolvimento do país, estava disposto a tentar. Mas foi derrubado por um golpe.
Eu conversei com governos de alguns países ricos que estão cautelosamente otimistas para tentar. Mas
há líderes nos países em desenvolvimento que estão dispostos a correr o risco porque com um
crescimento de 2% ao ano levarão uma eternidade para chegar ao grau de desenvolvimento que
querem.
ENTREVISTA - PAUL ROMER, PROFESSOR EM STANFORD
Por que ser pobre?
Por Leandra Peres, para o Valor, de Washington
É possível convencer o governo de um país a abrir mão da administração de partes de seu
território para entregá-las a uma administração estrangeira? O economista americano Paul Romer,
professor em Stanford e indicado em 1997 pela "Times" como um dos 25 americanos mais influentes do
mundo, acha que cidades autônomas, assim criadas, são viáveis - politicamente, inclusive -, e poderiam
constituir uma solução para países de menor renda ganharem capacidade própria de crescimento, com o
apoio de um outro país, em estágio superior de desenvolvimento. Seria um modo de substituir a
costumeira e simples ajuda, bilateral ou proveniente de organismos internacionais, pelos benefícios do
investimento vindo de fora. Os recursos - também na forma de tecnologia - seriam atraídos pela
funcionalidade de um sistema produtivo-administrativo, implantado naqueles núcleos autônomos, regido
por regras estabelecidas em contrato firmado entre o país concedente e o disposto a assumir
responsabilidades de governança. No seu projeto, esses espaços de racionalidade tecnoburocrática são
chamados de "charter cities" - cidades governadas nos termos de uma "carta" contratual.
Romer entende que o Brasil é um dos países "mais interessantes" para gerenciar essas cidades
autônomas e que seria plausível aplicar a ideia no Haiti, por exemplo, que ele considera um candidato
potencial para aplicação da ideia. Mas o mesmo modelo serviria para uma espécie de ocupação
preservacionista da Amazônia. É uma proposta ousada, sem dúvida, que dificilmente não seria
associada a inspirações de natureza neocolonialista. Romer nega validade ao juízo, enquanto explica do
que se trata com a autoridade e respeitabilidade granjeadas como renovador da teoria do crescimento
econômico. Aos 55 anos, grisalho, mas com uma expressão jovem e olhos que brilham quando explica o
potencial que enxerga nas suas "charter cities", Romer conversou com o Valor numa cafeteria, em
Washington.
Valor: O que é exatamente uma cidade autônoma?
Paul Romer: A cidade pode ter várias formas. O que há em comum é um pedaço de terra
desabitado e de tamanho suficiente para abrigar uma cidade, um acordo que estabeleça as regras que
vão governar esse local e a liberdade para que residentes, investidores e empresas possam ir e vir. Um
país doa a terra para a construção da cidade e muitas vezes também é de lá que virão os residentes. Ou
a maior parte deles. Outro país ou um grupo deles terá o papel de garantidores, espécie de fiadores de
que as regras serão cumpridas e respeitadas.
Valor: Não é uma espécie de neocolonialismo?
Romer: Não. A grande diferença é que todos os passos seriam absolutamente voluntários. Há
sugestões para que se construa uma dessas cidades no Haiti. Para isso, o governo do Haiti e de outro
país, o Brasil, por exemplo, teriam que negociar os termos em que a cidade seria administrada e
encontrar um local que não é habitado ou onde a população é esparsa o suficiente para ser
desapropriada e devidamente compensada ao sair. Então, todas as pessoas que fossem morar nessa
cidade o fariam voluntariamente, ninguém seria obrigado a morar lá ou submetido a regras com as quais
não concordasse. Isso é absolutamente diferente de qualquer experiência colonial ou das invasões
militares dos Estados Unidos no Haiti.
Valor: Ainda assim, significaria abrir mão de soberania em favor de um outro país. Isso é
factível?
Romer: Não defendo nenhuma mudança de fronteiras, que é o que define soberania. Trata-se de
controle administrativo. E isso já existe. Alguns países, por exemplo, contratam empresas ou
organizações sem fins lucrativos para cuidar da aduana.
Valor: Por que o senhor sugere um acordo desse tipo entre o Haiti e o Brasil?
Romer: O Brasil está assumindo um papel muito maior no cenário mundial - economica e
politicamente. Um projeto que envolva a parceria entre duas nações teria muito mais ressonância se um
país em desenvolvimento fizesse um acordo com o Brasil. O Brasil foi uma colônia e não um colonizador.
Isso resolveria uma das principais preocupações dessa proposta: a de que se recriem as péssimas
experiências de países ocidentais desenvolvidos, tentando, de alguma maneira, tomar conta das
pessoas em outros países.
Valor: Como funcionaria essa cidade autônoma gerenciada pelo Brasil no Haiti?
Romer: Poderia ser o que eu chamo de "modelo banco central". O administrador da cidade seria
nomeado como o presidente de um banco central. Essa pessoa teria uma missão clara a cumprir, que
seria definida pelos governos brasileiro e haitiano. Poderia haver um mandato fixo, de quatro ou seis
anos, depois do qual esse executivo seria avaliado. O Haiti talvez não tenha uma democracia
consolidada em 15 ou 20 anos, mas o Brasil claramente tem e poderia, com isso, garantir um controle
democrático efetivo na cidade. É como se você fixasse uma "meta de inflação" e deixasse o
administrador tomar a decisão sobre a taxa de juros. Ele teria bastante flexibilidade para tomar as
decisões necessárias para cumprir o mandato que lhe foi dado.
Valor: Então a cidade seria um "mini-Brasil" dentro do Haiti, com as mesmas leis e regras
brasileiras?
Romer: Essa seria uma decisão dos dois governos. Imagine que, para atrair investidores para a
nova cidade, as disputas comerciais fossem adjudicadas de acordo com a lei britânica, que é
tradicionalmente considerada um modelo internacional. Já a legislação criminal poderia ter bases no
modelo de outro país. A ideia é usar o que já foi testado e funciona. O que for mais efetivo para garantir a
criação de empregos. Em vez de se ficar limitado a experiências históricas, estaríamos testando para ver
o que funciona.
Valor: Os cidadãos dessa cidade poderiam votar para garantir esse controle democrático?
Romer: Num primeiro momento, nem haveria pessoas lá para votar, já que a cidade começaria
do zero. Então, seria necessário começar com um administrador que fosse nomeado. É preciso lembrar
que as pessoas tiveram disposição de ir para Hong Kong [que esteve sob a tutela do Reino Unido
durante 155 anos] onde não podiam votar. Outros procuram hoje oportunidades em lugares, como Dubai,
onde são tratados como cidadãos de segunda classe. A ausência do voto não impediria as pessoas de ir
para essa nova cidade, mas, se fosse introduzido gradualmente, acho que se construiria uma
democracia mais efetiva.
Valor: O acordo teria uma data para acabar?
Romer: Isso dependeria dos dois países. O Haiti pode querer que a cidade seja reintegrada ao
país depois de certo número de anos. Dessa forma, a maior parte dos residentes teria necessariamente
que ser haitiana. Mas se o país quisesse construir uma cidade como Hong Kong, com 10 milhões de
habitantes, teria que atrair gente de todo o Caribe e América Central. Para o Haiti, ter uma cidade que se
transforme no "hub" de toda uma região pode ser tão benéfico que o país pode decidir não reintegrar
essa cidade.
Valor: Os custos de construir uma nova cidade são altos. Quem pagaria por eles?
Romer: A cidade se pagaria por meio do aumento do valor da terra. A autoridade administrativa
seria dona da terra e poderia alugar para investidores interessados em se instalar na nova cidade. O
governo de Cingapura faz isso: aluga a terra para investidores. O administrador também poderia recorrer
a investidores privados para construir a infraestrutura de água, eletricidade, até mesmo ruas. Para isso,
teria que negociar tarifas e regras que pudessem ser garantidas por décadas futuras. Até esse momento,
o Brasil não teria gasto nada. É claro que precisaria pagar os salários das autoridades locais, juízes,
policiais, professores etc. Mas também receberia pelo serviço prestado como administrador. O
interessante nesse modelo é que embute os incentivos para que a cidade seja bem administrada. A
autoridade investe em educação, não por um dever moral, mas porque uma força de trabalho mais
preparada significa salários mais altos e empresas dispostas a pagar mais pelo espaço que ocupam ali.
Valor: Que benefícios o Brasil teria, além de receber pela administração?
Romer: O Brasil precisa se perguntar que tipo de papel vai querer ter no cenário mundial. Um
deles pode ser o de fazer as coisas de sempre e se sair bem na foto. É isso o que a maioria dos países
faz hoje - manda o dinheiro e diz as coisas certas. Mas todos os que estão fazendo isso não estão
conseguindo quase nada. Outra alternativa é o Brasil se comprometer a melhorar as condições de vida
num país e até mesmo numa região. E mostrar que isso pode ser feito por meio de um novo modelo. É
claro que, quando os objetivos são ousados, há riscos, mas os benefícios podem ser tão grandes que
vale a pena.
Valor: O Haiti tem condições de negociar um acordo como esse num momento tão difícil
para o país?
Romer: Não tenho certeza se o governo do Haiti atualmente tem independência e força suficiente
para tentar um acordo voluntário desse tipo. É uma questão em aberto.
Valor: O senhor já tratou desse assunto com o governo brasileiro?
Romer: Ainda não.
Valor: O senhor escreveu um artigo sobre como a criação dessas cidades poderia ajudar
na preservação de florestas na Indonésia. O raciocínio também vale para a Amazônia?
Romer: Sim. A urbanização ajudaria muito a preservação e o reflorestamento no mundo todo. O
que as pessoas querem é a chance de uma vida melhor. E se a única maneira para isso é cortando
árvores, vão cortar. Mas se tiverem a chance de trabalhar numa fábrica, mandar as crianças para uma
escola, vão fazer isso. Se forem construídas cidades habitáveis e com um padrão de vida que essas
pessoas possam pagar, vão morar lá.
Valor: O senhor cita Hong Kong como o exemplo mais próximo do que seria uma cidade
autônoma bem-sucedida. Por que, então, Macau não atingiu o mesmo desenvolvimento?
Romer: Se um grande número de cidades autônomas for fundada, como recomendo, algumas
não vão dar certo. Mas esse é um risco com o qual eu acho que podemos conviver. Há também algumas
lições que podem ser aprendidas da experiência em outras ex-colônias inglesas e em Macau. Hong Kong
foi única porque o mandato dado ao governador-geral era para fazer a ilha crescer tanto em termos de
população quanto de PIB per capita. Não era para viabilizar negócios lucrativos para empresas inglesas
ou para extrair riquezas. O cálculo que os ingleses fizeram é que, se a cidade fosse um sucesso,
conseguiriam renovar o acordo com a China. Isso mostra que, se o executivo de uma cidade tiver o
mandato correto, pode fazer coisas bastante boas. Se não, há exemplos mais que suficientes do que
pode acontecer de ruim.
Valor: O senhor diz que Hong Kong serviu de modelo para as zonas econômicas especiais
na China continental, mas foi o próprio governo chinês quem implementou o projeto. Por que, no
caso das cidades autônomas, seria preciso a interferência de outro governo?
Romer: Um dos motivos é escala. Alguns dos países mais pobres do mundo têm uma população
total de 2 ou 5 milhões de pessoas e não teriam escala para uma cidade com um aeroporto que fosse um
"hub" para rivalizar com qualquer outro no mundo. Além disso, a China, quando iniciou as zonas
econômicas, já tinha alcançado coisas básicas, como uma criminalidade sob controle. Alguns países não
conseguem garantir nem isso hoje. Nesse caso, talvez seja mais rápido fazer parcerias com outros
países.
Valor: A crise financeira afetou os países mais desenvolvidos e supostamente com as
melhores regras. Isso não mostra que copiar as normas de um país para outro pode não ser a
melhor solução?
Romer: Se eu estivesse trabalhando num acordo para o funcionamento de uma das cidades
autônomas, não teria o sistema financeiro dos Estados Unidos como inspiração. Olharia com muito mais
atenção o que Canadá, Índia ou Brasil fizeram. Uma cidade autônoma de sucesso não será um lugar
onde as regras são impostas por algum ditador e não há legitimidade. Imagine uma cidade que garanta
absoluta igualdade entre os sexos. As primeiras pessoas a se mudar para lá serão aquelas que
consideram esse princípio correto. Então, em vez de ser uma imposição, essa seria uma regra
desenhada para atrair as pessoas que concordam com a ideia. Num segundo momento, a cidade talvez
atraia as pessoas que não têm muita certeza sobre se esse conceito funciona, mas estão dispostas a ver
como é a vida num lugar assim. À medida que as pessoas vêm e vão e a cidade é bem-sucedida, os
conceitos se espalham e isso pode mudar sociedades inteiras.
Valor: O restante da população do país que não conseguir ir morar nessa cidade estaria
condenado a condições piores de vida?
Romer: A minha resposta é para que se construa outra cidade e outra e mais outra. Talvez
algumas famílias realmente prefiram ficar, já que as normas da cidade não as agradam. Mas o efeito
líquido seria empurrar o mundo na direção de melhores práticas e condições de vida.
Valor: Essa não é uma visão muito otimista?
Romer: Historicamente, é assim que tem acontecido. Charles II, rei da Inglaterra, quis ampliar a
liberdade de religião, mas foi derrotado pelo Parlamento. O rei deu um domínio nos Estados Unidos a
William Penn, um "quaker", e deixou que ele definisse as regras de funcionamento desse território. Penn
garantiu liberdade religiosa. Quem é que foi para a Pensilvânia? Os "quakers", mas também os católicos
e pessoas de qualquer outra religião que queriam liberdade. De uma hora para outra, a Pensilvânia se
transformou no primeiro lugar no mundo onde havia liberdade religiosa e separação entre igreja e
Estado. Em algum momento, lugares como Massachusetts e Virgínia tiveram que ceder. Exatamente
porque havia competição.
Valor: Como assim?
Romer: O conceito das cidades autônomas é recriar as condições da fronteira americana onde os
governos tinham que tratar as pessoas bem. O motivo pelo qual os Estados Unidos se tornaram, de certa
forma, progressistas em sua fundação - garantindo às mulheres o direito de propriedade à terra, falando
em igualdade para todos ou oferecendo educação universal - não foi porque eram moralmente
superiores. Mas porque havia cidades competindo para atrair moradores. Agora vivemos o momento
oposto. Há pouquíssimos lugares que aceitam imigrantes e milhares de pessoas em busca de uma
oportunidade melhor. Dessa forma, os poucos lugares que permitem a entrada de imigrantes podem
tratá-los realmente mal. Então, se um país como o Brasil se dispuser a construir grandes cidades para
mudar esse equilíbrio de forças, de tal forma que haja competição por pessoas, todos esses lugares
estarão oferecendo condições de vida muito melhores aos seus habitantes.
Valor: Algum país já aceitou a sua proposta?
Romer: O presidente de Madagascar, que é um empresário bem-sucedido e tinha planos
ambiciosos para o desenvolvimento do país, estava disposto a tentar. Mas foi derrubado por um golpe.
Eu conversei com governos de alguns países ricos que estão cautelosamente otimistas para tentar. Mas
há líderes nos países em desenvolvimento que estão dispostos a correr o risco porque com um
crescimento de 2% ao ano levarão uma eternidade para chegar ao grau de desenvolvimento que
querem.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
Indígenas voltam a protestar contra Usina de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará
Gilberto Costa Repórter da Agência Brasil
Brasília – Até quinta-feira (12), cerca de 500 pessoas são esperadas no acampamento ao lado do cais do porto de Altamira (PA) em protesto à construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), e outros empreendimentos na Amazônia. A mobilização é organizada por entidades como o Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS); a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Segundo essas entidades, a obra é desnecessária e de alto custo; gera grande passivo ambiental; trará impactos sociais e as populações supostamente mais afetadas como os indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores não são ouvidas pelo governo federal nem pelos empreendedores da obra. “É a mesma coisa que fizeram com Tucuruí”, disse a índia Sheyla Yakarepi Juruna, da comunidade Aldeia Boa Vista, em Vitória do Xingu (PA), fazendo referência à hidrelétrica construída durante a ditadura militar (1964-1985)
A índia teme que a obra gere impactos sociais como o aumento da prostituição na região e até mesmo da exploração sexual de crianças e adolescentes, como estaria ocorrendo nas proximidades das obras de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira (RO).
“Eles vão fazer um Canal do Panamá aqui dentro”, comparou Claudemir Monteiro, da coordenação do Cimi no Pará e Amapá. “Não adianta gerar energia limpa com a destruição da floresta”, criticou o indigenista, ao dizer que a obra está saindo “por capricho do [presidente] Lula”. Claudemir avaliou que Belo Monte é um “projeto emblemático” e depois dele outras obras de grande impacto ambiental se seguirão.
Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), espera que, nas futuras obras na Amazônia, o governo “reveja suas práticas”, e faça novas usinas e qualquer outro empreendimento “com planejamento e consulta”, reclamou. Segundo ela, o licenciamento ambiental da obra “foi político” e imposto.
Adriana Ramos lembrou que ainda estão pedentes para a construção de Belo Monte as medidas compensatórias para as populações afetadas e o problema de redução de diminuição da vazão e perda da qualidade da água. Segundo ela, “os indígenas estão insatisfeitos, porque o processo de instalação não os levou em conta. A Funai [Fundação Nacional do Índio] autorizou a obra sem fazer consulta aos índios”, afirmou.
A Agência Brasil também ouviu a concessionária da hidrelétrica, a Norte Energia S.A. Segundo o diretor socioambiental da empresa, Antônio Coimbra, “nenhuma terra indígena será inundada. Não haverá 1 metro quadrado inundado”, garantiu. Conforme o executivo, Belo Monte terá uma das melhores relações entre o tamanho da área alegada e a quantidade de energia gerada: 23 megawatts por quilômetro quadrado (km²), abaixo apenas da hidrelétrica de Xingó, no Rio São Francisco (AL e SE), para a qual a relação é de 50 megawatts por km².
Na sua opinião, “o país não pode abrir mão da energia limpa e renovável das hidrelétricas, e o maior potencial está na Amazônia”. Antônio Coimbra contabilizou que o Brasil tem no total um potencial de 260 gigawatts (hidrelétricas em funcionamento e obras futuras) e que quase a metade desse potencial está na região amazônica (115 gigawatts). De acordo com o diretor da Norte Energia S.A, apenas 6% do potencial hidrelétrico da Amazônia está sem operação.
Gilberto Costa Repórter da Agência Brasil
Brasília – Até quinta-feira (12), cerca de 500 pessoas são esperadas no acampamento ao lado do cais do porto de Altamira (PA) em protesto à construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), e outros empreendimentos na Amazônia. A mobilização é organizada por entidades como o Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS); a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Segundo essas entidades, a obra é desnecessária e de alto custo; gera grande passivo ambiental; trará impactos sociais e as populações supostamente mais afetadas como os indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores não são ouvidas pelo governo federal nem pelos empreendedores da obra. “É a mesma coisa que fizeram com Tucuruí”, disse a índia Sheyla Yakarepi Juruna, da comunidade Aldeia Boa Vista, em Vitória do Xingu (PA), fazendo referência à hidrelétrica construída durante a ditadura militar (1964-1985)
A índia teme que a obra gere impactos sociais como o aumento da prostituição na região e até mesmo da exploração sexual de crianças e adolescentes, como estaria ocorrendo nas proximidades das obras de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira (RO).
“Eles vão fazer um Canal do Panamá aqui dentro”, comparou Claudemir Monteiro, da coordenação do Cimi no Pará e Amapá. “Não adianta gerar energia limpa com a destruição da floresta”, criticou o indigenista, ao dizer que a obra está saindo “por capricho do [presidente] Lula”. Claudemir avaliou que Belo Monte é um “projeto emblemático” e depois dele outras obras de grande impacto ambiental se seguirão.
Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), espera que, nas futuras obras na Amazônia, o governo “reveja suas práticas”, e faça novas usinas e qualquer outro empreendimento “com planejamento e consulta”, reclamou. Segundo ela, o licenciamento ambiental da obra “foi político” e imposto.
Adriana Ramos lembrou que ainda estão pedentes para a construção de Belo Monte as medidas compensatórias para as populações afetadas e o problema de redução de diminuição da vazão e perda da qualidade da água. Segundo ela, “os indígenas estão insatisfeitos, porque o processo de instalação não os levou em conta. A Funai [Fundação Nacional do Índio] autorizou a obra sem fazer consulta aos índios”, afirmou.
A Agência Brasil também ouviu a concessionária da hidrelétrica, a Norte Energia S.A. Segundo o diretor socioambiental da empresa, Antônio Coimbra, “nenhuma terra indígena será inundada. Não haverá 1 metro quadrado inundado”, garantiu. Conforme o executivo, Belo Monte terá uma das melhores relações entre o tamanho da área alegada e a quantidade de energia gerada: 23 megawatts por quilômetro quadrado (km²), abaixo apenas da hidrelétrica de Xingó, no Rio São Francisco (AL e SE), para a qual a relação é de 50 megawatts por km².
Na sua opinião, “o país não pode abrir mão da energia limpa e renovável das hidrelétricas, e o maior potencial está na Amazônia”. Antônio Coimbra contabilizou que o Brasil tem no total um potencial de 260 gigawatts (hidrelétricas em funcionamento e obras futuras) e que quase a metade desse potencial está na região amazônica (115 gigawatts). De acordo com o diretor da Norte Energia S.A, apenas 6% do potencial hidrelétrico da Amazônia está sem operação.
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
Opiniões de americanos sobre a paranoia (segundo eles, é claro), do Brasil em relação à Amazonia:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/ ... canos.html
Wingate
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/ ... canos.html
Wingate
Re: Ameaça REAL ao Brasil
Valor:
ENTREVISTA - PAUL ROMER, PROFESSOR EM STANFORD
Por que ser pobre?
Por Leandra Peres, para o Valor, de Washington
É possível convencer o governo de um país a abrir mão da administração de partes de seu
território para entregá-las a uma administração estrangeira? O economista americano Paul Romer,
professor em Stanford e indicado em 1997 pela "Times" como um dos 25 americanos mais influentes do
mundo, acha que cidades autônomas, assim criadas, são viáveis - politicamente, inclusive -, e poderiam
constituir uma solução para países de menor renda ganharem capacidade própria de crescimento, com o
apoio de um outro país, em estágio superior de desenvolvimento. (...)
Só falta "combinar" isso com os países...
ENTREVISTA - PAUL ROMER, PROFESSOR EM STANFORD
Por que ser pobre?
Por Leandra Peres, para o Valor, de Washington
É possível convencer o governo de um país a abrir mão da administração de partes de seu
território para entregá-las a uma administração estrangeira? O economista americano Paul Romer,
professor em Stanford e indicado em 1997 pela "Times" como um dos 25 americanos mais influentes do
mundo, acha que cidades autônomas, assim criadas, são viáveis - politicamente, inclusive -, e poderiam
constituir uma solução para países de menor renda ganharem capacidade própria de crescimento, com o
apoio de um outro país, em estágio superior de desenvolvimento. (...)
Só falta "combinar" isso com os países...
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
Interessante! Ainda ontem passou um filme, rodado nos EUA, cujo título era "PARANóIA".Medo de intervenção na Amazônia é 'paranoia', dizem americanos
Pesquisadores ouvidos pelo G1 dizem que Brasil é desconfiado demais.
Eles alegam não existir risco de 'internacionalização' da floresta.
Quando visitou o Brasil em 2003, no início da invasão do Iraque, o advogado americano Mark London ficou chocado com faixas que viu penduradas pela capital do país. O pesquisador estudava a Amazônia brasileira havia décadas, era autor de um livro pioneiro sobre o assunto nos Estados Unidos, e se viu diante de frases que alegavam que, depois do Iraque, o alvo dos americanos seria o Brasil, por conta da floresta e das suas reservas de água, o que achou absurdo.
A experiência dele é comum entre quase todos os estudiosos norte-americanos que se debruçaram sobre a importância da região amazônica para o Brasil para o mundo. O G1 entrevistou mais de dez pesquisadores brasilianistas e de geopolítica que estudam a Amazônia sob a ótica americana e constatou que eles sempre dizem se ver diante do que consideram uma desconfiança excessiva e desnecessária, fruto do que acham ser “paranoia” dos brasileiros.
Na opinião de London, há uma desconexão entre o que os brasileiros acham que é a opinião americana sobre a Amazônia e a realidade dos que os EUA pensam sobre a região. “A paranoia é real. Isso é completamente sem sentido. Não há nenhuma sugestão de que vamos invadir, ocupar, intervir de nenhuma forma. Temos problemas suficientes intervindo em países inimigos, porque criaríamos um problema com nossos amigos? Não há razões para intervir na Amazônia tanto quanto não há de intervir em Paris, na França”, disse London, em entrevista ao G1. Advogado, London é co-autor dos livros “Amazon”, publicado em 1985, e “A última floresta” (Ed. Martins), em que o tema foi atualizado em 2007.
Essa interpretação de que os brasileiros se preocupam demais é compartilhada por pesquisadores mais conservadores, como o diretor do Instituto Stratfor, George Friedman, e por acadêmicos de esquerda, como a professora Barbara Weinstein, da New York University. Segundo os pesquisadores, não existem planos norte-americanos para uma invasão da Amazônia. A ideia de uma intervenção direta no território brasileiro é tratada como irreal até mesmo pelo discurso oficial do governo dos Estados Unidos, ignorada pela grande mídia e vista como impossível, obra de ficção ou até paranoia de pessoas que acreditam em "teorias da conspiração", segundo pesquisadores tanto da região quanto das relações entre os dois países envolvidos na questão.
“Isso é absurdo”, disse, rindo, a professora Weinstein, da NYU. “Eu mesma sou muito crítica em relação aos Estados Unidos, mas acho que essa preocupação não é nada real.” Weinstein é uma das pesquisadoras mais prolíficas da história do Brasil nos Estados Unidos. Ligada desde 2007 à NYU, ela já passou períodos em Yale e Princeton, e escreveu livros que tratam da questão ambiental da Amazônia, da história da exploração de borracha no norte do pais, da formação da classe trabalhadora no Brasil, e atualmente pesquisa as questões de regionalismo, com a predominância de São Paulo sobre o resto do país. Ela é autora, entre outras obras e artigos, de "(Re)formação da Classe Trabalhadora no Brasil, 1920-1964" (Editora Cortez) e "A Borracha na Amazônia: Expansão e Decadência, 1850-1920" (EDUSP).
Segundo ela, a região em que fica a maior floresta tropical do mundo é reconhecida como território brasileiro, e muitas vezes confundida com a totalidade do país, sendo uma das primeiras imagens evocadas ao se pensar na ideia de Brasil. Além disso, é o governo brasileiro que é cobrado pela forma como trata a Amazônia, seja por questões ambientais ou geopolíticas. O discurso mais comum nos Estados Unidos é de admiração pela vastidão da floresta, de mistério envolvendo sua imensidão, mas de distância, não de intervenção.
De acordo com Nikolas Kozloff, autor de um dos estudos mais recentes publicados nos Estados Unidos sobre a Amazônia, a ideia de que pode haver uma intervenção americana na Amazônia brasileira é o tipo de teoria conspiratória em que só brasileiros acreditam. “Falei com muitas pessoas de diferentes vertentes políticas, de direita e esquerda, e jamais ouvi ninguém defender este tipo de coisa, nem falar sobre o assunto”, disse ao G1. Ele pessoalmente está mais ligado à esquerda, e diz que não existe nenhum tipo de ameaça como esta temida pelos brasileiros.
Kozloff publicou em abril seu terceiro livro sobre a América Latina: “No Rain in the Amazon: how south america’s clime change affects the entire planet” (Sem chuva na amazônia: como a mudança climática na América do Sul afeta o planeta inteiro), lançado depois de escrever sobre a trajetória de Hugo Chávez e, em seguida, sobre a “onda rosa” de governos de esquerda na América Latina.
A interpretação de que questões relacionadas à Amazônia e ao ambiente podem motivar conflitos é exagerada segundo o especialista em geopolítica George Friedman, fundador e diretor da Stratfor, empresa privada de inteligência e previsão em geopolítica global e economia. Ele é autor de quatro livros sobre estes temas, e é reconhecido como especialista em segurança nacional norte-americana e inteligência de guerra. Apontado como conservador e mais ligado à direita, Friedman escreveu “Os próximos 100 anos”, livro publicado em 2009 e que se tornou um dos mais vendidos na lista do “New York Times”, em que usa uma análise detalhada da história do mundo para fazer uma previsão do futuro.
“Não há possibilidade de uma intervenção americana no Brasil, mas a America Latina adora a fantasia da ação direta dos Estados Unidos, pois isso sempre serviu para explicar os fracassos do continente. Os Estados Unidos sempre foram os vilões. Em muitos casos, o país nem foi tão influente, mas foi visto desta forma. A ideia de que o governo dos Estados Unidos está pensando em intervir no Brasil é irracional. Os brasileiros pensam nisso, não os americanos”, disse, em entrevista ao G1. A justificativa de Friedman é de que a Amazônia é uma responsabilidade do Brasil e não cabe aos Estados Unidos se envolverem nem mesmo na proteção ambiental da região.
Na mídia
Mesmo com a negativa veemente de pesquisadores em relação ao risco de intervenção internacional no território brasileiro, há outros fatores que geram preocupação no Brasil e que criam nos Estados Unidos uma impressão de que os brasileiros são paranóicos com a Amazônia. Para muitos americanos, além de não darem conta totalmente de controlar a região, querem evitar de qualquer forma que esta seja a impressão americana.
Um exemplo disso foi um texto de 2008 no “New York Times”, o jornal mais relevante dos Estados Unidos, que usava como gancho a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, uma semana antes, para discutir a preocupação brasileira com a posse da Amazônia. O título da reportagem, “Whose Rain Forest is this, Anyway?”, algo que pode ser traduzido livremente para “De quem é esta floresta tropical, afinal?” tem uma carga de “ameaça” muito mais forte de que o resto do texto. Por mais que tenha alguns juízos de valor e algumas informações vagas, a reportagem aparenta ser respeitosa e correta. O G1 entrou em contato com o correspondente, mas ele respondeu que não poderia dar a opinião dele por não ter autorização do “Times” para dar entrevistas a respeito da visão editorial que tem do Brasil.
O início da reportagem alega que o Brasil passou sua história “olhando nervosamente” para os mapas do território pouco habitado da Amazônia, e que por isso a colonização desse espaço foi uma prioridade dos anos 1960 e 70, como questão de segurança nacional. O texto passa então a comentar casos em que a propriedade da Amazônia supostamente haviam sido questionados publicamente, que “reacendem velhas atitudes de protecionismo territorial e vigilância contra invasores externos”, diz. Segundo ele, “muitos” tratam as estratégias do governo para a região como “paranoica”.
O governo brasileiro divulgou uma resposta oficial ao artigo do “New York Times” uma semana depois da sua publicação, e em discurso oficial do presidente Lula. "O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono, e o dono é o povo brasileiro. São seringueiros, pescadores e nós que somos brasileiros", disse Lula na abertura do 20º Fórum Nacional, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro .
Preocupação saudável
Por mais que haja a visão norte-americana de que os brasileiros são paranoicos, nem todos os pesquisadores acham exagerada a preocupação do país com a proteção do seu território na Amazônia. Colin MacLachlan, especialista no Brasil formado na Universidade da Califórnia em Los Angeles, faz referência ao assunto. MacLachlan alega que a preocupação brasileira em ter respeito internacional não é exagerada por conta da gigantesca proporção do território e do enorme trabalho para garantir a soberania sobre ele. A afirmação faz parte do livro "A History of Modern Brazil: The Past Against the Future" (Uma história do Brasil moderno: O passado contra o futuro), lançado em 2003. O combate ao tráfico de drogas na Colômbia, diz o livro, com ajuda norte-americana, coloca em risco o território brasileiro, para onde poderiam fugir os produtores que ficam na fronteira norte do país. Isso levaria a guerrilha para o território brasileiro e deixaria ainda mais clara a noção de fraqueza no controle da região.
"A fronteira por terra do Brasil tem 16.503 km e passa por todos os países sul-americanos exceto Chile e Equador. A fronteira amazônica (11 mil km) parece a mais vulnerável. Pouco populosa e fracamente ligada ao sul, a região historicamente se definiu de forma diferente do resto do Brasil pela comunidade internacional. Seu impacto exótico nos primeiros exploradores europeus nunca desapareceu”, diz. Segundo ele, mudanças nas definições do que constitui motivo para guerra ou intervenção na era pós Guerra Fria tornou difícil medir a reação internacional. Ações e situação que anteriormente poderiam ser consideradas questões internas agora têm potencial de se transformar em problemas transnacionais.
Um pesquisador americano que defende o direito brasileiro de se preparar para evitar qualquer tipo de problema em relação à soberania da Amazônia é Daniel Zirker, diretor da faculdade de Artes e Ciências Sociais e professor de Ciência Política da Universidade de Waikato, na Nova Zelândia, Daniel Zirker serviu no Corpo de Paz dos Estados Unidos no Nordeste do Brasil no início dos anos 1970. Ele concedeu entrevista por telefone, desde a Nova Zelândia. Segundo ele, não é possível prever uma ação dos EUA no Brasil, não há motivos para isso, mas os brasileiros, especialmente entre os militares, têm razões para se sentirem ameaçados.
Após atuar como diretor de estudos ambientais da universidade Estadual de Montana, entre 2002 e 2003, e como presidente do comitê de pesquisas sobre as forças armadas da Associação de Ciência Política Internacional, Zirker se consolidou como um dos mais importantes pesquisadores das relações político militares entre Brasil e Estados Unidos, levando em consideração especialmente a questão da soberania brasileira da Amazônia e os riscos de uma intervenção internacional na floresta. "Nas circunstâncias atuais, concordo que é impossível uma intervenção na Amazônia. Mas não podemos prever o futuro e não sabemos como o mundo vai reagir em caso de um problema mais serio na região no futuro. Hoje não vejo nenhuma razão para os EUA invadirem uma área da Amazônia. Ao mesmo tempo, muitos europeus e americanos declararam sua preocupação que a Amazônia seja cuidada”.
Quem assistiu entendeu.
"A disciplina militar prestante não se aprende senhor, sonhando e na fantasia, mas labutando e pelejando." (CAMÕES)
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Re: Ameaça REAL ao Brasil
O menino desconfiava que o vizinho dele era um piscopata, no inicio pensavamos que era uma "paranoia" dele. mas no fim percebemos que ele estava certo.jauro escreveu:
Interessante! Ainda ontem passou um filme, rodado nos EUA, cujo título era "PARANóIA".
Quem assistiu entendeu.