Paquistão: Conjuntura Contemporânea

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Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#1 Mensagem por Enlil » Ter Jul 07, 2009 11:24 am

Já q eu e alguns colegas foristas estávamos postando já há alguns meses notícias sobre o Paquistão no tópico sobre o Afeganistão acho pertinente q a complexa conjuntura desse país merece um tópico exclusivo:

07/07/2009 - 08h33

Ataque de míssil atribuído aos EUA mata ao menos 14 no Paquistão

da Folha Online

Um míssil disparado nesta terça-feira por um avião não tripulado, atribuído aos Estados Unidos, matou ao menos 14 pessoas no Paquistão. O alvo do ataque foi esconderijo insurgente em um reduto do líder do grupo islâmico radical Taleban no Paquistão, Baitullah Mehsud, vinculado à rede terrorista Al Qaeda.

"Catorze combatentes islamitas morreram e oito ficaram feridos. Entre os mortos, há quatro estrangeiros e os demais são locais", afirmou uma fonte dos serviços de segurança, citada pela Reuters, em uma referência aos combatentes árabes da Al Qaeda e seus aliados talebans paquistaneses.

O ataque destruiu um complexo na zona de Zangara, no Waziristão Sul, perto da fronteira com o Afeganistão.

Mehsud é o líder do Movimento dos Talebans do Paquistão (Tehrik-e-taliban Pakistan, TTP), responsável pela maioria dos atentados suicidas cometidos no país nos últimos dois anos, que provocaram 2.000 mortes.

Os balanços de vítimas dos ataques com mísseis americanos não podem ser confirmados por fontes independentes, já que nem mesmo as forças oficiais têm acesso às zonas tribais, reduto dos talebans.

Desde agosto de 2008, 45 disparos de mísseis deste tipo no noroeste do Paquistão mataram 440 pessoas, em sua maioria extremistas, mas também civis.

Islamabad protesta contra os ataque por considerá-los uma violação de sua soberania. Mas especialistas afirmam que o discurso é apenas retórica, já que, nos bastidores, o Paquistão cobra este tipo de apoio dos EUA no combate aos terroristas do país.

Os EUA intensificaram este tipo de ataque desde que anunciaram o reforço na Guerra do Afeganistão contra os terroristas. Já o Paquistão prepara uma grande ofensiva contra Mehsud, considerado o responsável por uma campanha de atentados a bomba no país, incluindo o que matou, em 2007, a então premiê Benazir Bhutto.

Os EUA anunciaram uma recompensa de US$ 5 milhões por qualquer informação que leve à prisão ou localização de Mehsud, enquanto o governo paquistanês oferece US$ 615 mil por ele.

com France Presse e Reuters

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 1671.shtml




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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#2 Mensagem por Enlil » Qua Jul 08, 2009 12:19 pm

8/07/2009 - 12h00

Ataques atribuídos aos EUA matam ao menos 25 no Paquistão

colaboração para a Folha Online

Ao menos 25 insurgentes morreram nesta quarta-feira em dois ataques com mísseis atribuídos aos Estados Unidos contra alvos do grupo radical islâmico Taleban na zona tribal do Waziristão do Sul, no Paquistão.

Mísseis disparados por aviões não-tripulados atingiram um comboio de veículos que transportavam os insurgentes perto do povoado de Janata, 50 km ao noroeste de Wana, a principal cidade do distrito.

Outra fonte militar afirmou que o número de mortos pode aumentar.

Mais cedo, um primeiro ataque de mísseis americanos matou ao menos oito insurgentes a 35 km de Wana, em um campo de treinamento em Karwan Manza.

As nacionalidades e identidades dos mortos não foram divulgadas.

Os ataques aéreos desta quarta-feira elevaram a seis o número de operações desse tipo feitas pelos EUA no Waziristão no sul nas últimas duas semanas.

A região é considerada a fortaleza do líder do Taleban no país e aliado da rede terrorista Al Qaeda, Baitullah Mehsud.

Ataques

Desde agosto de 2008, 45 disparos de mísseis deste tipo no noroeste do Paquistão mataram mais de 400 pessoas, em sua maioria extremistas, mas também civis.

O governo de Islamabad protesta contra os ataques com mísseis feitos pelos EUA por considerá-los uma violação de sua soberania.

Mas especialistas afirmam que o discurso é apenas retórica, já que, nos bastidores, o Paquistão cobra este tipo de apoio dos EUA no combate aos terroristas do país.

Os EUA intensificaram este tipo de ataque desde que anunciaram o reforço na Guerra do Afeganistão contra os terroristas. Já o Paquistão prepara uma grande ofensiva contra Mehsud, considerado o responsável por uma campanha de atentados a bomba no país, incluindo o que matou, em 2007, a então premiê Benazir Bhutto.

Os EUA anunciaram uma recompensa de US$ 5 milhões (R$ 9,9 milhões) por qualquer informação que leve à prisão ou localização de Mehsud, enquanto o governo paquistanês oferece US$ 615 mil (R$ 1,2 milhão) por ele.

Com France Presse, Associated Press e Reuters

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 2347.shtml




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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#3 Mensagem por FOXTROT » Qua Jul 08, 2009 2:02 pm

Pois é Nukualofa77, os EUA conseguiram criar mais uma frente, todos os dias matam dezenas de "terroristas" no Paquistão e este país faz nada!




"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
ademir
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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#4 Mensagem por ademir » Sex Jul 10, 2009 1:46 pm

FOXTROT escreveu:Pois é Nukualofa77, os EUA conseguiram criar mais uma frente, todos os dias matam dezenas de "terroristas" no Paquistão e este país faz nada!
Este criar mais uma frente de combate é uma expressão estranha, creio que por questões etnicas uma guerra no Paquistão seria uma consequencia ate certo ponto natural no decorrer da guerra contra o Talebã em solo Afegão, o problema foi a miopia estrategica do Bush, que viu o Iraque como problema maior...




Hader

Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#5 Mensagem por Hader » Sex Jul 10, 2009 9:37 pm

O Paquistão não é uma nova frente. É um desdobramento natural, e esperado, do conflito afegão. Etnicamente os dois países estão intimamente ligados. A estrutura tribal de poder é sistêmica em ambos os lados da fronteira. Qualquer ação no Afeganistão acabaria no Paquistão. O aparato de inteligência norte-americano delineou perfeitamente esta relação faz tempo, pois foi amplamente usada durante a guerra soviética na região. Este conflito está condenado a desbordar para além do binômio Afeganistão-Paquistão. Toda asia central será, em maior ou menor grau, contaminada por reflexos deste conflito. Irã e diversas ex-repúblicas soviéticas estão ligadas a esta teia etnica-cultural que faz parte do conflito. Até mesmo regiões da China já sentem. Não digo com isso que o conflito será militar em todos estes locais. Mas eles fazem parte do TO de um tipo de fundamentalismo religioso muito peculiar e serão importantes no desdobramento futuro do conflito.

[]'s




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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#6 Mensagem por Enlil » Ter Jul 21, 2009 3:52 pm

21/07/2009 - 11h34

Confrontos deixam ao menos 50 insurgentes mortos no Paquistão

colaboração para a Folha Online

Três dias de confrontos entre forças de segurança e insurgentes no noroeste do Paquistão, próximo à fronteira com o Afeganistão, deixaram ao menos 50 militantes e seis soldados mortos, o Exército informou nesta terça-feira.

A grande maioria das mortes ocorreu durante dois dias de operações em Maidan, no Baixo Dir --uma região próxima ao vale do Swat, onde o Exército paquistanês realiza uma grande ofensiva contra militantes do grupo radical islâmico Taleban.

Em um comunicado, os militares disseram que cinco militantes vestidos com burcas --trajes islâmicos femininos-- foram detidos enquanto tentavam fugir de uma operação de busca.

Outra operação militar encontrou os corpos de dez supostos militantes em uma caverna no Swat.

Imagem

A violência demonstra que a segurança continua frágil na região --que é de difícil acesso.

O Exército diz que mais de 1.700 insurgentes foram mortos no Swat e em distritos próximos, mas o número não pode ser verificado de forma independente.

No entanto, as autoridades do Paquistão não informaram sobre mortes entre a população civil.

Os talebans invadiram há cerca de dois anos o vale do Swat, transformado em reduto para os militantes que planejam os ataques às forças de segurança no país e no vizinho Afeganistão.

Em meados de fevereiro, Islamabad assinou um acordo de paz para tentar conter o avanço terrorista. O acordo propunha cessar-fogo em troca da instauração, em Swat e em outros seis distritos, de tribunais islâmicos da sharia (lei islâmica).

Em vez de entregar as armas, os radicais islâmicos aproveitaram a oportunidade para tomar o controle os distritos de Buner e Baixo Dir, ficando a cerca de cem km da capital Islamabad. O governo, sob a intensa pressão de Washington, encerrou o acordo e iniciou ofensivas em Swat, e nos distritos vizinhos de Dir e Buner.

O Exército paquistanês também está preparando uma ofensiva similar na região tribal do Waziristão do Sul, que terá como alvo o chefe do Taleban paquistanês, Baitullah Mehsud.

Os Estados Unidos apoiam as operações, dizendo que Islamabad deve eliminar as fortalezas dos militantes para garantir sua própria segurança, assim como para diminuir a ameaça dos que se opõe à guerra no vizinho Afeganistão.

Refugiados

A campanha no vale do Swat criou cerca de 2 milhões de refugiados, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). O Exército declarou recentemente a região "limpa" de militantes, e milhares estão retornando para suas casas.

Nesta segunda-feira, o governo fechou oficialmente dois campos próximos à cidade de Mardan que abrigava aproximadamente 20 mil pessoas.

Carro-bomba

Nesta terça-feira, forças de segurança apreenderam uma caminhonete carregada de explosivos e prenderam dois homens, evitando um possível ataque, segundo o funcionário do governo local Fazal Mahmood.

Os homens e o veículo foram parados em uma blitz na região tribal de Khyber. Autoridades estão interrogando os suspeitos para determinar qual seria o alvo do suposto atentado e quem os havia enviado.

O Paquistão tem sido alvo de uma série de explosões nos anos recentes --a maioria em mercados, hotéis e postos da polícia.

Alguns dos ataques recentes foram feitos em retaliação à ofensiva no vale do Swat.

Com Associated Press e Reuters

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 8039.shtml




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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#7 Mensagem por Enlil » Qui Jul 23, 2009 3:44 pm

23/07/2009 - 09h56

Filho de Bin Laden morreu em ataque dos EUA no Paquistão, diz rádio


da Reuters, em Islamabad

Um filho de Osama bin Laden provavelmente foi morto por um bombardeio norte-americano no Paquistão neste ano, disse a Rádio Pública Nacional dos Estados Unidos, citando fontes norte-americanas de inteligência.

Sa'ad bin Laden é figura relevante na nebulosa relação entre Irã e a rede terrorista Al Qaeda, comandada por Osama. Ele teria ido para o Paquistão após passar anos sob prisão domiciliar no Irã, disse uma fonte de inteligência dos EUA em janeiro.

Um míssil disparado de um avião teleguiado dos EUA o teria matado em algum momento deste ano, disse o site da rádio estatal, citando uma fonte não-identificada de contraterrorismo.

De acordo com essa fonte, as agências de inteligência dos EUA têm "80% a 85%" de certeza de que Sa'ad bin Laden morreu. A fonte diz ainda que ele não era suficientemente importante para ser um alvo, apenas estava "no lugar errado na hora errada".

Imagem
Video mostra Saad bin Laden, filho de Bin Laden que teria sido morto em bombardeio dos EUA nas montanhas do Paquistão

A RPN acrescenta que não se sabe se Sa'ad estava perto do pai ao morrer.

A fonte de inteligência disse que ele era ativo na Al Qaeda, mas não tinha grande influência. Acredita-se que tivesse quase 30 anos de idade.

Os EUA intensificaram desde setembro os ataques com aviões não tripulados a alvos terroristas no Paquistão. Embora não assumam a maior parte dos ataques, o governo visa reduzir a influência do grupo islâmico radical Taleban em áreas vizinhas ao Afeganistão.

Desde o começo do ano passado, os EUA realizaram quase 50 bombardeios desse tipo, matando cerca de 470 pessoas, inclusive diversos militantes estrangeiros, segundo cifras compiladas pela inteligência paquistanesa, por autoridades locais e por moradores.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 9081.shtml




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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#8 Mensagem por César » Qui Jul 23, 2009 3:50 pm

Só gostaria de elogiar o amigo Nukualofa77 pela abertura desse tópico. Com certeza esse é um tema relevante e que estava sendo esquecido, ou pouco abordado, aqui no fórum.
A guerra no Paquistão tomou dimensões que a tornou relativamente independente da guerra no Afeganistão. Logo, merece um tópico próprio para debates.

Abraços

César




"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."

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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#9 Mensagem por Enlil » Qui Jul 23, 2009 5:17 pm

[100] César. Realmente, tanto o contexto político interno paquistanês, com a "queda" de Musharraf e o assassinato de Bhuto, quanto a ofensiva das FA's paquistanesas no Vale de Swat contra os "santuários" talibãs tornaram a situação extremamente complexa e com consequências imprevisíveis no país. Ficou impressionado com a "invisibilidade" das consequências humanitárias desses combates no "Paquistão profundo"... + de 2 milhões de refugiados... Infelizmente, a população civil sempre é sacrificada pela ignorância e pelo fogo cruzado... de um lado um grupo fundamentalista q quer implantar um arquétipo transcendental medieval em pleno século XXI e do outro um Estado q ao longo de sua história foi totalmente ausente no interior do país, onde se vive na mais absoluta miséria... Não sou otimista em relação ao futuro dessa população; mesmo q a FA's paquistanesas liquidem os talibãs temporariamente ele só serão definitivamente derrotados se o Estado se fazer presente no interior do país. Será q isso acontecerá se a ofensiva tiver êxito? os EUA e a OTAN já têm imensas dificuldades para controlar os talibãs no Afeganistão imagine o Paquistão... No entanto, análogo ao caso afegão, se o Estado não for permanentemente presente militar e socialmente nessas áreas acho q mais uma vez estamos diante de uma brutal guerra de desgaste em q nenhum dos lados consolidará uma parcela mínima de seus objetivos...

Infelizmente, mais uma vez, válido para essas "guerras irmãs" (Afeganistão/Paquistão), está se combatendo as consequências e não as causas da insurgência e do fanatismo: a miséria, a ignorância, Estados ausentes, falidos, corruptos e com Instituições extremamente frágeis...

Mais uma vez os EUA (e a OTAN a reboque, não podemos esqueçer q os europeus estão lá por causa dos atentados em Londres e Madri, fruto do apoio incondicional desses países a "guerra contra o terror" de Bush, fora os pipelinies do petróleo do Cáucaso é claro...) estão lutando uma guerra q tem chances mínimas de ser vencida militarmente pelos motivos explanados acima. Mais uma vez os planejadores do Pentágono acham q primeiro têm q vencer militarmente para depois institucionalizarem um Estado viável...

Como é possível preceber, a sociedade afegã e dos confins do Paquistão é moldada por mais de 30 anos de guerras ininteruptas... sem um trabalho educacional de base e um intenso e permanente investimento em programas sociais de toda a natureza não há como estabilizar essas regiões a longo prazo; mesmo se investindo nisso demoraria pelo menos uma geração para se viabilizar essa estabilidade...

E o q se está fazendo mais uma vez? se priorizando apenas a solução militar... teria q ser simultâneo. É o q os EUA e a OTAN não estão fazendo; aliás apoiam um governo podre de corrupto, cheio de desprezíveis e medievais "senhores da guerra", sem nenhuma representavidade na maior parte do país (controlado pelos talibãs)...

Vejo alguns legitimarem essa guerra mostrando a ajuda humanitária (q chega a uma minoria no país já q a maior parte é controlada pelos talibãs e mostrando "cativantes" cenas de militares europeus e americanos dando doces para as crianças afegãs... A ajuda humanitária é providencial pelo simples fato de q dão uma sobrevida a essas pessoas, mas na realidade não passam de medidas paliativas...

Impressionante como alguns são "ingênuos" e acreditam nas "verdades" oficiais... deveriam ser os primeiros a pressionarem seus governos para viabilizarem essa guerra e protestarem por baixas calcadas em legitimidades q omitem muitos detalhes (sobretudo os energéticos), q por um lado discursam em prol da liberdade dos afegãos mas por outro sustentam esse pseudo-governo... coisa de militaristas míopes q não conseguem fazer uma análise um pouco imparcial e são incapazes de fazer uma reflexão com o mínimo de bom senso, se questionarem, exergarem um palmo além de seus narizes...

Alguns textos postados pelo colega forista Clermont já salientam q na realidade pouca coisa mudou para a imensa maioria da população afegã, sobretudo as mulheres, o "Estado" de fanáticos talibãs deixou de existir mas os "hábitos" e a praticamente absoluta ausência do Estado permaneçe...

Enfim, entrei no assunto afegão mas ele é análogo ao paquistanês, sobretudo no Vale de Swat.

Um grande [ ], até mais...




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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#10 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Jul 23, 2009 5:43 pm

Sa'ad bin Laden era Afegão? Sa'ad bin Laden era Paquistanês?

Mas afinal não eram os militares da ISAF os estrangeiros?

Estranho... :roll:




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#11 Mensagem por Enlil » Qui Jul 23, 2009 6:21 pm

? Para alguns sauditas da família Laden a pátria deles é uma visão particular do islã... Como é sabido, tanto nas guerras do Oriente Médio (e até na Chechênia) há muçulmanos de toda a Ásia lutando contra os "inimigos do islã" (no juízo deles)... Se bem q vejo tantas delarações anti-islã no ocidente q dá para perceber q tanto na Europa quantos nas Américas existe um compartilhamento de "imaginário" com os muçulmanos radicais (pequena minoria adepta da "jihad") de q se trava uma "Grande Guerra pela Civilização" entre ocidentais e muçulmanos, como diria Robert Fisk...




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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#12 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Jul 23, 2009 6:38 pm

Eu escrevi o que escrevi porque segundo o Foxtrot os Talibans são Afegãos a lutar contra a ocupação ocidental. O que é um perfeito disparate.




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#13 Mensagem por César » Qui Jul 23, 2009 6:40 pm

Nukualofa77 escreveu:[100] César. Realmente, tanto o contexto político interno paquistanês, com a "queda" de Musharraf e o assassinato de Bhuto, quanto a ofensiva das FA's paquistanesas no Vale de Swat contra os "santuários" talibãs tornaram a situação extremamente complexa e com consequências imprevisíveis no país. Ficou impressionado com a "invisibilidade" das consequências humanitárias desses combates no "Paquistão profundo"... + de 2 milhões de refugiados... Infelizmente, a população civil sempre é sacrificada pela ignorância e pelo fogo cruzado... de um lado um grupo fundamentalista q quer implantar um arquétipo transcendental medieval em pleno século XXI e do outro um Estado q ao longo de sua história foi totalmente ausente no interior do país, onde se vive na mais absoluta miséria... Não sou otimista em relação ao futuro dessa população; mesmo q a FA's paquistanesas liquidem os talibãs temporariamente ele só serão definitivamente derrotados se o Estado se fazer presente no interior do país. Será q isso acontecerá se a ofensiva tiver êxito? os EUA e a OTAN já têm imensas dificuldades para controlar os talibãs no Afeganistão imagine o Paquistão... No entanto, análogo ao caso afegão, se o Estado não for permanentemente presente militar e socialmente nessas áreas acho q mais uma vez estamos diante de uma brutal guerra de desgaste em q nenhum dos lados consolidará uma parcela mínima de seus objetivos...

Infelizmente, mais uma vez, válido para essas "guerras irmãs" (Afeganistão/Paquistão), está se combatendo as consequências e não as causas da insurgência e do fanatismo: a miséria, a ignorância, Estados ausentes, falidos, corruptos e com Instituições extremamente frágeis...

Mais uma vez os EUA (e a OTAN a reboque, não podemos esqueçer q os europeus estão lá por causa dos atentados em Londres e Madri, fruto do apoio incondicional desses países a "guerra contra o terror" de Bush, fora os pipelinies do petróleo do Cáucaso é claro...) estão lutando uma guerra q tem chances mínimas de ser vencida militarmente pelos motivos explanados acima. Mais uma vez os planejadores do Pentágono acham q primeiro têm q vencer militarmente para depois institucionalizarem um Estado viável...

Como é possível preceber, a sociedade afegã e dos confins do Paquistão é moldada por mais de 30 anos de guerras ininteruptas... sem um trabalho educacional de base e um intenso e permanente investimento em programas sociais de toda a natureza não há como estabilizar essas regiões a longo prazo; mesmo se investindo nisso demoraria pelo menos uma geração para se viabilizar essa estabilidade...

E o q se está fazendo mais uma vez? se priorizando apenas a solução militar... teria q ser simultâneo. É o q os EUA e a OTAN não estão fazendo; aliás apoiam um governo podre de corrupto, cheio de desprezíveis e medievais "senhores da guerra", sem nenhuma representavidade na maior parte do país (controlado pelos talibãs)...

Vejo alguns legitimarem essa guerra mostrando a ajuda humanitária (q chega a uma minoria no país já q a maior parte é controlada pelos talibãs e mostrando "cativantes" cenas de militares europeus e americanos dando doces para as crianças afegãs... A ajuda humanitária é providencial pelo simples fato de q dão uma sobrevida a essas pessoas, mas na realidade não passam de medidas paliativas...

Impressionante como alguns são "ingênuos" e acreditam nas "verdades" oficiais... deveriam ser os primeiros a pressionarem seus governos para viabilizarem essa guerra e protestarem por baixas calcadas em legitimidades q omitem muitos detalhes (sobretudo os energéticos), q por um lado discursam em prol da liberdade dos afegãos mas por outro sustentam esse pseudo-governo... coisa de militaristas míopes q não conseguem fazer uma análise um pouco imparcial e são incapazes de fazer uma reflexão com o mínimo de bom senso, se questionarem, exergarem um palmo além de seus narizes...

Alguns textos postados pelo colega forista Clermont já salientam q na realidade pouca coisa mudou para a imensa maioria da população afegã, sobretudo as mulheres, o "Estado" de fanáticos talibãs deixou de existir mas os "hábitos" e a praticamente absoluta ausência do Estado permaneçe...

Enfim, entrei no assunto afegão mas ele é análogo ao paquistanês, sobretudo no Vale de Swat.

Um grande [ ], até mais...
Olá Nukualofa,

Concordo em gênero, número e grau com quase tudo o que escreveste. De fato, não acredito que haja uma solução puramente militar para os conflitos do Afeganistão e Paquistão(e pra quase qualquer conflito de natureza similar). Atacar o problema de um viés puramente militar é um erro, pois, como você disse, se ataca as consequências do problema, e não o problema em si. Se estas populações vivessem bem e com saúde, e tivessem acesso a educação e outros bens culturais importantes, este tipo de grupo teria muito mais dificuldade para surgir, não teria o apoio que muitas vezes possui, e o governoi local teria condições de combatê-los sozinho.

Agora, também não é possível atacar o problema apenas do lado civil, pois a "consequência do problema" existe e não permite ao Estado chegar nestas regiões e dar a assitência que deve dar. Sem força militar, ocorre o que acontece na Somália, onde comboios de alimentos da ONU são roubados por insurgentes islâmicos e a ajuda não chega a quem precisa.

Defendo uma solução paralela, com ações militares e civis(ou humanitárias, como queiram) ocorrendo ao mesmo tempo, e com uma ênfase na área civil muito maior a que geralmente é dada. Por exemplo, os EUA seriam muito mais eficazes na luta contra o Talebã paquistanês, se ajudasse mais o governo do Paquistão a reconstruir áreas afetadas na fronteira e fazer este Estado aparecer na região e dar seus serviços. E mais: Esse tipo de apoio é, geralmente, mais barato que operações militares.

Claro que não podemos esquecer que não basta dar dinheiro ao governo desses países, já que existe muita corrupção e boa parte desta ajuda é desviada.

Seja como for, apesar dos problemas graves de refugiados, eu vejo como necessária a ofensiva em Swat(que conta com apoio popular, é importante que se diga) e torço pelo seu sucesso e extermínio do movimento Talebã. Aparentemente ela foi bem sucedida no seu objetivo militar, esperemos que o braço civil faça a sua parte e não permita que o Talebã ou movimentos similares retornem ao Swat. Desejo igual sucesso à futura ofensiva no Waziristão do Sul, lar de Mehsud.

Quanto a natureza "multinacional" destes grupos islâmicos, e a explicação do Nukualofa, é interessante que isso concorda muito com Samuel Huntington, autor de "O Choque de Civilizações". É dito nessa famosa obra que, na "civilização islâmica" e na África, o sentimento de identidade é mais forte em relação a "tribo"(ou grupo étnico) e à civilização como um todo, e não é tão forte em relação ao Estado ou país. Segue, segundo o autor, um "padrão em U". Na civilização Ocidental a identificação é maior em relação ao país, e mais fraca em relação a comunidades próximas e a civilização como um todo, um padrão chamado por ele de "U invertido". Assim, como a identificação com a civilização é mais forte, é natural o surgimento de grupos multinacionais islâmicos.

Este é um livro que, me parece, acertou em cheio em sua previsão de uma guerra civilizacional, entre o Ocidente e o Islã, e foi escrito muito antes dos ataques de 11/09.

Abraços

César




"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."

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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#14 Mensagem por Enlil » Qui Jul 23, 2009 7:38 pm

César, concordo com tua reflexão e, como já havia salientado em meu post, de fato esse conflito não passará de mais uma guerra de desgaste se não houver uma frente simultânea: civil e militar. Aliás, há muito tempo já falo q para viabilizar uma estabilização a longo prazo ela tem q ser mais civil do q militar... Obviamente os talibãs têm q ser derrotados mas não dá para deixar para depois a reconstrução social do país pelo simples fato de q a miséria e a ignorância criam muitos outros talibãs na medida em q alguns são liquidados. Além do mais o excessivo uso de ataques aéreos por parte dos EUA tem causado verdadeiros massacres de civis (tanto no Afeganistão quanto no Paquistão) q em nada contribuem para a conquista de "corações e mentes" na região...

Quanto a Samuel Huntington, conheço seu livro. Sem dúvida ele tem reflexões importantes e esclarecedoras. No entanto, como é sabido, ele é um cientista político conservador... Durante os anos 1960 ele desafiou a visão convencional dos teóricos da modernização de que a economia e o progresso social produziriam democracias estáveis em países recentemente descolonizados. Como consultor do presidente Lyndon Johnson, publicou, em 1968, um artigo (q teve grande influência na época) no qual justificou os pesados bombardeio das áreas rurais do Vietnã do Sul... com as consequências sociais e ambientais já conhecidas...

Diga-se de passagem q ele se inspirou no historiador e filósofo polonês Feliks Koneczny (1862-1949) para fazer sua teoria; na verdade a essência da idéia de "choque de civilizações" está nesse autor, fundador da Ciência Comparada das Civilizações segunda a qual no século XXI os principais atores políticos seriam civilizações e não os Estados nacionais, e as principais fontes de conflitos após a Guerra Fria, não seriam as tensões ideológicas mas as religiosas.

Enfim, Huntington adaptou essa teoria da década de 1920 de mais um autor importante e praticamente desconhecido no ocidente aos acontecimentos contemporâneos... No entanto, a essência da teoria q lhe deu notoriedade a partir dos anos 1990 não é dele...




César
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Re: Paquistão: Conjuntura Contemporânea

#15 Mensagem por César » Sex Jul 24, 2009 2:22 am

Opa,

Acho que concordamos então quanto ao conflito Paquistanês, sobre as medidas que deveriam ser tomadas(viés mais civil que militar).

Quanto ao Huntington, eu sei que ele era um pensador conservador e etc e não conheço as outras obras dele. O que acho interessante no 'choque de civilizações', é que a teoria parece concordar com a experiência. Ou seja, independente de quem ele foi ou o que ele acha, essa obra em específico previu, até certo ponto, muito do que acontece hoje em dia. Há um sentimento de guerra entre Ocidente e Islã, e aparentemente esse sentimento é recíproco.

Acho que no livro Huntington ele menciona os autores que ele se baseou, e faz uma análise de outras obras e pensadores considerados conservadores, como a famosa "o fim da história". Bem, agradeço por você ter me esclarecido mais sobre as fontes do trabalho dele, eu admito que desconhecia. E saber que o núcleo do trabalho de Huntington não foi dele é realmente interessante.

Abraços

César




"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."

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