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Mensagem
por Marino » Ter Jul 22, 2008 6:19 pm
Jornal do Comércio:
Editorial - A polêmica 4ª Frota
Entre 1942 e 1950, os Estados Unidos mantiveram no Atlântico Sul a sua 4ª Frota. No pós-guerra e na efervescência belicosa da Guerra Fria, criaram outras, mas a quarta foi desativada, pois o Comando Sul e seus marines bastariam para policiar a América do Sul e Caribe. Recentemente, porém, o governo de Washington decidiu reativar esse braço armado naval, o que intriga alguns governantes da região hoje mais sintonizados com os interesses de seus povos e com soberania. De fato, além da questão do processamento e tráfico de drogas, os EUA estão incomodados com a ascensão de líderes políticos mais à esquerda no espectro partidário em países outrora dóceis às suas pretensões. Desenvoltos, durante a Guerra Fria, em fomentar golpes e, mais adiante, marcar hora para a redemocratização, em opor-se a governos democraticamente eleitos e apoiar ditadores amigos, hoje eles continuam pregando uma democracia à americana, mas só a aprovam quando o resultado das urnas é favorável aos interesses deles.
O presidente Lula encarregou em público o chanceler Celso Amorim de, diplomaticamente, pedir explicações ao Departamento de Estado sobre o significado da medida. A secretária de Estado Condoleezza Rice procurou tranqüilizar o ministro explicando que não haverá mudança na operação rotineira de patrulhamento que já é feita pela Marinha dos EUA nas costas atlânticas desta parte das Américas. Reiterou a versão oficial de que se trata apenas de “uma mudança administrativa, burocrática, para transferir o controle dos recursos financeiros, navios e quadros já existentes para uma 4ª Frota”.
De com a assessoria do ministro Amorim, Rice garantiu que a iniciativa “tem o objetivo de cooperação” e se comprometeu com “transparência nas informações” e “respeito aos direitos internacionais”. Lula havia feito uma ligação do anúncio sobre a reativação daquela Frota a uma megadescoberta de petróleo na Bacia de Santos. O embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, já havia escrito um artigo na imprensa brasileira dando uma versão humanitária e amistosa da ressurreição da 4ª Frota, o que não convenceu nem as autoridades de Brasília nem a opinião pública.
O que mais incomoda presidentes sul-americanos como Lula, Chávez, Morales, Correa, Kirchner é que nem no auge da Guerra Fria, os EUA pensaram nessa ressurreição. Eles não estão nada convencidos com as explicações oficiais estadunidenses e crêem que se trata de clara preocupação com os rumos de regiões das Américas que os EUA sempre consideraram como seu quintal. O ministro da Defesa, Nelson Jobim esteve nos EUA, mas não trouxe novidades. As novidades, como expomos abaixo, vêm de declarações e militares americanos.
Durante todos estes anos após a guerra de 1939 a 1945, navios de guerra e submarinos dos EUA têm navegado do Pólo Norte ao Pólo Sul, do Oceano Atlântico ao Índico, passando pelo Pacífico, combatendo, patrulhando, espionando, fazendo exercícios em comum com países amigos, como a Unitas no Brasil, utilizando as várias Frotas em que está organizada sua Marinha, sem necessidade específica dessa 4ª Frota. Se agora resolvem reativá-la, devem ter bons motivos para fazê-lo de acordo com seus interesses geopolíticos e estratégicos. Ações humanitárias? Quem vai acreditar? Se os diplomatas usam uma linguagem maneirosa, os militares americanos não se julgam com essa obrigação e dão a verdadeira motivação de seus governantes.
Eles falam curto e grosso. O contra-almirante Joseph Kernan, comandante da Frota, que vem de uma força de operações especiais de elite para antiterrorismo e combates não convencionais, foi descrito pelo almirante James Stavridis, do Comando Sul, como “o homem certo para as tarefas desafiadoras da região”. Humanitárias? Disse o almirante que o seu governo se preocupa com a “corrida às armas” na região, que seria estimulada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez. O almirante Gary Roughead, chefe de operações navais da Marinha do Tio Sam, foi mais explícito: “Não se engane: esta Frota estará pronta para qualquer operação, a qualquer hora e em qualquer lugar”. Voltariam os desembarques de marines en nuestra Latinoamerica?
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco