COT
1) O COT teve uma gênesis com vários pais.
Houve várias tentativas em se criar um grupo tático na PF. Em Brasília, já no meu tempo de ANP, houve uma com o "Ferrugem", o Póvoa (tinha mais gente) a frente. Mas vou me fixar na que estive mais perto.
Foi uma idéia nascida no então AIRJ (Aeroporto Internacional ro RJ), hoje "Tom Jobim", criar uma unidade de intervenção no AIRJ. Esta idéia, como muitas outras no DPF da época, era tão fácil de executar como dar nó em pingo de éter no sol de meio dia e com um ventilador ligado. Primeiro, convencer as chefias primárias. Depois, onde arrumar TUDO para montar e treinar. Posteriormente esta idéia foi abraçada pelo Rayol (agente que havia passado a delegado), ai a coisa foi ficando animada com vários colegas se voluntariando. Mas, como tantas outras iniciativas da "tiragem" que não tinha algum gênio de Brasília a frente, deceparam nossas cabeças rapidinho. A cúpula achou que só seria correto se ela tivesse tido a idéia, fez beicinho e mandou às favas tudo o que havíamos conseguido (área de treinamento no Btl. Toneleros, armas emprestadas etc).
Tempos depois, como a necessidade de um grupo deste tipo se impunha, o COT foi criado (nem era esse o nome), já estando sob a batuta do Daniel (delegado).
O grupo foi formado mas tinha sérias deficiências de material adequado. Aqui um parêntesis: Conseguir armamento para um grupo tático era um parto de criança "atravessada". O EB colocava barreiras infantis, foi dose. Resultado, assim como nas SR's, mas da metade do "material" era de colegas, rsss. Depois melhorou. Houve o episódio do seqüestro do avião (acho que na era "Sir Ney"), fez-se um ôba-ôba em cima do resultado positivo (ainda bem que o piloto só levou um arranhão na orelha com aquele tiro, rss) e o grupo começou a ganhar respeito.
Uma das primeiras missões duras foi, e que funcionou como grande aprendizagem, foi ajudar a DRE (SR/RJ) a "tomar" o Morro do Andaraí. Foi soda!
Os colegas do COT tomaram uma sova, ficaram presos pouco acima da rua Caçapava e se livraram graças a um colega nosso (Vinícius "Neguinho" com sua então novíssima pistola Glock).
Contudo, isto não é nenhum demérito para o grupo recém-formado. Foi a primeira "braba" que o grupo pegava em uma favela carioca (topografia e condições bem diferentes que estavam acostumados), e pela fala de um deles da pra se ter uma idéia do que passaram (um dos colegas do COT pra mim: "Meu irmão, nunca tomamos um cargueiro tão grande!).
Aqui fica um registro: Foi a primeira vez no Rio, quiçá no Brasil, que foi utilizado carro blindado em operação em favela. O caso é que sabíamos que enfrentaríamos uma forte resistência, pois a vagabundagem estava nos esperando fazia tempo (a operação era para prender os assassínos de um colega), também sabíamos da grande quantidade de armamento e munição que dispunham. Então, não lembro qual colega deu a idéia a ele, o delegado Barroiun (já falecido), mandou requistar um "carro-forte" que estava no pátio da SR (para inspeção pela DELESP). Pronto, foi criado o "caveirão" federal.
Um detalhe curioso: O reino do fuzil não estava consolidado (graças a D'us), por isto o carro subiu até onde pode e, apenas, UM tiro de 7.62 atingiu (e atravessou) a blindagem do veículo. Não machucou ninguém, graças ao GADU. Eu não estava no carro, mas quem foi nele disse que era o mesmo que estar dentro de panela de fazer pipoca. 06.00 da manhã o morro era nosso, no alto só se via coletes pretos e uma plantação de "de cujus vagabundensis".
Anos depois, quando da morte de dois colegas da SR/ES, na favela Roquete Pinto, o COT esteve ao nosso lado em várias incursões naquela favela e outras. Era outro COT. Amadurecido e muito mais preparado. Hoje, nem se fala. Estão muito bem.
Claro, ser perfeito é impossível. E esta implausível possibilidade de perfeição fica mais ainda distante se ponderarmos o cada dia maior, e mais diversificado, espectro de atribuição de missões. Isto, ninguém, NINGUÉM, faz. Falar em multirole policial, ou militar, é pincelar uma iconografia de Rambo hollyhoodiano, só impressiona menino.
O DPF sempre teve o sonho de ser uma uma grande Polícia Federal. Porém, nasceu sob a égide de uma época de exceção com uma ligação uterina e de completa subserviência aos militares. Dai, quando este cordão começou a ser cortado, amputação esta salutar e que teve maior velocidade a partir da era Chelotti, acirrou-se a rinha, ora com o EB, MB e pouco com a FAB. No fundo no fundo... vanitas vanitatum et omnia vanita, pois a PF passou a andar com suas próprias pernas e é difícil a seus antigos "mentores" vê-la assumir um papel independente. Soma-se a isto o fato dela prescindir (constitucionalmente falando) da tutela de qualquer das Forças para executar suas incumbências constitucionais. Também devemos levar em conta uma cultura brasileira (histórica) do nosso Exército, esta com um em um papel (de azimute errado ao meu ver) de ingerência política comum e na política de segurança pública. Desse casamento, de rã com "Mão-pelada", nasceram crianças teimosas que ainda não aceitam bem ocupar o lugar devido em uma sociedade democrática. Isto cabe a todos, inclusive ao DPF.
2) Quanto a rivalidade cordial, aqui suscitada, entre grupos do tipo (FE x COT x BOPE x FN x Bda Op Esp x ....) acho até salutar, necessária mesmo. É assim que funciona a mística de um grupo especial. Ele necessita, tem de se "achar" especial, "sentir-se" especial, de achar que é o melhor naquilo que sabe fazer. Cada um na sua.
Eu, hoje inativo, com meus "cinqüentinha", não tenho dúvidas que daria uma volta, e com as pernas amarradas atrás, em qualquer "da selva" se estivessemos a farejar e campanar um vagaba. Como também não me atrevia a entrar meio metro no mato, em Altamira, sem um guerreiro do 23.
Fiz ótimas amizades no EB, algumas na FAB. Nem por ter sido "oficial festim" (apelido que nós mesmo nos alcunhavamos no meu tempo de CPOR), ou por ter na família oficiais superiores e pai veternao da FEB. Foi o trabalho conjunto com eles (principalmente em Lábrea, Altamira, com o pessoal do 23, Tabatinga 8º) que ajudou a formar e consolidar amizades. Eles nos eram imprescindíveis. Se hoje o DPF ainda padece de estrutura... putz! Imaginem a época? Chegava a ser piada.
Porém, isto não afastava os respingos da sopa prebiótica que nos formou. Tinhamos discussões acirradas sobre "quem era quem e quem podia mais". Uma vez, discutindo com hoje meu grande camarada, o então cap. Bordin (um gaucho de quase 2m e forte como um touro), que achava que não fazíamos como deviamos (na verdade o que ele achava que devíamos fazer) e quase exigir que prestássemos continência ao entrar no quartel. Em uma dessas discussões, dei uma porrada na mesa e perguntei-lhe: "Vem cá! O senhor está vendo coturnos nos meus pés? Então vai gritar com a porra dos seus soldados! Quando o senhor atira responde por qual código? Ah! É o CPM?! Pois é, eu respondo no CPB e não serão meus pares que irão me julgar, será um juiz com cara de puto e um bando de fdp que já nasce detestando polícia!"
Eu pensei que o vivente ia me dar uma porrada, mandar me fuzilar mas... Acreditem, ele parou, ficou me olhando e me perguntou o que acontecia se atirassemos em uma operação. Ficou boquiaberto com a burocracia legal e todas as formalidades. Dai viu a enorme diferença entre um soldado atirar e um policial fazer o mesmo.
Esta, por exemplo, é uma das razões que me ponho defeso ao concurso - como querem alguns açodados - das FFAA em favelas. Como solução extrema ainda pondero, mas como uso comum é um desvio óbvio de função. E todo desvio de função determina uma conseqüência física de ação e reação e, neste caso, a reação não é saudável à tropa, à instituição e nem à sociedade.
3) Quanto ao problema da "comunidade de informações"... bem, isto vem desde que foi criado o antigo SISNI (Sistema Nacional de Informações). Nunca, NINGUÉM, se entendeu. A época o DPF era só um braço, pior, uma "mão mecânica". Hoje, a mão mexe seus dedos sozinha e isto incomoda a quem já à controlou. Mais uma vez são as chamas da fogueira das vaidades, adidos a algum ressentimento pelo tratamento pretérito.
Vejam os colegas foristas, o DPF nasceu duas vezes. Uma quando foi criado ( e não falo da tal célula mater, o DFSP) e outra quando começou a receber sangue novo.
O que o Beraldi encontrou hoje no DPF, o que ele chama de "antigões" (tenho certeza que ele cita isto com muito carinho) eu também encontrei. Era uma coisa meio que lamentável. Pouca (pouca?) instrução básica, formação do plantel e instrução acadêmica rara, do tipo nióbio. Isto, levava a qualificação do pessoal para linhas abissais da mediocridade.
Todavia, foram estes homens, alguns com pouco mais que o nível primário, que começaram a erguer minha instituição. Quando aportei, cheio de "sapiência", saído de um curso de cinco meses e meio (é Beraldi! Meu curso foi o maior até hoje) pensava que sabia tudo... putz! Como aprendi com aqueles velhinhos, rsss.
Depois, comecei a ver chegar a turma mais nova, cheia de fôlego, já com o 3º grau (alguns com dois ou três graduações), coisa que consegui a duras penas entre plantões e viagens pelo Brasil (agora que estou fazendo um mestrado). Vi um refinamento na ciência da investigação, no armamento, material de infinita e melhor qualidade (e suficiente em número), doutrinas sendo balizadas e implementadas com apoio de divisões especializadas.. enfim, um sonho!
Mas eu não esqueci que começamos do nada, que (parece brincadeira) um policial federal não tinha NENHUM curso de aperfeiçoamento, que tudo que era agregado ao nossou conhecimento era fruto de experiênciais pessoais e, acreditem quem quiser, do julgamento de uns poucos que se "faziam" lderés (ou que eras "feitos" pelos colegas) e copiavam (até de filmes!!) condutas e normas para uso em situações especiais. Tinhamos imagem e só, uma espécie de "polícia MacDonald's, muita imagem e nehum sabor. Mas fomos aprendendo e fazendo.
Portanto, se até mesmo nós, interna corporis, temos avivada uma certa vaidade por pertencer a esta ou aquela época, imaginem outras instituições que nos viam como sendo um feudo de sua propriedade e nós, policiais federais, campesinos a lhes prestar vassalagem? Todavia isto passa, é coisa da cultura latina, estamos progredindo, apesar de retrocessos pueiris e contraproducnetes como proibir o uso de um equipamento de segurança em prol sociedade (restrigir o uso da MAG, putz!). É de se perguntar: será que só os militares podem entender de armas ou saber usá-las? Será que treinamento de uma MAG é tão intenso nas FFAA que às autorizem coibir o uso por istituições públicas de segurança?
Porém, e este é o grande "porém" da questão, no final o que vale é o que foi ressaltado o Beraldi, o Volcom, o PQD e os demais colegas. Estamos, nós que nos devotamos profissionalmente, e como vejo, todos nós, de corpo e alma, cada um em sua área de competência, do mesmo lado, por este Brasil, quando e onde o bicho pegar.
Afinal, Brasil acima de TUDO!
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Abraços a todos.
JP