Guerra do Paraguai

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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#61 Mensagem por Brigadeiro » Seg Jan 14, 2008 3:26 pm

Bueno, continuando com a Batalha do Riachuelo, só uma cosita:

Desde o sábado, dia 10 de junho, a Esquadra de Barroso estava fundeada próximo à Corrientes, mas no lado direito do rio (Isla Barranquera, no lado direito do Paraná). Nesse período, Solano e o Almirantado paraguaio estavam ajustando os últimos preparativos para a Batalha.

Por estarem portando chatas, os paraguaios desceram o rio em velocidade bem baixa, o que fez com que demorasse a chegarem a Corrientes.

Por volta das 9 horas é dada a mensagem de inimigo a vista. Os homens que compunham a Esquadra Imperial estavam na missa dominical e foram, às pressas, tomarem seus postos de combate. Para se proteger, os paraguaios vão para o lado esquerdo do rio, na desembocadura do Riachuelo, onde um "comitê de recepçao" com fuzileiros atocaiados no topo de barrancos e com artilharia pesada.

Próximos às ilhas de Iá e Cabral, começa a batalha com a Esquadra Imperial mandando chumbo nos guaranis.
A batalha continua ranhida, mas como os brasileiros não conheciam bem a região e também por possuirem navios de grande calado, alguns encalham em bancos não hidrografados. Os paraguaios tentam apoderar desses navios, mas são rechassados com as abalroadas de Barroso.

Lambendo as feridas, o que restou da marinha paraguaia foge rio acima em direção à Humaitá, perdendo a batalha, navios, homens, o controle do rio e a guerra.

Do Historiamar:

Mapa da região da batalha:

http://www.histarmar.com.ar/ArmadasExtr ... elital.htm

Alguns dados interessantes, mapas, relatos, etc:

http://www.histarmar.com.ar/ArmadasExtr ... loBase.htm

Lista dos Navios que participaram da Batalha, bem como os danos recebidos:

http://www.histarmar.com.ar/ArmadasExtr ... Buques.htm

Até mais!




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#62 Mensagem por Marino » Seg Jan 14, 2008 4:15 pm

Olha só o final do texto do segundo link:
"El Parnahiba habia sido abordado por los "pardos" paraguayos del batallon 6º Nambi´i desde el Salto Oriental, pero fueron barridos por las descargas del Amazonas y el Maerim, bajo el mando - de hecho- del práctico argentino Bernardino Guastavino."
Não vou me manifestar como penso, para não ser expulso do fórum, apesar de que não iria me referia a ninguem daqui.




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#63 Mensagem por Brigadeiro » Seg Jan 14, 2008 6:08 pm

Calma Capitán! Como a MB participou sozinha da batalha, eles precisaram dar os louros a um nacional que estava lá... hehehehe Os fatos provam o contrário, mas... Quem virá ao SDM para pesquisá-la?

Bueno... Pelo menos os mapas estão certos?

Até mais!




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#64 Mensagem por Marino » Seg Jan 14, 2008 7:19 pm

Os mapas sim.




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#65 Mensagem por Brigadeiro » Ter Jan 15, 2008 1:42 pm

Mas pra mim isso nada mais é do que pura interpretação. Há um relato também de um prático italiano do Parahiba (que, como está num site argentino, venera o tal Gustavino). Nele, o Almirante Barroso não conhecia bem o rio e tinha um prático para fazer a navegação. Na abordagem do Parahiba, ele comentou se dava para alcançá-la, sem que encalhasse também. A única coisa que o dito cujo disse foi um "sí señor" e pronto. Manobrou de acordo com as ordens do Almirante, afinal de contas, o timão estava com ele. Mas isso não tira a glória do momento e nem a astúcia tática do nosso Almirante.

Hasta luego!




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#66 Mensagem por Brigadeiro » Ter Jan 15, 2008 1:49 pm

Há, claro que os argentinos puxaram a sardinha para o lado deles, afinal, essa foi a maior batalha que sem tem no lado sul deste continente y los marinos argentinos no quieren quedarse fuera. Como el prático era el único argentino que participó directamente de la batalla... :roll: :roll: :roll:

Hasta luego!




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#67 Mensagem por Brigadeiro » Qua Jan 16, 2008 5:40 pm

Marino escreveu:Mais adiante vamos falar de Piquissiri, uma das mais brilhantes manobras já feitas em guerra.
Dizem que as FFAA brasileiras não operam em conjunto, o que é uma inverdade hoje em dia, com o Brasil sendo um dos países que mais realiza operações conjuntas, mas todos estamos lendo que a colaboração vem do Império.
Piquissiri é só mais um exemplo.


Conta aí, a história da Manobra de Piquissirí...



Até mais!




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#68 Mensagem por Brigadeiro » Qua Jan 16, 2008 5:41 pm

RENN_Akino escreveu:A história contada aqui não é muito diferente, inclusive meu avô que é paraguaio, falava que os paraguaios subiam encima de palmeras e arvores, muitos morreram de fome, em cerro corá é bacana de se conhecer, vários monumentos e tem algumas armas usadas na epoca


Akino, você pode contar essa história pra gente? Afinal, você teve um parente que conhece sobre esse episódio e vai agregar muito!

E por falar nisso... Cadê o Dieneces?

Até mais!




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#69 Mensagem por Marino » Qui Jan 17, 2008 8:43 pm

Brigadeiro escreveu:
Marino escreveu:Mais adiante vamos falar de Piquissiri, uma das mais brilhantes manobras já feitas em guerra.
Dizem que as FFAA brasileiras não operam em conjunto, o que é uma inverdade hoje em dia, com o Brasil sendo um dos países que mais realiza operações conjuntas, mas todos estamos lendo que a colaboração vem do Império.
Piquissiri é só mais um exemplo.


Conta aí, a história da Manobra de Piquissirí...



Até mais!

Vou escrever, primeiro Humaitá, e depois Piquissiri.
Deixa eu me restabelecer em casa. Tô fora por umas 2 semanas.
Forte abraço




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#70 Mensagem por Brigadeiro » Sex Fev 01, 2008 5:24 pm

UP!

Marino, meu caro amigo, cadê a história de Humaitá? E Pissiquirí?

Até mais!




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#71 Mensagem por Marino » Sáb Fev 02, 2008 2:27 pm

O CALENDÁRIO CÍVICO MILITAR, EDITADO PELO CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO, ASSINALA O(S) SEGUINTE(S) EVENTO(S):

02 Fev - Bombardeio de Curupaiti pela Esquadra Brasileira - Guerra da Tríplice Aliança (1865)




"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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#72 Mensagem por Marino » Sáb Fev 02, 2008 2:33 pm

Marino escreveu:O CALENDÁRIO CÍVICO MILITAR, EDITADO PELO CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO, ASSINALA O(S) SEGUINTE(S) EVENTO(S):

02 Fev - Bombardeio de Curupaiti pela Esquadra Brasileira - Guerra da Tríplice Aliança (1865)


Caro Brigadeiro
Assim que possível eu descrevo aqui. Primeiro tenho que consertar meu scaner, que avariou 1 dia após a garantia. Vai ser preciso assim na ...
Para escrever sobre Humaitá, eu tenho antes que escrever sobre Curuzu e Curupaiti, que eram um complexo de fortalezas fechando o rio Paraguai.
Vamos ver se consigo.
Forte abraço




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#73 Mensagem por Clermont » Ter Fev 05, 2008 9:58 pm

O PRÍNCIPE OBÁ, UM VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA.

Por Eduardo Silva.

Um príncipe do povo.

Dom Obá II d’África, ou melhor, Cândido da Fonseca Galvão, como foi batizado, nasceu em Vila dos Lençóis, no sertão da Bahia, em meados do século XIX. Filho de africanos forros, brasileiros de primeira geração, era, ao mesmo tempo, por direito de sangue, príncipe africano, neto, ao que tudo indica, do poderoso Aláàfin Abiodun, o último rei a manter unido o grande império ioruba de Oyo, na segunda metade do século XVIII. Aláàfin Abiodun, através da tradição oral, deixou boa fama de sábio e de ter oferecido um “longo e próspero” reinado para seus súditos.

Príncipe guerreiro, Dom Obá II d’África lutou na Guerra do Paraguai, de onde saiu oficial honorário do exército brasileiro, por bravura. De volta ao Brasil fixou residência na corte, onde sua posição social era no mínimo complexa, confusa. Tido pela sociedade de bem como um homem “meio amalucado”, uma figura meramente folclórica, era ao mesmo tempo reverenciado como um príncipe real por escravos, libertos e homens livres de cor da cidade do Rio de Janeiro.

Dom Obá assumiu, nos momentos decisivos do processo de abolição progressiva, o papel histórico (insuspeitado, quase oculto) de elo entre as altas esferas do poder imperial e as massas populares que emergiam das relações escravistas. Como observou um contemporâneo, o príncipe Dom Obá II d’África, “devido à sua régia estirpe (...) recebia (...) o tributo dos seus súditos do Largo da Sé, que tomavam-lhe a bênção, que se ajoelhavam em sua passagem, exlamando muito orgulhosos de sua figura e de sua ufania.”

Perseguido nas ruas pela polícia e também recebido em palácio por Dom Pedro II, mesmo nas ocasiões mais solenes, Dom Obá (que quer dizer “rei”, em ioruba) como que enfeixou contradições muito profundas, questões fundamentais da formação cultural brasileira.

A figura imponente de homem de dois metros de altura, os modos de soberano como que captavam a atenção dos contemporâneos, embora poucos estivessem realmente preparados para acreditar no que viam. Um príncipe afro-baiano a perambular pelas ruas do Rio, barba à moda de Henrique IV, muito bem vestido em suas “finas roupas pretas”, com foi descrito por um contemporâneo, de fraque, cartola, luvas brancas, guarda-chuva, bengala e pincenê de aro de ouro. Ou, em ocasiões realmente especiais, muito ereto, marcial e importante em seu bem preservado uniforme de alferes do exército, com suas dragonas e seus galões dourados, sua espada à cinta, seu chapéu armado com penachos coloridos, seu pacholismo admirável.

(...)

”A pau e corda”?

Medeiros e Albuquerque, como outros propagandistas da República, pensou que os batalhões de pretos que partiam para a Guerra do Paraguai “se diziam ‘voluntários’, mas que eram quase sempre (...) recrutados à força”. Em certos círculos da elite, sobretudo depois da Guerra, esteve em moda referir-se a esses soldados – não reconhecendo neles nenhum valor – como “voluntários de corda” (isto é, pegos a laço) ou “voluntários a pau e corda”. Uma primeira questão é saber até que ponto esse mau conceito sobre os “Voluntários” terá alguma relação com a realidade ou terá sido fruto apenas do preconceito, do estereótipo, da visão tradicional sobre o povo brasileiro.

De fato, “atendendo às graves e extraordinárias circunstâncias” do país, completamente despreparado para a Guerra, Dom Pedro II assinou o decreto criando os Corpos de Voluntários da Pátria, num sábado, 7 de janeiro de 1865, para que fosse publicado logo na segunda-feira. Os Corpos poderiam ser compostos por cidadãos entre 18 e 50 anos que voluntariamente aceitassem as condições especificadas no próprio decreto. Para falar apenas do que poderia parecer mais atraente, podemos enumerar: 300 réis por dia, além do soldo normal a que faziam jus os voluntários do exército, de cerca de 165 réis, pensão de meio soldo para as famílias dos que morressem em combate; gratificação de 300$000 para os que sobrevivessem (cerca 160 dólares de 1875); por fim, 22.500 braças quadradas de terra (1 braça=2,2 metros) em colônias militares ou agrícolas.

Embora o decreto imperial falasse muito claramente em “cidadãos... que voluntariamente se quiserem alistar”, em muitas províncias, talvez pela força do hábito, talvez por excesso de zelo, autoridades recrutadoras, delegados de polícia inclusive, conforme bem sintetizou o general Paulo de Queiroz Duarte, saíram a “caçar o caboclo nos igarapés do Pará, o tabaréu nordestino na caatinga, o matuto na sua tapera, o caiçara no litoral”, enfim, como era tradição no Brasil, homens de condição humilde, sem distinguir muito entre os tons da pele e as culturas.

Apesar do mau jeito dessas autoridades, o apelo aos voluntários parece ter tocado em fibra nova – até então desconhecida – da nacionalidade. Não apenas o príncipe apresentou-se “como verdadeiro soldado”. Na Bahia, em especial, a mobilização foi intensíssima para as condições da época, chegando os Voluntários a somar cerca de 9 mil homens em menos de um ano. Vindos de todo o país, os Corpos de Voluntários chegaram a representar, no auge, 75 % dos batalhões de linha.

Já em relatório de 1865, apresentado à Assembléia Legislativa, o ministro da guerra, visconde de Camamu, informava satisfeito que, devido à grande afluência de voluntários verdadeiros, o governo achou por bem não apenas suspender o recrutamento na Corte, mas expedir “ordens dispensando os recrutadores em todas as províncias”. Isso porque, explicava muito bem o visconde, “o governo julga desnecessário coagir pessoa alguma para tomar parte na defesa do Império, quando milhares de cidadãos correm espontaneamente a oferecer-lhe os seus serviços”.

Nas cidades maiores, realmente, alguns homens livres de cor ou ex-escravos podiam contar uma história talvez diferente da que contou o príncipe, mas não foram maioria. Muitos no Rio e em Salvador, foram “voluntários de corda”, sobretudo aquela gente sem relação e tida por turbulenta, incluindo aí alguns grandes mestres da “pernada carioca” e da “capoeiragem” soteropolitana.

(...)

Para muitos outros, contudo, a Guerra representou uma oportunidade de melhorar de vida, de deixar de ser propriedade de outrem, ou “mão-de-obra barata”, para ser homem de respeito, soldado, defensor da pátria. Sentar praça às escondidas, muitas vezes usando nomes falsos, foi um recurso antigo, praticado por escravos desde os tempos colonais.

(...)

Quando da Guerra do Paraguai, muitos escravos aceitariam, como facultado por lei, fazer a Guerra no lugar de seu senhor, ou dos filhos de seus senhores, em troca da alforria imediata, das vantagens já especificadas e da perspectiva de carreira militar. O Decreto nº 2.725, de 6 de novembro de 1865, libertava os chamados “escravos da nação” que quisessem partir para o serviço de guerra, como muitos fizeram.

Muitos outros escravos pertencentes a particulares conseguiram convencer seus senhores a vendê-los especialmente para a Guerra. O acordo tinha que ser conveniente para ambas as partes e encontra-se consolidado em pequenos anúncios da época, como este publicado pelo Diário da Bahia, de 14 de outubro de 1865:

Atenção: Quem precisa de uma pessoa para marchar para o sul em seu lugar, e quiser libertar um escravo robusto, de vinte anos, que deseja incorporar-se ao exército, declare por este jornal seu nome e morada onde possa se procurado, e por preço cômodo achará quem lhe substitua nos contingentes destinados à guerra.

Muitos escravos, libertos e homens livres, da mesma forma, tomaram o alistamento como prova de bravura pessoa e via de integração na sociedade mais ampla. O voluntário Galvão, por exemplo, não foi um “voluntário a pau e corda”. Foi, pelo contrário, como gostava de dizer, “um verdadeiro soldado”.

(...)

Além de escravos e pretos livres, o serviço militar no clima exaltado da época, também atraiu moços da melhor elite. A declaração de guerra contra o Paraguai foi a primeira comoção verdadeiramente nacional, desde a Independência, 43 anos antes. O mesmo discurso que acabamos de ver no interior da Bahia, com o voluntário Galvão, mobilizou ainda os sonhos da mocidade bem-nascida, leitores, muitos deles influenciados pelo heroísmo romântico de Os Timbiras, de Gonçalves Dias, de O Uraguai, de Basílio da Gama, de O Guarani, de José de Alencar.

Para aquela geração, os sentimentos nacionalistas estavam exacerbados, ainda mais, pelas interferências britânicas a favor da abolição do tráfico africano e seus desdobramentos posteriores, como a Questão Christie, em 1863, quando o embaixador britânico William Christie ordenou o apresamento dos navios brasileiros na Baía de Guanabara. Muitos jovens brasileiros que seguiriam para a Guerra, três anos mais tarde – como Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza e Dionísio Cerqueira – participaram antes de passeatas no Rio, sobretudo na Rua Direita, dando vivas nacionalistas e mostrando seu desacordo com o que entendiam como interferência indevida da Grã-Bretanha nos assuntos internos da “jovem porém orgulhosa nação que se formava”.

(...)

Nos campos gloriosos da peleja.

O que dizer da Guerra propriamente dita, das dificuldades e dos perigos enfrentados por homens como Dom Obá II d’África, desde a marcha de 24 dias, de Lençóis, no sertão, até Salvador, no litoral, 302 quilômetros em linha reta? O que dizer do peso das responsabilidades crescentes na vida de um jovem do interior, o alistamento como soldado, a partida de Lençóis já como sargento, a promoção a alferes, mal chegado em Salvador, tudo em menos de dois meses? Em Salvador, o novo alferes viu o mar e embarcou em navio pela primeira vez, rumo a Porto Alegre, com escalas no Rio e na cidade do Desterro, hoje Florianópolis.

Galvão nunca se queixou de nada, mas sabemos hoje o que foram essas milhas e milhas no mar, nos acanhados e desconfortáveis vapores da época, os soldados metidos nos porões e submetidos ao padecimento clássico dos enjôos. De Porto Alegre aos “campos gloriosos da peleja” foram nada menos do que nove meses de marcha sob frio intenso e chuvas torrenciais, sem equipamento adequado (inclusive no tocante a roupas e calçados), soldos atrasados e alimentação restrita a churrasco de carne gorda no espeto, no almoço e na jante, com acompanhamento de farinha seca apanhada na ponta da faca. Durante todo o percurso, foram os jovens assaltados por epidemias devastadoras, ora de bexiga, ora de cólera, ora de sarampo, que faziam milhares de vítimas, antes mesmo que se pudesse dar o primeiro tiro.

Por fim, depois de tudo, o enfrentamento com o inimigo propriamente dito, em Tuiuti, no dia 24 de maio de 1866, quando os 32.400 homens das forças aliadas (Argentina,Brasil e Uruguai) confrontaram-se em combate desesperado e em terreno alagadiço com os 30.200 homens das forças de Solano Lopez. Os resultados foram simplesmente aterradores. Ao todo, cerca de 17 mil jovens argentinos, brasileiros, paraguaios e uruguaios mortos ou severamente feridos em apenas cinco horas. Do lado brasileiro, as perdas foram particularmente sensíveis entre as “valentes falanges dos briosos voluntários”, como costumava se expressar o alferes de zuavos Cândido da Fonseca Galvão. Somente em seu Corpo, o 24º, foram contados 152 homens fora de combate, entre eles 44 mortos.

Por essa época, o 24º Corpo de Voluntários esteve engajado ainda no combate de Punta Ñaró, na madrugada de 16 de julho, quando enfrentou o fogo de “quatro canhões pequenos” e fortes trincheiras abertas sob a supervisão direta de um engenheiro inglês, George Thompson, quando sofreu mais 69 baixas, entre mortos e feridos.

E dois dias depois, outra vez em combate, em Isla Carapá, com cinco mortos e mais dezoito feridos. O próprio Príncipe teve a mão direita inutilizada e foi obrigado a retirar-se da luta poucos dias depois, a 31 de agosto de 1866.


(...)

__________________________________

Extraído de MARQUES, Maria Eduarda C. M. (org) – A Guerra do Paraguai: 130 anos depois – Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1995.




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#74 Mensagem por Clermont » Qua Fev 06, 2008 6:43 pm

BATALHA DO TUYUTI.

Por John Hoyt Williams, professor de História na Universidade do Estado de Indiana, especializado em história sul-americana.

Após um ano e meio de guerra, a agressiva República do Paraguai não estava se saindo bem contra a chamada Tríplice Aliança, formada para opor-se a ela. O ditador e autoproclamado mariscal, ou marechal do Paraguai, Francisco Solano López, havia desperdiçado a nata do seu exército em uma infortunada ofensiva em 1865, e sua frota fluvial foi obliterada na decisiva Batalha do Riachuelo.

No início de 1866, os Aliados – os gigantes Brasil e Argentina e o pequeno Uruguai – possuíam um exército de cerca de 35 mil homens (na maioria brasileiros) avançando através do sul do Paraguai. No grande pântano conhecido como Estero Bellaco, 6 mil paraguaios, sob o comando do coronel José Díaz, lançaram-se contra os invasores em 2 de maio de 1866, apenas para serem rechaçados com a perda de metade dos seus efetivos, comparada com as baixas de 1001 brasileiros, 400 uruguaios e 49 argentinos. Neste ponto, entretanto o exército aliado acampou durante 18 dias antes de retomar seu avanço rumo ao norte. Tirando vantagem deste intervalo para agrupar novas levas de seus patrióticos cidadãos, López decidiu arriscar o maior contingente de seu reconstituído exército, cerca de 27 mil homens, num golpe esmagador de surpresa, do tipo tudo ou nada, contra a hoste aliada acampada no área pantanosa, coberta de densos matagais, chamada Tuyutí.

O plano paraguaio dependia fundamentalmente de dois elementos, dos quais a surpresa era o mais importante. López esperava que suas forças pudessem se concentrar silenciosamente à noite dentro de uns mil metros da linha aliada, protegidos pelas árvores e densos matagais. O segundo elemento crítico era o tempo. A menos que todas as colunas irrompessem no mesmo instante, ou quase, o maciço poder de fogo aliado – especialmente artilharia – e potencial humano (haviam, pelo menos 34 mil homens no acampamento aliado) levariam à destruição, por partes, das forças paraguaias. O simples peso de um ataque de surpresa, se levado a efeito com brio, poderia destroçar a frente inimiga e empurrar os atordoados remanescentes para trás, dentro dos indefensáveis pântanos, onde eles poderiam ser eliminados com toda a calma, numa simples operação de limpeza.

Os aliados estavam acampados entre o denso matagal e o braço meridional do Estero Bellaco, em terreno aberto e pantanoso. Atrás das unidades de piquete, a esquerda e o centro de sua linha apoiavam-se numa bateria uruguaia com oito canhões e no 1º Regimento de Artilharia à Cavalo do Brasil com 27 canhões, apoiado por dois batalhões de infantaria uruguaios e um brasileiro, sob o comando do coronel uruguaio Léon de Palleja. Cerca de mil metros à retaguarda, estava a vanguarda do exército brasileiro – a 3ª Divisão de Infantaria sob o brigadeiro Antônio de Sampaio (duas brigadas com cinco batalhões de infantaria e três de voluntários); e a poderosa 6ª Divisão de Infantaria do brigadeiro Vitorino Monteiro com três brigadas de oito batalhões de voluntários e três de infantaria; com o apoio dos 1º e 3º Batalhões de Artilharia à Pé. Outros mil metros para trás, em terreno relativamente alto, estavam a 1ª Divisão de Infantaria brasileira do brigadeiro Alexandre Gomes de Argolo Ferrão (duas brigadas com três batalhões de infantaria e seis de voluntários) e a 4ª Divisão de Infantaria do brigadeiro Guilherme Xavier de Souza (duas brigadas com três batalhões de infantaria e cinco de voluntários) e a 19ª Brigada Auxiliar com 2 batalhões de voluntários. Mais distante à retaguarda estavam as divisões 2ª de Cavalaria do brigadeiro João Manuel Mena Barreto e a 5ª de Cavalaria do brigadeiro Tristão Pinto (num total de dois regimentos de cavalaria do Exército e dez corpos de cavalaria da Guarda Nacional), apoiadas por dois batalhões de infantaria. Como o marechal-de-campo Manuel Luís Osório – ao contrário de López – tivesse apenas uns 600 cavalos aptos, a maior parte de sua cavalaria iria lutar a pé. Guardando o trem de suprimentos quase na margem do fétido estero, estava a Brigada Ligeira do brigadeiro Felipe Neto, com quatro corpos de cavalaria de voluntários gaúchos, na maioria desmontados. A esquerda e o centro totalizavam cerca de 22 mil soldados brasileiros e 1600 uruguaios.

A direita aliada, recuava num ângulo de 45 graus, cobrindo um frente similar – certa de 3500 metros. As quatro divisões do general argentino Venceslau Paunero estavam desdobradas com duas na frente, duas em reserva, com elementos de cavalaria provincial como piquetes; o 1º Regimento de Artilharia (17 canhões) no centro, e dois regimentos de cavalaria na reserva. As quatro divisões do general Bartolomé Mitre – que viria a ser o próximo presidente da Argentina – estavam disposta de forma similar em torno do 2º Regimento de Artilharia (20 canhões), com três regimentos de cavalaria e a pequena Legião Paraguaia (renegados paraguaios) na reserva. A ala direita compreendia menos de 11 mil homens.

A força de ataque paraguaia foi dividida em quatro fortes colunas, que deviam atacar simultaneamente. Da direita para a esquerda dos paraguaios, estavam o general Vicente Barrios, com dez batalhões de infantaria (7500 homens) e dois regimentos de cavalaria (1200); coronel Díaz com cinco batalhões (3750) e dois regimentos (1200); comandante Hilário Marcó, liderando quatro batalhões (cerca de 3000 homens) e dois regimentos (1200); e o general Isidoro Resquín, com oito regimentos de cavalaria (4800 homens) e dois batalhões de infantaria (1500) – um total geral de uns 27 mil soldados quando se inclui algumas unidades anexadas.

Embora tenham planejado usar o matagal como cobertura para se aproximarem das linhas inimigas, os paraguaios subestimaram a desvantagem que ele oferecia como obstáculo. Os cavalarianos tinham que conduzir suas montarias em fila indiana e foram ainda mais lentos que a infantaria para alcançar sua linha de partida. O matagal espinhento provocou um problema especial para o exército de López, já que seus soldados estavam (com a exceção do 40º Batalhão de Infantaria, de elite) descalços.

As unidades de Barrios foram, particularmente, lentas, graças ao terreno atroz. Em conseqüência, ao invés de um maciço ataque ao nascer do sol do dia 24 de maio de 1866, já passavam das 11h:55m quando um foguete sinalizador foi disparado. Mesmo então, as unidades de assalto paraguaias tiveram de se desvencilhar do matagal, formar linhas de batalha e avançar em plena vista do inimigo, oferecendo-se como os mais promissores alvos. Infelizmente para os paraguaios, os matagais acabaram tornando os ataques menos que simultâneos, e algumas unidades entraram em combate um hora ou mais depois que as primeiras haviam feito isto. O elemento surpresa foi totalmente perdido.

A coluna Díaz avançou primeiro, com várias de suas unidades de infantaria e cavalaria, atravessando os matagais, alinhando suas fileiras e avançando rumo às alarmadas linhas de piquetes brasileiros e uruguaios. O coronel Palleja observava o avanço paraguaio com admiração. “A coluna lançou-se de suas coberturas sem disparar um só tiro”, ele notou, “a cavalaria com sabres na mão, a infantaria com baionetas caladas.”

Díaz, que em 1864 havia sido um simples tenente no Batalhão de Polícia, pessoalmente liderou sua força mista rumo aos piquetes aliados. Em minutos, os batalhões “Libertad” e “Independencia” uruguaios e o 41º Batalhão de Voluntários da Pátria brasileiro haviam sido avassalados com pesadas baixas. Díaz, então, fez uma pausa, observou a linha aliada e permitiu que mais unidades de seu comando avançassem. Sua bateria de canhões 16 libras foi arrastada à frente por seus artilheiros, índios paiaguás, e foguetes Congreve foram posicionados a cerca de 1200 metros do inimigo. Díaz acenou com a mão, dois trombeteiros responderam, e seus dois regimentos de cavalaria, espadas e lanças refletindo o sol do meio-dia, abriram galope rumo aos batalhões uruguaios “24 de Abril” e “Florida”, estacionados em ambos os lados da sua bateria de artilharia, reforçados por centenas de abalados sobreviventes brasileiros e uruguaios da linha de piquetes.

Foi uma luta desigual desde o início. Os canhões orientais abriram fogo ao alcance de mil metros, enviando pesados projéteis sólidos de 18 libras através das fileiras paraguaias densamente agrupadas. No alcance de 400 metros, os fuzis uruguaios desfecharam um regular fogo de salva, reduzindo os cavalarianos a frangalhos. Em suas camisas largas ou ponchos leves, de um vermelho vivo, os paraguaios suavam apesar do frio invernal, suas esporas do tipo gaúcho cortando a carne de suas montarias. Centenas caíam amontoando-se em pilhas, muitos eram, então, esmagados pelos companheiros que avançavam.

Quando os paraguaios estavam a cerca de 200 metros da linha uruguaia, os 27 canhões do 1º Regimento de Artilharia à Cavalo do coronel Emílio Mallet abriram fogo contra o flanco do inimigo que progredia. A carnificina foi pavorosa – e já sem sentido.

Aqueles paraguaios que puderam, voltaram atrás, detendo-se apenas quando os matagais se fecharam sobre eles. Díaz estava furioso. Quase metade de sua cavalaria foi derrubada – e nem um único homem havia tombado a 100 metros do inimigo. E mais, a falta de armas de fogo de seus regimentos de cavalaria significava que o adversário estava basicamente intocado, exceto por alguns desgarrados ou vítimas de afortunadas balas de canhão paraguaias. Onde, perguntava Díaz, com raiva crescente, estavam Barrios, ou Resquín? Naquele momento, seus cinco batalhões de infantaria, incluindo o reconstruído e bem-armado 40º de Infantaria, estavam formando linha de batalha, e a primeira das unidades de Marcos tornava-se visível cerca de mil metros à sua esquerda.

A ordem de batalha paraguaia crescia, porém, o mesmo ocorria com os, já totalmente alertados, aliados. O brigadeiro Sampaio enviou seis de seus oito batalhões para proteger o flanco esquerdo dos uruguaios. Eles chegaram no mesmo instante em que os batalhões de Díaz, baionetas caladas, davam início à carga. Por ordens de Sampaio, cada infante brasileiro em sua divisão carregava 100 cartuchos e 125 cápsulas de percussão, e cada batalhão era seguido por vários carroças de munição.

Cerca das 12h:30m, a bateria uruguaia abriu fogo sobre a infantaria paraguaia em avanço, sendo seguida, imediatamente, pelos canhões de Mallet e, logo, pelo fogo emassado dos fuzis de cerca de seis batalhões de infantaria. Enquanto os infantes paraguaios, com camisas brancas, se detinham para responder ao fogo, as balas e granadas ceifavam suas fileiras.

Enquanto a infantaria trocava salvas, a dizimada, porém reorganizada cavalaria paraguaia, lançava uma barulhenta carga, à ponta de espada, diretamente contra o 1º de Artilharia brasileiro. Gritando para seus homens, “Por aqui, não entram!”, Mallet voltou seus canhões para a frente, e sob suas ordens eles começaram a disparar tão rapidamente que foram mais tarde chamados a “artilharia-revólver”. A matança foi espantosa, e o observador coronel Palleja registrou em seu diário que o efeito da artilharia sobre os paraguaios “era como o de um relâmpago; membros e roupas dos cavalarianos voavam pelos ares, com selas e pedaços dos cavalos.” Os paraguaios nem precisaram se preocupar com o profundo fosso cavado em frente aos canhões de Mallet, pois o mais próximo dos seus cadáveres, jazia a uns 50 metros dele. Os remanescentes dos regimentos de Díaz, muitos à pé e feridos, desviaram-se para a direita para juntarem-se ao ataque de infantaria em progresso.

Aí, sua imolação foi completada. Enquanto os bravos mas desorganizados e depauperados esquadrões carregavam o 4º Batalhão de Infantaria brasileiro, um dos oficiais desta unidade, tenente Dionísio Cerqueira, escreveu, “Nosso fogo foi tremendo... os bravos guerreiros de López, desfechando golpes de lança e espada, inutilmente.” Os paraguaios tombavam aos montes, alguns diante dos canhões de Mallet, cujas bocas haviam guiado o seu avanço. “Nossos soldados, queimando de ardor, saíram das fileiras e carregaram à baioneta... foi uma carnificina; poucos escaparam,” disse Cerqueira.

Então os homens de Cerqueira tiveram de voltar atrás rapidamente, pois elementos descansados da infantaria paraguaia estavam quase sobre eles. O fogo, em breve, era geral ao longo da linha, as fileiras de frente quase invisíveis na grossa fumaça.

O marechal-de-campo Osório, com total desdém por sua segurança pessoal, galopava para cima e para baixo da área de luta. O velho gaúcho, que havia organizado a Cavalaria brasileira anos atrás, estava em seu momento de glória, e embora tenha ficado atordoado com a explosão de uma granada no início da batalha, parecia ser indestrutível para seus homens. Ele enviou os últimos dois batalhões de Sampaio para apoiar a bateria uruguaia e, enquanto o fogo se intensificava, liderou pessoalmente cinco batalhões da 1ª Divisão de Argolo para tapar uma brecha potencial aparecendo na esquerda da linha. Um destes, o 2º de Voluntários da Pátria, era liderado pelo futuro marechal e presidente Deodoro da Fonseca. Então, galopando para a retaguarda, Osório liderou quatro batalhões da 4ª Divisão de Xavier de Souza contra outra coluna paraguaia que acabara de emergir dos matagais.

Enquanto a luta grassava – algumas vezes corpo-a-corpo, facão contra baioneta – os onze batalhões da 6ª Divisão de Vitorino Monteiro recebiam ordens de avançar, com parte do 3º Batalhão de Artilharia a Pé, para ambos os lados da posição de Mallet. O comandante de uma das brigadas, Joaquim Rodrigues Coelho Kelly, liderou cinco destes batalhões para além da linha de artilharia, cruzando o fosso em busca do inimigo e foi ordenado a voltar atrás, para a segurança, por um irado brigadeiro Vitorino (que, no campo de batalha, preferia ser chamado pelo primeiro nome, de preferência ao seu nome de família). Os batalhões brasileiros descansados, mal tomaram posição quando os paraguaios de Marcós atingiram o centro da linha aliada, suas massas movendo-se a passo acelerado, rumo aos canhões de Mallet. Na primeira onda do avanço de Marcós, alguns homens de seu 2º Batalhão conseguiram abrir caminho através do fogo fulminante, e avançar por entre os canhões brasileiros, para aí serem mortos.

À esquerda de Mallet, o Batalhão “Florida” do coronel Palleja, ironicamente, encontrou-se, frente-à-frente, contra o 40º Batalhão de Infantaria paraguaio, comandado pelo capitão Ramón Ávalos. Apenas três semanas antes, estas mesmas unidades haviam se esfrangalhado uma a outra, na Batalha do Estero Bellaco, onde os uruguaios haviam perdido sua bandeira de batalha. Agora, com ajuda de outros batalhões, Palleja poderia ter sua vingança. O combate transformou-se numa série de cargas e contra-cargas, uma versão latino-americana de Waterloo. Os brasileiros gritavam “Viva a Pátria!”. Os uruguaios cantavam seu hino nacional enquanto aguardavam outra carga. Os paraguaios avançavam, gritando insultos em seu gutural guarani, enquanto do 6º de Voluntários da Pátria brasileiro vinham respostas nas igualmente guturais vozes dos imigrantes que faziam parte da Legião Alemã. O Batalhão “Nambi-I” paraguaio, formado apenas por negros, avançou contra o 3º de Voluntários da Pátria, em grande parte também formado por negros. No combate aproximado, o tenente Cerqueira comentou, “cabeças eram esmagadas ou decepadas, braços cortados fora,” e ele observou que seus homens estavam “delirantes... como doidos, ferindo e matando” sem pensar. Neste sorvedouro de vidas, o 40º Batalhão de Ávalos, pereceu mais uma vez, sofrendo mais de 80 por cento de baixas. De acordo com um relato da destruição deste batalhão de elite formado em Assunção, “a flor da raça espanhola no Paraguai foi obliterada neste dia.”

Apesar do fato de que o exército paraguaio inteiro, provavelmente, não poderia ter rompido esta linha aliada de ferro, as colunas de Díaz e Marcó, unidades descansadas misturadas com remanescentes, avançavam de novo e de novo, tropeçando nos camaradas caídos, para atacar os invasores, alguns portando espadas e facões em ambas as mãos. O combate já se arrastava por mais de três horas, e a divisão de Sampaio foi erodida, quase tão severamente como os paraguaios, sofrendo 1033 baixas. O 4º de Voluntários da Pátria, sozinho, perdeu 192 de seus 300 homens. O brigadeiro Sampaio, montado num cavalo branco e sempre no meio do mais aceso da luta, foi arrancado da sela à bala, três vezes, e um dos seus comandantes de brigada assumiu o comando da divisão. Sampaio iria morrer no caminho para o hospital em Buenos Aires. Apenas a chegada de unidades descansadas, trazidas por Osório, salvou a 3ª Divisão de Infantaria brasileira de uma destruição completa.

A carnificina no centro e na esquerda da linha aliada coincidiu com a chegada dos oito regimentos de cavalaria de Resquín, à direita aliada, justamente onde as forças argentinas se ligavam aos canhões brasileiros e a 6ª Divisão de Vitorino. Ocupados com esta evidente ameaça, Osório e outros líderes aliados deram pouca atenção as suas unidades da extrema esquerda. Ali, os dois regimentos de cavalaria de Barrios haviam, silenciosamente, levados seus cavalos, invisíveis no matagal, bem para dentro da retaguarda aliada, seguidos quase que imediatamente por dois fortes batalhões de infantaria, o 4º e o 7º .

Quase na margem em declive do estero, no final da retaguarda do campo aliado, estavam os quatro corpos de cavalaria de voluntários gaúchos da Brigada Ligeira do brigadeiro Neto – contando com uns 700 cavalarianos – em serviço de proteção à retaguarda. Os homens de Neto estavam entediados, dando de pastar às suas escassas montarias. Então, os gaúchos ficaram estupefatos ao verem os 13º e 20º Regimentos de Cavalaria paraguaios, repentinamente, carregarem a partir do mato. Em poucos minutos, após confusa luta, a brigada de Neto, foi empurrada para trás e dispersada, sendo salva da destruição apenas pela rápida chegada dos próximos 1º e 24º Batalhões de Voluntários da Pátria. Estes batalhões avançaram, contendo o assalto paraguaio.

A luta continuou, por entre os vagões do trem de suprimentos. A cavalaria paraguaia recusou-se a bater em retirada, e os 4º e 7º Batalhões avançaram para reforçá-la. Mas enquanto mais e mais paraguaios saíam de dentro dos matos, também um número crescente de brasileiros apareciam para enfrentá-los. O ubíquo Osório havia, pessoalmente, esquadrinhado a situação na retaguarda, vivamente saudado por toda parte enquanto galopava pelo campo de batalha, semelhante a um Senhor da Guerra medieval, em seu ornado poncho e quépi branco, empunhando uma lança marchetada de prata. Analisando a situação, ele descobriu por meio de um oficial paraguaio ferido, a força do inimigo e a rota de suas colunas. Sabendo que seu centro e esquerda não estavam, no momento, em grande perigo de ceder terreno, e que os argentinos de Mitre estavam se mantendo bem, ele manobrou a maior parte da retaguarda do seu exército para enfrentar a ameaça real. Osório ordenou que as desmontadas 2ª e 5ª Divisões de Cavalaria (num total de 12 regimentos) contra-atacassem os paraguaios que ainda avançavam, e rapidamente, enviou a 19ª Brigada Auxiliar e dois batalhões, um da 1ª e outro da 4ª Divisões de Infantaria.

Enquanto esta potente força empurrava para trás a coluna de Barrios, Osório também mandou para a retaguarda a maior parte de sua artilharia ainda não engajada em combate. Estes canhões, dirigindo seu fogo sobre as saídas das poucas trilhas naturais através do matagal, simplesmente, moeram os paraguaios assim que estes emergiam. O 13º Regimento de Cavalaria do capitão José Maria Delgado, que iniciou o ataque de Barrios com 412 soldados, deixou de existir em apenas 30 minutos. Um sargento paraguaio, não identificado, horrivelmente mutilado, apertou a bandeira regimental ao peito, arrastando-a para dentro do matagal e, quando foi alcançado e morto pelos perseguidores brasileiros, estava ocupado em destruí-la com os dentes, para impedir sua captura. Relatos do seu feito foram publicados nos jornais de Buenos Aires e Rio de Janeiro.

Dos dez batalhões de Barrios, apenas seis realmente alcançaram a retaguarda aliada. Há razões para crer que alguns dos outros – com ou sem ordens – juntaram-se a ofensiva paralisada de Díaz contra o flanco esquerdo aliado.

Em uma hora, a ameaça à retaguarda aliada havia sido contida, mas até o fim da batalha vários milhares de paraguaios permaneceram nos matagais observando as bocas de fogo brasileiras, porém hesitantes em se lançar contra elas. Respirando mais aliviado, Osório deixou suas unidades de retaguarda onde estavam e cavalgou calmamente, com seu pequeno estado-maior, para a direita aliada, onde os argentinos ainda combatiam o inimigo.

Os homens de Resquín haviam sido os últimos a entrar em combate, lançando unidade após unidade a partir dos matagais através da junção entre as forças argentinas e uruguaio-brasileiras. Destruindo os piquetes de cavalaria dos gaúchos argentinos, os rápidos regimentos de ponta de Resquín, incluindo os fanáticos e bem-armados regimentos de elite “Aca Moroti” e “Aca Carajá”, sondaram as linhas argentinas, com rápidas e ferozes cargas, procurando um flanco que pudesse ser envolvido ou um batalhão que entrasse em pânico. Avançando, mais e mais longe para a estrema direita dos argentinos, eles sondavam, retiravam-se do alcance de fogo, e sondavam novamente.

Como nenhum ataque sério era desfechado, o general argentino Paunero lançou, por sua própria conta, sua única força montada de cavalaria – 90 homens da 2ª Brigada do brigadeiro Felix Hornos – num ataque glorioso, porém impossível. Em questão de minutos, a maior parte dos homens de Hornos jaziam por terra, aniquilados, e a linha de Paunero se encontrava sob crescente pressão, enquanto mais regimentos de Resquín e seus dois batalhões de infantaria entravam em ação. Mesmo assim, não houve vacilação nas fileiras argentinas e nem um assalto total por parte dos paraguaios.

O 1º Regimento de Artilharia argentino usou de forma eficaz, seus 17 canhões, mantendo os paraguaios além do alcance de tiro de fuzil. Os canhões estavam estacionados entre as duas divisões de linha-de-frente de Paunero, enquanto outras duas estavam à retaguarda. Assim, os canhões podiam oferecer suporte a qualquer uma das quatro divisões que deles necessitassem. A 1ª Divisão argentina, na esquerda de Paunero, liderada pelo coronel Antonio Rivas, logo teve tal necessidade.

A cavalaria paraguaia atingiu a divisão de Rivas com força, criando numerosas brechas e despejando-se através delas. A infantaria argentina, embora em situação difícil, não entrou em pânico, face aos sabres cortantes da cavalaria inimiga. Lembrando de seus manuais de adestramento, rapidamente, formaram quadrados eriçados de baionetas. Durante cerca de quinze minutos, os esquadrões paraguaios deslizavam por todos os lados dos 1º, 3º e 4º Batalhões de Linha argentinos, mas foram feitos em fatias por tempestades de fogo de fuzil e canhão dos uruguaios próximos e da 3ª Divisão argentina na retaguarda.

Não há dúvida de que o fogo concentrado também matou e feriu muitos argentinos dos batalhões cercados (o coronel Palleja admitiu que as salvas do seu Batalhão “Florida” fizeram isso), mas o dano causado aos paraguaios foi infinitamente pior. O 4º Regimento paraguaio e mais outro foram quase erradicados dentro e próximo das brechas por eles criadas na linha argentina, seus sobreviventes finalmente galopando para longe, gritando loucamente como se tivessem triunfado.

Enquanto tudo isso se sucedia, o capitão paraguaio José de Jesus Martinez, com três esquadrões do Regimento “Mariscal López”, unidade de escolta de cavalaria, penetrou a retaguarda dos 4º e 6º Batalhões de Linha, tendo como alvo, a artilharia próxima. Em questão de minutos, entretanto, os dois batalhões de Rivas, reforçados por partes do 5º de Linha, exterminaram completamente os paraguaios.

Nem tudo saiu tão bem para os aliados. Rivas ordenou a seu 3º Batalhão de Linha que atacasse uma unidade de cavalaria paraguaia que emergia do matagal, porém, já era tarde demais quando os argentinos compreenderam que a unidade contra a qual avançavam, era constituída de um regimento de cavalaria à plena força, apoiado pela maior parte de um batalhão de infantaria, cujos infantes eram transportados pelos cavalarianos na garupa. Num selvagem combate cerrado, o 3º de Linha, em sua maioria formado por imigrantes, foi empurrado para trás, cambaleante, apenas se salvando da total destruição pela rápida chegada de reforços, que rechaçaram os paraguaios.

No último ataque paraguaio do dia, o grosso de cinco regimentos de cavalaria e dois batalhões de infantaria avançou, algo hesitante, contra a extrema direita da linha argentina. Mitre, entretanto, havia sido capaz de concentrar consideráveis reservas descansadas durante a batalha, incluindo a 1ª Divisão (do corpo de Mitre) que, tendo artilharia anexada, avançou para reforçar a ameaçada 2ª Divisão, e o fogo emassado argentino deteve os paraguaios onde estavam.

Com os regimentos de López, maltratados e se desfazendo numa aparente confusão, Mitre enviou para a frente uma bateria com quatro canhões para completar a carnificina, porém esta foi quase que totalmente aniquilada por uma força de cavalaria paraguaia, oculta numa ravina rasa. Admitindo que o ataque paraguaio havia sido “magnífico”, o marechal-de-campo Osório que, naquele momento, havia chegado à extrema direita, saudou a valorosa defesa de seus aliados argentinos, e a saudação à Osório, com as vozes roucas de milhares de soldados argentinos, ecoou por todo o sinistro campo de batalha, abafando os gritos dos feridos. Por volta das 16h:30m, a luta havia terminado.

Um capitão de artilharia brasileiro recordou que, nesta tarde “nossa frente havia se transformado num pântano de sangue... uma montanha feita de cadáveres, de homens e de cavalos, mortos e feridos... somente na nossa proximidade o número de mortos passava de mil.” Conquanto as perdas aliadas fossem severas, não eram incapacitantes – 996 oficiais e soldados mortos e 2935 feridos (dos quais, muitos morreriam mais tarde). Dos quase 27 mil paraguaios empenhados na Batalha do Tuyutí, estima-se que 7 mil morreram no campo de luta, enquanto outros 8 mil saíram gravemente feridos. Levando-se em conta a quase total carência de serviços médicos dos paraguaios, uma alta proporção dos feridos morreu nos dias e semanas que se seguiram. George Masterman, um farmacêutico inglês que servia ao Exército paraguaio, mais tarde escreveu que, embora não fosse treinado em cirurgia, aprendeu como fazer amputações depois da batalha. Foram feitos poucos prisioneiros.

Barrios e Díaz, que haviam sobrevivido por milagre, galoparam, naquela noite, rumo ao acampamento de López em Passo Gomez, para efetuar seus sombrios relatos e avaliações. Para iludir seu próprio povo, o ditador ordenou que suas bandas militares tocassem a noite toda e, no dia seguinte, por ordem sua, o jornal oficial em Assunção, El Semanário, noticiou, com júbilo, a “grande vitória” em Tuyutí. Meses mais tarde, o aventureiro inglês Richard Burton, passando através do campo de batalha, registrou que o mau-cheiro da morte ainda era quase sufocante.

O Exército paraguaio, com suas melhores unidades reduzidas a esqueletos e com seu moral destroçado jamais montaria uma ofensiva em larga escala de novo. A guerra, entretanto, se arrastaria por mais horrendos 46 meses, terminando nas profundezas das florestas do norte em 1o de Março de 1870.

Ali, depois de sofrer um ferimento de lança no estômago pelo 2º tenente José Francisco de Lacerda e ver seu filho mais velho, Francisco, morto em combate, o Mariscal López tentou escapar para dentro da selva, apenas para ser alcançado e receber a última chance de se render, pelo general José Antônio Corrêa da Câmara. López recusou-a, e foi baleado e morto, por um infante brasileiro. Com López, nesta última batalha, estava o 40º Batalhão de Infantaria que, tendo apenas 33 homens, era sua tropa mais numerosa. O Paraguai, desmembrado pelos vencedores aliados, sua população dizimada pela guerra, doenças e fome, havia sido riscado do equilíbrio de poder regional.


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Extraído de Military History N° 1/vol. 17 – Primedia Publication, Leesburg/Vírginia.

FRAGOSO, General Tasso – História da Guerra Entre a Tríplice Aliança e o Paraguai, vol. II. Rio de Janeiro, Bibliex, 1957.




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#75 Mensagem por Marino » Ter Fev 19, 2008 11:42 am

O CALENDÁRIO CÍVICO MILITAR, EDITADO PELO CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO, ASSINALA O(S) SEGUINTE(S) EVENTO(S):

19 Fev – Segunda Batalha dos Guararapes - Pernambuco (1649).
- Travessia do Passo de Humaitá pela Esquadra Brasileira - Guerra da Tríplice Aliança (1868).

Caro Brigadeiro - hoje devo pegar meu scaner reparado, e vou tentar retomar o tópico.
Forte abraço




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