Koslova escreveu:Acho que todos aqueles que fizeram piada com a Fazenda da FAB em Pirassununga, eu fui uma destas pessoas, não estão muito interessados se a fazenda é superavitária, ou gera prejuízos, apenas elegi um ícone de um modelo de força armada que temos no Brasil.
A fazenda da FAB é isto, um ícone, uma caricatura.
Caricatura de um modelo de força aérea que temos no Brasil.
Israel também tem seu modelo, lá por exemplo os aviões de treinamento primário são comprados e mantidos por uma empresa privada que vende horas de vôo a IAF.
Na Inglaterra os aviões de treinamento primário e avançados são mantidos por empresas privadas.
Na França em 1996 foi aprovado um programa de redução de 69.000 homens para 56.000 homens até 2002, a força aérea local precisava de menos pessoal na folha e mais sobra de recursos para poder bancar sua atividade fim que estava cada dia mais cara em função da crescente sofisticação da guerra aérea.
Já sei, você acha que eu vou sugerir que a FAB faça a mesma coisa, isto é, privatize a posse de seus aviões de treinamento? Contrate a manutenção de seus Xavante / Impala? Reduza em 10.000 homens o seu efetivo de mais de 50.000 militares?
Enganou-se, não vou sugerir nada disto.
Israel, Inglaterra, França, cada qual tem sua cultura militar, tem sua historia militar e suas peculiaridades, absolutamente nada disto funciona no Brasil. Tal qual o modelo educacional da Holanda não serve para o Paraguai.
Nos também temos nossa cultura militar, e desta resulta as FA’s que temos hoje, EB, MB e FAB são meros reflexos da nossa cultura.
O que vemos é que outros paises, mudam continuamente seus paradigmas de focas armadas.
Os EUA quando levaram uma sova no Vietnã reconstruíram sua doutrina de guerra nos anos 80, a USAF e a USN mudaram muito, no seu pensamento, no seu equipamento.
Quando a URSS desabou em 1991, a caótica força aérea russa, mudou em 10 anos, era preciso se reinventar diante do caos econômico e político, da superpotência que era a URSS para o pais em desenvolvimento que hoje é a Rússia, as FA’s locais se reinventaram completamente.
Quando a China enxergou que seria uma superpotência no futuro próximo, suas FA’s trataram de se adequarem a um projeto compatível de poder militar a altura das necessidades do pais.
Quando a Espanha experimentou um ciclo de desenvolvimento econômico e social nos anos de 1980 em diante, suas FA’s passaram a serem exemplos de equilíbrio para os padrões de potencia media européia.
E assim podemos ir citando exemplos de bons trabalhos de adequação de forças armadas a realidade local, Chile, África do Sul, Austrália, Coréia do Sul, Suécia, Finlândia entre outros.
Qual o drama brasileiro?
A questão principal para mim é que a nossa cultura militar não é muito adepta á mudanças, adequações a novos cenários.
Temos a cultura do "stabilishment", tudo é, “na média”, ”quem sabe”, “talvez”, “é possível”, “não sei”, “pode-ser”.
A cada ano milhares de brasileiros morrem assassinados por marginais, dentro desta guerra urbana que vivemos, e até hoje não temos muita certeza sobre qual modelo de policia, presídios ou legislação devemos ter, imagina então a dificuldade para esta sociedade enxergue sobre um modelo de Defesa Militar.
Fiquem tranqüilos, estamos na América Latina, terra abençoada, deitada em berço esplendido.
Se estivéssemos no colo do capeta, em algum lugar da Europa entre a Rússia e a OTAN, no Oriente Médio ou na Ásia, próximo a China, Índia e Paquistão, bem, ai teríamos outra cultura militar, outro modelo de FA’s.
Somos os café com leite do poder militar mundial, nada mais justo que uma fazenda para produzir café e leite, pensando bem, esta fazenda é fundamental!
Pronto!!! Já tenho a solução, ao invés de preocuparmos em comprar ou produzir caças, vamos importar o Capeta!!!
Engraçado... Com tanta coisa dando errado por aqui, eu cheguei a pensar que o inferno era aqui... Já sei, os capetinhas daqui devem ser estagiários, só pode!!!
Falando sério Koslova, acho que nossa cultura tem um detalhe pior: temos o hábito de só resolver as coisas depois que os problemas acontecem e chegam no limite, nunca nos antecipamos aos fatos, nunca previnimos, esperamos acontecer. Por isso que só vemos improvissos e não projetos de médio e longo prazo.
Durante décadas este país se preocupou com a economia, usou-se o povo como cobaia de laboratório econômico. Podemos dizer (ou pensar) que um rumo foi encontrado, embora seja cedo ainda.
O governo anterior chegou a dar uma declaração oficial que não deveríamos investir nada em pesquisa e desenvolvimento, deveríamos importar o que já estava pronto e produzir aqui com tecnologia de lá, inclusive importar cérebros. O atual governo fez duras críticas quando era oposição, mas não fez nada de diferente e significativo até agora, só se for algo de interesse do seu governo (se rende "popularidade").
Vocês já observaram o quanto este país é conservador? As FFAA são extremamente conservadoras, a economia idem, o governo ibdem, até a esquerda do Brasil é conservadora, faz os mesmos discursos arcaicos da antiga direita.
Qual o preço que se paga por tanto conservadorismo? Continuar na mesma e deitados em berço explendido (@ Koslova).
Abraços,
Orestes