LAGER, o horror do nazismo.
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LAGER, o horror do nazismo.
LAGER, o horror do Nazismo.
(Postei isso, em outro fórum, há muito tempo. Acho que cabe por aqui também.)
Prezados senhores, rogo-vos paciência com este longo texto, Minha entrada neste grupo se deveu apenas à necessidade de aprender mais sobre a história militar da Segunda Guerra Mundial. E isto aconteceu, tenho lido muitos textos enviados por pessoas que demonstram agudo conhecimento sobre o assunto. De minha parte, tenho tentado colaborar com as poucas coisas que sei, e enviando artigos que possuo e que, lamentavelmente, estão condenados às páginas amareladas de livros que nunca mais serão reimpressos. E que eu julgo que devem ser conhecidos pelo maior número de pessoas, como homenagem a seus autores. Não sou judeu. Também não sou árabe. Sendo assim, entendo que devo ansiar por uma paz duradoura entre esses povos, e não tomar partido de um contra o outro. Atitude, inclusive, não muito honrosa, estando a pessoa separada dos tiros por um oceano e um mar. Quanto ao Holocausto, não me considero a pessoa mais gabaritada para discutir o assunto. Porém, não posso, por questão de consciência, me furtar a uma consideração final. Esta se destina a pessoas que não tenham uma postura ideológica já formada, e que, legitimamente, tem dúvidas sobre o assunto. Dúvidas, como eu já opinei, decorrentes do fato de que a escala do morticínio é tão gigantesca que as pessoas tendem a duvidar de que seres humanos possam fazer isso a outros seres humanos. Considerando tudo uma montagem, uma fraude. Evidentemente, há pessoas que já tem uma orientação de vida, já tem um lado escolhido. Sendo assim, apresentar fatos e mais fatos, não tem sentido. Elas já escolheram a sua "verdade". Seja por conexões familiares (parentes que lutaram pela Alemanha na guerra, ou que eram simpatizantes do Nazismo); seja por questões ligadas a luta atual contra o Estado de Israel. O primeiro caso, não necessita de comentários. O segundo faz-me lembrar a corrente revisionista de meados de década de 1970, sobre a Guerra do Paraguai. Esta era uma época em que muitos historiadores se opunham a ditadura do Exército no Brasil. Assim, como os militares estavam antipatizados, estas pessoas divulgavam tudo o que os irritasse. Daí surgiram as teorias mostrando o Duque de Caxias como um açougueiro que mandava espalhar o cólera entre civis paraguaios indefesos. Quem lia publicações das Forças Armadas naquela época deve lembrar da fúria que isto provocou nos quartéis. Algum tempo depois, tais alegações de pseudo-historiadores (que usavam a história como arma política, e não como tentativa de se chegar a uma, "verdade histórica" - conceito complicado, mas que, no mínimo, devia ser objetivo de todo historiador sério) foram desmoralizadas. Por exemplo, diziam que Caxias mandou jogar cadáveres coléricos no rio Paraguai para contaminar a população inimiga. Isto está escrito, com todas as letras num livrinho famoso da década de 1980. Ora, não é preciso ser Napoleão para perceber que, se a retaguarda paraguaia e Assunção estavam na direção de quem sobe o rio, a partir do acampamento brasileiro do Tuyuti, como então, o danado do cadáver ia flutuar contra a corrente até lá ? Com uma hélice? Mas isto não importava muito, o negócio era sacanear os militares da ditadura. Disso tiramos duas conclusões: primeiro, como alguns querem sacanear os israelenses de hoje em dia, também não pensam muito na insensatez de suas posições; segundo, "a mentira tem pernas curtas", nenhum historiador sério, hoje, sustenta tais opiniões em relação ao bom Duque, que na verdade, era um cavalheiro da velha escola.
Realmente, não posso encontrar outra palavra que não seja insentatez. Discutir números? Se foram seis milhões, ou 5.999.999 judeus mortos? Ou se foram 5.999.999 judeus E ciganos E cristãos E ortodoxos mortos? Uma coisa é certa, um bom número dos "judeus" enviados para a morte, nem mesmo se achavam judeus... Eles se consideravam alemães, austríacos, franceses, etc. Eram pessoas que viviam há gerações, afastadas das tradições judaicas, e até sendo praticantes do Protestantismo e do Catolicismo. Mas o código nazista de 1935, definia um judeu como qualquer um que possuísse um ancestral judeu. Isto foi a base para a PRIMEIRA SOLUÇÃO do problema judaico, ou seja, a expulsão de todos os judeus das pequenas cidades do interior e áreas camponesas da Alemanha, com a argumentação de que eram estranhos e alienígenas. Apesar do fato de que já existiam judeus naquelas terras desde o império de Carlos Magno, no século IX. A SEGUNDA SOLUÇÃO foi a emigração forçada de judeus. Em 1938, cerca de metade da população judaica da Alemanha, de cerca de 500 mil pessoas, emigrou. E é claro, sem seus bens, que foram confiscados. A propósito, só foram para a Palestina, uns 30 mil judeus, enquanto mais de 100 mil foram para os Estados Unidos. Depois, veio a guerra. A Polônia foi ocupada e não era mais possível a política de emigração. A população judaica em terras polonesas era uma das maiores da Europa. Então veio a TERCEIRA SOLUÇÃO, ou seja, arrebanhar milhões de judeus poloneses, de todas as cidades e do campo, (onde viviam há séculos) em minúsculos "guettos" nas grandes cidades. O índice de morte mensal por fome e doença era de 800 a 2000 pessoas em Varsóvia.
Então veio, a Operação "Barbarossa" (a invasão da Rússia). A população judaica das áreas sob controle comunista, como a parte oriental da Polônia, os Países Bálticos, a Ucrânia e etc., era imensa. Por isto, surgiu a QUARTA SOLUÇÃO. A utilização dos "Einsatzgruppen" que atuavam na retaguarda do Exército alemão e, simplesmente, fuzilavam todos os judeus e outros inimigos, a sangue-frio. Em pequenas vilas dessas áreas, onde judeus viviam há gerações, o objetivo de extermínio foi conseguido em horas. Em grandes cidades, levou dias; em Kiev, mais de 30 mil homens, mulheres e crianças judias foram conduzidos aos arredores da cidade e metralhados, durante três dias seguidos. Evidente, com a aberta participação de habitantes locais, milícias pró-nazistas etc. Dada a natureza, das ações, era impossível impedir que curiosos, delas tomassem conhecimento. Por exemplo, militares do Exército em serviço de retaguarda; empresários alemães etc. Protestos vieram de várias partes, mesmo de funcionários da administração nazista e de alguns valorosos militares alemães, como o General Blaskowitz, que não foi apoiado pelo Alto-Comando do Exército alemão. Diga-se, de passagem, que este último, já estava informado do tipo de ação que as unidades especiais SS (que, para tristeza dos puxa-sacos das Waffen-SS, contavam com um destacamento selecionado desta tropa, para a eventualidade de surgir algum serviço mais perigoso do que metralhar mulheres e crianças...) e o General Brauschitch, Comandante-Chefe do Exército recebeu ordens verbais do "Monstro de Bigode" para não permitir que os militares se intrometessem nesses assuntos. De qualquer forma, chegou-se a conclusão de que esta ainda não era a solução desejável. Porque não oferecia segredo e, vejam só, isto afetava o equilíbrio psicológico dos assassinos. Era uma coisa tão horrível de fazer que, mesmo muitos daqueles homens tinham necessidade de se embriagarem para conseguir continuar na matança. Os próprios comandantes dos "Einsatzgruppen" chamaram a atenção para este efeito colateral imprevisto, da matança cara-a-cara de tantos milhares de pessoas indefesas, dia após dia. Daí, surgiu a quinta solução, a SOLUÇÃO FINAL.
Os elementos-chave desta SOLUÇÃO FINAL eram: segredo absoluto, desta vez não podiam haver enxeridos. E sem enxeridos não haveria protestos; um caráter decisivo; depois dela, não haveria mais um problema judaico na Europa. Como obter tais objetivos? Primeiro, toda a movimentação de judeus, seja dos guettos na Polônia, seja das cidades da Europa ocidental foi disfarçada como "reassentamento" e colonização das terras do Leste. Segundo, toda a população judaica da Europa ocupada pelos alemães deveria ser arrebanhada e conduzida por via férrea para campos construídos, cuidadosamente, bem longe de qualquer grande localidade. Terceiro, devia se achar um método adequado de matança. Rápido; de massa; que não desse chance às vítimas de perceberem o que lhes ia acontecer; e que fosse "mais ou menos limpo" para não traumatizar os assassinos, os quais deviam ser no menor número possível. Através de experiências com judeus e prisioneiros-de-guerra soviéticos, chegou-se ao gás (de dois tipos, ou o Zyklon B ou o monóxido de carbono). Este seria utilizado, de dois modos: caminhonetes de transporte onde o gás era introduzido durante a viagem das estações ferroviárias, até o campo, quando as vítimas já chegavam prontas para a incineração (diga-se, de passagem, que as estações de trens ficavam afastadas dos campos, de forma que os maquinistas e pessoal ferroviário não podem ser acusados de envolvimento pessoal no Genocídio. Os trens eram denominados de "trens de reassentamento".) O outro método era a câmara de gás, onde as vítimas eram conduzidas, sob a alegação de passar por um processo de desinfecção. E onde o gás era introduzido. A SOLUÇÃO FINAL iniciou-se em dezembro de 1941 num total de seis CAMPOS DE EXTERMÍNIO – Vernichtungslager: Belzec; Sobibor; Treblinka (estes três, voltados especialmente para a destruição dos judeus poloneses na chamada Operação “Reinhardt”); Chelmno; Maly-Ostrenets e Birkenau (este último selecionava as vítimas, pessoas capazes de trabalhar eram convertidos em escravos por algum tempo, depois eram passadas no cerol, também... Os incapazes - crianças, velhos e doentes - eram exterminados no ato). Tal distinção não existia nos outros campos já citados. Birkenau ficou tristemente famoso com o nome de Auschwitz, embora existissem outros dois campos com este nome. Pois se tratava de um complexo. Birkenau era Auschwitz II, reservado apenas a judeus. Os outros eram campos de concentração). Destes campos, cinco estavam em território polonês e um em território russo capturado.
A partir de setembro de 1944, estes campos começaram a ser desativados com a aproximação do Exército Vermelho. Os guardas SS demoliram suas instalações. Em Auschwitz isto foi feito apenas algumas semanas antes da chegada dos soviéticos. Os que ainda estavam vivos foram evacuados, nas piores condições possíveis, chegando a mais de 100 mil os que morreram pelo caminho até a Alemanha central. Aí, foram obrigados a trabalho forçado ou colocados em CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO – Konzentrationlager (ou seja, campos onde as vítimas morriam às dezenas de milhares, principalmente de fome, doença, fuzilamento. Mas que não se confundiam com os campos voltados especificamente para o extermínio de judeus, de acordo com a Solução Final). Em abril de 1945, tropas anglo-americanas entraram em tais campos como Bergen-Belsen, Dachau, Buchenwald e Mauthasen e o mundo livre pôde ver as bárbaras imagens, que não eram, todavia, dos campos de extermínio já citados. Em Bergen-Belsen, os britânicos contaram em mais de 10 mil, os cadáveres insepultos de vítimas da fome e de doenças. Cerca de 40 mil internos ainda estavam vivos. Destes, 20 mil morreram nas semanas seguintes à libertação. Haviam mais de 40 mil corpos enterrados em valas comuns. Consta que o próprio General Patton ao inspecionar um desses campos, ordenou que o prefeito e as pessoas mais importantes de uma cidade próxima fossem obrigadas e entrar neles e verem que tipo de governo elas estavam servindo.
Agora, voltando a falar de números... Tem gente que precisa pôr a mão na consciência e não pensar nesses mortos como números. Pensem neles, como pessoas. Pessoas boas, ruins. Inteligentes, estúpidas. Pessoas que amavam seus pais, seus filhos, seus irmãos, seus vizinhos. Gente que vivia o dia-a-dia, de trabalho, estudo. Festas com seus entes queridos... Vamos deixar os números grandes de lado, que são muito chatos. Vamos falar de números pequenos. A população de judeus da ilha de Rhodes, o antigo quartel-general dos Cavaleiros Hospitalários, no mar Egeu, tinha, apenas, mil e setecentas pessoas. Elas foram todas deportadas, conduzidas a Auschwitz e...? Interrogação. Para onde foram elas? Será que foram escondidas pelo Serviço Secreto americano só para poder sacanear os nazistas depois da guerra? Foram para Israel? Foram abduzidas por alienígenas? Na Holanda, haviam uns 130 mil judeus. Vejam bem, não abstrações, fantasmas. Eram 130 mil PESSOAS, registradas, com local de moradia, que pagavam imposto, que trabalhavam, que estudavam. E depois da guerra, só restaram uns 20 mil. Anne Frank pertencia a uma família judia alemã, que emigrou para a Holanda. Depois da invasão alemã, essas pessoas (e não esses "números") ficaram escondidas até agosto de 1944, quando um nojento F.D.P as delatou. Foram enviadas para Bergen-Belsen, e só o pai da família sobreviveu. Que foi feito dos outros? Na Macedônia e na Trácia, existiam 23 comunidades judaicas, estabelecidas ali, desde a expulsão dos judeus da Espanha em 1492. Cerca de 12 mil seres humanos. Foram todos deportados para Treblinka dentro de vinte trens. Em 1946 não haviam mais judeus na Trácia e na Macedônia, descendentes dos exilados da Espanha... O problema com números está, em grande parte, com o fato do complexo de campos de extermínio ter caído em mãos dos soviéticos. Com a falsidade característica da propaganda comunista, eles afirmaram que as vítimas, apenas em Auschwitz-Birkenau montavam a mais de 4 milhões. Isto era um absurdo que ficou comprovado com a queda do comunismo. Os arquivos secretos da época soviética mostravam então que cerca de 2 milhões de pessoas foram destruídas em Auschwitz-Birkenau. Francamente, este número é tão gigantesco, que sejam 2 milhões ou 4 milhões, a cabeça de muita gente gira. Foram 6 milhões? Não sei. Sei apenas, que da enorme população de judeus, que habitava, há várias gerações, a Polônia, os territórios soviéticos da Europa, os Balkans, apenas uns 300 mil ainda estavam vivos em 1946... Estes são os fatos nus e crus.
Houveram governos que, ainda que aliados da Alemanha, mantiveram um mínimo de dignidade de se oporem aos desígnios nazistas. Por exemplo, os búlgaros lutaram do lado alemão. Mas quando o governo nazista solicitou ao Rei Boris a deportação da comunidade judaica búlgara, ele e o parlamento se recusaram. O que desejariam os alemães com os 50 mil judeus búlgaros? Mussolini podia ser o que fosse, mas o governo fascista não permitiu a deportação de judeus italianos solicitada por seus aliados alemães. Tropas italianas foram instruídas para não participarem em qualquer atividade relacionada com judeus na Frente Russa. Os judeus italianos só foram deportados quando os alemães ocuparam o país, em 1943. Poucos combateram mais ferozmente do lado alemão do que os finlandeses. Mas, depois que o governo da Finlândia teve confirmação da morte de 15 judeus deportados, recusou-se, terminantemente, a enviar os restantes dois mil judeus da Finlândia para a custódia alemã. Na Dinamarca, todos os cinco mil e quinhentos judeus foram levados para a Suécia, numa só noite, em pequenos botes com o apoio decisivo do rei Frederico IX. A Hungria deportou 400 mil judeus, em três meses, que foram conduzidos à Auschwitz e dos quais, não se teve mais notícias. Devido a pressão do Papa e do rei da Suécia, e ameaças de bombardeio aéreo dos Aliados ocidentais contra Budapeste, o regente húngaro, ordenou a interrupção das deportações, assim mais de 300 mil judeus húngaros, sobreviveram. A propósito, o esquema de disfarce era tão bem feito que Adolf Eichmann chegou a trabalhar com as lideranças judaicas em Budapeste nos detalhes de transporte. Essas lideranças, realmente, acreditavam que os alemães ainda estavam se baseando na sua Terceira Solução, concentrar as comunidades judaicas em algum lugar do leste ocupado. Nada pode mostrar de forma mais candente,como os detalhes do extermínio foram mantidos em segredo. Se nem os rabinos de Budapeste acreditavam que os nazistas estavam matando judeus em câmaras de gás, por que um cidadão inglês ou americano devia acreditar? Certa feita, um juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, e defensor da causa sionista, ouviu da própria boca de um membro da resistência polonesa, que se havia infiltrado em Auschwitz, disfarçado, vejam só, em guarda SS, um relato do que lá ocorria. Pois bem, este juiz disse que não acreditava. Os presentes garantiram que o polonês estava dizendo a verdade, e o juiz respondeu: "Eu não duvido da sinceridade deste jovem, acredito que ele esteve neste lugar. Apenas não acredito que essas coisas aconteçam..."
Agora, se me permitem, gostaria de tecer mais umas considerações sobre algumas afirmações que li de vários dos nobres camaradas: "AH, O HOLOCAUSTO É UMA FORMA DE SE MANCHAR A REPUTAÇÃO DO BOM POVO ALEMÃO..." Certa vez, li a indagação de um escritor inglês que se perguntava quem seriam os ingleses a colaborarem com os invasores nazistas, nos extermínios que seriam levados a cabo na Inglaterra ocupada. Isto por que todo mundo sabe que talvez a maioria dos guardas de campos de concentração, principalmente, depois de meados da guerra, era de cidadãos locais, russos, poloneses, ucranianos etc. Era uma das normas do procedimento de deportação dos judeus da Europa Ocidental que o serviço fosse realizado pelas polícias locais, a francesa, a belga, a holandesa etc. Acho que nunca alguém acusou o referido escritor de querer manchar a reputação do povo inglês, com a sua pergunta...
"ISTO É UMA DELIBERADA POLÍTICA IANQUE DE EXECRAR AS GLORIOSAS FORÇAS ARMADAS ALEMÃS..." Sei não. O governo americano deu uma condecoração a Franz Halder, ex-chefe do Estado Maior do Exército alemão (e um idiota) no pós-guerra. As Forças Armadas americanas sempre buscaram ensinamentos nas realizações profissionais dos militares alemães. Já li uma afirmação de que, em combate, os alemães eram de 20% a 30% mais eficientes do que os americanos ou britânicos. Seja homem por homem, ou tropa por tropa. De que eles lutavam melhor do que os aliados que os ultrapassavam em número. De que, homem por homem, eles infligiam 50% mais de baixas num combate aos aliados do que sofriam. Em quaisquer circunstâncias, atacando ou defendendo. Quando tinham superioridade numérica, ou mais normalmente, quando eram ultrapassados em número. Quando ganhavam ou quando perdiam. Bem, quem foi que escreveu isso? Um "Skinhead"? Um ex-combatente das Waffen-SS? Não. Quem escreveu isso foi um general do Exército dos Estados Unidos e famoso historiador militar... Deixem-me citar duas declarações de militares aliados da Segunda Guerra Mundial: General George C. Marshall, Chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos: "Os alemães são lutadores por natureza, temos de admitir isto. Eles estão excelentemente adestrados, especialmente o seu corpo de sargentos. A base de sua disciplina é inquebrantável..." Marechal Alexander, comandante inglês dos Aliados na Itália: "Os soldados alemães possuíam um forte senso de dever e disciplina, e combateram brava e tenazmente em todas as partes. Eles mantiveram até o fim, seus altos padrões militares." Além do que, não entendo bem por que os americanos teriam interesse em "execrar" as forças armadas do país que deveria ser seu mais importante aliado numa eventual guerra contra os soviéticos.
Acredito que execrar as forças armadas alemãs é confundi-las com a escória nazista (apesar de todos os defeitos da casta militar alemã)e isto se faz ao afirmar que "O HOLOCAUSTO FOI MUITO AUMENTADO DEVIDO A NECESSIDADE DE SE DESMORALIZAR OS MILITARES ALEMÃES..." Os próprios militares alemães, no pós-guerra, sabiam bem quem foi que desmoralizou a sua classe perante os olhos do mundo. E eles não acharam que foram os donos judeus da televisão... Leia-se nas memórias do General Heinz Guderian (o livro “Panzer Líder” da Bibliex) o seguinte: "A igualmente notória "Ordem dos Comissários" (pela qual, todos os membros do Partido Comunista, capturados deviam ser, sumariamente, fuzilados...) nunca chegou ao meu comando. Sem dúvida o Grupo-de-Exércitos "Mitte" já decidira não distribuí-la. Assim, também a "Ordem dos Comissários" não foi cumprida no âmbito do 2o Grupo Panzer. Relembrando tais fatos, só me cabe lamentar que nem o OKW (Alto-Comando das Forças Armadas), nem o OKH (Alto-Comando do Exército), não tenham tomado a iniciativa de bloquear tais ordens, em primeiro lugar. Muitos bravos e inocentes soldados alemães seriam poupados a um amargo sofrimento e o bom nome da Alemanha estaria hoje livre de tão grande VERGONHA..."
Agora a saideira para fechar a conta. Coisa curiosa! Sabem quem mais do que qualquer pessoa iria estranhar, e muito, essa pseudo corrente histórica revisionista? Os próprios acusados de crimes de guerra em Nuremberg! Os nazistas levados a julgamento em Nuremberg, quando confrontados com a acusação de Genocídio, não pensaram em dizer que tudo aquilo era montagem e manipulação. O ridículo Göering não respondeu à acusaçao de co-participante no Genocídio afirmando que aquilo ali nunca existiu. Não. Ele se defendeu dizendo que não tinha nada com o peixe, e que a culpa era toda de Himmler e das SS (foi ele, se não me engano, quem os chamou de porcos...) Ah, mais uma coisa que vai deixar, ou triste ou alegre, algum fã de Rommel. Quando recebeu a informação do que aqueles “super-homens” da 2a Divisão Panzer SS "Das Reich" haviam feito em Oradour, ele exigiu o direito de mandar punir os responsáveis. Rommel disse o seguinte: "FATOS COMO ESSES DESONRAM O UNIFORME ALEMÃO. NÃO É DE SE ADMIRAR O CRESCIMENTO DA RESISTÊNCIA FRANCESA QUANDO AS SS FORÇAM TODO O CIDADÃO DECENTE A EMPUNHAR ARMAS CONTRA NÓS!" Isto, ele disse na cara de Adolf Hitler, no dia 17 de junho de 1944, em Margival.
(Postei isso, em outro fórum, há muito tempo. Acho que cabe por aqui também.)
Prezados senhores, rogo-vos paciência com este longo texto, Minha entrada neste grupo se deveu apenas à necessidade de aprender mais sobre a história militar da Segunda Guerra Mundial. E isto aconteceu, tenho lido muitos textos enviados por pessoas que demonstram agudo conhecimento sobre o assunto. De minha parte, tenho tentado colaborar com as poucas coisas que sei, e enviando artigos que possuo e que, lamentavelmente, estão condenados às páginas amareladas de livros que nunca mais serão reimpressos. E que eu julgo que devem ser conhecidos pelo maior número de pessoas, como homenagem a seus autores. Não sou judeu. Também não sou árabe. Sendo assim, entendo que devo ansiar por uma paz duradoura entre esses povos, e não tomar partido de um contra o outro. Atitude, inclusive, não muito honrosa, estando a pessoa separada dos tiros por um oceano e um mar. Quanto ao Holocausto, não me considero a pessoa mais gabaritada para discutir o assunto. Porém, não posso, por questão de consciência, me furtar a uma consideração final. Esta se destina a pessoas que não tenham uma postura ideológica já formada, e que, legitimamente, tem dúvidas sobre o assunto. Dúvidas, como eu já opinei, decorrentes do fato de que a escala do morticínio é tão gigantesca que as pessoas tendem a duvidar de que seres humanos possam fazer isso a outros seres humanos. Considerando tudo uma montagem, uma fraude. Evidentemente, há pessoas que já tem uma orientação de vida, já tem um lado escolhido. Sendo assim, apresentar fatos e mais fatos, não tem sentido. Elas já escolheram a sua "verdade". Seja por conexões familiares (parentes que lutaram pela Alemanha na guerra, ou que eram simpatizantes do Nazismo); seja por questões ligadas a luta atual contra o Estado de Israel. O primeiro caso, não necessita de comentários. O segundo faz-me lembrar a corrente revisionista de meados de década de 1970, sobre a Guerra do Paraguai. Esta era uma época em que muitos historiadores se opunham a ditadura do Exército no Brasil. Assim, como os militares estavam antipatizados, estas pessoas divulgavam tudo o que os irritasse. Daí surgiram as teorias mostrando o Duque de Caxias como um açougueiro que mandava espalhar o cólera entre civis paraguaios indefesos. Quem lia publicações das Forças Armadas naquela época deve lembrar da fúria que isto provocou nos quartéis. Algum tempo depois, tais alegações de pseudo-historiadores (que usavam a história como arma política, e não como tentativa de se chegar a uma, "verdade histórica" - conceito complicado, mas que, no mínimo, devia ser objetivo de todo historiador sério) foram desmoralizadas. Por exemplo, diziam que Caxias mandou jogar cadáveres coléricos no rio Paraguai para contaminar a população inimiga. Isto está escrito, com todas as letras num livrinho famoso da década de 1980. Ora, não é preciso ser Napoleão para perceber que, se a retaguarda paraguaia e Assunção estavam na direção de quem sobe o rio, a partir do acampamento brasileiro do Tuyuti, como então, o danado do cadáver ia flutuar contra a corrente até lá ? Com uma hélice? Mas isto não importava muito, o negócio era sacanear os militares da ditadura. Disso tiramos duas conclusões: primeiro, como alguns querem sacanear os israelenses de hoje em dia, também não pensam muito na insensatez de suas posições; segundo, "a mentira tem pernas curtas", nenhum historiador sério, hoje, sustenta tais opiniões em relação ao bom Duque, que na verdade, era um cavalheiro da velha escola.
Realmente, não posso encontrar outra palavra que não seja insentatez. Discutir números? Se foram seis milhões, ou 5.999.999 judeus mortos? Ou se foram 5.999.999 judeus E ciganos E cristãos E ortodoxos mortos? Uma coisa é certa, um bom número dos "judeus" enviados para a morte, nem mesmo se achavam judeus... Eles se consideravam alemães, austríacos, franceses, etc. Eram pessoas que viviam há gerações, afastadas das tradições judaicas, e até sendo praticantes do Protestantismo e do Catolicismo. Mas o código nazista de 1935, definia um judeu como qualquer um que possuísse um ancestral judeu. Isto foi a base para a PRIMEIRA SOLUÇÃO do problema judaico, ou seja, a expulsão de todos os judeus das pequenas cidades do interior e áreas camponesas da Alemanha, com a argumentação de que eram estranhos e alienígenas. Apesar do fato de que já existiam judeus naquelas terras desde o império de Carlos Magno, no século IX. A SEGUNDA SOLUÇÃO foi a emigração forçada de judeus. Em 1938, cerca de metade da população judaica da Alemanha, de cerca de 500 mil pessoas, emigrou. E é claro, sem seus bens, que foram confiscados. A propósito, só foram para a Palestina, uns 30 mil judeus, enquanto mais de 100 mil foram para os Estados Unidos. Depois, veio a guerra. A Polônia foi ocupada e não era mais possível a política de emigração. A população judaica em terras polonesas era uma das maiores da Europa. Então veio a TERCEIRA SOLUÇÃO, ou seja, arrebanhar milhões de judeus poloneses, de todas as cidades e do campo, (onde viviam há séculos) em minúsculos "guettos" nas grandes cidades. O índice de morte mensal por fome e doença era de 800 a 2000 pessoas em Varsóvia.
Então veio, a Operação "Barbarossa" (a invasão da Rússia). A população judaica das áreas sob controle comunista, como a parte oriental da Polônia, os Países Bálticos, a Ucrânia e etc., era imensa. Por isto, surgiu a QUARTA SOLUÇÃO. A utilização dos "Einsatzgruppen" que atuavam na retaguarda do Exército alemão e, simplesmente, fuzilavam todos os judeus e outros inimigos, a sangue-frio. Em pequenas vilas dessas áreas, onde judeus viviam há gerações, o objetivo de extermínio foi conseguido em horas. Em grandes cidades, levou dias; em Kiev, mais de 30 mil homens, mulheres e crianças judias foram conduzidos aos arredores da cidade e metralhados, durante três dias seguidos. Evidente, com a aberta participação de habitantes locais, milícias pró-nazistas etc. Dada a natureza, das ações, era impossível impedir que curiosos, delas tomassem conhecimento. Por exemplo, militares do Exército em serviço de retaguarda; empresários alemães etc. Protestos vieram de várias partes, mesmo de funcionários da administração nazista e de alguns valorosos militares alemães, como o General Blaskowitz, que não foi apoiado pelo Alto-Comando do Exército alemão. Diga-se, de passagem, que este último, já estava informado do tipo de ação que as unidades especiais SS (que, para tristeza dos puxa-sacos das Waffen-SS, contavam com um destacamento selecionado desta tropa, para a eventualidade de surgir algum serviço mais perigoso do que metralhar mulheres e crianças...) e o General Brauschitch, Comandante-Chefe do Exército recebeu ordens verbais do "Monstro de Bigode" para não permitir que os militares se intrometessem nesses assuntos. De qualquer forma, chegou-se a conclusão de que esta ainda não era a solução desejável. Porque não oferecia segredo e, vejam só, isto afetava o equilíbrio psicológico dos assassinos. Era uma coisa tão horrível de fazer que, mesmo muitos daqueles homens tinham necessidade de se embriagarem para conseguir continuar na matança. Os próprios comandantes dos "Einsatzgruppen" chamaram a atenção para este efeito colateral imprevisto, da matança cara-a-cara de tantos milhares de pessoas indefesas, dia após dia. Daí, surgiu a quinta solução, a SOLUÇÃO FINAL.
Os elementos-chave desta SOLUÇÃO FINAL eram: segredo absoluto, desta vez não podiam haver enxeridos. E sem enxeridos não haveria protestos; um caráter decisivo; depois dela, não haveria mais um problema judaico na Europa. Como obter tais objetivos? Primeiro, toda a movimentação de judeus, seja dos guettos na Polônia, seja das cidades da Europa ocidental foi disfarçada como "reassentamento" e colonização das terras do Leste. Segundo, toda a população judaica da Europa ocupada pelos alemães deveria ser arrebanhada e conduzida por via férrea para campos construídos, cuidadosamente, bem longe de qualquer grande localidade. Terceiro, devia se achar um método adequado de matança. Rápido; de massa; que não desse chance às vítimas de perceberem o que lhes ia acontecer; e que fosse "mais ou menos limpo" para não traumatizar os assassinos, os quais deviam ser no menor número possível. Através de experiências com judeus e prisioneiros-de-guerra soviéticos, chegou-se ao gás (de dois tipos, ou o Zyklon B ou o monóxido de carbono). Este seria utilizado, de dois modos: caminhonetes de transporte onde o gás era introduzido durante a viagem das estações ferroviárias, até o campo, quando as vítimas já chegavam prontas para a incineração (diga-se, de passagem, que as estações de trens ficavam afastadas dos campos, de forma que os maquinistas e pessoal ferroviário não podem ser acusados de envolvimento pessoal no Genocídio. Os trens eram denominados de "trens de reassentamento".) O outro método era a câmara de gás, onde as vítimas eram conduzidas, sob a alegação de passar por um processo de desinfecção. E onde o gás era introduzido. A SOLUÇÃO FINAL iniciou-se em dezembro de 1941 num total de seis CAMPOS DE EXTERMÍNIO – Vernichtungslager: Belzec; Sobibor; Treblinka (estes três, voltados especialmente para a destruição dos judeus poloneses na chamada Operação “Reinhardt”); Chelmno; Maly-Ostrenets e Birkenau (este último selecionava as vítimas, pessoas capazes de trabalhar eram convertidos em escravos por algum tempo, depois eram passadas no cerol, também... Os incapazes - crianças, velhos e doentes - eram exterminados no ato). Tal distinção não existia nos outros campos já citados. Birkenau ficou tristemente famoso com o nome de Auschwitz, embora existissem outros dois campos com este nome. Pois se tratava de um complexo. Birkenau era Auschwitz II, reservado apenas a judeus. Os outros eram campos de concentração). Destes campos, cinco estavam em território polonês e um em território russo capturado.
A partir de setembro de 1944, estes campos começaram a ser desativados com a aproximação do Exército Vermelho. Os guardas SS demoliram suas instalações. Em Auschwitz isto foi feito apenas algumas semanas antes da chegada dos soviéticos. Os que ainda estavam vivos foram evacuados, nas piores condições possíveis, chegando a mais de 100 mil os que morreram pelo caminho até a Alemanha central. Aí, foram obrigados a trabalho forçado ou colocados em CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO – Konzentrationlager (ou seja, campos onde as vítimas morriam às dezenas de milhares, principalmente de fome, doença, fuzilamento. Mas que não se confundiam com os campos voltados especificamente para o extermínio de judeus, de acordo com a Solução Final). Em abril de 1945, tropas anglo-americanas entraram em tais campos como Bergen-Belsen, Dachau, Buchenwald e Mauthasen e o mundo livre pôde ver as bárbaras imagens, que não eram, todavia, dos campos de extermínio já citados. Em Bergen-Belsen, os britânicos contaram em mais de 10 mil, os cadáveres insepultos de vítimas da fome e de doenças. Cerca de 40 mil internos ainda estavam vivos. Destes, 20 mil morreram nas semanas seguintes à libertação. Haviam mais de 40 mil corpos enterrados em valas comuns. Consta que o próprio General Patton ao inspecionar um desses campos, ordenou que o prefeito e as pessoas mais importantes de uma cidade próxima fossem obrigadas e entrar neles e verem que tipo de governo elas estavam servindo.
Agora, voltando a falar de números... Tem gente que precisa pôr a mão na consciência e não pensar nesses mortos como números. Pensem neles, como pessoas. Pessoas boas, ruins. Inteligentes, estúpidas. Pessoas que amavam seus pais, seus filhos, seus irmãos, seus vizinhos. Gente que vivia o dia-a-dia, de trabalho, estudo. Festas com seus entes queridos... Vamos deixar os números grandes de lado, que são muito chatos. Vamos falar de números pequenos. A população de judeus da ilha de Rhodes, o antigo quartel-general dos Cavaleiros Hospitalários, no mar Egeu, tinha, apenas, mil e setecentas pessoas. Elas foram todas deportadas, conduzidas a Auschwitz e...? Interrogação. Para onde foram elas? Será que foram escondidas pelo Serviço Secreto americano só para poder sacanear os nazistas depois da guerra? Foram para Israel? Foram abduzidas por alienígenas? Na Holanda, haviam uns 130 mil judeus. Vejam bem, não abstrações, fantasmas. Eram 130 mil PESSOAS, registradas, com local de moradia, que pagavam imposto, que trabalhavam, que estudavam. E depois da guerra, só restaram uns 20 mil. Anne Frank pertencia a uma família judia alemã, que emigrou para a Holanda. Depois da invasão alemã, essas pessoas (e não esses "números") ficaram escondidas até agosto de 1944, quando um nojento F.D.P as delatou. Foram enviadas para Bergen-Belsen, e só o pai da família sobreviveu. Que foi feito dos outros? Na Macedônia e na Trácia, existiam 23 comunidades judaicas, estabelecidas ali, desde a expulsão dos judeus da Espanha em 1492. Cerca de 12 mil seres humanos. Foram todos deportados para Treblinka dentro de vinte trens. Em 1946 não haviam mais judeus na Trácia e na Macedônia, descendentes dos exilados da Espanha... O problema com números está, em grande parte, com o fato do complexo de campos de extermínio ter caído em mãos dos soviéticos. Com a falsidade característica da propaganda comunista, eles afirmaram que as vítimas, apenas em Auschwitz-Birkenau montavam a mais de 4 milhões. Isto era um absurdo que ficou comprovado com a queda do comunismo. Os arquivos secretos da época soviética mostravam então que cerca de 2 milhões de pessoas foram destruídas em Auschwitz-Birkenau. Francamente, este número é tão gigantesco, que sejam 2 milhões ou 4 milhões, a cabeça de muita gente gira. Foram 6 milhões? Não sei. Sei apenas, que da enorme população de judeus, que habitava, há várias gerações, a Polônia, os territórios soviéticos da Europa, os Balkans, apenas uns 300 mil ainda estavam vivos em 1946... Estes são os fatos nus e crus.
Houveram governos que, ainda que aliados da Alemanha, mantiveram um mínimo de dignidade de se oporem aos desígnios nazistas. Por exemplo, os búlgaros lutaram do lado alemão. Mas quando o governo nazista solicitou ao Rei Boris a deportação da comunidade judaica búlgara, ele e o parlamento se recusaram. O que desejariam os alemães com os 50 mil judeus búlgaros? Mussolini podia ser o que fosse, mas o governo fascista não permitiu a deportação de judeus italianos solicitada por seus aliados alemães. Tropas italianas foram instruídas para não participarem em qualquer atividade relacionada com judeus na Frente Russa. Os judeus italianos só foram deportados quando os alemães ocuparam o país, em 1943. Poucos combateram mais ferozmente do lado alemão do que os finlandeses. Mas, depois que o governo da Finlândia teve confirmação da morte de 15 judeus deportados, recusou-se, terminantemente, a enviar os restantes dois mil judeus da Finlândia para a custódia alemã. Na Dinamarca, todos os cinco mil e quinhentos judeus foram levados para a Suécia, numa só noite, em pequenos botes com o apoio decisivo do rei Frederico IX. A Hungria deportou 400 mil judeus, em três meses, que foram conduzidos à Auschwitz e dos quais, não se teve mais notícias. Devido a pressão do Papa e do rei da Suécia, e ameaças de bombardeio aéreo dos Aliados ocidentais contra Budapeste, o regente húngaro, ordenou a interrupção das deportações, assim mais de 300 mil judeus húngaros, sobreviveram. A propósito, o esquema de disfarce era tão bem feito que Adolf Eichmann chegou a trabalhar com as lideranças judaicas em Budapeste nos detalhes de transporte. Essas lideranças, realmente, acreditavam que os alemães ainda estavam se baseando na sua Terceira Solução, concentrar as comunidades judaicas em algum lugar do leste ocupado. Nada pode mostrar de forma mais candente,como os detalhes do extermínio foram mantidos em segredo. Se nem os rabinos de Budapeste acreditavam que os nazistas estavam matando judeus em câmaras de gás, por que um cidadão inglês ou americano devia acreditar? Certa feita, um juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, e defensor da causa sionista, ouviu da própria boca de um membro da resistência polonesa, que se havia infiltrado em Auschwitz, disfarçado, vejam só, em guarda SS, um relato do que lá ocorria. Pois bem, este juiz disse que não acreditava. Os presentes garantiram que o polonês estava dizendo a verdade, e o juiz respondeu: "Eu não duvido da sinceridade deste jovem, acredito que ele esteve neste lugar. Apenas não acredito que essas coisas aconteçam..."
Agora, se me permitem, gostaria de tecer mais umas considerações sobre algumas afirmações que li de vários dos nobres camaradas: "AH, O HOLOCAUSTO É UMA FORMA DE SE MANCHAR A REPUTAÇÃO DO BOM POVO ALEMÃO..." Certa vez, li a indagação de um escritor inglês que se perguntava quem seriam os ingleses a colaborarem com os invasores nazistas, nos extermínios que seriam levados a cabo na Inglaterra ocupada. Isto por que todo mundo sabe que talvez a maioria dos guardas de campos de concentração, principalmente, depois de meados da guerra, era de cidadãos locais, russos, poloneses, ucranianos etc. Era uma das normas do procedimento de deportação dos judeus da Europa Ocidental que o serviço fosse realizado pelas polícias locais, a francesa, a belga, a holandesa etc. Acho que nunca alguém acusou o referido escritor de querer manchar a reputação do povo inglês, com a sua pergunta...
"ISTO É UMA DELIBERADA POLÍTICA IANQUE DE EXECRAR AS GLORIOSAS FORÇAS ARMADAS ALEMÃS..." Sei não. O governo americano deu uma condecoração a Franz Halder, ex-chefe do Estado Maior do Exército alemão (e um idiota) no pós-guerra. As Forças Armadas americanas sempre buscaram ensinamentos nas realizações profissionais dos militares alemães. Já li uma afirmação de que, em combate, os alemães eram de 20% a 30% mais eficientes do que os americanos ou britânicos. Seja homem por homem, ou tropa por tropa. De que eles lutavam melhor do que os aliados que os ultrapassavam em número. De que, homem por homem, eles infligiam 50% mais de baixas num combate aos aliados do que sofriam. Em quaisquer circunstâncias, atacando ou defendendo. Quando tinham superioridade numérica, ou mais normalmente, quando eram ultrapassados em número. Quando ganhavam ou quando perdiam. Bem, quem foi que escreveu isso? Um "Skinhead"? Um ex-combatente das Waffen-SS? Não. Quem escreveu isso foi um general do Exército dos Estados Unidos e famoso historiador militar... Deixem-me citar duas declarações de militares aliados da Segunda Guerra Mundial: General George C. Marshall, Chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos: "Os alemães são lutadores por natureza, temos de admitir isto. Eles estão excelentemente adestrados, especialmente o seu corpo de sargentos. A base de sua disciplina é inquebrantável..." Marechal Alexander, comandante inglês dos Aliados na Itália: "Os soldados alemães possuíam um forte senso de dever e disciplina, e combateram brava e tenazmente em todas as partes. Eles mantiveram até o fim, seus altos padrões militares." Além do que, não entendo bem por que os americanos teriam interesse em "execrar" as forças armadas do país que deveria ser seu mais importante aliado numa eventual guerra contra os soviéticos.
Acredito que execrar as forças armadas alemãs é confundi-las com a escória nazista (apesar de todos os defeitos da casta militar alemã)e isto se faz ao afirmar que "O HOLOCAUSTO FOI MUITO AUMENTADO DEVIDO A NECESSIDADE DE SE DESMORALIZAR OS MILITARES ALEMÃES..." Os próprios militares alemães, no pós-guerra, sabiam bem quem foi que desmoralizou a sua classe perante os olhos do mundo. E eles não acharam que foram os donos judeus da televisão... Leia-se nas memórias do General Heinz Guderian (o livro “Panzer Líder” da Bibliex) o seguinte: "A igualmente notória "Ordem dos Comissários" (pela qual, todos os membros do Partido Comunista, capturados deviam ser, sumariamente, fuzilados...) nunca chegou ao meu comando. Sem dúvida o Grupo-de-Exércitos "Mitte" já decidira não distribuí-la. Assim, também a "Ordem dos Comissários" não foi cumprida no âmbito do 2o Grupo Panzer. Relembrando tais fatos, só me cabe lamentar que nem o OKW (Alto-Comando das Forças Armadas), nem o OKH (Alto-Comando do Exército), não tenham tomado a iniciativa de bloquear tais ordens, em primeiro lugar. Muitos bravos e inocentes soldados alemães seriam poupados a um amargo sofrimento e o bom nome da Alemanha estaria hoje livre de tão grande VERGONHA..."
Agora a saideira para fechar a conta. Coisa curiosa! Sabem quem mais do que qualquer pessoa iria estranhar, e muito, essa pseudo corrente histórica revisionista? Os próprios acusados de crimes de guerra em Nuremberg! Os nazistas levados a julgamento em Nuremberg, quando confrontados com a acusação de Genocídio, não pensaram em dizer que tudo aquilo era montagem e manipulação. O ridículo Göering não respondeu à acusaçao de co-participante no Genocídio afirmando que aquilo ali nunca existiu. Não. Ele se defendeu dizendo que não tinha nada com o peixe, e que a culpa era toda de Himmler e das SS (foi ele, se não me engano, quem os chamou de porcos...) Ah, mais uma coisa que vai deixar, ou triste ou alegre, algum fã de Rommel. Quando recebeu a informação do que aqueles “super-homens” da 2a Divisão Panzer SS "Das Reich" haviam feito em Oradour, ele exigiu o direito de mandar punir os responsáveis. Rommel disse o seguinte: "FATOS COMO ESSES DESONRAM O UNIFORME ALEMÃO. NÃO É DE SE ADMIRAR O CRESCIMENTO DA RESISTÊNCIA FRANCESA QUANDO AS SS FORÇAM TODO O CIDADÃO DECENTE A EMPUNHAR ARMAS CONTRA NÓS!" Isto, ele disse na cara de Adolf Hitler, no dia 17 de junho de 1944, em Margival.
Editado pela última vez por Clermont em Dom Nov 21, 2004 4:18 pm, em um total de 1 vez.
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Impressionante a mentalidade de segredo dessa gente. E pensar que tanta gente envolvida na guerra morreu desde 1945 sem ter tido a chance de ver essas fotos! Se bem que, sempre haverá neonazistas para dizer que as fotos referentes a Auschwitz são "mera propaganda sionista". As fotos estão em http://www.evidenciacamera.uk. Só que é mais fácil descobrir o celular da Luana Piovani, do que entrar aí. Parece que há milhões de pessoas acessando.
REVELADAS IMAGENS INÉDITAS DE ATROCIDADES NAZISTAS.
Cinco milhões de fotos inéditas da Segunda Guerra, inclusive imagens aéreas de Auschwitz, reinflamam uma antiga polêmica: por que os Aliados não fizeram nada contra o genocídio nazista antes?
As fotos mostram a nuvem de fumaça saindo da chaminé do crematório de Auschwitz. Mostram cenas dos Aliados desembarcando nas praias da Normandia no "Dia D", fotos tão nítidas que dá para reconhecer até o vulto dos GIs norte-americanos (de "Government Issue", ou "Artigos do Governo", apelido dos militares do Exército). Mostram imagens da cidade de Colônia, em ruínas após meses de pesados bombardeios britânicos.
Ao divulgar tais fotos esta semana, os Arquivos Britânicos de Reconhecimento Aéreo da Universidade de Keele reinflamaram lembranças dolorosas da guerra. Quem sabia de quê e quando? E por que ninguém tomou providências mais cedo, para conter as atrocidades nazistas?
Na segunda-feira (19), a Universidade de Keele, na Grã-Bretanha, divulgou mais de 5 milhões de fotos do gênero em um site especial na internet. Durante décadas, as imagens só eram acessíveis para pesquisadores, mantendo-se desconhecidas do grande público. Mas agora, assim catalogadas e acessíveis a qualquer pessoa via online, as fotos mostram perspectivas absolutamente novas do acontecimento mais horrendo e dramático da Segunda Guerra.
As fotos historicamente mais importantes do site são as tiradas em Auschwitz em agosto de 1944; as do "Dia D", feitas em junho do mesmo ano; e as do encouraçado Bismarck, escondido pelos alemães num fiorde norueguês durante cinco dias em maio de 1941, até ser afundado pelas forças britânicas.
"Estas imagens nos permitem testemunhar a guerra de primeira mão", afirmou o coordenador do projeto, Allan William. "Fiquei realmente emocionado com as fotos dos campos de concentração e dos desembarques no Dia D. É como se fosse uma transmissão live daquilo tudo."
FOTOS INCOMODAM
Mas as chocantes imagens de Auschwitz reacenderam o antigo e sério questionamento da conduta dos Aliados em relação ao extermínio de massa nazista: por que não tentaram impedir o massacre, bombardeando as ferrovias por onde se faziam as deportações aos campos de concentração?
"Se tivesse sido publicada no momento em que foi tirada, às 11 horas do dia 23 de agosto de 1944, enquanto os judeus húngaros estavam sendo massacrados lá embaixo, esta foto tridimensional – agora trazida à tona por uma máquina do tempo – poderia ter salvado centenas de milhares de vítimas", notou o jornal britânico The Guardian. A foto foi tirada pelo piloto de um avião de reconhecimento das Forças Aéreas britânicas que sobrevoou a Polônia numa fase em que os alemães, sabendo que estavam com os dias contados, intensificaram o ritmo do extermínio em Auschwitz. Os detalhes são tão claros, que uma foto mostra até mesmo prisioneiros se enfileirando para uma inspeção do campo de concentração.
De acordo com um comentário do historiador alemão Hans-Ulrich Wehler, professor visitante da Universidade de Harvard citado na edição de segunda-feira do diário popular alemão Bild, Londres ficou sabendo dos campos de concentração nazistas o mais tardar em 1943. Do site do Memorial do Holocausto nos EUA, que praticamente representa a posição histórica oficial norte-americana, consta que "em 1943, o informante polonês Jan Karski alertou o presidente Franklin Roosevelt sobre notícias de extermínio em massa recebidas por lideranças judaicas diretamente do gueto de Varsóvia. O aviso não foi seguido de nenhuma decisão executiva imediata." No outono de 1944, segundo aponta o museu, os Aliados sabiam do extermínio de Auschwitz.
O coordenador do arquivo, Allan Williams, justificou que os espiões tiravam as fotos em seqüências rapidíssimas, como uma metralhadora, sendo portanto possível que os documentos nunca tenham recebido a atenção merecida. "É fascinante pensar por que quem tirou as fotos não sabia o que estava acontecendo", acrescentou Williams, conjeturando: "Acho que, como tinham ordens de observar estritamente dados militares, provavelmente nem tinham tempo de pensar no que estava acontecendo".
REVELADAS IMAGENS INÉDITAS DE ATROCIDADES NAZISTAS.
Cinco milhões de fotos inéditas da Segunda Guerra, inclusive imagens aéreas de Auschwitz, reinflamam uma antiga polêmica: por que os Aliados não fizeram nada contra o genocídio nazista antes?
As fotos mostram a nuvem de fumaça saindo da chaminé do crematório de Auschwitz. Mostram cenas dos Aliados desembarcando nas praias da Normandia no "Dia D", fotos tão nítidas que dá para reconhecer até o vulto dos GIs norte-americanos (de "Government Issue", ou "Artigos do Governo", apelido dos militares do Exército). Mostram imagens da cidade de Colônia, em ruínas após meses de pesados bombardeios britânicos.
Ao divulgar tais fotos esta semana, os Arquivos Britânicos de Reconhecimento Aéreo da Universidade de Keele reinflamaram lembranças dolorosas da guerra. Quem sabia de quê e quando? E por que ninguém tomou providências mais cedo, para conter as atrocidades nazistas?
Na segunda-feira (19), a Universidade de Keele, na Grã-Bretanha, divulgou mais de 5 milhões de fotos do gênero em um site especial na internet. Durante décadas, as imagens só eram acessíveis para pesquisadores, mantendo-se desconhecidas do grande público. Mas agora, assim catalogadas e acessíveis a qualquer pessoa via online, as fotos mostram perspectivas absolutamente novas do acontecimento mais horrendo e dramático da Segunda Guerra.
As fotos historicamente mais importantes do site são as tiradas em Auschwitz em agosto de 1944; as do "Dia D", feitas em junho do mesmo ano; e as do encouraçado Bismarck, escondido pelos alemães num fiorde norueguês durante cinco dias em maio de 1941, até ser afundado pelas forças britânicas.
"Estas imagens nos permitem testemunhar a guerra de primeira mão", afirmou o coordenador do projeto, Allan William. "Fiquei realmente emocionado com as fotos dos campos de concentração e dos desembarques no Dia D. É como se fosse uma transmissão live daquilo tudo."
FOTOS INCOMODAM
Mas as chocantes imagens de Auschwitz reacenderam o antigo e sério questionamento da conduta dos Aliados em relação ao extermínio de massa nazista: por que não tentaram impedir o massacre, bombardeando as ferrovias por onde se faziam as deportações aos campos de concentração?
"Se tivesse sido publicada no momento em que foi tirada, às 11 horas do dia 23 de agosto de 1944, enquanto os judeus húngaros estavam sendo massacrados lá embaixo, esta foto tridimensional – agora trazida à tona por uma máquina do tempo – poderia ter salvado centenas de milhares de vítimas", notou o jornal britânico The Guardian. A foto foi tirada pelo piloto de um avião de reconhecimento das Forças Aéreas britânicas que sobrevoou a Polônia numa fase em que os alemães, sabendo que estavam com os dias contados, intensificaram o ritmo do extermínio em Auschwitz. Os detalhes são tão claros, que uma foto mostra até mesmo prisioneiros se enfileirando para uma inspeção do campo de concentração.
De acordo com um comentário do historiador alemão Hans-Ulrich Wehler, professor visitante da Universidade de Harvard citado na edição de segunda-feira do diário popular alemão Bild, Londres ficou sabendo dos campos de concentração nazistas o mais tardar em 1943. Do site do Memorial do Holocausto nos EUA, que praticamente representa a posição histórica oficial norte-americana, consta que "em 1943, o informante polonês Jan Karski alertou o presidente Franklin Roosevelt sobre notícias de extermínio em massa recebidas por lideranças judaicas diretamente do gueto de Varsóvia. O aviso não foi seguido de nenhuma decisão executiva imediata." No outono de 1944, segundo aponta o museu, os Aliados sabiam do extermínio de Auschwitz.
O coordenador do arquivo, Allan Williams, justificou que os espiões tiravam as fotos em seqüências rapidíssimas, como uma metralhadora, sendo portanto possível que os documentos nunca tenham recebido a atenção merecida. "É fascinante pensar por que quem tirou as fotos não sabia o que estava acontecendo", acrescentou Williams, conjeturando: "Acho que, como tinham ordens de observar estritamente dados militares, provavelmente nem tinham tempo de pensar no que estava acontecendo".
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Extraído do livro “The Myth of Rescue: Why the Democracies Could Not Have Saved More Jews from the Nazis (1997)” do Professor William D Rubinstein
Com freqüencia se assinala o fato de que, nessa época, bombardeiros pesados americanos realizavam incursões contra alvos industriais apenas a uns poucos quilômetros das câmaras de gás de Auschwitz, uma observação repetida, inúmeras vezes, na literatura do “resgate” que critica os Aliados. Esse ponto é, no entanto, extremamente enganoso, independente de quantas vezes ele seja repetido. Todas as incursões estratégicas sobre alvos industriais-militares se efetuavam, somente, após meses de trabalho preparatório de inteligência, implicando na criação de um documento sobre o alvo, com informações específicas sobre tamanho, solidez, localização estrutural, defesas e outras coisas, relativas ao alvo com detalhadas fotografias aéreas. Entretanto, a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos carecia, totalmente, da base de informações necessária para planejar e executar uma incursão de bombardeio contra o campo de extermínio de Auschwitz. Tais informações – mesmo se tal incursão fosse endossada, entusiasticamente, nos mais elevados níveis militares – , simplesmente, levariam meses para serem obtidas.
Isso teria sido difícil bastante para se efetuar nas melhores circunstâncias, mas teria sido especialmente difícil no final do outono de 1944-45, e tendo em mente (como será discutido) que os objetivos essenciais de se bombardear um campo de extermínio, seriam inteiramente diferentes de se bombardear uma planta industrial. Além do mais, como o Dr. James H. Kitchens salientou, a incursão, em si, teria exigido tempo perfeito, pois os bombardeios teriam de ser feitos visualmente. “Eu deixo a vocês a ponderação de quão freqüentemente tal tempo perfeito ocorre sobre o sul da Polônia; o quão precisamente, tal tempo no interior da Europa poderia ser previsto das bases no sul da Itália, levando-se em conta o estado da arte de 1944; e quantas incursões abortadas teriam sido lançadas antes que as necessárias condições meteorológicas se materializassem sobre os alvos”, acrescenta o Dr. Kitchens. Parece evidente que seria, extremamente duvidoso, começando do início em novembro de 1944, que qualquer uma de tais incursões de bombardeio pudesser ter sido efetuadas, antes que o Exército soviético libertasse Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945.
Também se afirma, com freqüencia que, ao menos, uma parte das informações sobre o alvo, necessárias para uma incursão de bombardeio sobre Auschwitz já existia, notadamente, fotografias aéreas de Auschwitz obtidas por missões de reconhecimento aéreo dos Aliados. Tal afirmação, repetida tantas vezes, também é, totalmente, enganosa e deve ser examinada com algum detalhe.
Aquelas que são, provavelmente, as mais conhecidas e mais divulgadas fotografias aéreas de Auschwitz foram tiradas por uma tripulação Aliada em 25 de agosto de 1944. Elas tem sido impressas e reimpressas, geralmente com ampliações, durante as últimas duas décadas. Mesmo agora, poucos entre historiadores especializados, compreendem que esses fotos aéreas permaneceram no negativo até 1978, e não foram vistas por ninguém até 1978-79. Em 1978, dois historiadores americanos da fotografia aérea na Segunda Guerra Mundial, Dino A. Brugioni e Robert Poirier, descobriram esses filmes enquanto pesquisavam nos arquivos de inteligência fotográfica do governo. Como resultado da publicidade gerada pela série de televisão americana, “O Holocausto”, os analistas de fotografias aéreas americanos receberam permissão para usar modernos microestereoscópios para reexaminar, precisamente, ampliações dos filmes originais. Foram estas fotografias, ampliadas, cortadas e recém-impressas que foram publicadas repetidas vezes, na imprensa. Elas nunca haviam sido vistas antes. Especialmente pungente, é a ampliação de várias colunas de prisioneiros, denominada “Grupo à Caminho das Câmaras de Gás,” que tem sido, freqüentemente, reimpressa.
Não há nenhuma evidência de que tais fotografias tenham sido vistas por qualquer um, antes de 1978, que dirá por oficiais de foto-inteligência treinados durante a guerra, que compreendessem sua importância. Além disso, ninguém poderia ter visto as colunas de prisioneiros à caminho das câmaras de gás, pois nenhuma técnica de foto-ampliação de imagens, disponível em 1944, poderia ter divisado tais colunas. Como o Coronel Roy M. Stanley II observa em seu trabalho “World War II Photo Intelligence:
“Um relatório baseado em informações terrestres que nenhum foto-intérprete da Segunda Guerra Mundial tinha à disposição; em modernas ampliações que nenhum laboratório fotográfico da Segunda Guerra Mundial poderia ter realizado, e em toda a sofisticação do pós-guerra desenvolvida em técnicas militares de foto-interpretação pode, de forma não-intencional, iludir o leigo. Pois, devido a suas vantagens, esta análise fotográfica de 1978, permite uma compreensão e correlação do que estava acontecendo no chão que teria sido impossível para o foto-intérprete da safra de 1945.
E outra coisa, ninguém jamais pediu aos operativos de foto-inteligência Aliados que procurassem por campos de extermínio. Tal falha não foi resultado de algum preconceito anti-semita (como poderia ser alegado pelos defensores da proposição que o resgate era possível): nenhum indivíduo ou grupo judeu recomendou uma pesquisa por especialistas fotográficos, e nem o fez o Comitê de Refugiados de Guerra. Essa falha nasceu, simplesmente, da natureza das tarefas e prioridades designadas para os intérpretes de fotografia no contexto da situação de guerra na Europa em 1944.
Com freqüencia se assinala o fato de que, nessa época, bombardeiros pesados americanos realizavam incursões contra alvos industriais apenas a uns poucos quilômetros das câmaras de gás de Auschwitz, uma observação repetida, inúmeras vezes, na literatura do “resgate” que critica os Aliados. Esse ponto é, no entanto, extremamente enganoso, independente de quantas vezes ele seja repetido. Todas as incursões estratégicas sobre alvos industriais-militares se efetuavam, somente, após meses de trabalho preparatório de inteligência, implicando na criação de um documento sobre o alvo, com informações específicas sobre tamanho, solidez, localização estrutural, defesas e outras coisas, relativas ao alvo com detalhadas fotografias aéreas. Entretanto, a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos carecia, totalmente, da base de informações necessária para planejar e executar uma incursão de bombardeio contra o campo de extermínio de Auschwitz. Tais informações – mesmo se tal incursão fosse endossada, entusiasticamente, nos mais elevados níveis militares – , simplesmente, levariam meses para serem obtidas.
Isso teria sido difícil bastante para se efetuar nas melhores circunstâncias, mas teria sido especialmente difícil no final do outono de 1944-45, e tendo em mente (como será discutido) que os objetivos essenciais de se bombardear um campo de extermínio, seriam inteiramente diferentes de se bombardear uma planta industrial. Além do mais, como o Dr. James H. Kitchens salientou, a incursão, em si, teria exigido tempo perfeito, pois os bombardeios teriam de ser feitos visualmente. “Eu deixo a vocês a ponderação de quão freqüentemente tal tempo perfeito ocorre sobre o sul da Polônia; o quão precisamente, tal tempo no interior da Europa poderia ser previsto das bases no sul da Itália, levando-se em conta o estado da arte de 1944; e quantas incursões abortadas teriam sido lançadas antes que as necessárias condições meteorológicas se materializassem sobre os alvos”, acrescenta o Dr. Kitchens. Parece evidente que seria, extremamente duvidoso, começando do início em novembro de 1944, que qualquer uma de tais incursões de bombardeio pudesser ter sido efetuadas, antes que o Exército soviético libertasse Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945.
Também se afirma, com freqüencia que, ao menos, uma parte das informações sobre o alvo, necessárias para uma incursão de bombardeio sobre Auschwitz já existia, notadamente, fotografias aéreas de Auschwitz obtidas por missões de reconhecimento aéreo dos Aliados. Tal afirmação, repetida tantas vezes, também é, totalmente, enganosa e deve ser examinada com algum detalhe.
Aquelas que são, provavelmente, as mais conhecidas e mais divulgadas fotografias aéreas de Auschwitz foram tiradas por uma tripulação Aliada em 25 de agosto de 1944. Elas tem sido impressas e reimpressas, geralmente com ampliações, durante as últimas duas décadas. Mesmo agora, poucos entre historiadores especializados, compreendem que esses fotos aéreas permaneceram no negativo até 1978, e não foram vistas por ninguém até 1978-79. Em 1978, dois historiadores americanos da fotografia aérea na Segunda Guerra Mundial, Dino A. Brugioni e Robert Poirier, descobriram esses filmes enquanto pesquisavam nos arquivos de inteligência fotográfica do governo. Como resultado da publicidade gerada pela série de televisão americana, “O Holocausto”, os analistas de fotografias aéreas americanos receberam permissão para usar modernos microestereoscópios para reexaminar, precisamente, ampliações dos filmes originais. Foram estas fotografias, ampliadas, cortadas e recém-impressas que foram publicadas repetidas vezes, na imprensa. Elas nunca haviam sido vistas antes. Especialmente pungente, é a ampliação de várias colunas de prisioneiros, denominada “Grupo à Caminho das Câmaras de Gás,” que tem sido, freqüentemente, reimpressa.
Não há nenhuma evidência de que tais fotografias tenham sido vistas por qualquer um, antes de 1978, que dirá por oficiais de foto-inteligência treinados durante a guerra, que compreendessem sua importância. Além disso, ninguém poderia ter visto as colunas de prisioneiros à caminho das câmaras de gás, pois nenhuma técnica de foto-ampliação de imagens, disponível em 1944, poderia ter divisado tais colunas. Como o Coronel Roy M. Stanley II observa em seu trabalho “World War II Photo Intelligence:
“Um relatório baseado em informações terrestres que nenhum foto-intérprete da Segunda Guerra Mundial tinha à disposição; em modernas ampliações que nenhum laboratório fotográfico da Segunda Guerra Mundial poderia ter realizado, e em toda a sofisticação do pós-guerra desenvolvida em técnicas militares de foto-interpretação pode, de forma não-intencional, iludir o leigo. Pois, devido a suas vantagens, esta análise fotográfica de 1978, permite uma compreensão e correlação do que estava acontecendo no chão que teria sido impossível para o foto-intérprete da safra de 1945.
E outra coisa, ninguém jamais pediu aos operativos de foto-inteligência Aliados que procurassem por campos de extermínio. Tal falha não foi resultado de algum preconceito anti-semita (como poderia ser alegado pelos defensores da proposição que o resgate era possível): nenhum indivíduo ou grupo judeu recomendou uma pesquisa por especialistas fotográficos, e nem o fez o Comitê de Refugiados de Guerra. Essa falha nasceu, simplesmente, da natureza das tarefas e prioridades designadas para os intérpretes de fotografia no contexto da situação de guerra na Europa em 1944.
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Tive a oportunidade de ver esta matéria antes Clermont, realmente é um grande tema e que pode render muita discussão .
Os aliados obtiveram supremacia aérea sobre o todo território europeu entre julho e agosto de 1944, quando o que restava da força de caças da Luftwaffe fora aniquilada com os esforços alemães de impedir os desembarques aliados na Normandia.
que restou , ficou responsável pela defesa do solo alemão, principalmente no perímetro que abrange o Ruhr, com seu complexo industrial e Berlin e diversas cidades próximas, onde haviam diversas fábricas de tanques, as regiões restantes sob domínio alemão ficou virtualmente sem proteção de caças, mesmo no front Oriental, somente 02 esquadrões, o JG-52 e JG-54 e algumas esquadrilhas de outras unidades ficaram incumbidos pela proteção aérea em todo front Russo, não mais que 300 aeronaves para fazer frente mais de 3.000 caças russos, sem contar as aeronaves de ataque .
Muitas fábricas de aviões foram deslocadas para solo polonês com a intensificação dos bombardeiros desde 10/1943, tornaram-se alvo constante da 15th AF que vinha de bases na Itália desde 04/1944 quando os caças P-51s começaram a acompanhar os bombardeiros e alguns ataques Shutlles da 8th AF vindos da Inglaterra. Com o colapso da Luftwaffe na defesa da região, estes alvos eram atacados com certa impunidade, o que permitia que aviões de recon, principalmente Mosquitos tanto da RAF quanto da USAAF , frequentassem a região s/ grandes problemas.
Como disse anteriormente , como grandes centros como estes complexos eram, podiam passar desapercebido pelos olhares destes pilotos ??
Pela fachada externa pareciam grandes fábricas, com torres de vigilância, grandes chaminés, cercas por todos os lados, entre outros. Dizer que não havia bom tempo para tal também é uma grande inverdade, pois esta região foi bombardeada com freqüência pela 15th AF no período entre agosto à novembro de 1944, até mesmo a 8th AF participou destes raids. A RAF fez também pesados ataques noturnos a região neste período, vale ressaltar as missões em que bombardeiros B-17 da 8th AF da USAAF jogaram suprimentos aos rebeldes poloneses em no levante de Varsóvia em 16/09/1944. Com isto podemos dizer que alcance e bom tempo não eram desculpas que o alto comando aliado podia se escorar.
E os serviços secretos aliados ?? Como disse anteriormente , as populações sob domínio nazista viviam sob um grande medo, ninguém estava afim de questionar o destino dos judeus que começaram a serem deportados sabe Deus p/ onde. Mas quem estava de fora não tinha este envolvimento, uma verdadeira industria de milhares de pessoas deportadas de vários países ocupados e tudo isto passando desapercebido pelo alto comando aliado ??
Com vários espiões russos em pleno alto comando militar alemão, entre eles o famoso Lucy, responsável por informações que levaram os russos á vitória em Stalingrado e Kursk, onde estavam os seus equivalentes aliados ???
Tanto os russos quanto os americanos e britânicos sabiam desde 1943 o que estava acontecendo e JAMAIS , podendo-se passar milênios, irão admitir isto, pois fazendo-o, serão acusados de cúmplices de uma das mais terríveis páginas que a humanidade passou.
Acho muito legal discutir este tema, pois como havia dito antes, a humanidade não pode se esquecer destes acontecimentos para que os mesmos jamais sejam esquecidos e a morte de milhares de pessoas passe em branco.
Os aliados obtiveram supremacia aérea sobre o todo território europeu entre julho e agosto de 1944, quando o que restava da força de caças da Luftwaffe fora aniquilada com os esforços alemães de impedir os desembarques aliados na Normandia.
que restou , ficou responsável pela defesa do solo alemão, principalmente no perímetro que abrange o Ruhr, com seu complexo industrial e Berlin e diversas cidades próximas, onde haviam diversas fábricas de tanques, as regiões restantes sob domínio alemão ficou virtualmente sem proteção de caças, mesmo no front Oriental, somente 02 esquadrões, o JG-52 e JG-54 e algumas esquadrilhas de outras unidades ficaram incumbidos pela proteção aérea em todo front Russo, não mais que 300 aeronaves para fazer frente mais de 3.000 caças russos, sem contar as aeronaves de ataque .
Muitas fábricas de aviões foram deslocadas para solo polonês com a intensificação dos bombardeiros desde 10/1943, tornaram-se alvo constante da 15th AF que vinha de bases na Itália desde 04/1944 quando os caças P-51s começaram a acompanhar os bombardeiros e alguns ataques Shutlles da 8th AF vindos da Inglaterra. Com o colapso da Luftwaffe na defesa da região, estes alvos eram atacados com certa impunidade, o que permitia que aviões de recon, principalmente Mosquitos tanto da RAF quanto da USAAF , frequentassem a região s/ grandes problemas.
Como disse anteriormente , como grandes centros como estes complexos eram, podiam passar desapercebido pelos olhares destes pilotos ??
Pela fachada externa pareciam grandes fábricas, com torres de vigilância, grandes chaminés, cercas por todos os lados, entre outros. Dizer que não havia bom tempo para tal também é uma grande inverdade, pois esta região foi bombardeada com freqüência pela 15th AF no período entre agosto à novembro de 1944, até mesmo a 8th AF participou destes raids. A RAF fez também pesados ataques noturnos a região neste período, vale ressaltar as missões em que bombardeiros B-17 da 8th AF da USAAF jogaram suprimentos aos rebeldes poloneses em no levante de Varsóvia em 16/09/1944. Com isto podemos dizer que alcance e bom tempo não eram desculpas que o alto comando aliado podia se escorar.
E os serviços secretos aliados ?? Como disse anteriormente , as populações sob domínio nazista viviam sob um grande medo, ninguém estava afim de questionar o destino dos judeus que começaram a serem deportados sabe Deus p/ onde. Mas quem estava de fora não tinha este envolvimento, uma verdadeira industria de milhares de pessoas deportadas de vários países ocupados e tudo isto passando desapercebido pelo alto comando aliado ??
Com vários espiões russos em pleno alto comando militar alemão, entre eles o famoso Lucy, responsável por informações que levaram os russos á vitória em Stalingrado e Kursk, onde estavam os seus equivalentes aliados ???
Tanto os russos quanto os americanos e britânicos sabiam desde 1943 o que estava acontecendo e JAMAIS , podendo-se passar milênios, irão admitir isto, pois fazendo-o, serão acusados de cúmplices de uma das mais terríveis páginas que a humanidade passou.
Acho muito legal discutir este tema, pois como havia dito antes, a humanidade não pode se esquecer destes acontecimentos para que os mesmos jamais sejam esquecidos e a morte de milhares de pessoas passe em branco.
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UMA QUESTÃO VÁLIDA DE SE PERGUNTAR REPETIDAS VEZES: POR QUÊ NINGUÉM AJUDOU?
By Yehuda Bauer – The Jerusalem Post (resenha do livro, “On their way to Auschwitz: The round-up of the Jews of Hungary in 1944”. (Beth Hatefutsoth)
19 de janeiro de 2004 – O campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau poderia e deveria ter sido bombardeado pelos Aliados? Essa coletânea reune historiadores de ponta, especialistas em aviação, testemunhas – juntamente com documentos cruciais e fotografias – numa tentativa de fornecer uma resposta definitiva.
Os editores Berembaum e Neufeld não deixam os leitores tirarem suas próprias conclusões. A pressuposição deles – de que as câmaras, mas não as ferrovias, podiam e deveriam ter sido bombardeadas – reluz por toda as suas introduções.
Gerald L. Weinberg, decano dos historiadores americanos da Segunda Guerra Mundial, abre a discussão com: “A idéia de que homens dedicados ao programa de matança... poderiam ser detidos em seus passos por uns poucos cortes nas linhas ferroviárias ou a explosão de uma câmara de gás é contrária à razão. Porém, ele admite, isso “teria se constituído... numa importante afirmação política.”
Richard Breitman, um especialista em decifração de códigos de rádio alemães, cita três pedaços de informação, de inícios de 1942, sobre Auschwitz, que alcançaram os Aliados. Mas os judeus não eram mencionados, especificamente, e as alusões sobre câmaras de gás eram, no melhor dos casos, vagas.
A própria análise de Breitman – detalhada e meticulosa como ela é – leva-me a concluir que os Aliados certamente, sabiam durante 1943, que os judeus estavam sendo assassinados, mas não exatamente, onde e como.
Em qualquer caso, não foi até o final de 1943, quando os aeródromos italianos caíram em mãos Aliadas, que alvos na Polônia poderiam ser bombardeados.
Tami Davis Biddle, junto com outros contribuidores, deixa claro que a América tinha suas próprias prioridades de bombardeio: aeródromos inimigos, indústrias aeronáuticas e instalações de combustível.
Houveram fotos “acidentais” de reconhecimento aéreo dos locais de aniquilação em Auschwitz. Mas sua interpretação teria exigido que alguém ordenasse que os analistas estudassem o significado das fotos. Ninguém deu tal ordem.
Richard H. Levy e James H. Kitchens III apresentam os argumentos contra o bombardeio. Levy aponta para o fato de que, mesmo alguns líderes judeus se opunham ao bombardeio, temendo, presumivelmente, que mais judeus fossem mortos do que salvos.
Yitzhak Gruenbaum foi o único entre os funcionários da Agência Judaica a utilizar os canais diplomáticos para solicitar aos Estados Unidos que bombardeassem as ferrovias e o campo. Ben-Gurion resumiu a posição de consenso: “O ponto de vista do comitê é de que não devemos pedir aos Aliados que bombardeiem lugares onde hajam judeus.” Leon Kubowitzki do Congresso Mundial Judaico, em Nova Iorque, concordou.
Mas Levy não pode explicar por quê a Agência Judaica reverteu sua posição e passou a apoiar o bombardeio. Ele presume que Moshe Shertok, baseado em Londres, se opôs a Ben-Gurion, em Jerusalém. Qualquer um que conheça alguma coisa sobre o relacionamento deles, poderia ter desiludido Levy de sua teoria. Claramente, Ben-Gurion havia mudado de idéia.
Kitchens argumenta que, mesmo que as quatro câmaras de gás em Birkenau fossem destruídas, o gaseamento teria continuado usando outras duas câmaras de gás, freqüentemente, esquecidas.
Tecnicamente, Kitchens argumenta, o bombardeio não era plausível pois teria provocado muitas baixas judias.
Gerhart M. Riegner escreve: “Minha função durante a guerra foi observar tudo que acontecia por toda a Europa com os judeus, e relatar à liderança judaica na América e na Grã-Bretanha.” Ele também forneceu relatórios detalhados sobre Auschwitz aos dilomatas americanos e britânicos, em Berna. “Nada aconteceu,” ele lembra.
Martin Gilbert, diz que o bombardeio era viável, e cita o testemunho de um famoso piloto britânico da Segunda Guerra Mundial, que afirma que poderia ter bombardeado as câmaras de gás, se tivesse sido solicitado.
Outros contribuidores seguem a mesma linha – Stuart G. Erdheim diz que a decisão estratégica de bombardear deveria ter sido efetuada por FDR (o Presidente Roosevelt, Franklin Delano Roosevelt), e é duvidoso que, alguma vez, Roosevelt tenha lidado com esse problema. Além do mais, o General Spaatz, oficial-comandante das Forças Aéreas Americanas na Europa, expressou um visão simpática sobre o bombardeio ao campo, em 2 de agosto de 1944, mas ele nunca foi ordenado a seguir em frente.
Rondall R. Riece também crê que o bombardeio era possível, aproximadamente entre julho e outubro de 1944. Porém, os britânicos declararam que isso não podia ser feito. E os americanos disseram a Jacob Rosenheim, do “Agudat Israel” - que havia solicitado o bombardeio em 18 de junho de 1944, através do Comitê de Refugiado de Guerra -, que isto era, tecnicamente, impossível. Uma mentira óbvia.
Lendo essa eclética coletânea, qualquer um fica com a impressão de que, a partir de meados ou do fim de julho de 1944, a 15a Força Aérea americana, na Itália, poderia ter bombardeado Auschwitz. É interessante notar que, a deportação de judeus húngaros cessou, depois de 9 de julho – em grande medida como resultado não-intencional da incursão de bombardeio americana de 2 de julho sobre os pátios ferroviários de Budapeste. Os húngaros, errôneamente, concluiram que isso havia sido uma represália pelas deportações.
Na análise final, muitos internos poderiam ter sido mortos, tivesse o campo sido bombardeado. O fato de que os judeus ansiavam, desesperadamente, por tal ataque – apesar dos perigos – não era conhecido na época. É improvável que todas as câmaras de gás pudessem ter sido colocadas fora de ação. Os alemães, eu acho, poderiam ter continuado a matar judeus com quaisquer meios que tivessem, como argumenta Gerhard Weinberg. Nem o bombardeio das ferrovias era uma opção prática. Mas, novamente, seguindo Weinberg, o bombardeio durante os últimos poucos meses dos gaseamentos, poderiam ter se constituído numa fundamental posição de valor moral.
O fracasso Aliado em bombardear Auschwitz foi moral, não prático. Os Aliados nem compreenderam, nem tentaram compreender, a natureza real da cruzada nazista contra os judeus.
By Yehuda Bauer – The Jerusalem Post (resenha do livro, “On their way to Auschwitz: The round-up of the Jews of Hungary in 1944”. (Beth Hatefutsoth)
19 de janeiro de 2004 – O campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau poderia e deveria ter sido bombardeado pelos Aliados? Essa coletânea reune historiadores de ponta, especialistas em aviação, testemunhas – juntamente com documentos cruciais e fotografias – numa tentativa de fornecer uma resposta definitiva.
Os editores Berembaum e Neufeld não deixam os leitores tirarem suas próprias conclusões. A pressuposição deles – de que as câmaras, mas não as ferrovias, podiam e deveriam ter sido bombardeadas – reluz por toda as suas introduções.
Gerald L. Weinberg, decano dos historiadores americanos da Segunda Guerra Mundial, abre a discussão com: “A idéia de que homens dedicados ao programa de matança... poderiam ser detidos em seus passos por uns poucos cortes nas linhas ferroviárias ou a explosão de uma câmara de gás é contrária à razão. Porém, ele admite, isso “teria se constituído... numa importante afirmação política.”
Richard Breitman, um especialista em decifração de códigos de rádio alemães, cita três pedaços de informação, de inícios de 1942, sobre Auschwitz, que alcançaram os Aliados. Mas os judeus não eram mencionados, especificamente, e as alusões sobre câmaras de gás eram, no melhor dos casos, vagas.
A própria análise de Breitman – detalhada e meticulosa como ela é – leva-me a concluir que os Aliados certamente, sabiam durante 1943, que os judeus estavam sendo assassinados, mas não exatamente, onde e como.
Em qualquer caso, não foi até o final de 1943, quando os aeródromos italianos caíram em mãos Aliadas, que alvos na Polônia poderiam ser bombardeados.
Tami Davis Biddle, junto com outros contribuidores, deixa claro que a América tinha suas próprias prioridades de bombardeio: aeródromos inimigos, indústrias aeronáuticas e instalações de combustível.
Houveram fotos “acidentais” de reconhecimento aéreo dos locais de aniquilação em Auschwitz. Mas sua interpretação teria exigido que alguém ordenasse que os analistas estudassem o significado das fotos. Ninguém deu tal ordem.
Richard H. Levy e James H. Kitchens III apresentam os argumentos contra o bombardeio. Levy aponta para o fato de que, mesmo alguns líderes judeus se opunham ao bombardeio, temendo, presumivelmente, que mais judeus fossem mortos do que salvos.
Yitzhak Gruenbaum foi o único entre os funcionários da Agência Judaica a utilizar os canais diplomáticos para solicitar aos Estados Unidos que bombardeassem as ferrovias e o campo. Ben-Gurion resumiu a posição de consenso: “O ponto de vista do comitê é de que não devemos pedir aos Aliados que bombardeiem lugares onde hajam judeus.” Leon Kubowitzki do Congresso Mundial Judaico, em Nova Iorque, concordou.
Mas Levy não pode explicar por quê a Agência Judaica reverteu sua posição e passou a apoiar o bombardeio. Ele presume que Moshe Shertok, baseado em Londres, se opôs a Ben-Gurion, em Jerusalém. Qualquer um que conheça alguma coisa sobre o relacionamento deles, poderia ter desiludido Levy de sua teoria. Claramente, Ben-Gurion havia mudado de idéia.
Kitchens argumenta que, mesmo que as quatro câmaras de gás em Birkenau fossem destruídas, o gaseamento teria continuado usando outras duas câmaras de gás, freqüentemente, esquecidas.
Tecnicamente, Kitchens argumenta, o bombardeio não era plausível pois teria provocado muitas baixas judias.
Gerhart M. Riegner escreve: “Minha função durante a guerra foi observar tudo que acontecia por toda a Europa com os judeus, e relatar à liderança judaica na América e na Grã-Bretanha.” Ele também forneceu relatórios detalhados sobre Auschwitz aos dilomatas americanos e britânicos, em Berna. “Nada aconteceu,” ele lembra.
Martin Gilbert, diz que o bombardeio era viável, e cita o testemunho de um famoso piloto britânico da Segunda Guerra Mundial, que afirma que poderia ter bombardeado as câmaras de gás, se tivesse sido solicitado.
Outros contribuidores seguem a mesma linha – Stuart G. Erdheim diz que a decisão estratégica de bombardear deveria ter sido efetuada por FDR (o Presidente Roosevelt, Franklin Delano Roosevelt), e é duvidoso que, alguma vez, Roosevelt tenha lidado com esse problema. Além do mais, o General Spaatz, oficial-comandante das Forças Aéreas Americanas na Europa, expressou um visão simpática sobre o bombardeio ao campo, em 2 de agosto de 1944, mas ele nunca foi ordenado a seguir em frente.
Rondall R. Riece também crê que o bombardeio era possível, aproximadamente entre julho e outubro de 1944. Porém, os britânicos declararam que isso não podia ser feito. E os americanos disseram a Jacob Rosenheim, do “Agudat Israel” - que havia solicitado o bombardeio em 18 de junho de 1944, através do Comitê de Refugiado de Guerra -, que isto era, tecnicamente, impossível. Uma mentira óbvia.
Lendo essa eclética coletânea, qualquer um fica com a impressão de que, a partir de meados ou do fim de julho de 1944, a 15a Força Aérea americana, na Itália, poderia ter bombardeado Auschwitz. É interessante notar que, a deportação de judeus húngaros cessou, depois de 9 de julho – em grande medida como resultado não-intencional da incursão de bombardeio americana de 2 de julho sobre os pátios ferroviários de Budapeste. Os húngaros, errôneamente, concluiram que isso havia sido uma represália pelas deportações.
Na análise final, muitos internos poderiam ter sido mortos, tivesse o campo sido bombardeado. O fato de que os judeus ansiavam, desesperadamente, por tal ataque – apesar dos perigos – não era conhecido na época. É improvável que todas as câmaras de gás pudessem ter sido colocadas fora de ação. Os alemães, eu acho, poderiam ter continuado a matar judeus com quaisquer meios que tivessem, como argumenta Gerhard Weinberg. Nem o bombardeio das ferrovias era uma opção prática. Mas, novamente, seguindo Weinberg, o bombardeio durante os últimos poucos meses dos gaseamentos, poderiam ter se constituído numa fundamental posição de valor moral.
O fracasso Aliado em bombardear Auschwitz foi moral, não prático. Os Aliados nem compreenderam, nem tentaram compreender, a natureza real da cruzada nazista contra os judeus.
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MENGELE, O ANJO DA MORTE DE AUSCHWITZ - Documentos obtidos pela Folha revelam que o médico nazista jamais se arrependeu de seus crimes.
Folha de São Paulo, Caderno Mais, 21 de novembro, 2004
ANDRÉA MICHAEL e ANA FLOR - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um conjunto de 85 documentos em alemão e um texto manuscrito em português, esquecidos na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, revela momentos da vida do médico alemão nazista Josef Mengele, um dos criminosos de guerra mais procurados da história, que morreu afogado em Bertioga, litoral de São Paulo, em 1979.
Nas cartas, fragmentos de anotações de um diário e diversos escritos, aos quais a Folha teve acesso na íntegra e com exclusividade, em nenhum momento Mengele expressa arrependimento pelas mortes de pelo menos 400.000 judeus que lhe são imputadas. Trechos desses textos inéditos são publicados nas páginas seguintes, em tradução feita pela Folha, com a assessoria de tradutores e especialistas em história e língua alemãs.
Em janeiro de 1976, Mengele registra em seu diário (um conjunto de 13 folhas de papel pautado, com manuscritos em caneta azul e preta) que está lendo as memórias de Albert Speer (1905-1981), o arquiteto de Adolf Hitler. Ao relatar que Speer mostrou-se arrependido e reconheceu erros, Mengele afirma: "[Ele] se diminui, mostra arrependimento, o que é lamentável".
Chefe do serviço médico do campo de concentração de Auschwitz (Polônia) entre 1943 e 1945, Mengele usou prisioneiros como cobaias em experimentos pseudo-científicos, com os quais buscava comprovar suas teses sobre a superioridade da raça ariana. Suas cruéis práticas médicas lhe renderam a alcunha de "Anjo da Morte".
Os pertences de Mengele foram apreendidos pela PF em 1985. A confirmação da autoria de parte dos textos foi possível graças a um trabalho de perícia realizado com base em documentos fornecidos pelo governo americano nos quais constavam trechos de próprio punho e assinaturas do médico.
A existência de parte dos documentos aos quais a Folha teve acesso era conhecida. Seu conteúdo, porém, nunca havia sido divulgado, pois o foco da investigação da PF em 1985 era reunir elementos capazes de provar que uma ossada retirada do cemitério de Embu (Grande São Paulo) era realmente do nazista. As diligências policiais também buscavam provas para indiciar criminalmente estrangeiros residentes no país que por anos ocultaram das autoridades a presença de Mengele no Brasil, onde ele chegou em 1960.
O "Anjo da Morte" tornou-se um foragido a partir de 8 de maio de 1945, quando o governo alemão se rendeu definitivamente. Pelos quatro anos seguintes, Mengele viveu incógnito como um trabalhador rural na Baviera (sul da Alemanha). Desembarcou na Argentina em 1949. Mudou-se para o Paraguai dez anos depois, quando a Alemanha pediu sua extradição. Nos dois países, chegou a usar documentos oficiais registrados em seu próprio nome. A prática foi abandonada um ano depois, quando se transferiu para o Brasil.
Com os escritos, a PF encontrou na casa onde Mengele morava e na residência de um casal que ajudou o médico a manter-se na clandestinidade, livros e objetos que sugerem o gosto por ciência, música erudita, carpintaria e pintura.
Bem conservados, os documentos foram encontrados em meio a um procedimento de correição (uma espécie de auditoria) que está em curso na PF em São Paulo. O objetivo do trabalho, chefiado pelo delegado Euclydes Rodrigues da Silva Filho, é verificar se há irregularidades nos cerca 10.000 inquéritos que tramitam naquela regional.
Ao conferir os pertences achados com os listados pela PF em 1985, o delegado Wenderson Braz Gomes, encarregado de custodiar o achado, detectou algumas perdas, entre as quais os óculos usados por Mengele e uma das duas máquinas de escrever então apreendidas.
Conforme a perícia técnica, na máquina que restou, uma Kochs Adlernahmaschi, modelo ABC, foram escritos mais de dez textos. Entre eles, um de abril de 1969, no qual o autor comenta questões contemporâneas, como a Guerra do Vietnã, e condena a falta de crítica das investidas israelenses contra os palestinos no Oriente Médio. Chama a juventude alemã daqueles dias de "degenerada", porque estaria perdendo suas tradições.
Entre os textos da máquina de escrever que se perdeu, uma Zephir-SCM Smith Corona, foi datilografado um ensaio com críticas à Alemanha pós-guerra e à forma como o legado de sua geração era desprezado pelos jovens alemães.
No documento, provavelmente de 1973, a "indiscutível" produção intelectual de personalidades com ascendência judaica deve-se à sua convivência com povos "que tinham um alto nível cultural".
A cópia carbonada de uma carta, datilografada em 3 de setembro de 1974, traz uma menção irônica aos judeus. No texto, destinado a um homem chamado Wolf -provavelmente Wolfgang Gerhard, o austríaco que cedeu (ou vendeu) a Mengele seu nome e documentos originais que lhe permitiram viver incógnito no Brasil -, o autor fala de férias que familiares passaram em Campos do Jordão.
Diz o texto que crianças (provavelmente suas parentes) aprenderam com outras crianças que falam alemão "músicas como [...] a bonita canção sobre os três judeus, cujo conteúdo eu prefiro não repetir aqui pelo arrependimento dos crimes incontestáveis que nós cometemos contra este povo "seleto'". A frase, que em alemão tem tom irônico, parece reforçar a idéia de que Mengele nunca deixou de acreditar nos ideais do nazismo.
No Brasil, com a ajuda de Gerhard, Mengele refugiou-se no Estado de São Paulo. Primeiro viveu em sítios localizados em Nova Europa e Serra Negra. Depois, mudou-se para uma casa em Caieiras e, de lá, para a Estrada do Alvarenga, próximo à represa Billings.
Com a primeira mulher, Irene, teve seu único filho, Rolf. Divorciado, casou-se com uma cunhada, Martha, de quem se separou ao deixar a Argentina. Rolf só soube aos 16 anos que o "Tio Fritz" era na verdade seu pai. Suas observações sobre o fato de o pai nunca ter se arrependido estão no livro "Mengele: a História Completa", de Gerald Posner e John Ware, de 1986.
Em 1977, com mais de 20 anos e já sabendo da identidade do pai, Rolf passou duas semanas na casa de Mengele no Brasil -também usando documentos falsos, a conselho do próprio pai. Rolf disse que muitas vezes tentou perguntar ao pai sobre Auschwitz. As respostas, segundo ele, eram sempre uma "verborragia" filosófica e pseudo-científica, em que Mengele insistia em defender suas idéias racistas.
Em uma carta manuscrita (o único texto em poder da PF que pode ter sido produzido quando o médico ainda estava escondido no interior da Baviera, na Alemanha, trabalhando com agricultores), Mengele conta detalhes sobre sua vida logo após a Segunda Guerra. Intitulado "Fiat Lux" (Faça-se a luz), a carta relata com arrogância a vida de Mengele após a derrocada do nazismo. Ele ironiza a suposta limitação intelectual dos agricultores com os quais convivia.
Nascido em 16 de março de 1911, no seio uma família de classe média alta em Günzburg, Mengele terminou seus dias na solidão e com dificuldades financeiras, conforme seu diário datado de 1976 e cartas de 1972 a 1975. Deprimido, Mengele aceitou o convite do casal Liselotte e Wolfram Bossert para passar alguns dias do verão de 1979 na praia de Bertioga. Ali morreu afogado em 7 de fevereiro de 1979.
O que é nazismo
A palavra "nazismo" é a abreviatura de nacional-socialismo. Designa o movimento político de caráter totalitário que chegou ao poder na Alemanha, em 1933, liderado por Adolf Hitler e cuja política de expansão imperial levou à Segunda Guerra Mundial.
Em seu livro "Minha Luta" (1925), Hitler (1889-1945) expôs seu rancor pela democracia e seu desprezo pelo que chamava de raças "inferiores", defendendo a primazia de uma suposta raça "ariana", à qual pertenceriam os alemães.
Movidos pela ideologia da superioridade racial e pelo antisemitismo, os nazistas foram responsáveis pela morte de milhões de pessoas em campos de concentração.
O racismo do 3º Reich em letra de fôrma - Para Mengele, miscigenação provocaria ruína dos EUA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Até o final da vida, o médico Josef Mengele defendeu teses como a superioridade dos arianos e os malefícios supostamente causados pela miscigenação, além de questionar a capacidade intelectual dos judeus.
Segundo Mengele, a raça teria papel preponderante na definição da capacidade intelectual dos indivíduos. Essa opinião, um dos pilares teóricos do Terceiro Reich, está fartamente reproduzida em manuscritos e documentos datilografados por máquinas achadas pela PF entre os pertences do médico.
Em um manuscrito em tinta azul e sem data, Mengele comenta a teoria darwinista e as diferenças entre macacos e seres humanos. O médico alemão afirma que a capacidade intelectual não é igual em todos os homens, mas varia de acordo com a raça. A leitura do documento revela que Mengele acreditava na superioridade das raças nórdicas européias - especialmente da ariana.
Um texto datilografado em uma das duas máquinas que pertenceriam a Mengele, provavelmente de 1973, desenvolve essa idéia sobre a superioridade de algumas raças em relação a outras. Em meio a diversas referências técnicas (como costumava fazer em seus escritos), o documento menciona a doutrina de Joseph Arthur, conde de Gobineau (1816-1882), um dos principais teóricos do racismo. De acordo com Mengele, "que as raças e os povos são diferentes entre si, é fato comprovado (...). Nisso não há qualquer juízo de valor".
Logo a seguir, o autor afirma que, tendo como medida o nível cultural, "nem todas as raças conseguiram a mesma posição cultural, o que nos força a concluir que nem todos os povos têm o mesmo dom criativo. Na raça nórdica, isso pode ser constatado de forma clara [...]. Basta tomar as figuras mais importantes da história ocidental e analisar suas características raciais".
O texto condena veementemente a miscigenação e sugere que essa prática poderia levar à derrocada dos Estados Unidos. Há também um elogio ao apartheid adotado na África do Sul (que foi eliminado em 1994), apresentado como única forma de convivência possível para a preservação das raças intelectualmente "acima da média".
Judeus e "hospedeiros"
Datilografado em uma máquina da marca Zephir-Smith-Corona, o texto de oito páginas, com correções feitas em caneta azul, traz comentários específicos sobre a origem e sobre a capacidade intelectual do povo judeu.
Afirma que os judeus nasceram de uma mistura entre raças da Ásia Menor e do Oriente, "mas, ao longo de sua migração de milhares de anos, receberam elementos de raças européias e negróides".
Segundo Mengele, isso explicava a "indiscutível" produção cultural do povo judeu, como mostra a seguinte afirmação: "Pode-se perceber facilmente que seus representantes de intelectualidade acima da média sempre, e sem exceção, viviam com povos que tinham um alto nível cultural. Isso vale para Moisés (Egito), Einstein (Suábia), [...] Spinoza (Holanda-Espanha), Mendelssohn (Alemanha), [...] Mahler (Alemanha) [...]. Parece que o componente do povo hospedeiro desempenhou papel decisivo. Desses, parece que o alemão foi o mais efetivo".
Em um conjunto de 13 páginas com registros manuscritos em dias diferentes do ano de 1976, Mengele chega a dizer que intelectuais de ascendência judaica, como Freud e Einstein, desenvolveram idéias meramente "especulativas".
Prêmio Nobel
O interesse de Josef Mengele pela evolução das espécies também foi suprido pelas experiências do zoólogo austríaco Konrad Lorenz (1903 -1989), um dos pais da moderna etologia, ciência que se dedica ao estudo comparativo do comportamento humano e animal e da qual Darwin foi um dos precursores.
Existe a possibilidade de Mengele e Lorentz terem se conhecido, já que o zoólogo esteve nos quadros do partido nazista no início da década de 40. Entre os 94 livros apreendidos pela Polícia Federal em 1985, há cinco escritos por Lorenz, além de um recorte de reportagem publicada na Folha no dia 12 de outubro de 1973, que noticia a vitória do austríaco na disputa pelo Prêmio Nobel de medicina daquele ano. (AM e AF)
Papéis foram apreendidos em 1985
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os documentos e objetos que resgatam parte da obscura história de Josef Mengele foram apreendidos pela Polícia Federal em 1985 na residência do casal Bossert, no bairro do Brooklin (SP), e na pequena casa onde viveu até 1979, na Estrada do Alvarenga, perto da represa Billings.
Pistas levantadas pela polícia alemã na época identificaram os Bossert como a referência de Mengele no Brasil, do que surgiu a investida da PF e o inquérito para apurar "a responsabilidade criminal de Liselotte Bossert, Wolfram Bossert, Geza J. Stammer e Gitta Stammer, em razão de haverem dado apoio de homizio [esconderijo] ao criminoso de guerra Josef Mengele".]
O auto de instauração do inquérito, presidido pelo delegado da PF Marco Antonio Veronezzi, também atribui a Liselotte a prática dos crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso por ter registrado na certidão de óbito de Mengele, em 1979, dados de Wolfgang Gerhard. Austríaco, Gerhard, que saiu do Brasil em 1975, era um dos articuladores da rede mundial de proteção aos nazistas. Ele entregou os próprios documentos (carteira de identidade, de trabalho e motorista) a Mengele, que apenas trocou as fotografias originais pelas suas, o que chamava a atenção, pois ele era 14 anos mais velho que Gerhard.
Em 1979, quando morreu afogado em Bertioga, Mengele foi enterrado no jazigo da família Gerhard, no Embu. Segundo a polícia alemã, o verdadeiro dono dos documentos usados pelo nazista morreu em 16 de dezembro de 1978 e foi enterrado em Graz, na Áustria.
O inquérito, que revelou o destino do criminoso foragido desde 1945, foi arquivado em 92, com a assinatura do juiz João Carlos da Rocha Mattos (hoje preso, acusado de corrupção e formação de quadrilha). "A investigação foi até fácil, [um trabalho] mais de perícia. O que me impressionou foi a repercussão. Alguns pesquisadores estrangeiros chegaram a contestar o fato", diz Veronezzi.
A polêmica em torno da descoberta histórica terminou com a realização de um exame de DNA feito pelo filho de Mengele, Rolf, com o qual foi possível comparar seus genes aos encontrados na ossada exumada em 1985. O teste confirmou existir 99% de coincidência entre a composição genética de Rolf e de Mengele.
Em regra, documentos e objetos relacionados a um inquérito devem ficar, assim como a papelada, sob a custódia da Justiça. Se alguém os reclamar, podem ser devolvidos; se não, viram cinza. No caso Mengele, não aconteceu nem uma coisa nem outra. Os pertences foram encontrados em outubro, guardados em duas caixas de papelão no 10º andar da Superintendência da PF em São Paulo, no Setec (Setor Técnico Científico), em bom estado de conservação.
O achado se deu durante um processo de correição - espécie de auditoria em cerca de 10.000 inquéritos - que está em curso em São Paulo. "Os cuidados que tomamos para garantir as provas e elucidar possíveis dúvidas acabaram garantindo o resgate de uma parte da história da humanidade", afirma o perito criminal Luiz Alves, chefe do Setec. (AM)
Ao lado de Che Guevara
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os pertences de Mengele serão transferidos para o museu da Academia Nacional de Polícia em Brasília, onde serão expostos ao público.
"O importante agora é conservar o material e colocar esse pedaço da história à disposição do público", diz o delegado da PF Wenderson Braz Gomes, que assumiu a custódia dos pertences. No museu, os objetos de Mengele serão vizinhos de vitrine dos achados das investigações feitas sobre a passagem de Che Guevara pelo Brasil, antes de sua morte na Bolívia, em 67.
Presunçoso na Alemanha e amargurado no Brasil - Ironias sobre seus empregadores, nos anos 40, deram lugar à decepção com os amigos, nos anos 70
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os manuscritos de Mengele descrevem, em um período de pouco mais de 30 anos, a história de um homem presunçoso, no período pós-guerra, ainda na Alemanha, até a decadência de um indivíduo abandonado e sem dinheiro, pouco antes de sua morte no Brasil.
Em uma carta não datada, destinada a uma mulher desconhecida, o nazista relata sua estada no interior da Baviera, logo depois do final da guerra. Na região, ele trabalhou com uma família de agricultores, os Fischer, conforme descreve o livro "Mengele: A História Completa", biografia feita por Gerald Posner e John Ware ("Mengele: The Complete Story", 1986).
O manuscrito é intitulado "Fiat Lux", ou "Faça-se a luz", em uma provável referência ao início do Gênesis, da Bíblia. Na época, conforme a biografia de Posner e Ware, Mengele usava o nome falso de Fritz Hollman e os documentos originais pertencentes a Fritz Ulmann, um físico que foi detido pelo Exército americano com o médico nazista. Os americanos não descobriram que Mengele era um carrasco nazista e o libertaram.
A carta detalha a convivência do médico com a família de agricultores, a quem Mengele se refere como "primitiva" intelectualmente, ou "abaixo da média" -termo recorrente. No texto, o médico diz claramente que se considera intelectualmente superior àqueles com que convive e chega a tratar do tema de forma irônica e arrogante.
Mãos finas demais
No dia-a-dia, como relata na carta, o médico Mengele parecia sempre fazer questão de exibir seus conhecimentos. Ele conta, por exemplo, que discutia sobre evolução com o dono da casa, mas sempre explicava que tudo o que sabia acerca do assunto tinha sido adquirido em leituras que dizia fazer.
Mengele jamais revelou sua identidade à família. Mas, como relata a biografia, os Fischer sempre acharam que as mãos de seu funcionário Fritz eram finas demais para quem se apresentava como um trabalhador rural experiente interessado em conquistar um emprego no momento em que as tropas aliadas varriam a Europa à procura dos nazistas.
O contraponto à arrogância inicial aparece em textos escritos nos anos 70, no Brasil. Encurralado pela falta de dinheiro e pela necessidade de manter em segredo sua verdadeira identidade (o que dificultava a possibilidade de viajar), passou boa parte dos últimos anos de sua vida sozinho e deprimido.
Trechos de um diário escrito pelo médico no início de 1976 revelam que seu autor passava grande parte de seu tempo envolvido com problemas domésticos no sítio em que morava. As declarações ali expressas alternam preocupações causadas por uma bomba d'água estragada ou um vazamento no teto com experiências a serem realizadas e comentários sobre a política alemã da época (anos 70).
Preço do silêncio
Posner e Ware mencionam em seu livro um relato da proprietária do imóvel em que Wolfgang Gerhard, o principal personagem da rede que escondeu o médico nazista no Brasil, diz que Mengele pagou 7.000 (não se sabe em qual moeda) pelos documentos originais do amigo austríaco.
Durante anos, Mengele usou as carteiras profissional, de identidade e de motorista que foram tiradas por Gerhard. Deu-se, apenas, ao cuidadoso trabalho de trocar as fotografias. Para levantar o dinheiro com o qual compraria mais uma identidade falsa, Mengele teria vendido um apartamento em São Paulo - perda preciosa, pois era com a quantia recebida com o aluguel que custeava a própria existência. No diário, Mengele menciona uma difícil decisão a tomar, que poderia ser a venda.
Sozinho e abandonado
Conforme a biografia, amigos do médico confirmavam que ele pagou, pelo menos a uma pessoa, pelo silêncio em relação a sua identidade. Este tema aparece com freqüência no diário e em cartas, onde ele demonstra estar decepcionado com amigos que pensavam que "tudo na vida tem um preço".
Num dos trechos do diário, a que a Folha teve acesso, Mengele se diz sozinho e abandonado. Reclama do dinheiro que precisa dar a uma pessoa que ele considerava amigo. "Como as coisas vão ficar? Agora eu sinto a solidão, ou melhor, o abandono de forma tão dolorosa como nunca".
A insatisfação por não poder viajar, até mesmo por dificuldades financeiras, aparece em pelo menos duas passagens. Em uma delas, o médico fala de uma pessoa que estava dificultando uma viagem planejada de carro ao Rio de Janeiro. Mengele concorda com a negativa, porque não teria dinheiro nem para a gasolina. "Tudo está ficando muito caro", escreve.
O declínio do nazista transparece não só no conteúdo de seus escritos, mas na sua letra, que melhora ou piora em seu diário conforme o estado de espírito. Uma análise sobre os escritos de Mengele ao longo do tempo demonstra que a letra elegante de "Fiat Lux" cedeu lugar, em 1976, a rabiscos muitas vezes incompreensíveis.
Pior que um monstro, um monstro doutor
DA REPORTAGEM LOCAL
Josef Mengele não era apenas um monstro, era um monstro com doutorado. Ele tinha no currículo passagem por algumas das mais importantes universidades alemãs e austríacas. Mengele estudou medicina e antropologia nas universidades de Munique, Viena e Bonn. Fez um doutorado em Munique sobre as diferenças "raciais" na mandíbula inferior.
Estava perfeitamente dentro do espírito que o nazismo incutiu na Alemanha, incluindo sua elite pensante: o de que haveria uma raça "ariana", cujo exemplo perfeito eram os alemães, nascida para governar o mundo, e que outras serviriam de escravas, como os povos da Europa oriental, ou deveriam ser exterminadas, como os judeus e os ciganos. Professores universitários que comungavam dessas teses correram para produzir a "ciência" que as justificaria.
Assim como essas espúrias credenciais acadêmicas, o que Mengele fez durante a guerra também não tinha nenhum valor científico. Era loucura pura, o que facilita a questão ética para os cientistas. Mengele e colegas fizeram experimentos com seres humanos: se tivessem obtido resultados válidos, como um cientista de hoje deveria receber esses dados? Felizmente para a consciência dos pesquisadores, quase nada da "ciência" nazista era aproveitável, ao contrário de sua tecnologia, que produziu tanques, submarinos e foguetes bem melhores que os dos aliados.
Por exemplo, Mengele tentava mudar a cor dos olhos de crianças prisioneiras injetando substâncias químicas. E tinha uma obsessão por estudar gêmeos, matando-os e dissecando-os cuidadosamente.
Além dessa pesquisa "pura", de busca de conhecimento pelo conhecimento, Mengele e colegas tinham também um lado prático: o país estava em guerra e era importante descobrir os limites aos quais um corpo humano poderia ser sujeito. Por exemplo, era comum aviadores e marinheiros caírem no mar gelado; quanto tempo agüentariam antes de um resgate? Haveria como reanimá-los? Para responder a essas questões, prisioneiros no campo de Dachau eram colocados em tanques com água gelada, alguns deliberadamente até a morte. Também eram inoculados em experiências sobre doenças infecciosas ou parasitárias.
Outra linha de pesquisa era a esterilização. Era importante para o nazismo encontrar um método rápido e eficaz de impedir que os "sub-homens" se reproduzissem.
As declarações do médico Franz Blaha, interrogado em Nuremberg, são das mais impressionantes: operações e dissecações em pessoas saudáveis, experimentos com drogas, pressão do ar, amputações. O catálogo de horrores do que se fazia em Dachau é extenso. Não era ciência. Era apenas sadismo. (RICARDO BONALUME NETO)
O darwinismo em mau português
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Entre os 86 documentos manuscritos e datilografados que compõem os arquivos ainda inéditos do médico nazista Josef Mengele apenas um está em língua portuguesa -com pitadas de espanhol. Tudo o mais foi escrito em alemão.
Trata-se de um manuscrito de duas páginas no qual Mengele faz um breve paralelo entre as teorias evolucionistas elaboradas pelo naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) e pelo britânico Charles Darwin (1809-1882).
"Ao primeiro [Lamarck] conduciram sus conhecimentos aa "Theoria de herança das propriedades adquiridas", que não pude suster su lugar contra o Darwinismo. Este explica a evolução como um procedimiento de adaptação aas mudanças do ambiente pela seleção dos indivíduos favoriçados pelas mutações de substancia hereditaria não determinadas. A parte deste algunos otros fatores tem um papel importante p. ex. a isolação e a lei do acaso."
Para Mengele, "a theoria modificada de Darwin se tem que considerar hoje como a valida e não refutada em nenhum puncto" [sic]. Não existe nenhum registro da data em que esse texto foi escrito.
Na biblioteca de 94 livros do médico nazista, há quatro manuais de língua portuguesa -somente um deles em português, uma "Grammatica Expositiva", escrita por Carlos Eduardo Pereira. Os outros três manuais, em alemão, são todos de 1949, ano em que Josef Mengele chegou a Buenos Aires.
Outro livro -dos cinco escritos em português- é um guia turístico. Impresso em 1974, quando o médico já vivia no Brasil, "O Guia do Turista Brasileiro - Argentina e Uruguai ao Nosso Alcance" traz dicas sobre Buenos Aires, Bariloche e Mar del Plata. Nas páginas 25 e 33, há grifos sob referências às datas comemorativas do Dia da Bandeira e da Raça na Argentina.
Uma etiqueta colante fixada na contracapa sugere onde o exemplar poderia ter sido adquirido: "Livraria Kosmos Editora S.A. -Rio - São Paulo - P. Alegre".
Complementam sua coleção de cinco livros em português um exemplar sobre doenças infecto-contagiosas de animais domésticos, um manual de relaxamento produzido pela indústria química Merck e o título "Hitler - Pró e Contra: o julgamento da história". Esse conjunto reflete, também em uma língua para ele estrangeira, os temas que permearam os escritos de Josef Mengele durante sua trajetória de 34 anos em fuga: as teorias que fundamentavam o nazismo.
Argentina abrigou mais de 300 nazistas do 2º escalão - Expoentes do regime se mataram, mas fugitivos se ocultaram na Espanha e na América Latina .
RICARDO BONALUME NETO - DA REPORTAGEM LOCAL
Na longa história de guerras da Europa, os vencidos em geral não tinham muito a temer dos vencedores, depois dos piores momentos das guerras de religião do século 17, caso tivessem se comportado segundo as regras que foram balizando o comportamento dos combatentes -por exemplo, não matar ou escravizar civis ou soldados prisioneiros.
Como a Alemanha nazista (1933-1945) violou todas essas regras e inventou algumas violações novas, seus líderes político-militares tinham poucas opções com o final da Segunda Guerra, em 1945: se rendiam incondicionalmente, como foi exigido pelos aliados, e se expunham à sua justiça; ou se matavam, ou tentavam fugir para locais relativamente amistosos.
Os principais líderes tomaram a opção do suicídio -o líder supremo Adolf Hitler (1889-1945), seu propagandista Joseph Goebbels (1897-1945), seu ministro do interior e organizador do genocídio dos judeus Heinrich Himmler (1900-1945) e o chefe da força aérea, Hermann Goering (1893-1946), que foi capturado, mas escapou da forca ao se matar antes. O secretário pessoal de Adolf Hitler, Martin Bormann (1900-1945), foi morto pelos russos durante a queda de Berlim, mas o mistério sobre sua morte perdurou por décadas.
O mistério tinha razão de ser.
Alguns líderes nazistas foram julgados pelos aliados em Nuremberg e executados, como o general Alfred Jodl (1890-1946), que comandou várias das campanhas militares nazistas. O homem que substituiu Hitler no comando do Terceiro Reich, o almirante Karl Doenitz (1891-1980), artífice da letal guerra de submarinos contra a navegação aliada, foi absolvido.
Mas um terceiro grupo conseguiu escapar de julgamento ou punição. Em geral era gente de escalões menores, mas com grande culpa no cartório, como o pessoal das SS, instituição que surgiu como guarda pessoal dos líderes nazistas e se transformou num Estado dentro do Estado, com forças armadas próprias (as "Waffen-SS").
O mais notório dos fujões foi Adolf Eichmann (1906-1962), oficial das SS diretamente ligado ao genocídio dos judeus: foi ele que introduziu as câmaras de gás como um método mais "eficiente" para fazer a matança dos prisioneiros em escala industrial. Eichmann escapou para a Argentina, onde foi capturado por agentes israelenses, julgado e enforcado em Israel.
Outro notório criminoso foi o médico Josef Mengele (1911-1979), que apesar de não ter cargo elevado na hierarquia nazista, se notabilizou por fazer experimentos com seres humanos no campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Mengele não era o principal oficial médico de Auschwitz, mas era o que rotineiramente esperava a chegada dos trens com prisioneiros para selecionar quem deveria ser morto imediatamente, quem deveria ser enviado para trabalhos forçados e quem poderia servir de cobaia em seus experimentos.
Depois de um tempo escondido no campo na Alemanha, assim como outros nazistas, ele escapou e viajou para para Argentina, aonde chegou em 1949. Ficou ali quase uma década, foi então para o Paraguai e para o Brasil, onde morreu sem ser descoberto em 1979.
Depois de Eichmann e de Mengele, o mais famoso criminoso de guerra na região foi Erich Priebke (1913- ), capitão das SS e envolvido em um massacre de 335 civis italianos em represália pela morte de 33 soldados alemães (a idéia era matar dez civis para cada soldado morto). Vivia confortavelmente em Bariloche, na Argentina, onde era considerado um cidadão modelo até ser identificado em 1994 e extraditado para a Itália, depois de uma demorada pendenga judicial.
Não há dúvida de que os nazistas que vieram para a América Latina (e para outras partes do mundo favoráveis, como a Espanha franquista ou países islâmicos) tiveram alguma ajuda na Europa para conseguir documentos falsos.
Especulou-se que teria mesmo havido uma organização para facilitar a fuga, a Odessa (sigla em alemão de "Organização de ex-membros das SS"), que entrou no imaginário popular com o livro, depois filmado, "O Dossiê Odessa", do escritor britânico Frederick Forsyth.
O "caçador de nazistas" Simon Wiesenthal acredita na existência da Odessa. Mas nunca houve provas claras. A organização da fuga dos nazistas não precisaria necessariamente ter uma organização centralizada, mas poderia ser obra de vários grupos clandestinos.
O pesquisador que mais foi a fundo em tentar revelar a extensão da fuga nazista para a América Latina, o argentino Uki Goñi, revela que várias conexões teriam existido, envolvendo até mesmo gente no Vaticano. Segundo Goñi, pelo menos 300 nazistas teriam conseguido abrigo na Argentina.
A Argentina foi simpatizante do nazismo durante toda a guerra. Só declarou guerra à Alemanha em 1945, pouco antes do fim -caso contrário o país não teria como entrar na nascente Organização das Nações Unidas e sofreria sanções econômicas dos vitoriosos.
Que a Argentina tinha fama de ser um refúgio seguro ficou óbvio quando um comandante de submarino alemão, Heinz Schaeffer, chegou ao país em agosto de 1945 com seu barco, o U-977. Schaeffer preferiu fazer uma épica viagem de 108 dias (66 deles submerso) para se render ali a se entregar aos aliados. Na época logo surgiu o rumor de que Hitler estaria a bordo.
O líder argentino Juan Domingo Perón foi um notório simpatizante do nazismo e se cercou de pessoas da comunidade alemã no país que tinham fortes vínculos com a Alemanha de Hitler. Perón também procurou o auxílio de engenheiros e militares alemães para reforçar seus projetos de desenvolvimento da indústria bélica. Um exemplo foi o coronel das Waffen-SS Otto Skorzeny (1908-1975), um dos mais eficientes soldados de "força especial" da guerra. Entre suas façanhas está a libertação do ditador italiano Benito Mussolini, prisioneiro em local de difícil acesso. Skorzeny foi absolvido de crimes de guerra. Foi morar na Espanha e, além de Perón, também assessorou o egípcio Gamal Abdel Nasser.
Esse também foi o caso de Kurt Tank (1898-1983), engenheiro aeronáutico que projetou o caça Focke-Wulf 190 e criou na Argentina o primeiro avião a jato da América Latina, o Pulqui, baseado em seus últimos projetos da era nazista. Russos e americanos tinham feito o mesmo antes. Os cientistas envolvidos no projeto dos V-2 foram divididos entre os dois lados da cortina de ferro. Os EUA ficaram com o principal, Wernher von Braun (1912-1977), figura-chave em projetar o pouso na Lua.
Uma síntese da eugenia e do anti-semitismo.
NELSON ASCHER - COLUNISTA DA FOLHA
Terminada a Primeira Guerra Mundial ( 1914-18 ), militares desmobilizados criaram, na Alemanha recém-derrotada, grupos de extrema direita que tinham em comum o revanchismo, o nacionalismo radical e o anti-semitismo.
Em 1919, o Exército alemão encarregou Adolf Hitler de espionar um desses grupos, o Partido dos Trabalhadores Alemães. Aderindo à organização, rebatizada de Partido Nazista (Partido Nacional Socialista do Trabalhador Alemão), tornou-se seu líder e, ao chegar ao poder em 1933, iniciou a reconstrução do poder bélico do país e a reorganização da sociedade. A hierarquia das raças e a eugenia estavam entre suas doutrinas centrais.
Os judeus, embora fossem menos de 1% da população alemã, eram considerados seu grande inimigo racial, e os nazistas se empenharam em resolver o "problema" confiscando-lhes os direitos e as propriedades, boicotando seus negócios, banindo-os de várias profissões e demonizando-os através da propaganda. Se o objetivo original era expulsá-los do país, a ocupação da Áustria, da Checoslováquia e a eclosão da Segunda Guerra, iniciada com a conquista da Polônia, onde vivia a maior comunidade judaica do continente (3 milhões), inviabilizaram essa solução. Os judeus foram encerrados em guetos enquanto os nazistas discutiam o que fazer com eles.
Como, com o ataque à União Soviética (1941), mais judeus foram capturados, o Terceiro Reich acionou grupos móveis para exterminá-los. Se bem que centenas de milhares tenham sido executados, o processo era oneroso e demorado. Para levar a cabo a "solução final", a erradicação dos judeus, os nazistas construíram, na Polônia, seis campos de extermínio: Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor e Treblinka.
Cerca de seis milhões de judeus foram mortos entre 1939 e 45, talvez um terço em Auschwitz. Foi lá que Mengele se instalou, em 1943, como um de seus mais altos oficiais. Sua tarefa era separar prisioneiros aptos a trabalhar como escravos dos que seriam mandados às câmaras de gás. Médico, filho de um fabricante de máquinas agrícolas, seu "hobby" era realizar experiências com cobaias humanas.
O Holocausto nascera tanto do anti-semitismo quanto da eugenia que, popularíssima então entre os médicos (uma das categorias mais nazificadas), dera origem, na Alemanha dos anos 30, a um "programa de eutanásia" que consistia na eliminação de gente física ou mentalmente incapacitada. As atividades de Mengele foram a síntese exemplar disso tudo.
O "anjo da morte" deixou Auschwitz em janeiro de 45 e, não obstante fugir para nossos trópicos, manteve contatos com sua família, cuja indústria, segundo testemunho do escritor H.M. Enzensberger, continuava, nos anos 90, a existir sob o mesmo nome.
Folha de São Paulo, Caderno Mais, 21 de novembro, 2004
ANDRÉA MICHAEL e ANA FLOR - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um conjunto de 85 documentos em alemão e um texto manuscrito em português, esquecidos na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, revela momentos da vida do médico alemão nazista Josef Mengele, um dos criminosos de guerra mais procurados da história, que morreu afogado em Bertioga, litoral de São Paulo, em 1979.
Nas cartas, fragmentos de anotações de um diário e diversos escritos, aos quais a Folha teve acesso na íntegra e com exclusividade, em nenhum momento Mengele expressa arrependimento pelas mortes de pelo menos 400.000 judeus que lhe são imputadas. Trechos desses textos inéditos são publicados nas páginas seguintes, em tradução feita pela Folha, com a assessoria de tradutores e especialistas em história e língua alemãs.
Em janeiro de 1976, Mengele registra em seu diário (um conjunto de 13 folhas de papel pautado, com manuscritos em caneta azul e preta) que está lendo as memórias de Albert Speer (1905-1981), o arquiteto de Adolf Hitler. Ao relatar que Speer mostrou-se arrependido e reconheceu erros, Mengele afirma: "[Ele] se diminui, mostra arrependimento, o que é lamentável".
Chefe do serviço médico do campo de concentração de Auschwitz (Polônia) entre 1943 e 1945, Mengele usou prisioneiros como cobaias em experimentos pseudo-científicos, com os quais buscava comprovar suas teses sobre a superioridade da raça ariana. Suas cruéis práticas médicas lhe renderam a alcunha de "Anjo da Morte".
Os pertences de Mengele foram apreendidos pela PF em 1985. A confirmação da autoria de parte dos textos foi possível graças a um trabalho de perícia realizado com base em documentos fornecidos pelo governo americano nos quais constavam trechos de próprio punho e assinaturas do médico.
A existência de parte dos documentos aos quais a Folha teve acesso era conhecida. Seu conteúdo, porém, nunca havia sido divulgado, pois o foco da investigação da PF em 1985 era reunir elementos capazes de provar que uma ossada retirada do cemitério de Embu (Grande São Paulo) era realmente do nazista. As diligências policiais também buscavam provas para indiciar criminalmente estrangeiros residentes no país que por anos ocultaram das autoridades a presença de Mengele no Brasil, onde ele chegou em 1960.
O "Anjo da Morte" tornou-se um foragido a partir de 8 de maio de 1945, quando o governo alemão se rendeu definitivamente. Pelos quatro anos seguintes, Mengele viveu incógnito como um trabalhador rural na Baviera (sul da Alemanha). Desembarcou na Argentina em 1949. Mudou-se para o Paraguai dez anos depois, quando a Alemanha pediu sua extradição. Nos dois países, chegou a usar documentos oficiais registrados em seu próprio nome. A prática foi abandonada um ano depois, quando se transferiu para o Brasil.
Com os escritos, a PF encontrou na casa onde Mengele morava e na residência de um casal que ajudou o médico a manter-se na clandestinidade, livros e objetos que sugerem o gosto por ciência, música erudita, carpintaria e pintura.
Bem conservados, os documentos foram encontrados em meio a um procedimento de correição (uma espécie de auditoria) que está em curso na PF em São Paulo. O objetivo do trabalho, chefiado pelo delegado Euclydes Rodrigues da Silva Filho, é verificar se há irregularidades nos cerca 10.000 inquéritos que tramitam naquela regional.
Ao conferir os pertences achados com os listados pela PF em 1985, o delegado Wenderson Braz Gomes, encarregado de custodiar o achado, detectou algumas perdas, entre as quais os óculos usados por Mengele e uma das duas máquinas de escrever então apreendidas.
Conforme a perícia técnica, na máquina que restou, uma Kochs Adlernahmaschi, modelo ABC, foram escritos mais de dez textos. Entre eles, um de abril de 1969, no qual o autor comenta questões contemporâneas, como a Guerra do Vietnã, e condena a falta de crítica das investidas israelenses contra os palestinos no Oriente Médio. Chama a juventude alemã daqueles dias de "degenerada", porque estaria perdendo suas tradições.
Entre os textos da máquina de escrever que se perdeu, uma Zephir-SCM Smith Corona, foi datilografado um ensaio com críticas à Alemanha pós-guerra e à forma como o legado de sua geração era desprezado pelos jovens alemães.
No documento, provavelmente de 1973, a "indiscutível" produção intelectual de personalidades com ascendência judaica deve-se à sua convivência com povos "que tinham um alto nível cultural".
A cópia carbonada de uma carta, datilografada em 3 de setembro de 1974, traz uma menção irônica aos judeus. No texto, destinado a um homem chamado Wolf -provavelmente Wolfgang Gerhard, o austríaco que cedeu (ou vendeu) a Mengele seu nome e documentos originais que lhe permitiram viver incógnito no Brasil -, o autor fala de férias que familiares passaram em Campos do Jordão.
Diz o texto que crianças (provavelmente suas parentes) aprenderam com outras crianças que falam alemão "músicas como [...] a bonita canção sobre os três judeus, cujo conteúdo eu prefiro não repetir aqui pelo arrependimento dos crimes incontestáveis que nós cometemos contra este povo "seleto'". A frase, que em alemão tem tom irônico, parece reforçar a idéia de que Mengele nunca deixou de acreditar nos ideais do nazismo.
No Brasil, com a ajuda de Gerhard, Mengele refugiou-se no Estado de São Paulo. Primeiro viveu em sítios localizados em Nova Europa e Serra Negra. Depois, mudou-se para uma casa em Caieiras e, de lá, para a Estrada do Alvarenga, próximo à represa Billings.
Com a primeira mulher, Irene, teve seu único filho, Rolf. Divorciado, casou-se com uma cunhada, Martha, de quem se separou ao deixar a Argentina. Rolf só soube aos 16 anos que o "Tio Fritz" era na verdade seu pai. Suas observações sobre o fato de o pai nunca ter se arrependido estão no livro "Mengele: a História Completa", de Gerald Posner e John Ware, de 1986.
Em 1977, com mais de 20 anos e já sabendo da identidade do pai, Rolf passou duas semanas na casa de Mengele no Brasil -também usando documentos falsos, a conselho do próprio pai. Rolf disse que muitas vezes tentou perguntar ao pai sobre Auschwitz. As respostas, segundo ele, eram sempre uma "verborragia" filosófica e pseudo-científica, em que Mengele insistia em defender suas idéias racistas.
Em uma carta manuscrita (o único texto em poder da PF que pode ter sido produzido quando o médico ainda estava escondido no interior da Baviera, na Alemanha, trabalhando com agricultores), Mengele conta detalhes sobre sua vida logo após a Segunda Guerra. Intitulado "Fiat Lux" (Faça-se a luz), a carta relata com arrogância a vida de Mengele após a derrocada do nazismo. Ele ironiza a suposta limitação intelectual dos agricultores com os quais convivia.
Nascido em 16 de março de 1911, no seio uma família de classe média alta em Günzburg, Mengele terminou seus dias na solidão e com dificuldades financeiras, conforme seu diário datado de 1976 e cartas de 1972 a 1975. Deprimido, Mengele aceitou o convite do casal Liselotte e Wolfram Bossert para passar alguns dias do verão de 1979 na praia de Bertioga. Ali morreu afogado em 7 de fevereiro de 1979.
O que é nazismo
A palavra "nazismo" é a abreviatura de nacional-socialismo. Designa o movimento político de caráter totalitário que chegou ao poder na Alemanha, em 1933, liderado por Adolf Hitler e cuja política de expansão imperial levou à Segunda Guerra Mundial.
Em seu livro "Minha Luta" (1925), Hitler (1889-1945) expôs seu rancor pela democracia e seu desprezo pelo que chamava de raças "inferiores", defendendo a primazia de uma suposta raça "ariana", à qual pertenceriam os alemães.
Movidos pela ideologia da superioridade racial e pelo antisemitismo, os nazistas foram responsáveis pela morte de milhões de pessoas em campos de concentração.
O racismo do 3º Reich em letra de fôrma - Para Mengele, miscigenação provocaria ruína dos EUA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Até o final da vida, o médico Josef Mengele defendeu teses como a superioridade dos arianos e os malefícios supostamente causados pela miscigenação, além de questionar a capacidade intelectual dos judeus.
Segundo Mengele, a raça teria papel preponderante na definição da capacidade intelectual dos indivíduos. Essa opinião, um dos pilares teóricos do Terceiro Reich, está fartamente reproduzida em manuscritos e documentos datilografados por máquinas achadas pela PF entre os pertences do médico.
Em um manuscrito em tinta azul e sem data, Mengele comenta a teoria darwinista e as diferenças entre macacos e seres humanos. O médico alemão afirma que a capacidade intelectual não é igual em todos os homens, mas varia de acordo com a raça. A leitura do documento revela que Mengele acreditava na superioridade das raças nórdicas européias - especialmente da ariana.
Um texto datilografado em uma das duas máquinas que pertenceriam a Mengele, provavelmente de 1973, desenvolve essa idéia sobre a superioridade de algumas raças em relação a outras. Em meio a diversas referências técnicas (como costumava fazer em seus escritos), o documento menciona a doutrina de Joseph Arthur, conde de Gobineau (1816-1882), um dos principais teóricos do racismo. De acordo com Mengele, "que as raças e os povos são diferentes entre si, é fato comprovado (...). Nisso não há qualquer juízo de valor".
Logo a seguir, o autor afirma que, tendo como medida o nível cultural, "nem todas as raças conseguiram a mesma posição cultural, o que nos força a concluir que nem todos os povos têm o mesmo dom criativo. Na raça nórdica, isso pode ser constatado de forma clara [...]. Basta tomar as figuras mais importantes da história ocidental e analisar suas características raciais".
O texto condena veementemente a miscigenação e sugere que essa prática poderia levar à derrocada dos Estados Unidos. Há também um elogio ao apartheid adotado na África do Sul (que foi eliminado em 1994), apresentado como única forma de convivência possível para a preservação das raças intelectualmente "acima da média".
Judeus e "hospedeiros"
Datilografado em uma máquina da marca Zephir-Smith-Corona, o texto de oito páginas, com correções feitas em caneta azul, traz comentários específicos sobre a origem e sobre a capacidade intelectual do povo judeu.
Afirma que os judeus nasceram de uma mistura entre raças da Ásia Menor e do Oriente, "mas, ao longo de sua migração de milhares de anos, receberam elementos de raças européias e negróides".
Segundo Mengele, isso explicava a "indiscutível" produção cultural do povo judeu, como mostra a seguinte afirmação: "Pode-se perceber facilmente que seus representantes de intelectualidade acima da média sempre, e sem exceção, viviam com povos que tinham um alto nível cultural. Isso vale para Moisés (Egito), Einstein (Suábia), [...] Spinoza (Holanda-Espanha), Mendelssohn (Alemanha), [...] Mahler (Alemanha) [...]. Parece que o componente do povo hospedeiro desempenhou papel decisivo. Desses, parece que o alemão foi o mais efetivo".
Em um conjunto de 13 páginas com registros manuscritos em dias diferentes do ano de 1976, Mengele chega a dizer que intelectuais de ascendência judaica, como Freud e Einstein, desenvolveram idéias meramente "especulativas".
Prêmio Nobel
O interesse de Josef Mengele pela evolução das espécies também foi suprido pelas experiências do zoólogo austríaco Konrad Lorenz (1903 -1989), um dos pais da moderna etologia, ciência que se dedica ao estudo comparativo do comportamento humano e animal e da qual Darwin foi um dos precursores.
Existe a possibilidade de Mengele e Lorentz terem se conhecido, já que o zoólogo esteve nos quadros do partido nazista no início da década de 40. Entre os 94 livros apreendidos pela Polícia Federal em 1985, há cinco escritos por Lorenz, além de um recorte de reportagem publicada na Folha no dia 12 de outubro de 1973, que noticia a vitória do austríaco na disputa pelo Prêmio Nobel de medicina daquele ano. (AM e AF)
Papéis foram apreendidos em 1985
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os documentos e objetos que resgatam parte da obscura história de Josef Mengele foram apreendidos pela Polícia Federal em 1985 na residência do casal Bossert, no bairro do Brooklin (SP), e na pequena casa onde viveu até 1979, na Estrada do Alvarenga, perto da represa Billings.
Pistas levantadas pela polícia alemã na época identificaram os Bossert como a referência de Mengele no Brasil, do que surgiu a investida da PF e o inquérito para apurar "a responsabilidade criminal de Liselotte Bossert, Wolfram Bossert, Geza J. Stammer e Gitta Stammer, em razão de haverem dado apoio de homizio [esconderijo] ao criminoso de guerra Josef Mengele".]
O auto de instauração do inquérito, presidido pelo delegado da PF Marco Antonio Veronezzi, também atribui a Liselotte a prática dos crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso por ter registrado na certidão de óbito de Mengele, em 1979, dados de Wolfgang Gerhard. Austríaco, Gerhard, que saiu do Brasil em 1975, era um dos articuladores da rede mundial de proteção aos nazistas. Ele entregou os próprios documentos (carteira de identidade, de trabalho e motorista) a Mengele, que apenas trocou as fotografias originais pelas suas, o que chamava a atenção, pois ele era 14 anos mais velho que Gerhard.
Em 1979, quando morreu afogado em Bertioga, Mengele foi enterrado no jazigo da família Gerhard, no Embu. Segundo a polícia alemã, o verdadeiro dono dos documentos usados pelo nazista morreu em 16 de dezembro de 1978 e foi enterrado em Graz, na Áustria.
O inquérito, que revelou o destino do criminoso foragido desde 1945, foi arquivado em 92, com a assinatura do juiz João Carlos da Rocha Mattos (hoje preso, acusado de corrupção e formação de quadrilha). "A investigação foi até fácil, [um trabalho] mais de perícia. O que me impressionou foi a repercussão. Alguns pesquisadores estrangeiros chegaram a contestar o fato", diz Veronezzi.
A polêmica em torno da descoberta histórica terminou com a realização de um exame de DNA feito pelo filho de Mengele, Rolf, com o qual foi possível comparar seus genes aos encontrados na ossada exumada em 1985. O teste confirmou existir 99% de coincidência entre a composição genética de Rolf e de Mengele.
Em regra, documentos e objetos relacionados a um inquérito devem ficar, assim como a papelada, sob a custódia da Justiça. Se alguém os reclamar, podem ser devolvidos; se não, viram cinza. No caso Mengele, não aconteceu nem uma coisa nem outra. Os pertences foram encontrados em outubro, guardados em duas caixas de papelão no 10º andar da Superintendência da PF em São Paulo, no Setec (Setor Técnico Científico), em bom estado de conservação.
O achado se deu durante um processo de correição - espécie de auditoria em cerca de 10.000 inquéritos - que está em curso em São Paulo. "Os cuidados que tomamos para garantir as provas e elucidar possíveis dúvidas acabaram garantindo o resgate de uma parte da história da humanidade", afirma o perito criminal Luiz Alves, chefe do Setec. (AM)
Ao lado de Che Guevara
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os pertences de Mengele serão transferidos para o museu da Academia Nacional de Polícia em Brasília, onde serão expostos ao público.
"O importante agora é conservar o material e colocar esse pedaço da história à disposição do público", diz o delegado da PF Wenderson Braz Gomes, que assumiu a custódia dos pertences. No museu, os objetos de Mengele serão vizinhos de vitrine dos achados das investigações feitas sobre a passagem de Che Guevara pelo Brasil, antes de sua morte na Bolívia, em 67.
Presunçoso na Alemanha e amargurado no Brasil - Ironias sobre seus empregadores, nos anos 40, deram lugar à decepção com os amigos, nos anos 70
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os manuscritos de Mengele descrevem, em um período de pouco mais de 30 anos, a história de um homem presunçoso, no período pós-guerra, ainda na Alemanha, até a decadência de um indivíduo abandonado e sem dinheiro, pouco antes de sua morte no Brasil.
Em uma carta não datada, destinada a uma mulher desconhecida, o nazista relata sua estada no interior da Baviera, logo depois do final da guerra. Na região, ele trabalhou com uma família de agricultores, os Fischer, conforme descreve o livro "Mengele: A História Completa", biografia feita por Gerald Posner e John Ware ("Mengele: The Complete Story", 1986).
O manuscrito é intitulado "Fiat Lux", ou "Faça-se a luz", em uma provável referência ao início do Gênesis, da Bíblia. Na época, conforme a biografia de Posner e Ware, Mengele usava o nome falso de Fritz Hollman e os documentos originais pertencentes a Fritz Ulmann, um físico que foi detido pelo Exército americano com o médico nazista. Os americanos não descobriram que Mengele era um carrasco nazista e o libertaram.
A carta detalha a convivência do médico com a família de agricultores, a quem Mengele se refere como "primitiva" intelectualmente, ou "abaixo da média" -termo recorrente. No texto, o médico diz claramente que se considera intelectualmente superior àqueles com que convive e chega a tratar do tema de forma irônica e arrogante.
Mãos finas demais
No dia-a-dia, como relata na carta, o médico Mengele parecia sempre fazer questão de exibir seus conhecimentos. Ele conta, por exemplo, que discutia sobre evolução com o dono da casa, mas sempre explicava que tudo o que sabia acerca do assunto tinha sido adquirido em leituras que dizia fazer.
Mengele jamais revelou sua identidade à família. Mas, como relata a biografia, os Fischer sempre acharam que as mãos de seu funcionário Fritz eram finas demais para quem se apresentava como um trabalhador rural experiente interessado em conquistar um emprego no momento em que as tropas aliadas varriam a Europa à procura dos nazistas.
O contraponto à arrogância inicial aparece em textos escritos nos anos 70, no Brasil. Encurralado pela falta de dinheiro e pela necessidade de manter em segredo sua verdadeira identidade (o que dificultava a possibilidade de viajar), passou boa parte dos últimos anos de sua vida sozinho e deprimido.
Trechos de um diário escrito pelo médico no início de 1976 revelam que seu autor passava grande parte de seu tempo envolvido com problemas domésticos no sítio em que morava. As declarações ali expressas alternam preocupações causadas por uma bomba d'água estragada ou um vazamento no teto com experiências a serem realizadas e comentários sobre a política alemã da época (anos 70).
Preço do silêncio
Posner e Ware mencionam em seu livro um relato da proprietária do imóvel em que Wolfgang Gerhard, o principal personagem da rede que escondeu o médico nazista no Brasil, diz que Mengele pagou 7.000 (não se sabe em qual moeda) pelos documentos originais do amigo austríaco.
Durante anos, Mengele usou as carteiras profissional, de identidade e de motorista que foram tiradas por Gerhard. Deu-se, apenas, ao cuidadoso trabalho de trocar as fotografias. Para levantar o dinheiro com o qual compraria mais uma identidade falsa, Mengele teria vendido um apartamento em São Paulo - perda preciosa, pois era com a quantia recebida com o aluguel que custeava a própria existência. No diário, Mengele menciona uma difícil decisão a tomar, que poderia ser a venda.
Sozinho e abandonado
Conforme a biografia, amigos do médico confirmavam que ele pagou, pelo menos a uma pessoa, pelo silêncio em relação a sua identidade. Este tema aparece com freqüência no diário e em cartas, onde ele demonstra estar decepcionado com amigos que pensavam que "tudo na vida tem um preço".
Num dos trechos do diário, a que a Folha teve acesso, Mengele se diz sozinho e abandonado. Reclama do dinheiro que precisa dar a uma pessoa que ele considerava amigo. "Como as coisas vão ficar? Agora eu sinto a solidão, ou melhor, o abandono de forma tão dolorosa como nunca".
A insatisfação por não poder viajar, até mesmo por dificuldades financeiras, aparece em pelo menos duas passagens. Em uma delas, o médico fala de uma pessoa que estava dificultando uma viagem planejada de carro ao Rio de Janeiro. Mengele concorda com a negativa, porque não teria dinheiro nem para a gasolina. "Tudo está ficando muito caro", escreve.
O declínio do nazista transparece não só no conteúdo de seus escritos, mas na sua letra, que melhora ou piora em seu diário conforme o estado de espírito. Uma análise sobre os escritos de Mengele ao longo do tempo demonstra que a letra elegante de "Fiat Lux" cedeu lugar, em 1976, a rabiscos muitas vezes incompreensíveis.
Pior que um monstro, um monstro doutor
DA REPORTAGEM LOCAL
Josef Mengele não era apenas um monstro, era um monstro com doutorado. Ele tinha no currículo passagem por algumas das mais importantes universidades alemãs e austríacas. Mengele estudou medicina e antropologia nas universidades de Munique, Viena e Bonn. Fez um doutorado em Munique sobre as diferenças "raciais" na mandíbula inferior.
Estava perfeitamente dentro do espírito que o nazismo incutiu na Alemanha, incluindo sua elite pensante: o de que haveria uma raça "ariana", cujo exemplo perfeito eram os alemães, nascida para governar o mundo, e que outras serviriam de escravas, como os povos da Europa oriental, ou deveriam ser exterminadas, como os judeus e os ciganos. Professores universitários que comungavam dessas teses correram para produzir a "ciência" que as justificaria.
Assim como essas espúrias credenciais acadêmicas, o que Mengele fez durante a guerra também não tinha nenhum valor científico. Era loucura pura, o que facilita a questão ética para os cientistas. Mengele e colegas fizeram experimentos com seres humanos: se tivessem obtido resultados válidos, como um cientista de hoje deveria receber esses dados? Felizmente para a consciência dos pesquisadores, quase nada da "ciência" nazista era aproveitável, ao contrário de sua tecnologia, que produziu tanques, submarinos e foguetes bem melhores que os dos aliados.
Por exemplo, Mengele tentava mudar a cor dos olhos de crianças prisioneiras injetando substâncias químicas. E tinha uma obsessão por estudar gêmeos, matando-os e dissecando-os cuidadosamente.
Além dessa pesquisa "pura", de busca de conhecimento pelo conhecimento, Mengele e colegas tinham também um lado prático: o país estava em guerra e era importante descobrir os limites aos quais um corpo humano poderia ser sujeito. Por exemplo, era comum aviadores e marinheiros caírem no mar gelado; quanto tempo agüentariam antes de um resgate? Haveria como reanimá-los? Para responder a essas questões, prisioneiros no campo de Dachau eram colocados em tanques com água gelada, alguns deliberadamente até a morte. Também eram inoculados em experiências sobre doenças infecciosas ou parasitárias.
Outra linha de pesquisa era a esterilização. Era importante para o nazismo encontrar um método rápido e eficaz de impedir que os "sub-homens" se reproduzissem.
As declarações do médico Franz Blaha, interrogado em Nuremberg, são das mais impressionantes: operações e dissecações em pessoas saudáveis, experimentos com drogas, pressão do ar, amputações. O catálogo de horrores do que se fazia em Dachau é extenso. Não era ciência. Era apenas sadismo. (RICARDO BONALUME NETO)
O darwinismo em mau português
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Entre os 86 documentos manuscritos e datilografados que compõem os arquivos ainda inéditos do médico nazista Josef Mengele apenas um está em língua portuguesa -com pitadas de espanhol. Tudo o mais foi escrito em alemão.
Trata-se de um manuscrito de duas páginas no qual Mengele faz um breve paralelo entre as teorias evolucionistas elaboradas pelo naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) e pelo britânico Charles Darwin (1809-1882).
"Ao primeiro [Lamarck] conduciram sus conhecimentos aa "Theoria de herança das propriedades adquiridas", que não pude suster su lugar contra o Darwinismo. Este explica a evolução como um procedimiento de adaptação aas mudanças do ambiente pela seleção dos indivíduos favoriçados pelas mutações de substancia hereditaria não determinadas. A parte deste algunos otros fatores tem um papel importante p. ex. a isolação e a lei do acaso."
Para Mengele, "a theoria modificada de Darwin se tem que considerar hoje como a valida e não refutada em nenhum puncto" [sic]. Não existe nenhum registro da data em que esse texto foi escrito.
Na biblioteca de 94 livros do médico nazista, há quatro manuais de língua portuguesa -somente um deles em português, uma "Grammatica Expositiva", escrita por Carlos Eduardo Pereira. Os outros três manuais, em alemão, são todos de 1949, ano em que Josef Mengele chegou a Buenos Aires.
Outro livro -dos cinco escritos em português- é um guia turístico. Impresso em 1974, quando o médico já vivia no Brasil, "O Guia do Turista Brasileiro - Argentina e Uruguai ao Nosso Alcance" traz dicas sobre Buenos Aires, Bariloche e Mar del Plata. Nas páginas 25 e 33, há grifos sob referências às datas comemorativas do Dia da Bandeira e da Raça na Argentina.
Uma etiqueta colante fixada na contracapa sugere onde o exemplar poderia ter sido adquirido: "Livraria Kosmos Editora S.A. -Rio - São Paulo - P. Alegre".
Complementam sua coleção de cinco livros em português um exemplar sobre doenças infecto-contagiosas de animais domésticos, um manual de relaxamento produzido pela indústria química Merck e o título "Hitler - Pró e Contra: o julgamento da história". Esse conjunto reflete, também em uma língua para ele estrangeira, os temas que permearam os escritos de Josef Mengele durante sua trajetória de 34 anos em fuga: as teorias que fundamentavam o nazismo.
Argentina abrigou mais de 300 nazistas do 2º escalão - Expoentes do regime se mataram, mas fugitivos se ocultaram na Espanha e na América Latina .
RICARDO BONALUME NETO - DA REPORTAGEM LOCAL
Na longa história de guerras da Europa, os vencidos em geral não tinham muito a temer dos vencedores, depois dos piores momentos das guerras de religião do século 17, caso tivessem se comportado segundo as regras que foram balizando o comportamento dos combatentes -por exemplo, não matar ou escravizar civis ou soldados prisioneiros.
Como a Alemanha nazista (1933-1945) violou todas essas regras e inventou algumas violações novas, seus líderes político-militares tinham poucas opções com o final da Segunda Guerra, em 1945: se rendiam incondicionalmente, como foi exigido pelos aliados, e se expunham à sua justiça; ou se matavam, ou tentavam fugir para locais relativamente amistosos.
Os principais líderes tomaram a opção do suicídio -o líder supremo Adolf Hitler (1889-1945), seu propagandista Joseph Goebbels (1897-1945), seu ministro do interior e organizador do genocídio dos judeus Heinrich Himmler (1900-1945) e o chefe da força aérea, Hermann Goering (1893-1946), que foi capturado, mas escapou da forca ao se matar antes. O secretário pessoal de Adolf Hitler, Martin Bormann (1900-1945), foi morto pelos russos durante a queda de Berlim, mas o mistério sobre sua morte perdurou por décadas.
O mistério tinha razão de ser.
Alguns líderes nazistas foram julgados pelos aliados em Nuremberg e executados, como o general Alfred Jodl (1890-1946), que comandou várias das campanhas militares nazistas. O homem que substituiu Hitler no comando do Terceiro Reich, o almirante Karl Doenitz (1891-1980), artífice da letal guerra de submarinos contra a navegação aliada, foi absolvido.
Mas um terceiro grupo conseguiu escapar de julgamento ou punição. Em geral era gente de escalões menores, mas com grande culpa no cartório, como o pessoal das SS, instituição que surgiu como guarda pessoal dos líderes nazistas e se transformou num Estado dentro do Estado, com forças armadas próprias (as "Waffen-SS").
O mais notório dos fujões foi Adolf Eichmann (1906-1962), oficial das SS diretamente ligado ao genocídio dos judeus: foi ele que introduziu as câmaras de gás como um método mais "eficiente" para fazer a matança dos prisioneiros em escala industrial. Eichmann escapou para a Argentina, onde foi capturado por agentes israelenses, julgado e enforcado em Israel.
Outro notório criminoso foi o médico Josef Mengele (1911-1979), que apesar de não ter cargo elevado na hierarquia nazista, se notabilizou por fazer experimentos com seres humanos no campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Mengele não era o principal oficial médico de Auschwitz, mas era o que rotineiramente esperava a chegada dos trens com prisioneiros para selecionar quem deveria ser morto imediatamente, quem deveria ser enviado para trabalhos forçados e quem poderia servir de cobaia em seus experimentos.
Depois de um tempo escondido no campo na Alemanha, assim como outros nazistas, ele escapou e viajou para para Argentina, aonde chegou em 1949. Ficou ali quase uma década, foi então para o Paraguai e para o Brasil, onde morreu sem ser descoberto em 1979.
Depois de Eichmann e de Mengele, o mais famoso criminoso de guerra na região foi Erich Priebke (1913- ), capitão das SS e envolvido em um massacre de 335 civis italianos em represália pela morte de 33 soldados alemães (a idéia era matar dez civis para cada soldado morto). Vivia confortavelmente em Bariloche, na Argentina, onde era considerado um cidadão modelo até ser identificado em 1994 e extraditado para a Itália, depois de uma demorada pendenga judicial.
Não há dúvida de que os nazistas que vieram para a América Latina (e para outras partes do mundo favoráveis, como a Espanha franquista ou países islâmicos) tiveram alguma ajuda na Europa para conseguir documentos falsos.
Especulou-se que teria mesmo havido uma organização para facilitar a fuga, a Odessa (sigla em alemão de "Organização de ex-membros das SS"), que entrou no imaginário popular com o livro, depois filmado, "O Dossiê Odessa", do escritor britânico Frederick Forsyth.
O "caçador de nazistas" Simon Wiesenthal acredita na existência da Odessa. Mas nunca houve provas claras. A organização da fuga dos nazistas não precisaria necessariamente ter uma organização centralizada, mas poderia ser obra de vários grupos clandestinos.
O pesquisador que mais foi a fundo em tentar revelar a extensão da fuga nazista para a América Latina, o argentino Uki Goñi, revela que várias conexões teriam existido, envolvendo até mesmo gente no Vaticano. Segundo Goñi, pelo menos 300 nazistas teriam conseguido abrigo na Argentina.
A Argentina foi simpatizante do nazismo durante toda a guerra. Só declarou guerra à Alemanha em 1945, pouco antes do fim -caso contrário o país não teria como entrar na nascente Organização das Nações Unidas e sofreria sanções econômicas dos vitoriosos.
Que a Argentina tinha fama de ser um refúgio seguro ficou óbvio quando um comandante de submarino alemão, Heinz Schaeffer, chegou ao país em agosto de 1945 com seu barco, o U-977. Schaeffer preferiu fazer uma épica viagem de 108 dias (66 deles submerso) para se render ali a se entregar aos aliados. Na época logo surgiu o rumor de que Hitler estaria a bordo.
O líder argentino Juan Domingo Perón foi um notório simpatizante do nazismo e se cercou de pessoas da comunidade alemã no país que tinham fortes vínculos com a Alemanha de Hitler. Perón também procurou o auxílio de engenheiros e militares alemães para reforçar seus projetos de desenvolvimento da indústria bélica. Um exemplo foi o coronel das Waffen-SS Otto Skorzeny (1908-1975), um dos mais eficientes soldados de "força especial" da guerra. Entre suas façanhas está a libertação do ditador italiano Benito Mussolini, prisioneiro em local de difícil acesso. Skorzeny foi absolvido de crimes de guerra. Foi morar na Espanha e, além de Perón, também assessorou o egípcio Gamal Abdel Nasser.
Esse também foi o caso de Kurt Tank (1898-1983), engenheiro aeronáutico que projetou o caça Focke-Wulf 190 e criou na Argentina o primeiro avião a jato da América Latina, o Pulqui, baseado em seus últimos projetos da era nazista. Russos e americanos tinham feito o mesmo antes. Os cientistas envolvidos no projeto dos V-2 foram divididos entre os dois lados da cortina de ferro. Os EUA ficaram com o principal, Wernher von Braun (1912-1977), figura-chave em projetar o pouso na Lua.
Uma síntese da eugenia e do anti-semitismo.
NELSON ASCHER - COLUNISTA DA FOLHA
Terminada a Primeira Guerra Mundial ( 1914-18 ), militares desmobilizados criaram, na Alemanha recém-derrotada, grupos de extrema direita que tinham em comum o revanchismo, o nacionalismo radical e o anti-semitismo.
Em 1919, o Exército alemão encarregou Adolf Hitler de espionar um desses grupos, o Partido dos Trabalhadores Alemães. Aderindo à organização, rebatizada de Partido Nazista (Partido Nacional Socialista do Trabalhador Alemão), tornou-se seu líder e, ao chegar ao poder em 1933, iniciou a reconstrução do poder bélico do país e a reorganização da sociedade. A hierarquia das raças e a eugenia estavam entre suas doutrinas centrais.
Os judeus, embora fossem menos de 1% da população alemã, eram considerados seu grande inimigo racial, e os nazistas se empenharam em resolver o "problema" confiscando-lhes os direitos e as propriedades, boicotando seus negócios, banindo-os de várias profissões e demonizando-os através da propaganda. Se o objetivo original era expulsá-los do país, a ocupação da Áustria, da Checoslováquia e a eclosão da Segunda Guerra, iniciada com a conquista da Polônia, onde vivia a maior comunidade judaica do continente (3 milhões), inviabilizaram essa solução. Os judeus foram encerrados em guetos enquanto os nazistas discutiam o que fazer com eles.
Como, com o ataque à União Soviética (1941), mais judeus foram capturados, o Terceiro Reich acionou grupos móveis para exterminá-los. Se bem que centenas de milhares tenham sido executados, o processo era oneroso e demorado. Para levar a cabo a "solução final", a erradicação dos judeus, os nazistas construíram, na Polônia, seis campos de extermínio: Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor e Treblinka.
Cerca de seis milhões de judeus foram mortos entre 1939 e 45, talvez um terço em Auschwitz. Foi lá que Mengele se instalou, em 1943, como um de seus mais altos oficiais. Sua tarefa era separar prisioneiros aptos a trabalhar como escravos dos que seriam mandados às câmaras de gás. Médico, filho de um fabricante de máquinas agrícolas, seu "hobby" era realizar experiências com cobaias humanas.
O Holocausto nascera tanto do anti-semitismo quanto da eugenia que, popularíssima então entre os médicos (uma das categorias mais nazificadas), dera origem, na Alemanha dos anos 30, a um "programa de eutanásia" que consistia na eliminação de gente física ou mentalmente incapacitada. As atividades de Mengele foram a síntese exemplar disso tudo.
O "anjo da morte" deixou Auschwitz em janeiro de 45 e, não obstante fugir para nossos trópicos, manteve contatos com sua família, cuja indústria, segundo testemunho do escritor H.M. Enzensberger, continuava, nos anos 90, a existir sob o mesmo nome.
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Para quem tentou entrar naquele link das 5 mi de fotos e não conseguiu... o link ta errado! hehehe ai vai o link certo (so que me parece que as fotos são pagas! )
http://www.evidenceincamera.co.uk/
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Hitler poderia ter sido evitado, afirma historiador - Obra de Richard J. Evans aborda a arrancada nazista na Alemanha
Jacinto Antón em Barcelona - 11/06/2005
Quando todo mundo parece olhar para o final do nazismo, Richard J. Evans explica o princípio. "A Chegada do 3º Reich" (ed. Península) é o título da primeira parcela da monumental história dos nazistas em que o historiador britânico está mergulhado há anos e que constará de três volumes (o último previsto para 2008).
A obra publicada começa, de maneira incomum, no século 19, com Bismarck como um "personagem-chave" para o posterior aparecimento do 3º Reich, e acaba com a ascensão dos nazistas ao poder em 1933.
"É verdade que pouca gente pensa hoje no início e em por que os nazistas triunfaram", admite Evans, que visitou Barcelona, ao se mencionar o filme "A Queda". "Mas não se pode entender o final sem conhecer o princípio", conclui com um breve sorriso.
"Entender como os nazistas chegaram ao poder é ainda mais importante hoje, pois as testemunhas estão desaparecendo e as lembranças, sendo esquecidas", afirma. "É edificante compreender por que não foi possível detê-los."
Evans (nascido em Londres, em 1947) é um homem contido até a antipatia. Ele salienta que não é missão do historiador emitir julgamentos morais. Seu livro, entretanto, reflete um olhar emotivo sobre a grande tragédia européia.
Estava tudo no início, a supressão das liberdades, a guerra de agressão, o genocídio, ou foi uma evolução do sistema nazista?
O historiador pensa durante alguns segundos antes de responder.
"A importância da violência física como argumento existia desde o início, e foi essencial para os nazistas na tomada do poder. Isso não foi enfatizado suficientemente. Hitler foi muito claro desde seus primeiros discursos também na violência contra os judeus. O potencial estava ali. Mas foi somente na Segunda Guerra Mundial que as coisas se precipitaram. O anti-semitismo foi levado a suas últimas conseqüências só com a contenda, quando a conquista da Europa pôs os judeus de todo o continente sob o poder nazista."
Sobre a questão de se Hitler dirigiu pessoalmente o Holocausto ou delegou a outros líderes do partido, o historiador --que contribuiu com seu testemunho para desprestigiar definitivamente o revisionista David Irving-- salienta:
"Nada se fazia sem suas ordens, nada era realizado sem sua aprovação explícita. Temos a prova de que, quando lhe interessou por razões políticas, Hitler foi perfeitamente capaz de desacelerar ou conter a campanha contra os judeus".
"A Chegada do 3º Reich", que recorre a depoimentos diretos como os diários de Victor Klemperer ou as memórias de Rudolph Höss, o comandante de Auschwitz --um aplicado nazista da primeira geração--, pretende ser um ensaio para um público amplo, e um de seus valores é que Evans desmonta algumas das crenças generalizadas que cercam o nazismo.
"Um dos mitos é que os alemães sempre foram anti-semitas e antidemocráticos, e que o 3º Reich e Hitler eram historicamente inevitáveis. Isso não é verdade. Foi necessária uma série de acontecimentos muito fortuitos para que os nazistas chegassem ao poder. Poderia ser diferente."
Outro mito, segundo ele, é o de que Hitler foi eleito democraticamente pelos alemães como ditador. "Apesar de seus êxitos eleitorais, Hitler nunca foi eleito legalmente chanceler do Reich, nem os alemães votaram nele para que criasse um Estado de partido único. A tomada do poder pelos nazistas em 1933 foi de natureza ilegal, infringindo as leis da Constituição de Weimar e levando a cabo, na realidade, de janeiro a julho de 1933, uma derrubada revolucionária do sistema político existente."
O terceiro mito, segundo o historiador, é o de que Hitler era "uma espécie de gênio demoníaco" e que tudo se deveu a ele. "O partido era anterior a Hitler, e por outro lado Hitler já era líder quando em 1928 conseguiram só 3% dos votos. É incorreto ver Hitler como um fenômeno determinista e como uma figura incontível."
Bom amigo de Ian Kershaw, Evans concorda com o autor da grande biografia de Hitler em que este, em algumas áreas de sua política, "reagia mais que atuava" e explorava as situações que surgiam. Para Evans, a grande habilidade de Hitler foi sua retórica, sua capacidade de falar, e nela se baseou sua liderança do partido.
Surpreende a afirmação de Evans de que Bismarck foi um personagem chave para o surgimento do 3º Reich.
"Há somente 50 anos entre a fundação do Império Alemão por Bismarck em 1871 e a ascensão dos nazistas ao poder. Bismarck demonstrou uma grande brutalidade e violência, e seu desprezo pela democracia. O chanceler de ferro também foi um jogador temerário e arriscou muito em suas manobras internacionais. A imagem do caudilho ditatorial na Alemanha tinha muito da lembrança de Bismarck."
O Partido Nazista, diz o historiador, usou a esperança de muitos alemães de que o 3º Reich seria uma restauração imperial bismarckiana de uma forma purificada.
"Em parte o nazismo foi uma mistura de aspectos novos e velhos, de sonhos imperiais e revolução, mas o partido foi essencialmente revolucionário e se decantou nesse sentido. Não de um ponto de vista econômico ou social, mas cultural."
Jacinto Antón em Barcelona - 11/06/2005
Quando todo mundo parece olhar para o final do nazismo, Richard J. Evans explica o princípio. "A Chegada do 3º Reich" (ed. Península) é o título da primeira parcela da monumental história dos nazistas em que o historiador britânico está mergulhado há anos e que constará de três volumes (o último previsto para 2008).
A obra publicada começa, de maneira incomum, no século 19, com Bismarck como um "personagem-chave" para o posterior aparecimento do 3º Reich, e acaba com a ascensão dos nazistas ao poder em 1933.
"É verdade que pouca gente pensa hoje no início e em por que os nazistas triunfaram", admite Evans, que visitou Barcelona, ao se mencionar o filme "A Queda". "Mas não se pode entender o final sem conhecer o princípio", conclui com um breve sorriso.
"Entender como os nazistas chegaram ao poder é ainda mais importante hoje, pois as testemunhas estão desaparecendo e as lembranças, sendo esquecidas", afirma. "É edificante compreender por que não foi possível detê-los."
Evans (nascido em Londres, em 1947) é um homem contido até a antipatia. Ele salienta que não é missão do historiador emitir julgamentos morais. Seu livro, entretanto, reflete um olhar emotivo sobre a grande tragédia européia.
Estava tudo no início, a supressão das liberdades, a guerra de agressão, o genocídio, ou foi uma evolução do sistema nazista?
O historiador pensa durante alguns segundos antes de responder.
"A importância da violência física como argumento existia desde o início, e foi essencial para os nazistas na tomada do poder. Isso não foi enfatizado suficientemente. Hitler foi muito claro desde seus primeiros discursos também na violência contra os judeus. O potencial estava ali. Mas foi somente na Segunda Guerra Mundial que as coisas se precipitaram. O anti-semitismo foi levado a suas últimas conseqüências só com a contenda, quando a conquista da Europa pôs os judeus de todo o continente sob o poder nazista."
Sobre a questão de se Hitler dirigiu pessoalmente o Holocausto ou delegou a outros líderes do partido, o historiador --que contribuiu com seu testemunho para desprestigiar definitivamente o revisionista David Irving-- salienta:
"Nada se fazia sem suas ordens, nada era realizado sem sua aprovação explícita. Temos a prova de que, quando lhe interessou por razões políticas, Hitler foi perfeitamente capaz de desacelerar ou conter a campanha contra os judeus".
"A Chegada do 3º Reich", que recorre a depoimentos diretos como os diários de Victor Klemperer ou as memórias de Rudolph Höss, o comandante de Auschwitz --um aplicado nazista da primeira geração--, pretende ser um ensaio para um público amplo, e um de seus valores é que Evans desmonta algumas das crenças generalizadas que cercam o nazismo.
"Um dos mitos é que os alemães sempre foram anti-semitas e antidemocráticos, e que o 3º Reich e Hitler eram historicamente inevitáveis. Isso não é verdade. Foi necessária uma série de acontecimentos muito fortuitos para que os nazistas chegassem ao poder. Poderia ser diferente."
Outro mito, segundo ele, é o de que Hitler foi eleito democraticamente pelos alemães como ditador. "Apesar de seus êxitos eleitorais, Hitler nunca foi eleito legalmente chanceler do Reich, nem os alemães votaram nele para que criasse um Estado de partido único. A tomada do poder pelos nazistas em 1933 foi de natureza ilegal, infringindo as leis da Constituição de Weimar e levando a cabo, na realidade, de janeiro a julho de 1933, uma derrubada revolucionária do sistema político existente."
O terceiro mito, segundo o historiador, é o de que Hitler era "uma espécie de gênio demoníaco" e que tudo se deveu a ele. "O partido era anterior a Hitler, e por outro lado Hitler já era líder quando em 1928 conseguiram só 3% dos votos. É incorreto ver Hitler como um fenômeno determinista e como uma figura incontível."
Bom amigo de Ian Kershaw, Evans concorda com o autor da grande biografia de Hitler em que este, em algumas áreas de sua política, "reagia mais que atuava" e explorava as situações que surgiam. Para Evans, a grande habilidade de Hitler foi sua retórica, sua capacidade de falar, e nela se baseou sua liderança do partido.
Surpreende a afirmação de Evans de que Bismarck foi um personagem chave para o surgimento do 3º Reich.
"Há somente 50 anos entre a fundação do Império Alemão por Bismarck em 1871 e a ascensão dos nazistas ao poder. Bismarck demonstrou uma grande brutalidade e violência, e seu desprezo pela democracia. O chanceler de ferro também foi um jogador temerário e arriscou muito em suas manobras internacionais. A imagem do caudilho ditatorial na Alemanha tinha muito da lembrança de Bismarck."
O Partido Nazista, diz o historiador, usou a esperança de muitos alemães de que o 3º Reich seria uma restauração imperial bismarckiana de uma forma purificada.
"Em parte o nazismo foi uma mistura de aspectos novos e velhos, de sonhos imperiais e revolução, mas o partido foi essencialmente revolucionário e se decantou nesse sentido. Não de um ponto de vista econômico ou social, mas cultural."
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NAZISTAS NO DIVÃ - Depoimentos de nazistas a psiquiatra do Exército americano, em meio ao julgamento de Nuremberg, expõem as entranhas da Alemanha de Hitler e mostram a perturbadora natureza humana dos réus.
Folha de São Paulo, 21 de agosto de 2005 - MARCOS GUTERMAN, Editor-adjunto de mundo
Mordam-se, historiadores. Coube a um psiquiatra o privilégio de ter conversado com o objeto do desejo de dez em dez pesquisadores da Segunda Guerra Mundial: os líderes nazistas.
Melhor ainda: Leon Goldensohn, o psiquiatra em questão, entrevistou esses líderes em seu momento de fraqueza, em 1946, durante o julgamento de Nuremberg. Isto é: derrotados na guerra e diante da perspectiva de enfrentarem a pena de morte por enforcamento, as autoridades nazistas transformadas em réus estavam fragilizadas o bastante para falarem abertamente sobre suas vidas, seus colegas de governo e as atrocidades cometidas pelo Terceiro Reich.
O resultado disso foi anotado em cadernos que estavam em poder da família de Goldensohn e se tornaram públicos no livro "As Entrevistas de Nuremberg", lançado na semana passada no Brasil pela Companhia das Letras.
Goldensohn, que integrava o Exército americano, não era o único especialista a trabalhar em Nuremberg com a função de zelar pela manutenção da saúde mental dos réus. Tampouco foi o único a ter seus registros transformados em livro. Mas ele era o mais bem-visto pelos réus, e suas anotações são as mais detalhadas de todas, o que torna seu trabalho especialmente significativo.
Embora sua preocupação fosse claramente médica, Goldensohn produziu um material que preenche um importante vácuo historiográfico. As declarações dos líderes nazistas disponíveis até agora geralmente ou eram registros de seus discursos quando no poder ou haviam sido tomadas em depoimentos a tribunais como o de Nuremberg, sob orientação de advogados. Os depoimentos que Goldensohn obteve aproximam-se de confissões, e isso muda tudo.
Disfarces morais
A maioria dos entrevistados repete, quase como um mantra, que não sabia das atrocidades do regime que integrava, embora participasse do altíssimo escalão - caso de Hermann Goering, o número dois de Hitler. Eles culpam Hitler, Heinrich Himmler (chefe da SS, tropa de elite nazista) e Joseph Goebbels (ministro da Propaganda), todos mortos quando o tribunal foi estabelecido. É uma mentira óbvia, contada não só pelos criminosos notórios, como Goering, mas também por aqueles que eram vistos como "bons nazistas", como Albert Speer, o arquiteto e ministro de armamentos de Hitler.
No entanto, diante da inquirição de Goldensohn, freqüentemente aguda, os entrevistados falam muito mais do que estavam dispostos a admitir no tribunal, abrindo mão dos disfarces legais e morais que o momento exigia. A soma de todos os depoimentos é, assim, um retrato das entranhas do nazismo, de sua razão de ser e de sua trajetória.
Como psiquiatra, Goldensohn conversa com seus "pacientes" acerca de obsessões, vida pregressa e relações sociais. Hans Frank, administrador da Polônia durante a guerra, fala das amantes; Goering comenta sua obsessão por obras de arte e luxo; Joachim von Ribbentrop, o chanceler de Hitler, revela que ainda estava deprimido por causa da morte do pai. A partir desse perfil, os entrevistados colocam-se não como monstros, mas como seres humanos, e seus atos inscrevem-se na história, e não na demonologia.
É exatamente isso que torna o trabalho de Goldensohn perturbador, conforme diz Robert Gellately, o organizador do livro, na entrevista abaixo.
Mesmo derrotados, os réus reafirmam com naturalidade suas disposições mais profundas, como o anti-semitismo, justificam o nazismo como um esforço legítimo para conter judeus e comunistas e fazem análises catastróficas sobre o mundo que estava se erguendo sobre os escombros do Império de Mil Anos.
NUREMBERG FOI JUSTO COM NAZISTAS, DIZ HISTORIADOR - Os Aliados estavam tentados a executar os réus sem nenhum tipo de apelação. Deve-se ao julgamento o fato de isso não ter acontecido
do Editor-adjunto de Mundo
Se dependesse de Winston Churchill, os principais líderes nazistas teriam sido todos fuzilados, sem muita discussão, no minuto seguinte à rendição alemã na Segunda Guerra (1939-45). Mas, como não cabia ao premie britânico decidir sozinho a sorte dos derrotados, vingou a idéia do chanceler soviético, Vyacheslav Molotov, de instalar um tribunal internacional -logo Molotov, que integrava um governo cujo ditador, Josef Stálin, chegou a sugerir a execução sumária de 50 mil nazistas (e Franklin Roosevelt, presidente americano, respondeu que 49 mil bastavam).
Como se nota, a situação dos nazistas ao final da guerra não era nada boa, para onde quer que se olhasse. Assim, na opinião do historiador Robert Gellately, organizador do livro "As Entrevistas de Nuremberg", o julgamento dos chefes do Terceiro Reich, a despeito das imensas pressões decorrentes das atrocidades cometidas na guerra, foi o mais justo possível naquelas circunstâncias.
"Os Aliados estavam tentados a executar os réus sem nenhum tipo de apelação. Deve-se ao julgamento o fato de isso não ter acontecido", disse Gellately à Folha.
Na entrevista, ele critica a demonização dos nazistas ("não foram "demônios" que cometeram esses crimes indizíveis, mas seres humanos") e diz que é justamente sua humanidade que torna seus crimes mais complexos. Leia a seguir a entrevista de Gellately, que é especialista em Holocausto e história alemã e russa na Universidade Estadual da Flórida. (MG)
Folha - Em depoimento a Leon Goldensohn, Hans Frank, ex-administrador nazista da Polônia, diz que mesmo Hitler, ou particularmente ele, merecia ser ouvido no tribunal. O que Hitler teria dito em sua defesa se tivesse a chance?
Robert Gellately - Acho que certamente Hitler, como um anti-semita de corpo e alma, teria culpado os judeus por tudo, como ele fez durante o Terceiro Reich. Ele também culpava os judeus pelo bolchevismo, pela Revolução Russa e pelo comunismo no mundo. Ele era um crente fervoroso da tese da "conspiração judaica internacional". Hitler talvez tivesse tentado ressaltar os crimes do comunismo e dizer que buscou salvar a Europa e o mundo do comunismo e dos judeus. Ele jamais teria aprendido algo com seus erros nem teria visto equívocos em sua "filosofia".
Folha - Na introdução do livro, o sr. mostra que uma das principais preocupações dos Aliados era que o julgamento de Nuremberg fosse o mais confiável possível. Nuremberg foi um julgamento justo?
Gellately - Acho que o julgamento foi tão justo quanto qualquer um poderia esperar naquela época. Nem todos os acusados foram considerados culpados e nem todos os considerados culpados foram sentenciados à morte. Não foi um "julgamento-show". Um "julgamento-show" era o que acontecia na URSS dos anos 30. Os acusados eram torturados e iam para a corte para implorar por perdão, mas a expectativa geral era que eles seriam executados -e eles eram. Em Nuremberg, ninguém foi torturado e, uma vez que americanos e britânicos concordaram em realizar os julgamentos, eles também disseram que seria possível a alguns dos réus serem considerados inocentes -coisa inimaginável para os juízes stalinistas.
Sempre é possível aperfeiçoar um julgamento, e o de Nuremberg não é exceção. Dados o clima emocional da época e o fato de que foram descobertos os assassinatos em massa e todas as atrocidades sem precedentes que foram cometidas, acho que temos de concluir que o julgamento foi tão bom quanto possível naquelas circunstâncias. Os Aliados estavam tentados a executar os réus sem nenhum tipo de apelação. Deve-se ao julgamento o fato de isso não ter acontecido.
Folha - No livro, Hermann Goering, o número dois de Hitler, se irrita com as perguntas que Goldensohn lhe faz sobre sua infância. Ele responde que não entende qual a importância que sua infância pode ter tido em sua vida adulta. O sr. acha que o comportamento dos nazistas, ao menos dos líderes, pode ser explicado, entre outras coisas, por uma infância problemática?
Gellately - O que é interessante é que não há uma explicação "fácil" para o que os nazistas fizeram. Um dos acusados [Rudolph Hess, o número três na hierarquia nazista] não tinha condições de ser julgado, mas o resto era normal e são. Nem os principais acusados nem aqueles que testemunharam no tribunal parecem ter tido os "óbvios" problemas de infância ou com os pais. Muitos eram bem-educados e inteligentes. Nenhum, dos que eu saiba, sofreu maus-tratos ou foi espancado pelos pais. Quando os ouvimos contando suas próprias histórias, é perturbador, exatamente porque não há respostas "óbvias".
Folha - Falando do lado psicológico do Terceiro Reich, alguns críticos reagiram raivosamente contra a "humanização" de Hitler no polêmico filme alemão "A Queda!". O sr. concorda com eles? Hitler deve ser considerado um "monstro"?
Gellately - Eu sou contra a demonização, porque demônios não são humanos. Não foram "demônios" que cometeram esses crimes indizíveis, mas seres humanos. Entendo que algumas pessoas pensem de modo diferente e desejem relegar todos os nazistas a uma outra esfera, além da humana, uma esfera de caráter teológico. Eles parecem certos de que precisamos nos manter chocados e envoltos em mistério sobre os desígnios dos nazistas. Infelizmente, o choque passa muito rapidamente, como podemos ver com os neonazistas ao redor do mundo. Eu acho que é melhor buscar explicações históricas e humanas para o que aconteceu na Alemanha nazista. Isso é o que eu estou tentando fazer. Desmistificação é uma meta educativa importante, na minha modesta opinião.
Folha - Goering, no livro, defende as decisões militares de Hitler, a despeito dos críticos, dentro da Alemanha, que o culparam pela derrota na URSS. Ele estava certo?
Gellately - Goering podia estar correto, mas certamente as estratégias políticas e militares de Hitler eram ativamente apoiadas por muitos, inclusive os velhos conservadores do estafe militar alemão. Eles pressionaram para que o Exército fosse para Moscou, no momento em que a oposição deles a esse plano certamente teria tido um impacto nas decisões. Algumas das alternativas que os líderes militares alemães sugeriram teriam sido tão ruins ou até piores - por exemplo, avançar em linha reta para Moscou e ignorar Leningrado [no norte], assim como o sul da Rússia. Isso teria deixado as forças alemãs ainda mais expostas ao contra-ataque.
O objetivo geral de tomar a URSS como forma de tirar o Reino Unido da guerra, ao liquidar seu último aliado no continente, foi idéia de Hitler e acabou falhando pela simples razão de que à Alemanha faltaram os recursos necessários para realizar a "blitzkriege" [guerra-relâmpago] contra a vasta URSS.
Folha - Goering diz também que não era anti-semita quando se tornou nazista e que estava mais interessado no que o partido de Hitler estava oferecendo em termos políticos. A despeito do fato de que Goering provavelmente estava mentindo, qual foi a importância do anti-semitismo na ascensão de Hitler? A Alemanha era um país essencialmente anti-semita, como diz Daniel Jonah Goldhagen, historiador de Harvard, em "Os Carrascos Voluntários de Hitler"?
Gellately - O anti-semitismo era o alfa e o ômega do nacional-socialismo. Ponto. Historiadores que desconsideram isso não estão fazendo sua pesquisa como deviam. Por outro lado, nem todos os alemães compartilhavam do anti-semitismo de Hitler, razão pela qual Goldhagen está errado. Isso explica também por que os nazistas agiram gradativamente contra os judeus quando chegaram ao poder.
Folha - Muitas autoridades nazistas dizem no livro que um ministro não sabia o que os outros estavam fazendo. O sr. acredita nisso? É realmente possível que um Estado gigantesco como o Terceiro Reich pudesse ser governado dessa maneira? Não soa como uma má desculpa, como a famosa "estávamos apenas obedecendo a ordens"?
Gellately - Em qualquer sistema político, a mão direita geralmente não sabe o que a esquerda está fazendo. Neste caso específico, os acusados sabiam muito mais do que declararam saber. Isso serve especialmente para Albert Speer [arquiteto e depois ministro de armamentos de Hitler], o homem que admitiu, seletivamente, ser "culpado", mas conveniente e desonestamente afirmou que não sabia sobre o que estava acontecendo com os judeus.
Hitler criou o que eu chamo, em meu livro "Backing Hitler: Consent and Coercion in Nazi Germany" [apoiando Hitler: consentimento e coerção na Alemanha nazista], de uma ditadura consensual. Ele deu enorme liberdade para que seus homens agissem. Hitler queria assessores que fossem tão radicais quanto ele, mas também queria que eles tomassem 95 em cada 100 decisões. Assim, o sistema nazista era ineficiente, mas era também dinâmico e muito difícil de ser derrotado.
Folha de São Paulo, 21 de agosto de 2005 - MARCOS GUTERMAN, Editor-adjunto de mundo
Mordam-se, historiadores. Coube a um psiquiatra o privilégio de ter conversado com o objeto do desejo de dez em dez pesquisadores da Segunda Guerra Mundial: os líderes nazistas.
Melhor ainda: Leon Goldensohn, o psiquiatra em questão, entrevistou esses líderes em seu momento de fraqueza, em 1946, durante o julgamento de Nuremberg. Isto é: derrotados na guerra e diante da perspectiva de enfrentarem a pena de morte por enforcamento, as autoridades nazistas transformadas em réus estavam fragilizadas o bastante para falarem abertamente sobre suas vidas, seus colegas de governo e as atrocidades cometidas pelo Terceiro Reich.
O resultado disso foi anotado em cadernos que estavam em poder da família de Goldensohn e se tornaram públicos no livro "As Entrevistas de Nuremberg", lançado na semana passada no Brasil pela Companhia das Letras.
Goldensohn, que integrava o Exército americano, não era o único especialista a trabalhar em Nuremberg com a função de zelar pela manutenção da saúde mental dos réus. Tampouco foi o único a ter seus registros transformados em livro. Mas ele era o mais bem-visto pelos réus, e suas anotações são as mais detalhadas de todas, o que torna seu trabalho especialmente significativo.
Embora sua preocupação fosse claramente médica, Goldensohn produziu um material que preenche um importante vácuo historiográfico. As declarações dos líderes nazistas disponíveis até agora geralmente ou eram registros de seus discursos quando no poder ou haviam sido tomadas em depoimentos a tribunais como o de Nuremberg, sob orientação de advogados. Os depoimentos que Goldensohn obteve aproximam-se de confissões, e isso muda tudo.
Disfarces morais
A maioria dos entrevistados repete, quase como um mantra, que não sabia das atrocidades do regime que integrava, embora participasse do altíssimo escalão - caso de Hermann Goering, o número dois de Hitler. Eles culpam Hitler, Heinrich Himmler (chefe da SS, tropa de elite nazista) e Joseph Goebbels (ministro da Propaganda), todos mortos quando o tribunal foi estabelecido. É uma mentira óbvia, contada não só pelos criminosos notórios, como Goering, mas também por aqueles que eram vistos como "bons nazistas", como Albert Speer, o arquiteto e ministro de armamentos de Hitler.
No entanto, diante da inquirição de Goldensohn, freqüentemente aguda, os entrevistados falam muito mais do que estavam dispostos a admitir no tribunal, abrindo mão dos disfarces legais e morais que o momento exigia. A soma de todos os depoimentos é, assim, um retrato das entranhas do nazismo, de sua razão de ser e de sua trajetória.
Como psiquiatra, Goldensohn conversa com seus "pacientes" acerca de obsessões, vida pregressa e relações sociais. Hans Frank, administrador da Polônia durante a guerra, fala das amantes; Goering comenta sua obsessão por obras de arte e luxo; Joachim von Ribbentrop, o chanceler de Hitler, revela que ainda estava deprimido por causa da morte do pai. A partir desse perfil, os entrevistados colocam-se não como monstros, mas como seres humanos, e seus atos inscrevem-se na história, e não na demonologia.
É exatamente isso que torna o trabalho de Goldensohn perturbador, conforme diz Robert Gellately, o organizador do livro, na entrevista abaixo.
Mesmo derrotados, os réus reafirmam com naturalidade suas disposições mais profundas, como o anti-semitismo, justificam o nazismo como um esforço legítimo para conter judeus e comunistas e fazem análises catastróficas sobre o mundo que estava se erguendo sobre os escombros do Império de Mil Anos.
NUREMBERG FOI JUSTO COM NAZISTAS, DIZ HISTORIADOR - Os Aliados estavam tentados a executar os réus sem nenhum tipo de apelação. Deve-se ao julgamento o fato de isso não ter acontecido
do Editor-adjunto de Mundo
Se dependesse de Winston Churchill, os principais líderes nazistas teriam sido todos fuzilados, sem muita discussão, no minuto seguinte à rendição alemã na Segunda Guerra (1939-45). Mas, como não cabia ao premie britânico decidir sozinho a sorte dos derrotados, vingou a idéia do chanceler soviético, Vyacheslav Molotov, de instalar um tribunal internacional -logo Molotov, que integrava um governo cujo ditador, Josef Stálin, chegou a sugerir a execução sumária de 50 mil nazistas (e Franklin Roosevelt, presidente americano, respondeu que 49 mil bastavam).
Como se nota, a situação dos nazistas ao final da guerra não era nada boa, para onde quer que se olhasse. Assim, na opinião do historiador Robert Gellately, organizador do livro "As Entrevistas de Nuremberg", o julgamento dos chefes do Terceiro Reich, a despeito das imensas pressões decorrentes das atrocidades cometidas na guerra, foi o mais justo possível naquelas circunstâncias.
"Os Aliados estavam tentados a executar os réus sem nenhum tipo de apelação. Deve-se ao julgamento o fato de isso não ter acontecido", disse Gellately à Folha.
Na entrevista, ele critica a demonização dos nazistas ("não foram "demônios" que cometeram esses crimes indizíveis, mas seres humanos") e diz que é justamente sua humanidade que torna seus crimes mais complexos. Leia a seguir a entrevista de Gellately, que é especialista em Holocausto e história alemã e russa na Universidade Estadual da Flórida. (MG)
Folha - Em depoimento a Leon Goldensohn, Hans Frank, ex-administrador nazista da Polônia, diz que mesmo Hitler, ou particularmente ele, merecia ser ouvido no tribunal. O que Hitler teria dito em sua defesa se tivesse a chance?
Robert Gellately - Acho que certamente Hitler, como um anti-semita de corpo e alma, teria culpado os judeus por tudo, como ele fez durante o Terceiro Reich. Ele também culpava os judeus pelo bolchevismo, pela Revolução Russa e pelo comunismo no mundo. Ele era um crente fervoroso da tese da "conspiração judaica internacional". Hitler talvez tivesse tentado ressaltar os crimes do comunismo e dizer que buscou salvar a Europa e o mundo do comunismo e dos judeus. Ele jamais teria aprendido algo com seus erros nem teria visto equívocos em sua "filosofia".
Folha - Na introdução do livro, o sr. mostra que uma das principais preocupações dos Aliados era que o julgamento de Nuremberg fosse o mais confiável possível. Nuremberg foi um julgamento justo?
Gellately - Acho que o julgamento foi tão justo quanto qualquer um poderia esperar naquela época. Nem todos os acusados foram considerados culpados e nem todos os considerados culpados foram sentenciados à morte. Não foi um "julgamento-show". Um "julgamento-show" era o que acontecia na URSS dos anos 30. Os acusados eram torturados e iam para a corte para implorar por perdão, mas a expectativa geral era que eles seriam executados -e eles eram. Em Nuremberg, ninguém foi torturado e, uma vez que americanos e britânicos concordaram em realizar os julgamentos, eles também disseram que seria possível a alguns dos réus serem considerados inocentes -coisa inimaginável para os juízes stalinistas.
Sempre é possível aperfeiçoar um julgamento, e o de Nuremberg não é exceção. Dados o clima emocional da época e o fato de que foram descobertos os assassinatos em massa e todas as atrocidades sem precedentes que foram cometidas, acho que temos de concluir que o julgamento foi tão bom quanto possível naquelas circunstâncias. Os Aliados estavam tentados a executar os réus sem nenhum tipo de apelação. Deve-se ao julgamento o fato de isso não ter acontecido.
Folha - No livro, Hermann Goering, o número dois de Hitler, se irrita com as perguntas que Goldensohn lhe faz sobre sua infância. Ele responde que não entende qual a importância que sua infância pode ter tido em sua vida adulta. O sr. acha que o comportamento dos nazistas, ao menos dos líderes, pode ser explicado, entre outras coisas, por uma infância problemática?
Gellately - O que é interessante é que não há uma explicação "fácil" para o que os nazistas fizeram. Um dos acusados [Rudolph Hess, o número três na hierarquia nazista] não tinha condições de ser julgado, mas o resto era normal e são. Nem os principais acusados nem aqueles que testemunharam no tribunal parecem ter tido os "óbvios" problemas de infância ou com os pais. Muitos eram bem-educados e inteligentes. Nenhum, dos que eu saiba, sofreu maus-tratos ou foi espancado pelos pais. Quando os ouvimos contando suas próprias histórias, é perturbador, exatamente porque não há respostas "óbvias".
Folha - Falando do lado psicológico do Terceiro Reich, alguns críticos reagiram raivosamente contra a "humanização" de Hitler no polêmico filme alemão "A Queda!". O sr. concorda com eles? Hitler deve ser considerado um "monstro"?
Gellately - Eu sou contra a demonização, porque demônios não são humanos. Não foram "demônios" que cometeram esses crimes indizíveis, mas seres humanos. Entendo que algumas pessoas pensem de modo diferente e desejem relegar todos os nazistas a uma outra esfera, além da humana, uma esfera de caráter teológico. Eles parecem certos de que precisamos nos manter chocados e envoltos em mistério sobre os desígnios dos nazistas. Infelizmente, o choque passa muito rapidamente, como podemos ver com os neonazistas ao redor do mundo. Eu acho que é melhor buscar explicações históricas e humanas para o que aconteceu na Alemanha nazista. Isso é o que eu estou tentando fazer. Desmistificação é uma meta educativa importante, na minha modesta opinião.
Folha - Goering, no livro, defende as decisões militares de Hitler, a despeito dos críticos, dentro da Alemanha, que o culparam pela derrota na URSS. Ele estava certo?
Gellately - Goering podia estar correto, mas certamente as estratégias políticas e militares de Hitler eram ativamente apoiadas por muitos, inclusive os velhos conservadores do estafe militar alemão. Eles pressionaram para que o Exército fosse para Moscou, no momento em que a oposição deles a esse plano certamente teria tido um impacto nas decisões. Algumas das alternativas que os líderes militares alemães sugeriram teriam sido tão ruins ou até piores - por exemplo, avançar em linha reta para Moscou e ignorar Leningrado [no norte], assim como o sul da Rússia. Isso teria deixado as forças alemãs ainda mais expostas ao contra-ataque.
O objetivo geral de tomar a URSS como forma de tirar o Reino Unido da guerra, ao liquidar seu último aliado no continente, foi idéia de Hitler e acabou falhando pela simples razão de que à Alemanha faltaram os recursos necessários para realizar a "blitzkriege" [guerra-relâmpago] contra a vasta URSS.
Folha - Goering diz também que não era anti-semita quando se tornou nazista e que estava mais interessado no que o partido de Hitler estava oferecendo em termos políticos. A despeito do fato de que Goering provavelmente estava mentindo, qual foi a importância do anti-semitismo na ascensão de Hitler? A Alemanha era um país essencialmente anti-semita, como diz Daniel Jonah Goldhagen, historiador de Harvard, em "Os Carrascos Voluntários de Hitler"?
Gellately - O anti-semitismo era o alfa e o ômega do nacional-socialismo. Ponto. Historiadores que desconsideram isso não estão fazendo sua pesquisa como deviam. Por outro lado, nem todos os alemães compartilhavam do anti-semitismo de Hitler, razão pela qual Goldhagen está errado. Isso explica também por que os nazistas agiram gradativamente contra os judeus quando chegaram ao poder.
Folha - Muitas autoridades nazistas dizem no livro que um ministro não sabia o que os outros estavam fazendo. O sr. acredita nisso? É realmente possível que um Estado gigantesco como o Terceiro Reich pudesse ser governado dessa maneira? Não soa como uma má desculpa, como a famosa "estávamos apenas obedecendo a ordens"?
Gellately - Em qualquer sistema político, a mão direita geralmente não sabe o que a esquerda está fazendo. Neste caso específico, os acusados sabiam muito mais do que declararam saber. Isso serve especialmente para Albert Speer [arquiteto e depois ministro de armamentos de Hitler], o homem que admitiu, seletivamente, ser "culpado", mas conveniente e desonestamente afirmou que não sabia sobre o que estava acontecendo com os judeus.
Hitler criou o que eu chamo, em meu livro "Backing Hitler: Consent and Coercion in Nazi Germany" [apoiando Hitler: consentimento e coerção na Alemanha nazista], de uma ditadura consensual. Ele deu enorme liberdade para que seus homens agissem. Hitler queria assessores que fossem tão radicais quanto ele, mas também queria que eles tomassem 95 em cada 100 decisões. Assim, o sistema nazista era ineficiente, mas era também dinâmico e muito difícil de ser derrotado.
- Einsamkeit
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Pantera, nao pode se negar que nao existiu, logicamente existiu, mais leia o livro do Finkelstein, que é judeu e filho de internos de campos para ver o outro lado, professor doutorado ainda
o livro do cara é espetacular
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Somos memórias de lobos que rasgam a pele
Lobos que foram homens e o tornarão a ser
ou talvez memórias de homens.
que insistem em não rasgar a pele
Homens que procuram ser lobos
mas que jamais o tornarão a ser...
Moonspell - Full Moon Madness
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- Clermont
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Caro Clermont,é um excelente post que você meteu aqui.
De facto o link que deu não mostra imagens nenhumas,mas gostava de perguntar se existe algum sitio onde se pudesse ver essa fotos,tenho grande interesse sobre isso.
Depois ainda existem pessoas que falam em revisionismo....
Infelizmente, não conheço nenhum.
- Clermont
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POLÔNIA QUER MUDANÇA NO NOME DE AUSCHWITZ.
Polônia quer a mudança do nome de Auschwitz-Birkenau para lembrar ao mundo que o campo de extermínio foi construído e administrado pela Alemanha nazista, não pelos poloneses.
O campo de Auschwitz, construído perto da cidade polonesa de Oswiecim durante a ocupação alemã, é catalogado como patrimônio mundial da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
O governo polonês quer que a Unesco mude o nome oficial do local para “Antigo Campo de Concentração Nazista Alemão de Auschwitz-Birkenau” para deixar claro que ele não tinha nenhuma relação com a Polônia ou com os poloneses.
Mais de 1 milhão de pessoas, em sua maioria judeus, morreram em Auschwitz entre 1940 e 1945. O regime nazista matou cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Insatisfação
O governo polonês vem há tempos indicando insatisfação com referências a Auschwitz na imprensa como “o campo de concentração polonês”.
A polêmica ganhou corpo nesta semana, após o jornal alemão Der Spiegel ter se referido ao campo como “polonês”.
“Nos anos após a guerra, o antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau era definitivamente associado com as atividades criminosas do regime nazista da Alemanha”, disse o porta-voz do governo polonês, Jan Kasprzyk, à agência de notícias estatal.
“Porém para as gerações contemporâneas, mais jovens, especialmente no exterior, esta associação não é universal”, disse o porta-voz.
A descrição atual de Auschwitz pela Unesco diz que suas instalações, incluindo câmaras de gás e fornos crematórios, “mostram as condições nas quais o genocídio nazista ocorreu no antigo campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, o maior do Terceiro Reich”.
Kasprzyk diz, porém, que “a mudança proposta no nome não deixaria dúvidas sobre o que o campo de Auschwitz-Birkenau era”. O governo polonês diz esperar uma resposta da Unesco até o fim deste ano.
Polônia quer a mudança do nome de Auschwitz-Birkenau para lembrar ao mundo que o campo de extermínio foi construído e administrado pela Alemanha nazista, não pelos poloneses.
O campo de Auschwitz, construído perto da cidade polonesa de Oswiecim durante a ocupação alemã, é catalogado como patrimônio mundial da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
O governo polonês quer que a Unesco mude o nome oficial do local para “Antigo Campo de Concentração Nazista Alemão de Auschwitz-Birkenau” para deixar claro que ele não tinha nenhuma relação com a Polônia ou com os poloneses.
Mais de 1 milhão de pessoas, em sua maioria judeus, morreram em Auschwitz entre 1940 e 1945. O regime nazista matou cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Insatisfação
O governo polonês vem há tempos indicando insatisfação com referências a Auschwitz na imprensa como “o campo de concentração polonês”.
A polêmica ganhou corpo nesta semana, após o jornal alemão Der Spiegel ter se referido ao campo como “polonês”.
“Nos anos após a guerra, o antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau era definitivamente associado com as atividades criminosas do regime nazista da Alemanha”, disse o porta-voz do governo polonês, Jan Kasprzyk, à agência de notícias estatal.
“Porém para as gerações contemporâneas, mais jovens, especialmente no exterior, esta associação não é universal”, disse o porta-voz.
A descrição atual de Auschwitz pela Unesco diz que suas instalações, incluindo câmaras de gás e fornos crematórios, “mostram as condições nas quais o genocídio nazista ocorreu no antigo campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, o maior do Terceiro Reich”.
Kasprzyk diz, porém, que “a mudança proposta no nome não deixaria dúvidas sobre o que o campo de Auschwitz-Birkenau era”. O governo polonês diz esperar uma resposta da Unesco até o fim deste ano.
- Clermont
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GENOCÍDIO – A DESTRUIÇÃO DAS MINORIAS – parte 1.
Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)
Uma ciência nova e pervertida
Esta é a narrativa da escalada do doloroso tratamento dispensado pelos alemães aos judeus, do anti-semitismo, parte integrante do dogma do Partido Nacional-Socialista, à aplicação implacável do que Hitler chamou "Solução Final".
Terminada a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha, cheia de frustrações e descontentamentos, oferecia todas as condições para a semeadura do racismo. Judeus e bolchevistas ali estavam para servir de bodes expiatórios dos reveses por ela sofridos, e a atribuição do fracasso às maquinações e atividades subversivas desses grupos ajudou a tornar mais aceitável, por muitos alemães, o problema que tais reveses criaram. O Partido Nacional-Socialista - em si mesmo produto da reação nacional à derrota e ao caos econômico do pós-guerra - divulgou, em fevereiro de 1924, um manifesto em que formulou em linguagem muito clara a doutrina racista que adotaria. A cidadania alemã, segundo o manifesto, só deveria ser concedida aos de sangue alemão, especificando que, portanto, nenhum judeu seria um nacional. Mesmo antes da publicação do manifesto do partido, Hitler já havia tornado público o sentimento anti-semita que alimentava. O Mein Kampf (Minha Luta), escrito durante o período de reclusão que cumpriu após o fracassado putsch de Munique, de 1923, acusava francamente os judeus de haver contribuído para o solapamento do esforço de guerra da Alemanha.
Com o ódio aos judeus colocado como parte integrante da filosofia nazista, seguia-se que os primeiros a esposar a causa nacional-socialista seriam os que compartilhassem do anti-semitismo fanático de Hitler, porque, no momento, o partido não era tão bem sucedido a ponto de atrair seguidores ansiosos por ingressar nele. Um dos elementos da "primeira geração" nazista que mais dispostos se mostraram a adotar o absurdo da superioridade racial nórdica foi Heinrich Himmler.
Desenvolvendo inicialmente uma atividade não-remunerada dentro do partido, Himmler acabou recompensado com um cargo remunerado e, mais tarde, foi indicado para o cargo aparentemente insignificante de subcomandante das SS, pequeno grupo integrante das onipotentes SA de Ernst Röhm. Esse grupo, no começo insignificante, aumentaria e obscureceria com sua sombra sinistra o grupo em cujo seio colheu a cevadura que lhe deu força sos tentáculos para dominar os instrumentos de poder do estado totalitário.
Hermann Goering na realidade criou a infame Polícia Secreta do Estado, ou Gestapo, e inaugurou, em 1933, os campos de concentração para onde os desgraçados rotulados de inimigos do estado eram levados sem-cerimoniosamente. Mas foi Himmler quem assumiu afinal o controle dessas organizações de terror e de morte. Quando Himmler criou o Departamento de Inteligência das SS (o SD), indicou Reinhard Heydrich, um jovem de aparência nórdica e força física satisfatória, a verdadeira antitese do próprio Reichsführer-SS, para o chefiar. Estes dois homens se completavam; um permanentemente preocupado em inventar teorias raciais malucas, o outro perseguindo sempre o poder pessoal e a autoglorificação. Eles faziam uma dupla formidável, e, bem servidos por homens como Adolf Eichmann, os dois puseram-se a aplicar a selvagem política racial do Führer, megalomaníaco e insensível.
Semanas depois que Hitler subiu ao poder, em 1933, os judeus ocupantes de cargos públicos começaram a ser implacavelmente removidos, e os profissionais liberais e homens de negócios judeus, a ser boicotados e hostilizados. Daí por diante, a perseguição a esses infelizes ganhou velocidade incontrolável, passando da hostilização ao aviltamento, à prisão e deportação, chegando à "Solução Final" - o aniquilamento total. À medida que as conquistas da Alemanha aumentavam, também aumentava o número de judeus que caíam nas garras das SS de Himmler. O gráfico das mortes de judeus apresentava uma tendência ascendente constante.
Para acompanhar o fluxo crescente de vitimas, fazia-se necessário o aperfeiçoamento dos métodos de executá-los. Na primavera de 1942, as câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau começaram a funcionar, cada qual com capacidade de aplicar a "Solução Final" a 2.000 desgraçados de cada vez. O gás era introduzido nas câmaras lançando-se cristais de Zyklon B nos tubos dos ventiladores e os corpos das vítimas eram depois levados sos fornos nos crematórios das proximidades. O funcionamento da usina da morte adquiria um ar de irrealidade com a música de Lehar e Strauss executada, durante a horrenda operação, por uma orquestra de vitimas potencisis. Os nomes dos campos de concentração - Treblinka, Sobibor, Majdanek, Belsec, Chelmno, Dachau, Dora, Mauthausen, Ravensbrück, Sachsenhausen e Buchenwald - tornaram-se sombriamente evocativos, fazendo-nos recordar as filmagens feitas pelas autoridades aliadas desses campos à medida que eram tomados, registrando para a posteridade a terrível condição de prisioneiro político do Terceiro Reich: figuras esqueléticas, envoltas em farrapos, que mal se distinguiam dos seus camaradas mortos; sobreviventes quase incapazes de compreender que finalmente haviam sido "libertados".
Esses homens são as glórias de batalha das unidades da "Caveira" das SS, criadas para povoar de sombras os inacreditáveis campos de concentração, sombras que eram homens, mulheres e crianças de raças "inferiores", expiando crimes não cometidos, condenados à morte por acidente de nascimento.
Mesmo com tantos campos trabalhando febrilmente para executar as ordens do Führer, era difícil acompanhar o ritmo de chegada dos trens carregados de infelizes trazidos de toda parte da Europa; e assim as vítimas eram obrigadas a sofrer a indignidade levada ao absurdo, a promiscuidade mais cruciante, até serem amontoadas nas câmaras de gás. Apinhadas, com as mãos para o alto e com criancinhas jogadas em cima delas, as vítimas eram maltratadas até o último instante de vida.
Como o autor observa, a perseguição sos judeus não era novidade. Por toda a História, a raça judaica tem sido alvo de medidas discriminatórias - muitas vezes com total apoio da lei - nalguns países, havendo exemplos, anteriores a Hitler, de massacres dirigidos contra ela. Mas os seguidores de Hitler acrescentaram outra dimensão a essas medidas. Enquanto os excessos a que nos referimos, cometidos antes de Hitler, foram perpetrados em clima de exaltação de ânimo, em hora de aturdimento, Himmler, Heydrich e gente da sua espécie levaram a efeito o genocídio calma, desumana e friamente planejado. Milhões de judeus morreram nos campos de concentração da Alemanha nazista, vitimas de uma pervertida forma de ver as razões por que aqui estamos.
Os predecessores dos nazistas
Por certo, nada justifica melhor a famosa definição de "História", de Gibbons, para quem ela é "pouco mais do que o registro dos crimes, loucuras e desgraças da humanidade", do que o tratamento das minorias judaicas. Durante quase 2.000 anos os não-judeus têm demonstrado gratidão àqueles que lhes deram uma visão única da sua relação com o Infinito, e que proporcionaram o meio, intelectual e geográfico, para o nascimento do Cristianismo, por perseguições que, com o correr dos séculos, só têm mudado no fato de que cresceram em magnitude e engenhosidade. Como Bernard Levin escreveu recentemente, ao fazer a crítica de um livro sobre esses dois milênios, enquanto que a maioria das religiões e povos tem sido perseguida por alguém em determinado momento "somente os judeus sempre foram perseguidos por todo o mundo".
Mas se a civilização cristã e pós-cristã tem demonstrado uma distinção peculiar nesse aspecto, a raça já vinha sofrendo muito antes do nascimento de Cristo. Ela conheceu a ocupação da sua nação-estado praticamente desde o seu surgimento; seu povo sofreu deportação e exílio forçado, sob os assírios, egípcios e babilônios. Tentativas de obrigá-los a abandonar seu Deus único em troca do panteão do estado foram feitas por quase todos esses opressores e, mais tarde, pela Grécia e por Roma. Esforços nesse sentido, feitos por Antioco III, o selêucida, levaram à bem sucedida rebelião de Judas Macabeu em 167 a.C.
Quando Tibério se tornou imperador, em 14 d.C., sua política para com os membros judeus do Império Romano se assemelhava à de Hitler: "o extermínio de toda a raça judia". Os romanos escandalizaram-se com a desfaçatez de uma pequenina nação que se atrevia a considerar sua religião superior à deles.
No ano 30 d.C., o Sinédrio, Supremo Tribunal Judeu, perdeu a jurisdição sobre seu próprio povo. Em 70 d.C., o Templo de Jerusalém foi destruído por Tito, após uma revolta judia. No ano 132 d.C. teve início a rebelião de Bar-Cochba, que foi impiedosamente sufocada pelos romanos. Esta revolta, a última que os judeus tentaram contra um algoz estrangeiro até o levante do gueto de Varsóvia, em 1943, levou os romanos a expulsa-los de Jerusalém, destruindo totalmente a cidade.
A expulsão dos judeus de Jerusalém é em geral considerada o começo do período da Diáspora, ou dispersão. Na verdade, sob o estímulo das constantes perseguições em sua pátria, comunidades judias já haviam emigrado para outros países.
Se, contudo, os romanos achavam que á nação judia e seu povo haviam desaparecido da face da terra, estavam enganados. Um ou dois anos após a queda da sua capital religiosa e política, um desastre do tipo que precedera o eclipse total de outras nações, os judeus tornaram a reunir-se em torno de sua fé. Um novo centro foi iniciado em Jamnia, na costa mediterrânea, onde novas escolas rabínicas foram fundadas e onde o Sinédrio foi restabelecido.
Mas, estes não eram senão grupos e, como o povo exilado de uma nação reprimida, os judeus buscavam um santuário onde quer que pudessem encontrá-lo. Eles normalmente eram bem recebidos, até que Constantino fez do cristianismo religião do Império Romano. Quando o império se dividiu, os judeus perderam todos os privilégios que lhes haviam sido concedidos na Europa Ocidental. A principio, não havia intenção de separá-los, mas apenas cuidar para que os postos importantes fossem ocupados por professantes da fé recém-adotada. Contudo, nos séculos seguintes, a perseguição de parte dos cristãos se tornaria tão generalizada, tão diversa nas suas formas, que não existe um só aspecto da tirania nazista para o qual não se encontrem exemplos anteriores.
Cada vez mais separados dos seus semelhantes, os judeus foram transformados num painel em que os vícios humanos estavam todos representados. Eles eram deicidas (não haviam eles permitido a crucificação de Cristo?); eram os envenenadores de poços; eram infanticidas, repetindo a crucificação em crianças cristãs batizadas e usando seu sangue para fazer o Pão da Páscoa.
O ponto de vista da Igreja Católica é adequadamente resumido numa série de oito sermões feitos por São João Crisóstomo em 387. Os judeus, afirmou ele, eram carnais, lascivos, avarentos; eram bêbados, bordeleiros e criminosos. Sua opinião, e outras idênticas, encontraram eco pelos séculos afora, e foi esposada por muitos líderes cristãos. Há os que procuram explicar o anti-semitismo com razões de ordem econômica - pura manifestação de inveja dos que têm sofrido a competição dessa minoria em geral diligente e talentosa. A História absolutamente não apóia esse ponto de vista. A perseguição aos judeus era fomentada do alto, pelos que não sofriam tal competição. Na Idade Média, assim como na Alemanha hitlerista, o europeu comum repudiava as perseguições e perdia mais do que se beneficiava com elas.
O espetáculo do sofrimento dos judeus, daqueles que cravaram na cruz o Redentor do homem, era considerada edificante, tal como as execuções públicas também o eram, por demonstrarem o triunfo da justiça divina e temporal e por se constituírem numa advertência terrível quanto aos resultados da impenitência obstinada.
Os pogrom e massacres de guetos promovidos pelos "cruzados" da Nova Ordem de Hitler emulavam os modelos mais antigos, pois cada uma das Cruzadas foi precedida de massacres "dos sarracenos em nosso meio", os saqueadores da Terra Santa, na França, Alemanha, Espanha e Inglaterra. Quando Benedito, o líder da comunidade judia de York, foi a Londres, em 1189, levando presentes para a coroação de Ricardo Coração de Leão, foi recompensado com a morte, juntamente com dezenas de patrícios seus, na cidade. Sua morte foi seguida de massacres em Norwich, Stamford e Kings Lynn, culminando com o realizado na própria cidade de York. Ali, um grupo de judeus finalmente preferiu o suicídio à violência da ralé.
Assim como as leis de cidadania nazistas tornaram os judeus cidadãos de segunda classe, o mesmo aconteceu na Inglaterra medieval, onde eles eram propriedade do rei. Assim como suas sinagogas foram incendiadas na Alemanha, também o foram em Roma e na Espanha. Assim como os nazistas extorquiam dinheiro aos judeus, o mesmo o faziam antigamente os reis e prelados da Europa Cristã. Algumas grandes igrejas e catedrais que se constituem em orgulho da Cristandade foram em grande parte construídas com essas verbas. Assim como os nazistas forçaram a emigração e determinaram a expulsão dos judeus, também estes haviam sido expulsos da Inglaterra e da França.
As acusações, contra os judeus, de conspiração vêm da Idade Média. Na Espanha, o clero, pregava a necessidade de o país livrar-se dos judeus. Os judeus, diziam os padres, planejavam a escravização de todos os espanhóis, a começar pelo rei. Milhares morreram nos massacres assim inspirados.
A Idade Média também serviu de berço ao sistema de gueto, no qual o judeu era segregado do ariano, sistema que seria usado largamente na Polônia e na Rússia nos anos 40. Por mais amargo que fosse o insulto, isto pelo menos dava certa segurança aos judeus, que voltavam aos guetos, onde encontravam segurança e oportunidade de introspecção, sempre que o perigo os ameaçava.
Assim como os alemães instituíram o regime do assassinato organizado, o mesmo fez Torquemada, o primeiro Grande Inquisidor, digno predecessor de Heydrich e Eichmann.
Assim como Himmler pregava a virtude transcendental da pureza do sangue, também na Espanha setecentista a limpieza de sangre serviu de desculpa para o ataque aos poluidores judeus. Assim como os nazistas reescreveram a História para imputar aos judeus os problemas que enfrentavam, também na Idade Média as massas aprenderam que os judeus eram a tribo de Judas Iscariotes, o traidor do Cristo.
Quando sua existência na Europa Ocidental se tornou intolerável, os judeus começaram a mudar-se para o Leste. Ali, disseram-lhes, predominavam atitudes mais racionais. E assim foi, a princípio. Na Áustria, seus direitos como seres humanos e cidadãos foram respeitados. Na Polônia, Hungria, Romênia, no nível do povo comum, judeus e cristãos conviviam. Mas a Igreja Católica inquietava-se com a aliança que estabeleceram.
Houve uma oportunidade de acabar com os judeus quando estourou a guerra entre russos e poloneses. Na Polônia, disseram que os judeus estavam mancomunados com a Rússia; nesta, que eles estavam mancomunados com os poloneses. Milhares foram assassinados.
Assim como os judeus, segundo testemunhas, enfrentavam os fuzilamentos nazistas sem pedir piedade, também iam para a fogueira cantando salmos, virando as costas à oportunidade de salvar-se, mas não admitindo a retratação e a conversão. Na história dessas mortes em massa nas fogueiras, tomamos conhecimento do caso de um menino que encorajava e consolava seu irmão mais novo que se mostrava aterrado diante das chamas aonde estava prestes a ser jogado, dizendo-lhe que ele ia para o Paraíso. Também mais tarde, pais, mães, avós e irmãos mais velhos consolariam os jovens aterrorizados diante das covas da morte em Ponary e nas câmaras de gás de Auschwitz.
Mesmo com o Iluminismo, não houve alívio. A ciência foi destorcida para justificar a perseguição, e a razão era mantida em xeque. O próprio Voltaire chegou a quebrar a sua reconhecida lógica para censurar os judeus de ignorantes, bárbaros, avarentos, supersticiosos e cheios de ódio.
Na Rússia, o pogrom tornara-se instrumento de política do governo, aplicado sempre que o povo se mostrava inquieto. Mesmo na guerra de 1914, com a Alemanha, a perseguição aos judeus não sofreu solução de continuidade. Ela ainda estava acesa quando, como aconteceu na Alemanha, mais tarde, pôs em perigo o curso da guerra.
E foi pelo próprio Czar Nicolau, em sua residência de campo, Tsarskoye Selo, em 1905 - o ano da revolução fracassada - que o notório livro Protocolos dos Sábios do Sião foi promulgado. Trabalho de um escritor pago pelo governo, era uma amálgama de todos os absurdos atribuídos aos judeus desde a Idade Média, como complôs internacionais etc., e que Hitler usou como prova trinta anos depois. Contudo, o Czar Nicolau II não era homem para quem a razão significasse muita coisa quando se tratava de atacar judeus: ele dissera ao Kaiser Guilherme II, da Alemanha, sobre os ingleses: "O inglês é um judeu".
No resto da Europa, os movimentos populistas e democratizantes dos meados do século XIX produziram um novo açoite para surrar os judeus e foram responsáveis pela introdução da palavra "anti-semitismo". Para os anti-semitas adversários dos movimentos democráticos, como Gobineau, os judeus eram comunistas e socialistas. Para os socialistas anti-semitas, como Drumont, então os judeus eram as eminências negras financeiras do capitalismo.
Joseph Arthur, Conde de Gobineau (1816-82), procurou, em seus quatro volumes do Essai sur L'inégalité des Races Humaines, explicar a história em termos raciais, ressaltando o eterno conflito entre as raças dolicocéfalas (ou de cabeça longa) e as raças braquicéfalas (ou de cabeça larga). Os principais entre os dolicocéfalos eram os povos nórdicos louros. Os judeus, naturalmente, eram braquicéfalos. Tão penetrantes foram suas idéias, que os propagandistas ingleses aplicavam pejorativamente aos alemães o termo "braquicéfalo".
Edouard Drumont (1844-1917) relacionou o anti-semitismo com o socialismo e o oculto - uma combinação também encontrada entre os nazistas. E foi um dos seus seguidores, Jacques de Biez, que cunhou o nome "Nacionais-Socialistas". Ele disse, em 1899: "Somos nacionais-socialistas porque estamos atacando as finanças internacionais. Queremos a França para os franceses". Substituindo-se as palavras: "Alemanha" e "os alemães" nesta última frase, o trecho poderia ter saído da pena do Dr. Goebbels.
As perseguições ocorridas na Rússia, Polônia, Romênia e Hungria levaram os judeus a retornar para o oeste. Muitos não foram além da Áustria, mas números menores chegaram à Alemanha, França e mais além. Eles foram aceitos, mas não considerados bem-vindos. Criados em guetos, desenvolveu-se neles o instinto natural para se manterem unidos, apegando-se a seus hábitos, costumes e linguagem, sempre temerosos de novos pogrom.
A Igreja Católica viu neles, uma vez mais, uma ameaça à fé do seu rebanho, afirmando que o judaísmo era a antítese do cristianismo. Ademais, como a História demonstrava que os judeus eram inconversíveis, eles tinham de ser expulsos. Mesmo os judeus batizados eram tidos como "espiões dentro da Igreja" e, como medida de proteção do cristianismo, tinham de ser tratados como os seus concidadãos não-batizados. As organizações comerciais viam-nos como competidores. Os judeus da classe média assimilada de Viena e Berlim votavam-lhes franca aversão, considerando-os parentes pobres que de repente se haviam abatido sobre o seu lar, e contrariaram-se quando descobriram que, além disso, os não judeus se recusavam a aceitar os protestos dos judeus assimilados de que os judeus que chegavam haviam chegado sem "serem convidados". "Isto", diziam os não judeus entre si, "é o que acontece quando se deixa um judeu entrar. Antes de você perceber, ele trouxe a tribo toda".
Havia outros fatores em ação na Alemanha. À Guerra Franco-Prussiana de 1870 seguira-se uma crise econômica, enquanto o movimento de unificação dos estados alemães, iniciado por Bismarck, ainda estava em andamento. Era inevitável que isto focalizasse a atenção sobre a raça, sobre "germanidade".
Os emigrados do leste, com seus estranhos costumes e trajes, não se enquadravam na imagem racial germânica. Numa comunidade de estados que de repente se conscientizou de que era um só povo, não havia lugar para os homens de olhos tristes, com seus longos casacos pretos, barbas, cabelos cacheados nas têmporas e chapéus chatos. "Os judeus são o nosso azar", disse um autor do século XIX. Esta frase viria a tornar-se um lema nazista.
Se, entretanto, sua vida se tornasse difícil (esta a opinião geral) eles talvez fossem embora, e os movimentos anti-semitas dirigiram esforços nesse sentido. Já havia sido publicada muita literatura anti-semita, cada vez mais violenta. A princípio os judeus eram "estranhos" ou "decadentes", como tornaram a sê-lo na linguagem nazista de 1933-35; antes do fim do século, passaram a ser "parasitas", "subgente" que só servia para ser "pisoteada".
A teoria da evolução de Darwin, que a princípio abalou muita ilusão que a humanidade alimentava na década de 1850-60, foi rapidamente aplicada ao cenário social, por intérpretes que compensavam em dogmatismo o que lhes faltava em compreensão. Do ponto de vista da evolução, o anti-semitismo merecia certa credibilidade científica. Estes falsos conceitos também seriam adotados pelo nazismo, que representava para seus adeptos "a vontade biológica do povo".
Milhares de portas até então abertas aos judeus na Alemanha e na Áustria foram-lhes abruptamente fechadas. Os grêmios estudantis adotaram resoluções que baniam os judeus de seu seio. Os regimentos de elite e a reserva de oficiais do exército não mais os aceitavam. Clubes, sociedades e câmaras de comércio concordaram tacitamente em não permitir o ingresso de judeus.
Neste aspecto, franceses e alemães, inimigos noutros campos, fizeram causa comum, pois foram os franceses que "bolaram" o que os alemães afinal adotaram. Havia, por exemplo, uma Sociedade Gobineau em Freiburg. Mas os franceses, povo afeito às especulações intelectuais, até hoje raramente agem com base nas suas próprias especulações. Com os alemães, no entanto, dava-se o contrário. Até a filosofia mais absurda era aplicada com seriedade.
Gobineau fora amigo pessoal de Richard Wagner, o compositor, que atacara a memória do falecido Mendelssohn, de quem só recebera estímulo e apoio, por ser ele judeu. Para o compositor de "Tannhäuser" e de "O Anel dos Nibelúngios", a música de Mendelssohn passou a ser por ele considerada "estranha, fria, bizarra, medíocre, antinatural e pervertida". Por certo foi o anti-semitismo de Wagner, além de sua música, que o recomendou a Hitler.
A casa de Wagner era um ponto de encontro para o anti-semitismo "intelectual" e Hitler seria um dos seus futuros visitantes. Mas um visitante anterior fora Stewart Houston-Chamberlain (1855-1927), o antisemita britânico e propagandista alemão da Primeira Guerra Mundial. Chamberlain foi o biógrafo de Wagner e casou com sua filha. A ele é que devemos a primeira afirmação logicamente coerente da posição do anti-semita: "Odeio os judeus. Odeio sua estrela e sua cruz", manifestando seu ódio tanto ao judaísmo como ao cristianismo.
O resultado da Primeira Guerra Mundial fez recrudescer o ímpeto contra os semitas. A derrota de seus grandes impérios foi uma experiência profundamente traumática para alemães e austríacos. Durante as últimas semanas de outubro de 1918, o exército alemão estava avançando. Na semana seguinte, a 7 de novembro, cuidava-se do armistício, ficando a Alemanha à mercê das Potências Aliadas, que jamais a deixaram de considerar, mesmo depois de colocada sob um governo liberal, como militarista e agressiva.
A fúria contra ela era ainda maior porque os que a combateram jamais conseguiram dobrá-la na frente de batalha. Milhares de soldados alemães não-derrotados retornaram à Alemanha, encontrando-a economicamente falida e incapaz de sustentá-los. Alguma coisa, raciocinaram eles, deve ter acontecido além do óbvio, além do motim de marinheiros comunistas em Kiel e do rigor do bloqueio britânico, para provocar essa situação.
Era certo que, após tantos séculos de difamação e opressão, e do aumento incessante do anti-semitismo como força intelectual, que mais cedo ou mais tarde haveria uma erupção. Foi assim que os judeus passaram a responsáveis pela "punhalada nas costas" da Alemanha. Os judeus, que encontraram melhor compreensão sob o governo liberal alemão, chegando a fazer parte desse mesmo governo, foram considerados partícipes de uma grande conspiração visando á derrubada da Alemanha; e o anti-semitismo, verdadeira idéia fixa de certos indivíduos e grupos, passou a força poderosa. Como se fosse uma nova religião, entregou-se ele a ativo proselitismo.
Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)
Uma ciência nova e pervertida
Esta é a narrativa da escalada do doloroso tratamento dispensado pelos alemães aos judeus, do anti-semitismo, parte integrante do dogma do Partido Nacional-Socialista, à aplicação implacável do que Hitler chamou "Solução Final".
Terminada a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha, cheia de frustrações e descontentamentos, oferecia todas as condições para a semeadura do racismo. Judeus e bolchevistas ali estavam para servir de bodes expiatórios dos reveses por ela sofridos, e a atribuição do fracasso às maquinações e atividades subversivas desses grupos ajudou a tornar mais aceitável, por muitos alemães, o problema que tais reveses criaram. O Partido Nacional-Socialista - em si mesmo produto da reação nacional à derrota e ao caos econômico do pós-guerra - divulgou, em fevereiro de 1924, um manifesto em que formulou em linguagem muito clara a doutrina racista que adotaria. A cidadania alemã, segundo o manifesto, só deveria ser concedida aos de sangue alemão, especificando que, portanto, nenhum judeu seria um nacional. Mesmo antes da publicação do manifesto do partido, Hitler já havia tornado público o sentimento anti-semita que alimentava. O Mein Kampf (Minha Luta), escrito durante o período de reclusão que cumpriu após o fracassado putsch de Munique, de 1923, acusava francamente os judeus de haver contribuído para o solapamento do esforço de guerra da Alemanha.
Com o ódio aos judeus colocado como parte integrante da filosofia nazista, seguia-se que os primeiros a esposar a causa nacional-socialista seriam os que compartilhassem do anti-semitismo fanático de Hitler, porque, no momento, o partido não era tão bem sucedido a ponto de atrair seguidores ansiosos por ingressar nele. Um dos elementos da "primeira geração" nazista que mais dispostos se mostraram a adotar o absurdo da superioridade racial nórdica foi Heinrich Himmler.
Desenvolvendo inicialmente uma atividade não-remunerada dentro do partido, Himmler acabou recompensado com um cargo remunerado e, mais tarde, foi indicado para o cargo aparentemente insignificante de subcomandante das SS, pequeno grupo integrante das onipotentes SA de Ernst Röhm. Esse grupo, no começo insignificante, aumentaria e obscureceria com sua sombra sinistra o grupo em cujo seio colheu a cevadura que lhe deu força sos tentáculos para dominar os instrumentos de poder do estado totalitário.
Hermann Goering na realidade criou a infame Polícia Secreta do Estado, ou Gestapo, e inaugurou, em 1933, os campos de concentração para onde os desgraçados rotulados de inimigos do estado eram levados sem-cerimoniosamente. Mas foi Himmler quem assumiu afinal o controle dessas organizações de terror e de morte. Quando Himmler criou o Departamento de Inteligência das SS (o SD), indicou Reinhard Heydrich, um jovem de aparência nórdica e força física satisfatória, a verdadeira antitese do próprio Reichsführer-SS, para o chefiar. Estes dois homens se completavam; um permanentemente preocupado em inventar teorias raciais malucas, o outro perseguindo sempre o poder pessoal e a autoglorificação. Eles faziam uma dupla formidável, e, bem servidos por homens como Adolf Eichmann, os dois puseram-se a aplicar a selvagem política racial do Führer, megalomaníaco e insensível.
Semanas depois que Hitler subiu ao poder, em 1933, os judeus ocupantes de cargos públicos começaram a ser implacavelmente removidos, e os profissionais liberais e homens de negócios judeus, a ser boicotados e hostilizados. Daí por diante, a perseguição a esses infelizes ganhou velocidade incontrolável, passando da hostilização ao aviltamento, à prisão e deportação, chegando à "Solução Final" - o aniquilamento total. À medida que as conquistas da Alemanha aumentavam, também aumentava o número de judeus que caíam nas garras das SS de Himmler. O gráfico das mortes de judeus apresentava uma tendência ascendente constante.
Para acompanhar o fluxo crescente de vitimas, fazia-se necessário o aperfeiçoamento dos métodos de executá-los. Na primavera de 1942, as câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau começaram a funcionar, cada qual com capacidade de aplicar a "Solução Final" a 2.000 desgraçados de cada vez. O gás era introduzido nas câmaras lançando-se cristais de Zyklon B nos tubos dos ventiladores e os corpos das vítimas eram depois levados sos fornos nos crematórios das proximidades. O funcionamento da usina da morte adquiria um ar de irrealidade com a música de Lehar e Strauss executada, durante a horrenda operação, por uma orquestra de vitimas potencisis. Os nomes dos campos de concentração - Treblinka, Sobibor, Majdanek, Belsec, Chelmno, Dachau, Dora, Mauthausen, Ravensbrück, Sachsenhausen e Buchenwald - tornaram-se sombriamente evocativos, fazendo-nos recordar as filmagens feitas pelas autoridades aliadas desses campos à medida que eram tomados, registrando para a posteridade a terrível condição de prisioneiro político do Terceiro Reich: figuras esqueléticas, envoltas em farrapos, que mal se distinguiam dos seus camaradas mortos; sobreviventes quase incapazes de compreender que finalmente haviam sido "libertados".
Esses homens são as glórias de batalha das unidades da "Caveira" das SS, criadas para povoar de sombras os inacreditáveis campos de concentração, sombras que eram homens, mulheres e crianças de raças "inferiores", expiando crimes não cometidos, condenados à morte por acidente de nascimento.
Mesmo com tantos campos trabalhando febrilmente para executar as ordens do Führer, era difícil acompanhar o ritmo de chegada dos trens carregados de infelizes trazidos de toda parte da Europa; e assim as vítimas eram obrigadas a sofrer a indignidade levada ao absurdo, a promiscuidade mais cruciante, até serem amontoadas nas câmaras de gás. Apinhadas, com as mãos para o alto e com criancinhas jogadas em cima delas, as vítimas eram maltratadas até o último instante de vida.
Como o autor observa, a perseguição sos judeus não era novidade. Por toda a História, a raça judaica tem sido alvo de medidas discriminatórias - muitas vezes com total apoio da lei - nalguns países, havendo exemplos, anteriores a Hitler, de massacres dirigidos contra ela. Mas os seguidores de Hitler acrescentaram outra dimensão a essas medidas. Enquanto os excessos a que nos referimos, cometidos antes de Hitler, foram perpetrados em clima de exaltação de ânimo, em hora de aturdimento, Himmler, Heydrich e gente da sua espécie levaram a efeito o genocídio calma, desumana e friamente planejado. Milhões de judeus morreram nos campos de concentração da Alemanha nazista, vitimas de uma pervertida forma de ver as razões por que aqui estamos.
Os predecessores dos nazistas
Por certo, nada justifica melhor a famosa definição de "História", de Gibbons, para quem ela é "pouco mais do que o registro dos crimes, loucuras e desgraças da humanidade", do que o tratamento das minorias judaicas. Durante quase 2.000 anos os não-judeus têm demonstrado gratidão àqueles que lhes deram uma visão única da sua relação com o Infinito, e que proporcionaram o meio, intelectual e geográfico, para o nascimento do Cristianismo, por perseguições que, com o correr dos séculos, só têm mudado no fato de que cresceram em magnitude e engenhosidade. Como Bernard Levin escreveu recentemente, ao fazer a crítica de um livro sobre esses dois milênios, enquanto que a maioria das religiões e povos tem sido perseguida por alguém em determinado momento "somente os judeus sempre foram perseguidos por todo o mundo".
Mas se a civilização cristã e pós-cristã tem demonstrado uma distinção peculiar nesse aspecto, a raça já vinha sofrendo muito antes do nascimento de Cristo. Ela conheceu a ocupação da sua nação-estado praticamente desde o seu surgimento; seu povo sofreu deportação e exílio forçado, sob os assírios, egípcios e babilônios. Tentativas de obrigá-los a abandonar seu Deus único em troca do panteão do estado foram feitas por quase todos esses opressores e, mais tarde, pela Grécia e por Roma. Esforços nesse sentido, feitos por Antioco III, o selêucida, levaram à bem sucedida rebelião de Judas Macabeu em 167 a.C.
Quando Tibério se tornou imperador, em 14 d.C., sua política para com os membros judeus do Império Romano se assemelhava à de Hitler: "o extermínio de toda a raça judia". Os romanos escandalizaram-se com a desfaçatez de uma pequenina nação que se atrevia a considerar sua religião superior à deles.
No ano 30 d.C., o Sinédrio, Supremo Tribunal Judeu, perdeu a jurisdição sobre seu próprio povo. Em 70 d.C., o Templo de Jerusalém foi destruído por Tito, após uma revolta judia. No ano 132 d.C. teve início a rebelião de Bar-Cochba, que foi impiedosamente sufocada pelos romanos. Esta revolta, a última que os judeus tentaram contra um algoz estrangeiro até o levante do gueto de Varsóvia, em 1943, levou os romanos a expulsa-los de Jerusalém, destruindo totalmente a cidade.
A expulsão dos judeus de Jerusalém é em geral considerada o começo do período da Diáspora, ou dispersão. Na verdade, sob o estímulo das constantes perseguições em sua pátria, comunidades judias já haviam emigrado para outros países.
Se, contudo, os romanos achavam que á nação judia e seu povo haviam desaparecido da face da terra, estavam enganados. Um ou dois anos após a queda da sua capital religiosa e política, um desastre do tipo que precedera o eclipse total de outras nações, os judeus tornaram a reunir-se em torno de sua fé. Um novo centro foi iniciado em Jamnia, na costa mediterrânea, onde novas escolas rabínicas foram fundadas e onde o Sinédrio foi restabelecido.
Mas, estes não eram senão grupos e, como o povo exilado de uma nação reprimida, os judeus buscavam um santuário onde quer que pudessem encontrá-lo. Eles normalmente eram bem recebidos, até que Constantino fez do cristianismo religião do Império Romano. Quando o império se dividiu, os judeus perderam todos os privilégios que lhes haviam sido concedidos na Europa Ocidental. A principio, não havia intenção de separá-los, mas apenas cuidar para que os postos importantes fossem ocupados por professantes da fé recém-adotada. Contudo, nos séculos seguintes, a perseguição de parte dos cristãos se tornaria tão generalizada, tão diversa nas suas formas, que não existe um só aspecto da tirania nazista para o qual não se encontrem exemplos anteriores.
Cada vez mais separados dos seus semelhantes, os judeus foram transformados num painel em que os vícios humanos estavam todos representados. Eles eram deicidas (não haviam eles permitido a crucificação de Cristo?); eram os envenenadores de poços; eram infanticidas, repetindo a crucificação em crianças cristãs batizadas e usando seu sangue para fazer o Pão da Páscoa.
O ponto de vista da Igreja Católica é adequadamente resumido numa série de oito sermões feitos por São João Crisóstomo em 387. Os judeus, afirmou ele, eram carnais, lascivos, avarentos; eram bêbados, bordeleiros e criminosos. Sua opinião, e outras idênticas, encontraram eco pelos séculos afora, e foi esposada por muitos líderes cristãos. Há os que procuram explicar o anti-semitismo com razões de ordem econômica - pura manifestação de inveja dos que têm sofrido a competição dessa minoria em geral diligente e talentosa. A História absolutamente não apóia esse ponto de vista. A perseguição aos judeus era fomentada do alto, pelos que não sofriam tal competição. Na Idade Média, assim como na Alemanha hitlerista, o europeu comum repudiava as perseguições e perdia mais do que se beneficiava com elas.
O espetáculo do sofrimento dos judeus, daqueles que cravaram na cruz o Redentor do homem, era considerada edificante, tal como as execuções públicas também o eram, por demonstrarem o triunfo da justiça divina e temporal e por se constituírem numa advertência terrível quanto aos resultados da impenitência obstinada.
Os pogrom e massacres de guetos promovidos pelos "cruzados" da Nova Ordem de Hitler emulavam os modelos mais antigos, pois cada uma das Cruzadas foi precedida de massacres "dos sarracenos em nosso meio", os saqueadores da Terra Santa, na França, Alemanha, Espanha e Inglaterra. Quando Benedito, o líder da comunidade judia de York, foi a Londres, em 1189, levando presentes para a coroação de Ricardo Coração de Leão, foi recompensado com a morte, juntamente com dezenas de patrícios seus, na cidade. Sua morte foi seguida de massacres em Norwich, Stamford e Kings Lynn, culminando com o realizado na própria cidade de York. Ali, um grupo de judeus finalmente preferiu o suicídio à violência da ralé.
Assim como as leis de cidadania nazistas tornaram os judeus cidadãos de segunda classe, o mesmo aconteceu na Inglaterra medieval, onde eles eram propriedade do rei. Assim como suas sinagogas foram incendiadas na Alemanha, também o foram em Roma e na Espanha. Assim como os nazistas extorquiam dinheiro aos judeus, o mesmo o faziam antigamente os reis e prelados da Europa Cristã. Algumas grandes igrejas e catedrais que se constituem em orgulho da Cristandade foram em grande parte construídas com essas verbas. Assim como os nazistas forçaram a emigração e determinaram a expulsão dos judeus, também estes haviam sido expulsos da Inglaterra e da França.
As acusações, contra os judeus, de conspiração vêm da Idade Média. Na Espanha, o clero, pregava a necessidade de o país livrar-se dos judeus. Os judeus, diziam os padres, planejavam a escravização de todos os espanhóis, a começar pelo rei. Milhares morreram nos massacres assim inspirados.
A Idade Média também serviu de berço ao sistema de gueto, no qual o judeu era segregado do ariano, sistema que seria usado largamente na Polônia e na Rússia nos anos 40. Por mais amargo que fosse o insulto, isto pelo menos dava certa segurança aos judeus, que voltavam aos guetos, onde encontravam segurança e oportunidade de introspecção, sempre que o perigo os ameaçava.
Assim como os alemães instituíram o regime do assassinato organizado, o mesmo fez Torquemada, o primeiro Grande Inquisidor, digno predecessor de Heydrich e Eichmann.
Assim como Himmler pregava a virtude transcendental da pureza do sangue, também na Espanha setecentista a limpieza de sangre serviu de desculpa para o ataque aos poluidores judeus. Assim como os nazistas reescreveram a História para imputar aos judeus os problemas que enfrentavam, também na Idade Média as massas aprenderam que os judeus eram a tribo de Judas Iscariotes, o traidor do Cristo.
Quando sua existência na Europa Ocidental se tornou intolerável, os judeus começaram a mudar-se para o Leste. Ali, disseram-lhes, predominavam atitudes mais racionais. E assim foi, a princípio. Na Áustria, seus direitos como seres humanos e cidadãos foram respeitados. Na Polônia, Hungria, Romênia, no nível do povo comum, judeus e cristãos conviviam. Mas a Igreja Católica inquietava-se com a aliança que estabeleceram.
Houve uma oportunidade de acabar com os judeus quando estourou a guerra entre russos e poloneses. Na Polônia, disseram que os judeus estavam mancomunados com a Rússia; nesta, que eles estavam mancomunados com os poloneses. Milhares foram assassinados.
Assim como os judeus, segundo testemunhas, enfrentavam os fuzilamentos nazistas sem pedir piedade, também iam para a fogueira cantando salmos, virando as costas à oportunidade de salvar-se, mas não admitindo a retratação e a conversão. Na história dessas mortes em massa nas fogueiras, tomamos conhecimento do caso de um menino que encorajava e consolava seu irmão mais novo que se mostrava aterrado diante das chamas aonde estava prestes a ser jogado, dizendo-lhe que ele ia para o Paraíso. Também mais tarde, pais, mães, avós e irmãos mais velhos consolariam os jovens aterrorizados diante das covas da morte em Ponary e nas câmaras de gás de Auschwitz.
Mesmo com o Iluminismo, não houve alívio. A ciência foi destorcida para justificar a perseguição, e a razão era mantida em xeque. O próprio Voltaire chegou a quebrar a sua reconhecida lógica para censurar os judeus de ignorantes, bárbaros, avarentos, supersticiosos e cheios de ódio.
Na Rússia, o pogrom tornara-se instrumento de política do governo, aplicado sempre que o povo se mostrava inquieto. Mesmo na guerra de 1914, com a Alemanha, a perseguição aos judeus não sofreu solução de continuidade. Ela ainda estava acesa quando, como aconteceu na Alemanha, mais tarde, pôs em perigo o curso da guerra.
E foi pelo próprio Czar Nicolau, em sua residência de campo, Tsarskoye Selo, em 1905 - o ano da revolução fracassada - que o notório livro Protocolos dos Sábios do Sião foi promulgado. Trabalho de um escritor pago pelo governo, era uma amálgama de todos os absurdos atribuídos aos judeus desde a Idade Média, como complôs internacionais etc., e que Hitler usou como prova trinta anos depois. Contudo, o Czar Nicolau II não era homem para quem a razão significasse muita coisa quando se tratava de atacar judeus: ele dissera ao Kaiser Guilherme II, da Alemanha, sobre os ingleses: "O inglês é um judeu".
No resto da Europa, os movimentos populistas e democratizantes dos meados do século XIX produziram um novo açoite para surrar os judeus e foram responsáveis pela introdução da palavra "anti-semitismo". Para os anti-semitas adversários dos movimentos democráticos, como Gobineau, os judeus eram comunistas e socialistas. Para os socialistas anti-semitas, como Drumont, então os judeus eram as eminências negras financeiras do capitalismo.
Joseph Arthur, Conde de Gobineau (1816-82), procurou, em seus quatro volumes do Essai sur L'inégalité des Races Humaines, explicar a história em termos raciais, ressaltando o eterno conflito entre as raças dolicocéfalas (ou de cabeça longa) e as raças braquicéfalas (ou de cabeça larga). Os principais entre os dolicocéfalos eram os povos nórdicos louros. Os judeus, naturalmente, eram braquicéfalos. Tão penetrantes foram suas idéias, que os propagandistas ingleses aplicavam pejorativamente aos alemães o termo "braquicéfalo".
Edouard Drumont (1844-1917) relacionou o anti-semitismo com o socialismo e o oculto - uma combinação também encontrada entre os nazistas. E foi um dos seus seguidores, Jacques de Biez, que cunhou o nome "Nacionais-Socialistas". Ele disse, em 1899: "Somos nacionais-socialistas porque estamos atacando as finanças internacionais. Queremos a França para os franceses". Substituindo-se as palavras: "Alemanha" e "os alemães" nesta última frase, o trecho poderia ter saído da pena do Dr. Goebbels.
As perseguições ocorridas na Rússia, Polônia, Romênia e Hungria levaram os judeus a retornar para o oeste. Muitos não foram além da Áustria, mas números menores chegaram à Alemanha, França e mais além. Eles foram aceitos, mas não considerados bem-vindos. Criados em guetos, desenvolveu-se neles o instinto natural para se manterem unidos, apegando-se a seus hábitos, costumes e linguagem, sempre temerosos de novos pogrom.
A Igreja Católica viu neles, uma vez mais, uma ameaça à fé do seu rebanho, afirmando que o judaísmo era a antítese do cristianismo. Ademais, como a História demonstrava que os judeus eram inconversíveis, eles tinham de ser expulsos. Mesmo os judeus batizados eram tidos como "espiões dentro da Igreja" e, como medida de proteção do cristianismo, tinham de ser tratados como os seus concidadãos não-batizados. As organizações comerciais viam-nos como competidores. Os judeus da classe média assimilada de Viena e Berlim votavam-lhes franca aversão, considerando-os parentes pobres que de repente se haviam abatido sobre o seu lar, e contrariaram-se quando descobriram que, além disso, os não judeus se recusavam a aceitar os protestos dos judeus assimilados de que os judeus que chegavam haviam chegado sem "serem convidados". "Isto", diziam os não judeus entre si, "é o que acontece quando se deixa um judeu entrar. Antes de você perceber, ele trouxe a tribo toda".
Havia outros fatores em ação na Alemanha. À Guerra Franco-Prussiana de 1870 seguira-se uma crise econômica, enquanto o movimento de unificação dos estados alemães, iniciado por Bismarck, ainda estava em andamento. Era inevitável que isto focalizasse a atenção sobre a raça, sobre "germanidade".
Os emigrados do leste, com seus estranhos costumes e trajes, não se enquadravam na imagem racial germânica. Numa comunidade de estados que de repente se conscientizou de que era um só povo, não havia lugar para os homens de olhos tristes, com seus longos casacos pretos, barbas, cabelos cacheados nas têmporas e chapéus chatos. "Os judeus são o nosso azar", disse um autor do século XIX. Esta frase viria a tornar-se um lema nazista.
Se, entretanto, sua vida se tornasse difícil (esta a opinião geral) eles talvez fossem embora, e os movimentos anti-semitas dirigiram esforços nesse sentido. Já havia sido publicada muita literatura anti-semita, cada vez mais violenta. A princípio os judeus eram "estranhos" ou "decadentes", como tornaram a sê-lo na linguagem nazista de 1933-35; antes do fim do século, passaram a ser "parasitas", "subgente" que só servia para ser "pisoteada".
A teoria da evolução de Darwin, que a princípio abalou muita ilusão que a humanidade alimentava na década de 1850-60, foi rapidamente aplicada ao cenário social, por intérpretes que compensavam em dogmatismo o que lhes faltava em compreensão. Do ponto de vista da evolução, o anti-semitismo merecia certa credibilidade científica. Estes falsos conceitos também seriam adotados pelo nazismo, que representava para seus adeptos "a vontade biológica do povo".
Milhares de portas até então abertas aos judeus na Alemanha e na Áustria foram-lhes abruptamente fechadas. Os grêmios estudantis adotaram resoluções que baniam os judeus de seu seio. Os regimentos de elite e a reserva de oficiais do exército não mais os aceitavam. Clubes, sociedades e câmaras de comércio concordaram tacitamente em não permitir o ingresso de judeus.
Neste aspecto, franceses e alemães, inimigos noutros campos, fizeram causa comum, pois foram os franceses que "bolaram" o que os alemães afinal adotaram. Havia, por exemplo, uma Sociedade Gobineau em Freiburg. Mas os franceses, povo afeito às especulações intelectuais, até hoje raramente agem com base nas suas próprias especulações. Com os alemães, no entanto, dava-se o contrário. Até a filosofia mais absurda era aplicada com seriedade.
Gobineau fora amigo pessoal de Richard Wagner, o compositor, que atacara a memória do falecido Mendelssohn, de quem só recebera estímulo e apoio, por ser ele judeu. Para o compositor de "Tannhäuser" e de "O Anel dos Nibelúngios", a música de Mendelssohn passou a ser por ele considerada "estranha, fria, bizarra, medíocre, antinatural e pervertida". Por certo foi o anti-semitismo de Wagner, além de sua música, que o recomendou a Hitler.
A casa de Wagner era um ponto de encontro para o anti-semitismo "intelectual" e Hitler seria um dos seus futuros visitantes. Mas um visitante anterior fora Stewart Houston-Chamberlain (1855-1927), o antisemita britânico e propagandista alemão da Primeira Guerra Mundial. Chamberlain foi o biógrafo de Wagner e casou com sua filha. A ele é que devemos a primeira afirmação logicamente coerente da posição do anti-semita: "Odeio os judeus. Odeio sua estrela e sua cruz", manifestando seu ódio tanto ao judaísmo como ao cristianismo.
O resultado da Primeira Guerra Mundial fez recrudescer o ímpeto contra os semitas. A derrota de seus grandes impérios foi uma experiência profundamente traumática para alemães e austríacos. Durante as últimas semanas de outubro de 1918, o exército alemão estava avançando. Na semana seguinte, a 7 de novembro, cuidava-se do armistício, ficando a Alemanha à mercê das Potências Aliadas, que jamais a deixaram de considerar, mesmo depois de colocada sob um governo liberal, como militarista e agressiva.
A fúria contra ela era ainda maior porque os que a combateram jamais conseguiram dobrá-la na frente de batalha. Milhares de soldados alemães não-derrotados retornaram à Alemanha, encontrando-a economicamente falida e incapaz de sustentá-los. Alguma coisa, raciocinaram eles, deve ter acontecido além do óbvio, além do motim de marinheiros comunistas em Kiel e do rigor do bloqueio britânico, para provocar essa situação.
Era certo que, após tantos séculos de difamação e opressão, e do aumento incessante do anti-semitismo como força intelectual, que mais cedo ou mais tarde haveria uma erupção. Foi assim que os judeus passaram a responsáveis pela "punhalada nas costas" da Alemanha. Os judeus, que encontraram melhor compreensão sob o governo liberal alemão, chegando a fazer parte desse mesmo governo, foram considerados partícipes de uma grande conspiração visando á derrubada da Alemanha; e o anti-semitismo, verdadeira idéia fixa de certos indivíduos e grupos, passou a força poderosa. Como se fosse uma nova religião, entregou-se ele a ativo proselitismo.