Diplomacia quer impor cessar-fogoHussein Malla/ap
http://jn.sapo.pt/2006/07/25/primeiro_plano/ 
Subúrbios a sul de Beirute continuam a ser flagelados
Pedro Olavo Simões
Em várias frentes, a diplomacia desunha-se para atingir o fim - uma pausa que seja - do conflito que assola o Médio Oriente. Fontes israelitas, citadas na Imprensa internacional, dizem que o Estado judaico estima ter uma semana para concluir a ofensiva contra o Hezbollah, após o que poderá avançar para um acordo internacional.
Nos bastidores, fala-se que os Estados Unidos têm um calendário definido para pressionar no sentido de obter a paz, no qual a visita de Condoleezza Rice a Israel, após uma passagem inesperada pelo Líbano, é apenas o primeiro passo de uma ofensiva diplomática que conhecerá o seu auge no final da semana.
A secretária de Estado norte-americana - que hoje reúne com o primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, e com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas - ainda não pressionou Israel no sentido de pôr termo à ofensiva, mas admitiu ontem, pela primeira vez, que é "urgente" um cessar-fogo no Líbano.
Fê-lo em Beirute, onde se afirmou "profundamente preocupada com a situação do povo libanês", dando, de acordo com um elemento da comitiva citado pela France-Presse, "uma importante demonstração de apoio aos libaneses e ao Governo" de Fuad Siniora.
Esta ronda de Rice pelo Médio Oriente é, por enquanto, uma espécie de tomada do pulso à região, e os analistas consideram que a chefe da diplomacia de Washington deverá voltar à região no fim da semana, após uma cimeira na Malásia, para, definitivamente, falar de paz.
Pelo meio, Condoleezza Rice deverá participar, amanhã, em Roma, numa reunião do "grupo de contacto" para o Líbano, que, além dos EUA, Itália e Líbano, junta França, Rússia, Reino Unido e Arábia Saudita, bem como a União Europeia, as Nações Unidas e o Banco Mundial. Destinado a procurar um caminho para a paz, este encontro pode, porém, embater em posições divergentes das grandes potências, no que toca aos rumos preconizados.
Tony Blair mostrou-se favorável ao anúncio, nos próximos dias, de um plano para pôr fim à situação, que rotulou de "catástrofe". Para o primeiro-ministro britânico, "há que parar dos dois lados", algo que deverá acontecer "rapidamente". Diz Blair que "há necessidade de um plano no curto prazo, para pôr fim às hostilidades, e de um outro plano, a longo prazo, para resolver os problemas da região".
Olmert receptivoO chefe do Governo de Israel já admitiu que poderá estar receptivo à presença de uma força internacional no Sul do Líbano, mas não aceita qualquer intervenção do outro país com que partilha a fronteira setentrional. "A Síria não é parceiro diplomático. Só poderiam ganhar reconhecimento se não tivessem o dedo no gatilho nas duas frentes, no Líbano e em Gaza", disse Olmert, citado pelo jornal israelita "Haaretz". Olmert admitiu, ainda, a presença de tropas de países da União Europeia e de alguns estados árabes na região, com o objectivo de desarmar o Hezbollah e impedir a transferência de armas da Síria para o grupo xiita.
Vários países europeus mostraram-se prontos a integrar uma força desse tipo, e o alto representante da UE para a política externa, Javier Solana, diz que esse envolvimento "é uma possibilidade real". Também o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, vê aí o caminho "O nível de confiança entre as partes beligerantes é nulo, e só com uma força internacional poderemos ter o mínimo de condições para aplicar a paz".
Também o Governo português está empenhado neste envolvimento da Europa, tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, enviado uma missiva à Presidência finlandesa, para que seja convocada uma reunião dos responsáveis da diplomacia dos 25, para debater a crise no Médio Oriente.
Nações Unidas pedem ajuda no valor de 150 milhõesJan Egeland, secretário-geral adjunto das Nações Unidas para os assuntos humanitários, lançou ontem, em Beirute, um apelo à comunidade internacional, para que disponibilize com a máxima urgência 150 milhões de dólares (118,5 milhões de euros.
O dinheiro destina-se à aquisição de víveres, água potável e equipamentos médicos e sanitários, para um período de três meses, nas regiões mais atingidas.
Os EUA já responderam favoravelmente, enviando uma primeira leva de material, no valor de 24 milhões de euros, e a UE prometeu outros 10 milhões. De acordo com Egeland, o conflito afectou de 500 a 800 mil pessoas, estando muitas delas nas condições de deslocados ou refugiados.
O responsável pediu a Israel a abertura de corredores humanitários nos portos libaneses de Tripoli (Norte) e Tiro (Sul), fortemente bombardeados. Até à data, o bloqueio marítimo apenas havia sido levantado ao largo de Beirute. Egeland tem sido duro em relação ao comportamento do Estado hebraico.
No domingo, de visita à zona meridional da capital libanesa, bastião do Hezbollah, não aceitou a sugestão de "crime de guerra" que lhe era feita por alguns repórteres, mas acusou Israel de ter ali levado a cabo uma "violação do direito humanitário" "Trata-se da destruição, casa após casa, de diversas zonas residenciais. Eu diria que se trata de um uso excessivo da força, numa zona com tantos habitantes".