As sementes do Caos
Enviado: Qui Ago 09, 2007 2:10 pm
As sementes do Caos :: Pedro Paulo Rezende
pepe.rezende@correioweb.com.br (09-08-2007)
Buscar bodes expiatórios em crises graves faz parte da tradição brasileira. O mais recente caso é o linchamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) no Congresso Nacional e pela mídia. Os diretores da agência reguladora receberam uma bomba relógio nas mãos, a qual não tiveram tempo de desarmar. A bem da verdade, é preciso ressaltar que o organismo ainda está em fase de implantação e depende de pessoal do extinto Departamento de Aviação Civil (DAC) para funcionar.
No dia em que a diretoria da Anac tomou posse, em 20 de março de 2006, um avião da BRA derrapou no concreto asfáltico escorregadio de Congonhas. Em 29 de setembro, um jato Legacy, pilotado por norte-americanos, chocou-se contra um Boeing 737-800 da Gol, causando 154 mortes. Na época, uma diretora da Anac, Denise Abreu, colaborou para manchar a imagem da agência ao proferir uma frase infeliz no encontro com os parentes dos mortos no acidente: “Vocês são inteligentes. O avião caiu de 11 mil metros de altura. O que vocês esperavam? Corpos?”
Com tantos indícios contrários, por que defender o atual modelo? A resposta é simples. Cresce o número dos que querem um retorno ao passado, quando a Aeronáutica controlava sozinha o tráfego aéreo no país, alegando que o setor precisa de um único comando. O que ninguém se lembra é que as autoridades do ministério e comando da Aeronáutica permitiram a reativação de aeroportos perigosos quando detinham o controle total da aviação comercial brasileira, muito antes da formação da Anac.
Quem permitiu a concentração de vôos e de conexões em Congonhas e no Santos-Dumont foi o DAC, ignorando os planos estabelecidos pelo próprio departamento na década de 1980. O mesmo pode ser dito da Infraero, que, enquanto esteve sob controle militar, nada fez para evitar a ocupação dos espaços reservados para as pistas adicionais dos aeroportos de Cumbica e de Viracopos.
O atual modelo de agências reguladoras está longe de ser perfeito, carece de um mecanismo de controle e que impeça as nomeações políticas, mas tem a vantagem de ser transparente. Voltar ao passado não é a melhor receita. Foi lá que as sementes do caos aéreo foram plantadas.
pepe.rezende@correioweb.com.br (09-08-2007)
Buscar bodes expiatórios em crises graves faz parte da tradição brasileira. O mais recente caso é o linchamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) no Congresso Nacional e pela mídia. Os diretores da agência reguladora receberam uma bomba relógio nas mãos, a qual não tiveram tempo de desarmar. A bem da verdade, é preciso ressaltar que o organismo ainda está em fase de implantação e depende de pessoal do extinto Departamento de Aviação Civil (DAC) para funcionar.
No dia em que a diretoria da Anac tomou posse, em 20 de março de 2006, um avião da BRA derrapou no concreto asfáltico escorregadio de Congonhas. Em 29 de setembro, um jato Legacy, pilotado por norte-americanos, chocou-se contra um Boeing 737-800 da Gol, causando 154 mortes. Na época, uma diretora da Anac, Denise Abreu, colaborou para manchar a imagem da agência ao proferir uma frase infeliz no encontro com os parentes dos mortos no acidente: “Vocês são inteligentes. O avião caiu de 11 mil metros de altura. O que vocês esperavam? Corpos?”
Com tantos indícios contrários, por que defender o atual modelo? A resposta é simples. Cresce o número dos que querem um retorno ao passado, quando a Aeronáutica controlava sozinha o tráfego aéreo no país, alegando que o setor precisa de um único comando. O que ninguém se lembra é que as autoridades do ministério e comando da Aeronáutica permitiram a reativação de aeroportos perigosos quando detinham o controle total da aviação comercial brasileira, muito antes da formação da Anac.
Quem permitiu a concentração de vôos e de conexões em Congonhas e no Santos-Dumont foi o DAC, ignorando os planos estabelecidos pelo próprio departamento na década de 1980. O mesmo pode ser dito da Infraero, que, enquanto esteve sob controle militar, nada fez para evitar a ocupação dos espaços reservados para as pistas adicionais dos aeroportos de Cumbica e de Viracopos.
O atual modelo de agências reguladoras está longe de ser perfeito, carece de um mecanismo de controle e que impeça as nomeações políticas, mas tem a vantagem de ser transparente. Voltar ao passado não é a melhor receita. Foi lá que as sementes do caos aéreo foram plantadas.