Marino escreveu:Do Inforel:
Decisão sai em janeiro e novo modelo chega em 2015
27/08/2008 - 20h32
Nesta quarta-feira, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu os dois últimos aviões Mirage 2000, de um total de 12 já em uso, comprados da França. A entrega ocorreu na Base Aérea de Anápolis (GO).
Esses aviões farão a ponte até a chegada dos novos modelos que serão adquiridos através do projeto FX2 e que têm entrega prevista para 2015.
Durante o evento, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmou que em dezembro os presidentes Lula e Nicolas Sarkozy irão assinar um acordo estratégico que vai permitir a ampliação da base industrial de defesa do Brasil.
Depois de voar por cerca de 50 minutos num Mirage, o ministro afirmou que o Brasil não vai mais realizar compras de prateleira e que as novas aquisições serão feitas com a garantia de transferência de tecnologia por parte dos fabricantes.
“Significa a importância de nós encerrarmos um ciclo, que é o ciclo do Brasil comprador. Agora nós deveremos começar um novo ciclo, que é o ciclo do Brasil Parceiro”, afirmou.
Jobim explicou que o Brasil deverá adquirir um pequeno lote inicial do avião escolhido e passar a desenvolver uma plataforma que participe da produção das unidades seguintes.
Segundo ele, “a nova estratégia de Defesa significa que nós seremos produtores”.
Participam da disputa do FX2 as empresas norte-americanas Boeing (F/A-18 E/F Super Hornet) e Lockheed Martin (F-35 Lightning II), a francesa Dassault (Rafale), a russa Rosoboronexport (Sukhoi SU-35), a sueca Saab (Gripen) e o consórcio europeu Eurofighter (Typhoon).
O ministro deixou claro que a transferência de tecnologia será fundamental na definição do modelo que vai operar no Brasil e lembrou que recentemente o governo dos Estados Unidos dificultou a remessa de componentes adquiridos para o Super Tucano, da Embraer.
Nelson Jobim elogiou a transparência da França e sua disposição de avançar neste projeto da mesma maneira que avançou no acordo para a transferência de tecnologia destinada à produção de um submarino brasileiro de propulsão nuclear.
No entanto, negou que haja decisão tomada em relação aos franceses para a aquisição dos novos aviões. “A partir de janeiro nós vamos abrir a discussão em relação ao FX. Evidentemente os franceses estão na concorrência, agora, tudo vai depender das conveniências ao Brasil”, afirmou.
Para o ministro, é fundamental que o Brasil tenha autonomia tecnológica e industrial para a consolidação da defesa. “O país que tem a capacitação nacional tem poder dissuasório real”, destacou.
Ele também fez questão de esclarecer que o fortalecimento da defesa do país não tem nenhuma causa específica.
“Não estamos organizando e transformando as Forças Armadas pela perspectiva de um inimigo ou de uma ameaça. Estamos transformando na perspectiva da capacitação”, afirmou.
O ministro lembrou que o país tem muitas riquezas a defender, como as áreas juridicionais de sua plataforma marítima, que somam 3,5 milhões de km2, e que deverão subir para 4,5 milhões. “São grandes riquezas. Só os leigos é que acreditam que não precisam estar capacitados para responder a qualquer ameaça”.
IV Frota
Nesta quinta-feira, Nelson Jobim participa de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado, sobre a reativação da IV Frota da Marinha dos Estados Unidos.
Ele fez questão de afirmar que não há qualquer vínculo entre o fortalecimento da Defesa brasileira e a criação da IV Frota.
“Não vamos nos conduzir da perspectiva de que os Estados Unidos estejam nos conduzindo. Nós vamos nos conduzir dentro das nossas condições e da nossa perspectiva de capacitação”, ressaltou o ministro.
Ele explicou que a decisão do governo norte-americano não preocupa.
Segundo Jobim, “isso é uma decisão americana. O americano toma as decisões que bem quer. Nós não gostaríamos que as decisões que o Brasil está tomando agora no Plano de Defesa fossem objeto de objeções americanas. A autodeterminação dos povos é vital, e eu não vejo nenhuma dificuldade em relação à IV Frota. Fica nítido e claro que as relações com o Brasil continuarão sendo amistosas”.
Pré-sal
Nelson Jobim explicou que as Forças Armadas devem estar preparadas para defender a área do pré-sal, mas que não há preocupação exclusiva da Defesa com as reservas.
“Nós temos que nos lembrar que a América do Sul é a maior reserva de energia do mundo hoje, é a maior reserva de produção de alimentos e a maior reserva de água doce. Nós temos a Amazônia e o aqüífero Guarani. Isto basta para que nós tenhamos capacitação”, esclareceu.
Também do Inforel, o discurso do Jobim:
Brasil terá acordo estratégico com a França
27/08/2008 - 19h20 Nelson Jobim
Assistimos hoje à integração dos últimos Mirrage 2000 ao nosso conjunto de caças do Brasil. Sabem os senhores e senhoras que elaboramos e estamos a elaborar, e apresentaremos ao Brasil, nesta semana, o nosso Plano Estratégico Nacional de Defesa.
O que tem de se ter presente claramente é que o processo de transformação, que decorrerá do início desta situação com as diretrizes desse plano, é processo de transformação das Forças Armadas brasileiras, que tem como perspectiva uma reorganização nos seus efetivos, na sua lotação e na integração entre as próprias Forças.
E, fundamentalmente, considerando que a defesa deixa de ser tema exclusivamente militar para ser tema da Nação.
E, por ser tema da Nação, a transformação das Forças não se dá na perspectiva da existência da ameaça, de um inimigo, se dá isso sim na perspectiva da capacitação do país em termos dissuasórios.
Enganam-se aqueles que pensam, ou pretendem pensar e afirmar, que a organização e a transformação das Forças brasileiras têm alguma perspectiva na análise da existência de alguma posição ou algum opositor. Não. O que precisamos é nos organizar em termos de nossa capacitação.
Chega de pensarmos pequeno. Chega de termos pretensões de curto prazo. Precisamos ter afirmações de curto, médio e de longo prazo. E a capacitação de um temor dissuasório efetivo no Brasil é fundamental, tendo em vista sua perspectiva de país grande.
E é por isso que, no final do ano, em dezembro, comparecerá ao Brasil Sua Excelência o presidente (da França, Nicolas) Sarkosy, e o Brasil firmará grande acordo estratégico com a França, que envolve não só trocas e trabalhos na área de defesa, mas fundamentalmente a possibilidade de ampliação de nossa base industrial de defesa em aliança com os franceses.
Os franceses e a França são o país que, nos diálogos que fizemos pelo mundo, com a Índia, com a Rússia, com a Suécia, com os Estados Unidos, em todos eles só encontramos efetivamente com os franceses uma transparência, uma disposição real de uma parceria estratégica com o Brasil.
Não somos, não seremos e não continuaremos a ser meros consumidores de produtos de defesa, seremos, isso sim, produtores de serviços de defesa na integração do desenvolvimento brasileiro.
Os dois Mirrages que ora nos são entregues é o final de um ciclo. Teremos um novo ciclo. Um novo ciclo em que os produtos terão, junto com o ciclo, claramente, as cores brasileira e francesa para afirmar a efetividade do Brasil como um país grande.
Senhor comandante da Aeronáutica, quero agradecer toda a transparência do relacionamento do comando da Aeronáutica com o Ministério da Defesa, e dizer a V. Exa. que isso continuará assim, de forma que estamos hoje servindo a um objetivo claro, que é a afirmação do Brasil como grande potência.
E ter o Brasil como grande potência significa ter o Brasil a capacitação clara de poder dissuasório efetivo, e não verbal, e não meramente virtual. E é por isso que agradeço a V. Exa. essa dedicação. Cumprimento a todos.
E digo, não só para os franceses, que temos um longo caminho a percorrer. E saberemos percorrer com absoluta tranqüilidade.
Nelson Jobim é ministro da Defesa