Enviado: Sex Jul 06, 2007 5:42 pm
Quarta-feira, Julho 04, 2007
DUAS HISTÓRIAS DE AVIÃO...
Já contei estas duas histórias no ano passado, no início da crise dos aeroportos. Não é demais repeti-las.
Há alguns anos, um auditor fiscal paulistano foi para o Canadá, com mulher e dois filhos. Na volta, houve um problema qualquer em seu vôo e a empresa - a já falecida Canadian Airlines - levou a família para um hotel e a embarcou no dia seguinte. Se a história terminasse aqui, tudo ficaria por conta do respeito da empresa ao consumidor.
Mas a história ainda não tinha terminado. Uma vez em São Paulo, o auditor foi procurado pela Canadian Airlines. A empresa se desculpava e queria recompensar o cliente pelos transtornos ocorridos no Canadá. Ofereceu então - a ele, sua mulher e dois filhos - mais uma passagem de ida-e-volta, para onde quer que a empresa voasse.
Se a história terminasse aqui, já teria um final feliz e tanto. Mas ainda não termina. O auditor fiscal, carcamano de boa cepa, alegou talvez não poder aceitar a cortesia, afinal tinha um terceiro filho e desta vez havia prometido ao menino que não viajava sem ele. Assim sendo... Quem não chora não mama: ganhou cinco passagens.
Um outro amigo, professor de matemática no Mackenzie, foi à China com sua mulher. Mal chegou em Pequim, quebrou um pé. Permaneceu hospitalizado o tempo todo de sua viagem e voltou ao Brasil. Mas a história também não termina aqui. A empresa pela qual viajou procurou-o para dizer-lhe que lamentava ele não ter podido aproveitar sua viagem. Para compensá-lo de alguma forma, lhe oferecia mais duas passagens de ida-e-volta. Bem entendido, a empresa - cujo nome agora não lembro - nada tinha a ver com o acidente com o pé.
... E UMA DE TREM
Há dois anos, peguei o Thalys - trem de alta velocidade que faz percursos no Benelux - em Bruxelas, rumo a Paris. A viagem dura pouco mais de hora e é das mais confortáveis. Na partida, ocorreu um atraso de vinte minutos. Ao chegar em Paris, um funcionário da empresa distribuía formulários a todos os passageiros. Mais por curiosidade, peguei e perguntei para que servia. "É que o trem atrasou vinte minutos. É para o senhor solicitar indenização pelo atraso".
Na volta para o Brasil, voltei pela malsinada Varig. Sempre a evito, mas dado meu roteiro naquele ano, a Varig era a empresa que melhor me convinha. O vôo atrasou duas ou três horas. Uma senhora Argentina manifestou sua preocupação a um oficial de bordo, temia perder sua conexão para Buenos Aires. O comissário foi objetivo: "Não tem problema. A senhora entra com ação na Justiça".
Civilização e barbárie. No Canadá, uma empresa que já cumpriu seus deveres para com os passageiros prejudicados pelo overbooking, oferece mais uma passagem de ida-e-volta como compensação pelos aborrecimentos, para a família e para mais um terceiro filho que sequer participara do primeiro vôo. Na China, que ainda não saiu de sua condição de Terceiro Mundo, uma empresa usa da mesma finesse canadense, só porque um cliente quebrou o pé aleatoriamente, sem que a empresa nada tivesse a ver com isso. Na Europa, uma empresa se apressa a oferecer indenização, já na chegada do trem, aos passageiros que tiveram um atraso... de vinte minutos.
Já a Varig é mais curta e grossa: entre com ação na Justiça. Imagine uma senhora Argentina, tendo de procurar e constituir advogado no Brasil, na tentativa de receber, sabe-se lá daqui a quantos anos, um pífio ressarcimento pela perda de um vôo.
Não vai nisto uma acusação específica à moribunda Varig. Todas as empresas aéreas no Brasil estão usando e abusando da mesma falta de respeito ao usuário. A falta de respeito faz parte da alma nacional. Os passageiros têm sido tratados como gado ou mesmo pior. O gado exige alimentação durante o transporte e os passageiros que ficam a ver aviões nos aeroportos nem sempre têm sido alimentados.
Há um motim nas Forças Armadas do país e governo trata o motim como uma banal questão sindical. E mente desbragadamente para ocultar a idéia de motim. Afinal, quem usa transporte aéreo constitui apenas 8% da população brasileira. E Lula conta com o apoio de 60% desta mesma população.
Quanto aos 8%, que vão lamber sabão.
http://cristaldo.blogspot.com/
DUAS HISTÓRIAS DE AVIÃO...
Já contei estas duas histórias no ano passado, no início da crise dos aeroportos. Não é demais repeti-las.
Há alguns anos, um auditor fiscal paulistano foi para o Canadá, com mulher e dois filhos. Na volta, houve um problema qualquer em seu vôo e a empresa - a já falecida Canadian Airlines - levou a família para um hotel e a embarcou no dia seguinte. Se a história terminasse aqui, tudo ficaria por conta do respeito da empresa ao consumidor.
Mas a história ainda não tinha terminado. Uma vez em São Paulo, o auditor foi procurado pela Canadian Airlines. A empresa se desculpava e queria recompensar o cliente pelos transtornos ocorridos no Canadá. Ofereceu então - a ele, sua mulher e dois filhos - mais uma passagem de ida-e-volta, para onde quer que a empresa voasse.
Se a história terminasse aqui, já teria um final feliz e tanto. Mas ainda não termina. O auditor fiscal, carcamano de boa cepa, alegou talvez não poder aceitar a cortesia, afinal tinha um terceiro filho e desta vez havia prometido ao menino que não viajava sem ele. Assim sendo... Quem não chora não mama: ganhou cinco passagens.
Um outro amigo, professor de matemática no Mackenzie, foi à China com sua mulher. Mal chegou em Pequim, quebrou um pé. Permaneceu hospitalizado o tempo todo de sua viagem e voltou ao Brasil. Mas a história também não termina aqui. A empresa pela qual viajou procurou-o para dizer-lhe que lamentava ele não ter podido aproveitar sua viagem. Para compensá-lo de alguma forma, lhe oferecia mais duas passagens de ida-e-volta. Bem entendido, a empresa - cujo nome agora não lembro - nada tinha a ver com o acidente com o pé.
... E UMA DE TREM
Há dois anos, peguei o Thalys - trem de alta velocidade que faz percursos no Benelux - em Bruxelas, rumo a Paris. A viagem dura pouco mais de hora e é das mais confortáveis. Na partida, ocorreu um atraso de vinte minutos. Ao chegar em Paris, um funcionário da empresa distribuía formulários a todos os passageiros. Mais por curiosidade, peguei e perguntei para que servia. "É que o trem atrasou vinte minutos. É para o senhor solicitar indenização pelo atraso".
Na volta para o Brasil, voltei pela malsinada Varig. Sempre a evito, mas dado meu roteiro naquele ano, a Varig era a empresa que melhor me convinha. O vôo atrasou duas ou três horas. Uma senhora Argentina manifestou sua preocupação a um oficial de bordo, temia perder sua conexão para Buenos Aires. O comissário foi objetivo: "Não tem problema. A senhora entra com ação na Justiça".
Civilização e barbárie. No Canadá, uma empresa que já cumpriu seus deveres para com os passageiros prejudicados pelo overbooking, oferece mais uma passagem de ida-e-volta como compensação pelos aborrecimentos, para a família e para mais um terceiro filho que sequer participara do primeiro vôo. Na China, que ainda não saiu de sua condição de Terceiro Mundo, uma empresa usa da mesma finesse canadense, só porque um cliente quebrou o pé aleatoriamente, sem que a empresa nada tivesse a ver com isso. Na Europa, uma empresa se apressa a oferecer indenização, já na chegada do trem, aos passageiros que tiveram um atraso... de vinte minutos.
Já a Varig é mais curta e grossa: entre com ação na Justiça. Imagine uma senhora Argentina, tendo de procurar e constituir advogado no Brasil, na tentativa de receber, sabe-se lá daqui a quantos anos, um pífio ressarcimento pela perda de um vôo.
Não vai nisto uma acusação específica à moribunda Varig. Todas as empresas aéreas no Brasil estão usando e abusando da mesma falta de respeito ao usuário. A falta de respeito faz parte da alma nacional. Os passageiros têm sido tratados como gado ou mesmo pior. O gado exige alimentação durante o transporte e os passageiros que ficam a ver aviões nos aeroportos nem sempre têm sido alimentados.
Há um motim nas Forças Armadas do país e governo trata o motim como uma banal questão sindical. E mente desbragadamente para ocultar a idéia de motim. Afinal, quem usa transporte aéreo constitui apenas 8% da população brasileira. E Lula conta com o apoio de 60% desta mesma população.
Quanto aos 8%, que vão lamber sabão.
http://cristaldo.blogspot.com/