Koslova escreveu:Uma pergunta para o Walter, mas que obviamente estão todos convidados a participarem também.
Que avaliação você faz da classe Amur russa?
SUBMARINOS CLASSE LADA/AMUR PROJEKT 677/677E(TYPE-1650)
Introdução
Contextualizando
Os novos submarinos convencionais de quarta geração da classe
Lada, Projekt 677, foram os primeiros submarinos convencionais projetados após o fim da URSS, e em seu projeto este fato fica claro.
Dentro da doutrina de emprego estratégico de sua força naval, a Nova Rússia concedeu novamente ao submarino(notadamente ao nuclear, claro) o papel de ponta de lança de sua frota. Ou seja os submarinos de propulsão nuclear se constituem a embarcação capital da Frota. Todos os outros meios, com pouquíssimas exceções, existem e são empregados, para “dar cobertura” a operação de seus SSBN/SSGN/SSN.
Em virtude disso, todos os projetos até mesmo de grandes embarcações oceânicas, como os Porta-aviões Russos, são configurados para agir como “peças de apoio” da grande armada submarina de propulsão nuclear. E a julgar pelos planos à serem implementados em um futuro próximo este quadro não será alterado.
Por conta das peculiaridades geográficas do continental território russo, a operação de uma frota de superfície encontra limitações difíceis de se superar, especialmente no inverno, fato não recepcionado completamente pela sua esquadra submarina.
Temos então a Frota da Federação Russa “confinada” em 3 frotas ( a Frota do Báltico foi reclassificada como Flotilha aparentemente em 1998) a do Pacífico, a do Mar Negro, e a mais importante de todas, a Frota Setentrional, ou do Mar do Norte.
Em todas essas frotas, historicamente(obviamente, desde o surgimento do submarino) o conceito de “guarda de flanco” sempre esteve relacionado à Marinha Russa. Dessa forma, o papel fundamental do poder naval russo tinha como principal função estratégica a “guarda dos Flancos do Exercito Vermelho”, conceito este que se manteve ao longo do século XX, e parece se manter pelo menos nas primeiras duas/três décadas do séc. XXI.
Nesse contexto, para salvaguardar a operação de seus submarinos de propulsão nuclear(a arma dissuasória inconteste), como já dito, notadamente os SSBN, criou-se o conceito de “fortalezas de SSBN” nas áreas contíguas as frotas do Pacífico e do Atlântico.
Essas fortalezas eram(deveriam ser) de fato, verdadeiros bastiões ASW, onde qualquer tentativa de intervenção por forças navais hostis de superfície, e principalmente submarinas, deveria ser negada. Tarefa esta reservada ao Submarino por excelência.
No Pacífico os Russos mantém inequivocamente e de maneira resoluta, sua fortaleza no mar de Okhotsk, delimitado a Leste pelo arquipélago das Ilhas Kurilas, (antes da segunda guerra mundial pertencentes ao império japonês), reclamado pelo Japão, e pela península de Kanchatka (ficando fácil deduzir o porquê, muito provavelmente, os japoneses nunca mais verão sua bandeira tremulando nas ilhas Kurilas...). E ao sul, o estreito de Soya ou La Perouse, defronte à ilha setentrional japonesa de Hokkaido.
No Atlântico a “fortaleza SSBN” vai da área ao Norte da Península de Kola(mar de Barents) até, no leste, o arquipélago de Novaya Zemlyia, “limitando-se” ao norte simplesmente pela calota Polar Ártica.
Em virtude do sensível aumento de alcance dos SLBMs(Mísseis Balísticos Intercontinentais lançados por Submarinos) ao longo das décadas de 60/80 (notadamente após o IOC dos SS-N-18), essas Fortalezas , não seriam apenas a área de cobertura para saída e retorno dos submarinos em patrulha, mas simplesmente suas zonas de lançamento de SLBMs, que estariam prontos para serem disparados de seus próprios ancoradouros(!).
Isso posto, vamos então ao papel dos
submarinos convencionais.
Doutrina & antecedentes
No contexto delineado acima, cabe aos submarinos convencionais auxiliar junto com os navios e aeronaves ASW(cruzadores, destróieres, fragatas, corvetas, lanchas-torpedeiras, helicópteros ASW, caças-bombardeiros ASuW, aeronaves LRMP/ASW, aeronaves ASW anfíbias, embarcações lança-minas etc.) o saneamento das fortalezas ASW.
Este sempre foi o norte dos projetos russos de submarinos convencionais. Além do que, fora desse contexto, tais embarcações eram necessários em outros teatros como M Báltico, e o Mar Negro na clássica função de interdição das SLOC da NATO bem como a negação do uso do mar.
Esperava-se que além dos SSKs se tornassem uma ameaça as SLOC da NATO mais próximas do litoral russo(áreas adjacentes ao mar da Noruega ao norte, e ao sul estreito da Dinamarca, canal da Mancha), tb atuassem com desenvoltura em uma atividade de alto-conceito e importância desde a muito, na estratégia naval Soviética:
A minagem defensiva.
Seguindo-se a longa série de projetos pós- II GM, inspirados no tipo XXI alemão, (projekts 611, 613, 633, 641 e 641B , respectivamente;
Zulu-5,
Wiskey, Romeu, Foxtrot, Tango), temos uma visão clara do amadurecimento de projeto, com o Projekt
Tango , na época, o maior submarino convencional já construído em série após a segunda guerra mundial.
A maioria desses projetos esteve a cargo do CKB-ME( escritório de projetos navais)
Rubin de Sankt Petersburg, a frente do qual se notabilizou, uma figura quase mítica entre os engenheiros navais, Igor Spassky, o engenheiro-Chefe de projetos, que entre outros feitos, foi projetista-Chefe do grupo de trabalho encarregado de projetar e desenvolver o Projekt 941
Akula(NATO-Typhoom)
O projeto
Tango estava equipado com a suíte
Shark Fin/Mouse Roar, que era em última análise o último desenvolvimento antes dos
Shark Teeth que equiparam a classe
Kilo Projekt 877.
Os
Kilo tb se caracterizavam pelo casco duplo(desloxcamento submerso de cerca de 3900t, e no caso do tipo 636M, 4000t) que lhe outorgava/outorga uma capacidade respeitável de resistir a impactos submarinos mesmo a profundidades consideráveis de até 200m. Caracteriza-se por um massivo casco de aço amagnético externo de cerca de 9,9m de diâmetro moldado(!) e casco interno de 6,8m(alguma fontes reportam 7,2m) dividido em seis compartimentos estanques.
“O Barco”
O projeto 677/1850 foi grandemente influenciado pelo fim da URSS. Na verdade seus requisitos operacionais básicos(em português ROB) estavam sendo gerados exatamente em 1991 (...) (Swanck, 1996).
Naquele ano o projeto aparentemente foi postergado para novas avaliações pelo estado-maior da Armada da Federação Russa. Sendo retomado exatamente no dia do ataque final ao parlamento russo durante a crise constitucional de 1993 em outubro.
A GRANDE novidade desse projeto renascido, era de que deveria ter uma versão de exportação otimizada(como nunca antes) para clientes de exportação, uma medida para viabilizar a variante específica da Marinha Russa Projekt 677
Lada. A principal Versão de exportação tomaria o
Lada como projeto-base e seria designado pelo fabricante como
Amur 1650/Projekt 677E de cerca de 2700t de deslocamento submerso. No entanto, variantes menores de até 550t foram desenvolvidas. O Marketing tem se restringido afinal apenas aos modelos Amur 1850 e 950, projetos já detalhados e prontos para produção pelos estaleiros certificados para contrui-los. Severnaya Verf, Admiralty, e aparentemente Amurskyi(Konsomolsk)
Os projekt 877
Lada (versão de exportação Amur 1650) São uma dramática evolução da classe 877
Kilo, são menores, equipados com uma completa suíte sonar, incluindo o
Metak (Shark Tail) , antena de sonar rebocado.
O equipamento eletrônico instalado inclui tb diversas vantagens que antes só estavam disponíveis em submarinos ocidentais nucleares e não nucleares. Um exemplo disso era a capacidade de
Track multi-alvos. Pelo que consegui apurar no caso dos Projekt 877EKM(Kilo Improved) e 677E/Amur 1650 essa capacidade é de até 5 alvos simultaneamente.
Essa capacidade é franqueada aos
Lada pelo sistema de processamento
Zena-MS, que dá suporte ao sistema de combate propriamente dito, e tb aos sistema de pré-seter e seter
Volk.
Outra característica interessante é a autonomia de 45 dias, similar a dos modelos ocidentais contemporâneos como as classes IKL-214,
Scorpene. Os únicos que permitem uma comparação direta.
No que diz respeito aos
dentes do
Amur, o Projekt 677/Amur 1650, tem a seu dispor toda a sorte dos mais recentes desenvolvimentos do extenso arsenal russo ASW/ASuW. Isto inclui atualmente e em futuro próximo os torpedos SET-65KE , o TT-1(ambos de propulsão elétrica), além do propalado TEST-71ME-NK e a versão ME-MS.
O Projekt 677(a versão de uso exclusivo da Marinha Russa) está tb certamente equipado com a estrela dos torpedos russos o VA-111
Shkval(embora alguns estudiosos digam que suas dimensões oficialmente conhecidas 8,2m de comprimento, inviabilize sua estiva no compartimento de torpedos dessa classe).
De outro modo, no entanto, tb é lícito supor que um novo projeto como o 677 não ficasse em maturação por tanto tempo, sem que não se previsse o uso de uma “bala de prata” como o VA-111 única e exclusivamente por limitação de cerca de 10cm(!), uma vez que o compartimento de torpedos do Projekt 677 é estimado em cerca de 8,8m com comprimento útil de 8,3m.
Nesse ponto registro minhas reservas(e muita frustração) para manter esse ponto inconclusivo.
O Armamento de mísseis inclui tb o sistema
Klub (3M54E Klub - NATO SS-N-27)(tb conhecido em algumas literaturas como
Byruza ou
Alpha) projetados pelo Novator NPO de Ekaterinburg em duas versões: uma versão anti-navio com ogiva de 200kg guiagem ARH-
Active Radar Homing ou a versão ASCM 3M-54E1 de ataque terrestre com ogiva de 400kg(aprox.) com guiagem por TFR. Especulando-se que sua ogiva seja de um combinado de PBX-105(não consegui confirmar isso). Interessante tb é confirmar que na versão anti-navio o terceiro estágio do míssel provê a capacidade de atingir velocidades de até mach 2,9 na fase final de ataque ao alvo, tornando a solução de tiro defensivo por parte da embarcação-alvo extremamente limitada, para não dizer impossível, considerando-se claro, os sistemas anti-mísseis conhecidos.
Este sistema é de maneira confirmada, já operacional na marinha Indu, que pode equipar e certificar a operação deste sistema no seu décimo submarino classe 877
Kilo Improved a partir de 2001(o IOC deste sistema ocorreu em novembro do mesmo ano), e prevê-se que os cinco submarinos anteriores desta classe(em ordem de lançamento/incorporação) serão refitados com este sistema.
A China Comunista tb demonstra interesse neste sistema, para os seus subs 877/636. e tb para a classe SSN
Jim(type 094) e a classe 39A
Yuan(sobre esta classe vou abrir um parêntese nas próximas semanas)
Ainda no campo dos mísseis existe a possibilidade do sistema SS-N-15/16 ser instalado na versão russa.
No que tange a propulsão, os russos foram pragmáticos e adotaram uma configuração já testada e aprovada do SED-1 + dois geradores diesel. A potência de trabalho oferecida por esta configuração é de de aproximadamente 5.500shp, como as dimensões do 677 são cerca de 25% menores que as do Projekt 877, e como a potência acima descrita é apenas 10% inferior..., então temos uma verdadeira vantagem em termos de energia de propulsão disponível. Como os geradores diesel oferecem cerca de 2000Kw/h e o conjunto de baterias fornece até 10580kw/h tem-se uma idéia muito boa da capacidade de recarga
full de energia.
Apenas como comparação um submarino TR-1700 argentino projetado/fabricado pela TNSW nos anos 80, tem segundo fontes do NTI, um tempo de recarga
full de suas baterias, de cerca de 3,8-4,0h qdo. Se seu conjunto de baterias estiver em bom estado de conservação, e se a velocidade de
snorkel, for mantida no máximo possível(10 nós).
Um dado digno de nota é o alcance sem
snorkel do
Amur a cerca de 3 nós de velocidade que é de aprox. 650 milhas. Para um submarino com cerca de 7,1m de boca e 66,8m um desempenho notável.
Evidentemente como todos os mais recentes projetos de submarinos convencionais o 677 tb foi pensado desde o início para ter um sistema de propulsão AIP
fuel cell. Nocaso russo o
Kristal-27E, de arquitetura similar ao sistema alemão.
Esse sistema/opção parece ter sido criado para seduzir a marinha indiana em sua busca pelo ATV. que agora parece ser algo projetado para 2015/20. Até lá os indianos além da incorporação de seis submarinos Scorpene(sem AIP) provavelmente adotarão o Amur como
second case em sua armada.
A seguir
Parte II- "Análise" de conveniência operativa por algumas Armadas, do Projekt 677E Amur.
sds
Walter