Chaves e seus caças russos

Assuntos em discussão: Força Aérea Brasileira, forças aéreas estrangeiras e aviação militar.

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Koslova
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Chaves e seus caças russos

#1 Mensagem por Koslova » Dom Fev 04, 2007 6:45 pm

Em alguns lugares do mundo, existem alguns caldos de cultura que são possíveis causadores de conflitos armados.

No oriente médio, temos a questão religiosa, e o “estado religioso” como forma de pressão e possível geradores de conflitos.

Na Europa, apesar de bastante estável politicamente, podemos ter questões étnicas ou energéticas / separatistas como fontes de tensões.

Na Ásia temos questões relativas ao equilíbrio de poder entre potenciais regionais, ou questões isoladas como a Coréia do Norte

Na África temos questões tribais, e estados de guerra civil.

E na América do Sul?

Na América do Sul temos questões relativas a atividades de narcotráfico em alguns paises e questões relativas a pequenos conflitos de fronteiras entre alguns paises.

A pergunta teria que ser refeita.

Existem questões de natureza religiosa, étnicas ou um reequilibrio entre potenciais regionais na região?

A resposta é não.

E se a resposta é não.

Qual a conseqüência disto então?

Que nenhum líder sul-americano tem pressões internas, de natureza sejam elas étnicas, territoriais, religiosas para uma declaração de guerra com um outro pais.

Por mais que criaturas como Chaves, Morales, ou qualquer outro populista caricato no continente, possa parecer em “el loco”, na verdade jogam para a torcida, isto é, vestem a fantasia de pai dos pobres, mas guardam uma elevada dose de racionalidade na preservação de seu regime, seus privilégios financeiros, políticos e de toda a sua facção política.

Esta dose de racionalidade, vai de criaturas como Chaves até Saddan Hussein, em ultima analise sempre trabalham para a preservação de seu regime.

Depois de preso, perguntaram a Saddan porque ele teria invadido o Kuait em 1990. Ele disse que precisava manter suas FA´s ocupadas com algo.

Tinha uma alta dose de racionalidade nisto, afinal com o fim do conflito com o Irã, Saddan sabia que um reequilibrio de forças dentro do seu regime poderia ameaçá-lo. Teria errado apenas no calculo da reação, mas a sua decisão obedecia a uma lógica.

Hoje Chaves também tem a sua lógica.

Ele calcula que militarmente não existe prioridade para qualquer resposta militar ao seu regime, também calcula que os EUA dependem do seu petróleo, assim como o delicado equilíbrio financeiro de Brasil e Argentina levam os dois paises a uma postura low profile, sempre preocupados em colocar panos quentes em qualquer tensão, e vender a América do Sul, como um lugar estável e seguro, para que seus títulos de divida publica vendam no exterior.

Se ninguém pode lhe ameaçar militarmente e seus vizinhos mais influentes tem que se manter low profile, então surgiu uma ótima oportunidade para mostrar o que a cultura política da América latina tem de melhor.

A corrupção, o populismo, o desrespeito a instituições democráticas, o assistencialismo social baseado na demagogia, as bravatas contras as elites, sejam elas internas ou externas.

Chaves é exatamente isto, um cacareco que RACIONALMENTE transita entre o imobilismo de EUA. Brasil e Argentina cada um dos 3 com a sua razão, mantendo assim o seu regime.

Qual o erro de Chaves que derrubaria o seu regime?

Se envolver em qualquer conflito de natureza militar, que de a seus inimigos, o pretexto para acata-los.

Chaves vai cometer este erro?

Não, ele é racional, não é um “El loco”, isto é apenas na sua fantasia.

E as compras de caças, helicópteros e demais armamentos da Venezuela?

Existem algumas abordagens.

1) A primeira delas é que Chaves tem que trocar de fornecedores, como, Egito, Irã, Israel, em alguns momentos da sua historia também tiveram que trocar por peculiaridades políticas. Os Su-30 são o caça russo de exportação, não fosse ele seria o Mig-29, como custo beneficio vieram os Su-30, não entendam ele como uma compra pelo melhor caça no mercado, entendam ele como UMA COMPRA PELO ÚNICO CAÇA NO MERCADO, para os venezuelanos.

2) A segunda abordagem é que em regimes não democráticos e corruptos a compra de armas é uma ótima chance de desvio de recursos e enriquecimento do regime, vide Iraque, Arábia Saudita, na Venezuela esta pode ser uma das explicações.

3) Chaves é ex militar, um ex golpista, assim como Saddan, sabe da importância de manter suas FA´s “ocupadas”, como não pode seguir o exemplo de Saddan e se envolver em um conflito, tem procurado manter uma relação de transformação de suas FA´s




Finalmente é bastante tentador imaginar o que seriam as FA´s Venezuelanas em ação. Sim, elas merecem respeito, afinal, paises como Brasil, Colômbia, Equador, Peru tem FA´s de baixa qualidade, tão baixa quando as venezuelanas, na media nivelando por baixo, existe um equilíbrio de forças na região.

Mas é histórico, que FA´s associadas a regimes não democráticos, acabam por se tornar ruins operacionalmente, uma vez que parte de seus aparatos não são focados na função operacional verdadeira da FA que é a dissuasão externa, ao contrario passam a ser aparelhos do regime, perdendo a sua capacidade real de combate.

Foi assim na Argentina, a melhor FA sul americana no começo dos anos 80, e totalmente inapropriada para o combate como o conflito de 1982 demonstrou, foi assim com o Brasil durante o regime militar, provavelmente uma das priores FA´s do mundo pelo orçamento que tem, era assim na URSS, é assim na China.

Com a Venezuela e seu governo de ex golpistas, dificilmente serão caças Su-30 que tornaram a FAV uma força moderna, embora repito, como os vizinhos da Venezuela são tão ruins quanto em cultura militar, sim, temos que olhar com alguma atenção as compras de Chavez.




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#2 Mensagem por Marino » Dom Fev 04, 2007 7:46 pm

Que nenhum líder sul-americano tem pressões internas, de natureza sejam elas étnicas, territoriais, religiosas para uma declaração de guerra com um outro pais.

Koslova, as gerações atuais e futuras do Peru e Bolívia estão comprometidas, no sentido de que não há solução previsível tão grande é o ódio, com a recuperação dos territórios perdidos na guerra do Pacífico.
Não é a toa que o Chile se reequipou e tentará manter uma dianteira militar em relação a estes 2 países.
Nós aqui no Brasil não temos noção deste comprometimento, de corações e mentes.
No governo Alvarado quase houve a invasão do Chile pelo Peru, não ocorrendo por pressão americana e brasileira, depois do golpe de Pinochet.
É algo que deve estar na mente dos estrategistas sempre.
Saudações
Marino




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#3 Mensagem por Sintra » Dom Fev 04, 2007 7:55 pm

Bom tópico Koslova (como de costume, aliás)

Visto de onde eu estou sentado (Califado de Sintra, como diria o nosso colega P44) é verdadeiramente surpreendente como é que um País com um PIB per capita de 6900 Dólares\ano (por comparação, o Brazil está nos 9000 dólares\ano e Portugal nos 20000 dólares\ano) se enfia a comprar uma pazada de caças, submarinos, armas automáticas, etc, etc, etc...
E ainda por cima não tendo uma real ameaça externa (a não ser que alguém considere os EUA como sendo uma ameaça, se assim for as compras Venezuelanas são de uma incompetência tático\estratégica completamente surreal).
Para quem se diz Socialista o sr Chavez talvez fizesse melhor em gastar aquele dinheiro em escolas e hospitais...




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#4 Mensagem por Brasileiro » Dom Fev 04, 2007 8:00 pm

Legal, agora vem uma inevitável pergunta face ao tópico da Koslova.

E o Brasil?
Estamos próximos de dois esquadrões de Rafales (ou Sukhois, como queiram). Qual é a nossa ameaça?
Que tipo de ameaça uma compra como a do FX vislumbraria? Seria o Chávez?


abraços]




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#5 Mensagem por Bolovo » Dom Fev 04, 2007 8:05 pm

Brasileiro escreveu:Legal, agora vem uma inevitável pergunta face ao tópico da Koslova.

E o Brasil?
Estamos próximos de dois esquadrões de Rafales (ou Sukhois, como queiram). Qual é a nossa ameaça?
Que tipo de ameaça uma compra como a do FX vislumbraria? Seria o Chávez?


abraços]

Inimigo nenhum.

Estamos só substituindo um velho vetor que temos, é um ciclo que ocorre a cada 30 anos em média aqui na Am Látina, é por isso que está todo mundo fazendo novas compras.




"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
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#6 Mensagem por Brasileiro » Dom Fev 04, 2007 8:07 pm

Inimigo nenhum.

Estamos só substituindo um velho vetor que temos, é um ciclo que ocorre a cada 30 anos em média aqui na Am Látina, é por isso que está todo mundo fazendo novas compras.


Obrigado.

Era o que eu imaginava.

Pensei que talvez tivesse 'algo mais'.


abraços]




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Re: Chaves e seus caças russos

#7 Mensagem por Túlio » Dom Fev 04, 2007 8:40 pm

Koslova escreveu:
Mas é histórico, que FA´s associadas a regimes não democráticos, acabam por se tornar ruins operacionalmente, uma vez que parte de seus aparatos não são focados na função operacional verdadeira da FA que é a dissuasão externa, ao contrario passam a ser aparelhos do regime, perdendo a sua capacidade real de combate.



Gostei por demás deste texto da Mestra Koslova (redundante dizer isso...), mas vou me ater a este parágrafo, que me interessou particularmente.

Bueno, iniciarei referindo-me a um dos mitos da 2GM: o Soldado Italiano era o que de pior havia na época.

Segundo depoimentos de Soldados Ingleses - estes sim, sempre descritos, e com justiça, como sendo dos melhores que havia - que enfrentaram os Italianos na África do Norte, estes lutavam brava e ferozmente, em que pese serem mal treinados e equipados. Principalmente, eram MUITO mal comandados. A distância entre Praças e Oficiais era intransponível. Um verdadeiro sistema de castas. Consta de uma antiga Revista Commando um episódio em que Tropas Inglesas capturaram um ônibus Italiano. Dentro, devidamente protegidas por um padre, dezenas de belas e elegantes signoras acompanhavam a marcha dos maridos, Oficiais do Exército Italiano. Parece história das guerras medievais, mas aconteceu em meados do século XX...

O fato é que, dada a longa permanência dos fascistas no poder, o Estado e, por extensão, as FFAA, se partidarizou: ou é fascista de carteirinha e tem pistolão dos buenos ou vai lamber sabão. Então, cada vez menos se ascendia na Carreira Militar por MÉRITO PROFISSIONAL do que por PRESTÍGIO POLÍTICO: o comando não era dado ao melhor, mas ao mais apadrinhado. Não se tinha como nem por quê granjear respeito profissional entre a tropa, ou porque não se tinha qualidades a mostrar, ou porque não se precisava fazê-lo. Normalmente, ambos. Tinha-se apenas o Regimento Disciplinar.

Interessante é que no mesmo texto, a que recorro de memória, dizia o autor que a Alemanha ia no mesmo caminho, só não se havia deteriorado ainda por ser seu regime dez anos mais novo que o da Itália: quanto começou a 2GM, o nazismo estava no poder faziam apenas 6 anos (1933/1939). Mussolini ascendera ao poder em 1922.

Cito, ainda de memória, outro fato interessante, referente a isso, e que uso agora à guisa de exemplo: à medida que a guerra prosseguia, o Me-109 mostrava sinais cada vez mais claros de obsolescência, sendo praticamente ofuscado pelo FW-190. Foi então postulada a padronização deste último em detrimento do Me-109. E...? Bueno, Willy Messerschmitt era membro fundador do Partido e amigo pessoal do Führer, daí, sacumé, né?

Aliás, Heinkel apresentou um caça bimotor a jato, o Heinkel He-280, bem antes do Me-262. Mas Ernst Heinkel não era muito querido por Göering...

Sintomático...

Então, ditaduras tendem a se perpetuarem à custa do de melhor há num País, não importa onde seja.

O monopartidarismo inerente a elas sepulta as chances dos capazes e competentes em prol dos apadrinhados, gerando então desprezo e rancor. Ademais, o ditador não está lá apenas por seus méritos: é mantido no poder pelos que o desfrutam à sua sombra. Assim, o Estado perde gradualmente suas capacidades mais importantes pela constante dilapidação/malversação de seus recursos pela camarilha & apaniguados.

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#8 Mensagem por 3rdMillhouse » Dom Fev 04, 2007 9:47 pm

Vendo por esse ponto de vista, e fato, eu nunca cheguei a reparar nessa obsolência que incorre em FA's de países em ditadura, talvez deve ter sido por falta de atenção.




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#9 Mensagem por Carlos Souza » Dom Fev 04, 2007 11:06 pm

Koslova de onde vem tamanho conhecimento e capacidade para escrever. Sinceramente estou impressionado, pois mesmo muitos militares não tem capacidade para expressar um pensamento como você.
Obs.: Concordo totalmente com você, mas temo que se não houver um reaparelhamento a altura dos outros países sulamericanos haja o risco de um conflito em alguns anos.

Parabéns.




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#10 Mensagem por Einsamkeit » Dom Fev 04, 2007 11:22 pm

O Inimigo do Brasil é interno




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Lobos que foram homens e o tornarão a ser
ou talvez memórias de homens.
que insistem em não rasgar a pele
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#11 Mensagem por Pepê Rezende » Seg Fev 05, 2007 7:11 am

Sintra escreveu: Visto de onde eu estou sentado (Califado de Sintra, como diria o nosso colega P44) é verdadeiramente surpreendente como é que um País com um PIB per capita de 6900 Dólares\ano (por comparação, o Brazil está nos 9000 dólares\ano e Portugal nos 20000 dólares\ano) se enfia a comprar uma pazada de caças, submarinos, armas automáticas, etc, etc, etc...

E ainda por cima não tendo uma real ameaça externa (a não ser que alguém considere os EUA como sendo uma ameaça, se assim for as compras Venezuelanas são de uma incompetência tático\estratégica completamente surreal).
Para quem se diz Socialista o sr Chavez talvez fizesse melhor em gastar aquele dinheiro em escolas e hospitais...


O plano original era bem menos sofisticado:

1. Modernizar os F-16A para o padrão MLU israelense, podendo disparar Derby e Python 5.

2. Comprar 12 unidades de um vetor de ataque leve (AMX, Hawk ou outro) para substituir os F-5A.

3. Adquirir Super Tucanos para substituir Broncos, T-34 e outras traquitanas e simplificar a rede logística.

4. Adquirir aviões Casa 295 e helicópteros russos para suprir (Mi-171 e Mi-26) e apoiar (Mi-24) o Exército na Amazônia.

Com a bela intervenção de Bush e o fechamento das linhas logísticas, a coisa só piorou. Os F-5A serão mantidos pela indústria iraniana, só para dar um exemplo.

Abraços

Pepê




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Re: Chaves e seus caças russos

#12 Mensagem por Pepê Rezende » Seg Fev 05, 2007 7:14 am

tulio escreveu:
Koslova escreveu:
Mas é histórico, que FA´s associadas a regimes não democráticos, acabam por se tornar ruins operacionalmente, uma vez que parte de seus aparatos não são focados na função operacional verdadeira da FA que é a dissuasão externa, ao contrario passam a ser aparelhos do regime, perdendo a sua capacidade real de combate.



Gostei por demás deste texto da Mestra Koslova (redundante dizer isso...), mas vou me ater a este parágrafo, que me interessou particularmente.

Bueno, iniciarei referindo-me a um dos mitos da 2GM: o Soldado Italiano era o que de pior havia na época.

Segundo depoimentos de Soldados Ingleses - estes sim, sempre descritos, e com justiça, como sendo dos melhores que havia - que enfrentaram os Italianos na África do Norte, estes lutavam brava e ferozmente, em que pese serem mal treinados e equipados. Principalmente, eram MUITO mal comandados. A distância entre Praças e Oficiais era intransponível. Um verdadeiro sistema de castas. Consta de uma antiga Revista Commando um episódio em que Tropas Inglesas capturaram um ônibus Italiano. Dentro, devidamente protegidas por um padre, dezenas de belas e elegantes signoras acompanhavam a marcha dos maridos, Oficiais do Exército Italiano. Parece história das guerras medievais, mas aconteceu em meados do século XX...

O fato é que, dada a longa permanência dos fascistas no poder, o Estado e, por extensão, as FFAA, se partidarizou: ou é fascista de carteirinha e tem pistolão dos buenos ou vai lamber sabão. Então, cada vez menos se ascendia na Carreira Militar por MÉRITO PROFISSIONAL do que por PRESTÍGIO POLÍTICO: o comando não era dado ao melhor, mas ao mais apadrinhado. Não se tinha como nem por quê granjear respeito profissional entre a tropa, ou porque não se tinha qualidades a mostrar, ou porque não se precisava fazê-lo. Normalmente, ambos. Tinha-se apenas o Regimento Disciplinar.

Interessante é que no mesmo texto, a que recorro de memória, dizia o autor que a Alemanha ia no mesmo caminho, só não se havia deteriorado ainda por ser seu regime dez anos mais novo que o da Itália: quanto começou a 2GM, o nazismo estava no poder faziam apenas 6 anos (1933/1939). Mussolini ascendera ao poder em 1922.

Cito, ainda de memória, outro fato interessante, referente a isso, e que uso agora à guisa de exemplo: à medida que a guerra prosseguia, o Me-109 mostrava sinais cada vez mais claros de obsolescência, sendo praticamente ofuscado pelo FW-190. Foi então postulada a padronização deste último em detrimento do Me-109. E...? Bueno, Willy Messerschmitt era membro fundador do Partido e amigo pessoal do Führer, daí, sacumé, né?

Aliás, Heinkel apresentou um caça bimotor a jato, o Heinkel He-280, bem antes do Me-262. Mas Ernst Heinkel não era muito querido por Göering...

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Então, ditaduras tendem a se perpetuarem à custa do de melhor há num País, não importa onde seja.

O monopartidarismo inerente a elas sepulta as chances dos capazes e competentes em prol dos apadrinhados, gerando então desprezo e rancor. Ademais, o ditador não está lá apenas por seus méritos: é mantido no poder pelos que o desfrutam à sua sombra. Assim, o Estado perde gradualmente suas capacidades mais importantes pela constante dilapidação/malversação de seus recursos pela camarilha & apaniguados.

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Não podemos esquecer o Heinkel 100, mais veloz que o BF-109E e com o mesmo raio de ação do BF-110. Mas Ernst Heinkel não era nazista...

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Re: Chaves e seus caças russos

#13 Mensagem por Morcego » Seg Fev 05, 2007 11:18 am

Pepê Rezende escreveu:
tulio escreveu:
Koslova escreveu:
Mas é histórico, que FA´s associadas a regimes não democráticos, acabam por se tornar ruins operacionalmente, uma vez que parte de seus aparatos não são focados na função operacional verdadeira da FA que é a dissuasão externa, ao contrario passam a ser aparelhos do regime, perdendo a sua capacidade real de combate.



Gostei por demás deste texto da Mestra Koslova (redundante dizer isso...), mas vou me ater a este parágrafo, que me interessou particularmente.

Bueno, iniciarei referindo-me a um dos mitos da 2GM: o Soldado Italiano era o que de pior havia na época.

Segundo depoimentos de Soldados Ingleses - estes sim, sempre descritos, e com justiça, como sendo dos melhores que havia - que enfrentaram os Italianos na África do Norte, estes lutavam brava e ferozmente, em que pese serem mal treinados e equipados. Principalmente, eram MUITO mal comandados. A distância entre Praças e Oficiais era intransponível. Um verdadeiro sistema de castas. Consta de uma antiga Revista Commando um episódio em que Tropas Inglesas capturaram um ônibus Italiano. Dentro, devidamente protegidas por um padre, dezenas de belas e elegantes signoras acompanhavam a marcha dos maridos, Oficiais do Exército Italiano. Parece história das guerras medievais, mas aconteceu em meados do século XX...

O fato é que, dada a longa permanência dos fascistas no poder, o Estado e, por extensão, as FFAA, se partidarizou: ou é fascista de carteirinha e tem pistolão dos buenos ou vai lamber sabão. Então, cada vez menos se ascendia na Carreira Militar por MÉRITO PROFISSIONAL do que por PRESTÍGIO POLÍTICO: o comando não era dado ao melhor, mas ao mais apadrinhado. Não se tinha como nem por quê granjear respeito profissional entre a tropa, ou porque não se tinha qualidades a mostrar, ou porque não se precisava fazê-lo. Normalmente, ambos. Tinha-se apenas o Regimento Disciplinar.

Interessante é que no mesmo texto, a que recorro de memória, dizia o autor que a Alemanha ia no mesmo caminho, só não se havia deteriorado ainda por ser seu regime dez anos mais novo que o da Itália: quanto começou a 2GM, o nazismo estava no poder faziam apenas 6 anos (1933/1939). Mussolini ascendera ao poder em 1922.

Cito, ainda de memória, outro fato interessante, referente a isso, e que uso agora à guisa de exemplo: à medida que a guerra prosseguia, o Me-109 mostrava sinais cada vez mais claros de obsolescência, sendo praticamente ofuscado pelo FW-190. Foi então postulada a padronização deste último em detrimento do Me-109. E...? Bueno, Willy Messerschmitt era membro fundador do Partido e amigo pessoal do Führer, daí, sacumé, né?

Aliás, Heinkel apresentou um caça bimotor a jato, o Heinkel He-280, bem antes do Me-262. Mas Ernst Heinkel não era muito querido por Göering...

Sintomático...

Então, ditaduras tendem a se perpetuarem à custa do de melhor há num País, não importa onde seja.

O monopartidarismo inerente a elas sepulta as chances dos capazes e competentes em prol dos apadrinhados, gerando então desprezo e rancor. Ademais, o ditador não está lá apenas por seus méritos: é mantido no poder pelos que o desfrutam à sua sombra. Assim, o Estado perde gradualmente suas capacidades mais importantes pela constante dilapidação/malversação de seus recursos pela camarilha & apaniguados.

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Não podemos esquecer o Heinkel 100, mais veloz que o BF-109E e com o mesmo raio de ação do BF-110. Mas Ernst Heinkel não era nazista...

Pepê


ME-262, vamos supor apenas duas coisas:

que o ME-262 tivesse entrado em operação 1 ano antes (coisa bastante possível não fosse o custo com a BARBAROSSA);

e que TITIO adolf NÃO se metesse e deixasse que o avião brigasse pela superioridade aérea.

PRONTO, isso já ia ser uma dor de cabeça dos infernos para os aliados.

outra coisa, o melhor soldado tanto em tática como em técnica, era o alemão, não se pode confundir as atitudes nefastas de um partido politico e de seus capangas armados com aquilo que a guerra tem de belo.




Carlos Mathias

#14 Mensagem por Carlos Mathias » Seg Fev 05, 2007 11:23 am

a guerra tem de belo.


E tem algo de belo na guerra?




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Re: Chaves e seus caças russos

#15 Mensagem por Túlio » Seg Fev 05, 2007 11:32 am

morcego escreveu:
ME-262, vamos supor apenas duas coisas:

que o ME-262 tivesse entrado em operação 1 ano antes (coisa bastante possível não fosse o custo com a BARBAROSSA);


:arrow: O He-280 poderia entrar ainda antes...

:arrow: O Me-262 demorou porque o insano, sexófobo Adolf queria um caça-bombardeiro para atacar a população Inglesa, ao invés de um interceptador para defender a população Alemã. Típico de ditadores...

morcego escreveu:e que TITIO adolf NÃO se metesse e deixasse que o avião brigasse pela superioridade aérea.


PRONTO, isso já ia ser uma dor de cabeça dos infernos para os aliados.


Ditadores SEMPRE dão um jeito de se intrometerem: são ditadores, não?


morcego escreveu:outra coisa, o melhor soldado tanto em tática como em técnica, era o alemão, não se pode confundir as atitudes nefastas de um partido politico e de seus capangas armados com aquilo que a guerra tem de belo.


Aí entramos num terreno BEM minado: melhores por quê? Genética?




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