A Sindrome de Gabriela
Enviado: Dom Fev 04, 2007 6:37 pm
Vendo as belas fotos do Mi-26 na Venezuela,
Eu até hoje queria entender, porque diabos, este “pacotão” que o governo negocia com a Rússia contempla a compra do Mi-171 e não a compra do Mi-26.
Porque o Mi-26, este sim contemplaria a conclusão de um programa já identificado como necessário pela FAB que é a concorrência CHX.
A compra do Mi-171 vai na contramão da escolha do Blackhawk como vetor C-SAR da FAB, bem como da lógica de padronização com o S-PUMA/COUGAR que já opera na FAB, EB e MB.
Como ultimamente aqui no fórum anda uma caça as bruxas sobre opiniões que não possam ser cientificamente provadas, tudo que vocês vão ler abaixo, é uma visão amadora, distorcida e preconceituosa, de alguém que não conhece absolutamente nada sobre processos de planejamento e gestão de tecnologia aeroespacial.
Didaticamente falando.
Programa P-3
No final dos anos 90, a FAB comprou os P-3 como forma de conclusão do programa P-3BR. Como todos sabem, o programa P-3BR tem um horizonte de conclusão de 10 anos.
Uma comparação com os P-3 operados pelo Chile e pela Argentina, nos conduz a algumas diferenças:
Os programas de Chile e Argentina estão 10 anos a frente do Brasileiro
O programa Argentino permitiu a transição segura e preservação da doutrina ASW disponível naquele pais.
O programa Chileno incorpora itens nacionais como sistemas de controle de dados táticos e data link
No programa brasileiro houve um hiato de mais de uma década entre a desativação dos meios ASW e a ativação dos novos P-3
Apesar de termos tecnologias nacionais em sistemas como controle de dados táticos e sistemas MAGE não existe incorporação destes itens ao programa.
Programa M-2000C
Com o final melancólico do FX, houve uma compra chamada de “emergencial” dos M-2000C como caça tampão até a compra de novos caças
O M-2000C não evitaram o gap gerado pela desativação do Mirage III
Também foram contrários a lógica de padronização da FAB em plataformas e avionica com A-1, F-5 e A-29
Evitaram a padronização de armamentos. Por exemplo, a FAB tem como míssil AAM- IR hoje, Python III, MAA-1, Magic II. Como míssil BVR, Derby e Super 530.
Programa C-212(?)
Conforme anunciado a tempos atrás, a FAB estudava fabricar em algum PAMA aviões espanhóis C-212 para substituição dos Bandeirante
O Bandeirante teve suas quantidades adquiridas mais em função da necessidade de viabilizar o inicio da Embraer do que por necessidades operacionais.
O C-212 entra em despadronização com o Caravan que a FAB já opera, apesar de serem aviões com algumas diferenças de configuração e capacidade de carga.
A produção de um C-212 em um PAMA não trás nenhum ganho tecnológico ao pais, bem como é altamente questionável do ponto de vista econômico esta decisão
Compra dos Mi-171(?)
A compra do Mi-171 introduz no Brasil três helicópteros equivalentes de três nacionalidades distintas.
Algumas considerações.
P-3
A compra dos P-3 aconteceu em um momento onde a MB se reparava para operar aviões de asa fixa. É tentador especular sobre qual a motivação para a compra naquele momento, uma vez que a MB também poderia pleitear aeronaves ASW. Se a FAB tivesse realmente preocupada com a manutenção de sua capacidade ASW teria realizado um programa contemplando a desativação do Tracker, como forma de manutenção da doutrina EXATAMENTE COMO FIZERAM OS ARGENTINOS.
Ou na impossibilidade de adquirir naquele momento, teriam realizado uma aproximação com a MB para incorporação de plataformas como o SICONTA, nacionalizando itens importantes, EXATAMENTE COMO FIZERAM OS CHILENOS
Mirage-2000
Na ocasião da compra dos M-2000C, era factível a compra de mais F-5 para padronização dos caças em torno de apenas uma plataforma. Ou a redução de 57 para 45 caças, com a redistribuição dos F-5.
A desculpa foi a dificuldade para compra de novas células de F-5 no mercado, acredito que deva existir alguma propriedade nisto, mas é curioso, que A EMBRAER TENHA OFERECIDO F-5 MODERNIZADOS A COLOMBIA TEMPOS ATRÁS
C-212
O remodelamento da aviação de transporte, com a aposentadoria dos Bandeirante e a desativação de alguns ETA, com a aquisição de uma quantidade menor de vetores maiores como o C-295, tornaria a aviação de transporte mais atual a novas necessidades, uma vez que tanto a infra-estrutura na Amazônia, quando a doutrina de manutenção de forças no território nacional mudaram.
Mi-171
A redefinição dos papeis e modelos de emprego de asa fixa no Brasil mudaram. A FAB não precisa mais transportar tropas, porque o EB tem a sua aviação orgânica agora, se os Panteras são inadequados para isto, o seu substituto tem que ser operação pelo EB e não pela FAB. Assim como a FAB não precisa de helicópteros de ataque, Mi-35 ou equivalente isto é da alçada do EB.
Mas a FAB precisa de um esquadrão C-SAR estado da arte, e com treinamento bastante exigente. Também precisa de 4 helicópteros pesados para dar suporte a suas atividades na Amazônia.
Algumas conclusões
Quando a FAB sentiu que a MB poderia pleitear aviões de asa fixa para missões ASW, embarcou no programa P-3, que operacionalmente esta muito aquém do que Chile e Argentina fizeram.
Quando as relações com os “amigos(?)” franceses iria se encerrar, e tínhamos a chance de padronizar em 2 e não em 3 aviões de combate no Brasil, o programa M-2000C surgiu como forma de manter o “cantinho francês na FAB” para usar palavras que já foram usadas aqui neste fórum para defender estes aviões.
Quando os Bandeirante iriam ser aposentados, e tínhamos a chance de fechar alguns esquadrões e bases aéreas, bem como formar mais um esquadrão de C-295, C-130 semi-novos, ou quem sabe algumas células estratégias como o 767, tão importantes já que temos visto nos últimos anos missões de transporte de tropas de paz ou evacuação de brasileiros, a FAB deu um jeito de manter a “cultura do Bandeirante” em evidencia.
Quando tínhamos a oportunidade de redefinir a aviação de asa fixa, com a aposentadoria dos Sapões, e o foco em C-SAR e helicópteros pesados, passando a AvEx as missões que a ela realmente competem, demos um jeito de manter a cultura do “Sapão” em evidencia.
Mortal da historia
Existe um conservadorismo, motivado por razoes corporativistas que impedem a formação de uma cultura de operação que seja adequada as necessidades atuais.
A isto, eu chamo carinhosamente de “Síndrome de Gabriela”:
Eu nasci assim, eu cresci assim Eu sou mesmo assim Vou ser sempre assim Gabriela
Eu até hoje queria entender, porque diabos, este “pacotão” que o governo negocia com a Rússia contempla a compra do Mi-171 e não a compra do Mi-26.
Porque o Mi-26, este sim contemplaria a conclusão de um programa já identificado como necessário pela FAB que é a concorrência CHX.
A compra do Mi-171 vai na contramão da escolha do Blackhawk como vetor C-SAR da FAB, bem como da lógica de padronização com o S-PUMA/COUGAR que já opera na FAB, EB e MB.
Como ultimamente aqui no fórum anda uma caça as bruxas sobre opiniões que não possam ser cientificamente provadas, tudo que vocês vão ler abaixo, é uma visão amadora, distorcida e preconceituosa, de alguém que não conhece absolutamente nada sobre processos de planejamento e gestão de tecnologia aeroespacial.
Didaticamente falando.
Programa P-3
No final dos anos 90, a FAB comprou os P-3 como forma de conclusão do programa P-3BR. Como todos sabem, o programa P-3BR tem um horizonte de conclusão de 10 anos.
Uma comparação com os P-3 operados pelo Chile e pela Argentina, nos conduz a algumas diferenças:
Os programas de Chile e Argentina estão 10 anos a frente do Brasileiro
O programa Argentino permitiu a transição segura e preservação da doutrina ASW disponível naquele pais.
O programa Chileno incorpora itens nacionais como sistemas de controle de dados táticos e data link
No programa brasileiro houve um hiato de mais de uma década entre a desativação dos meios ASW e a ativação dos novos P-3
Apesar de termos tecnologias nacionais em sistemas como controle de dados táticos e sistemas MAGE não existe incorporação destes itens ao programa.
Programa M-2000C
Com o final melancólico do FX, houve uma compra chamada de “emergencial” dos M-2000C como caça tampão até a compra de novos caças
O M-2000C não evitaram o gap gerado pela desativação do Mirage III
Também foram contrários a lógica de padronização da FAB em plataformas e avionica com A-1, F-5 e A-29
Evitaram a padronização de armamentos. Por exemplo, a FAB tem como míssil AAM- IR hoje, Python III, MAA-1, Magic II. Como míssil BVR, Derby e Super 530.
Programa C-212(?)
Conforme anunciado a tempos atrás, a FAB estudava fabricar em algum PAMA aviões espanhóis C-212 para substituição dos Bandeirante
O Bandeirante teve suas quantidades adquiridas mais em função da necessidade de viabilizar o inicio da Embraer do que por necessidades operacionais.
O C-212 entra em despadronização com o Caravan que a FAB já opera, apesar de serem aviões com algumas diferenças de configuração e capacidade de carga.
A produção de um C-212 em um PAMA não trás nenhum ganho tecnológico ao pais, bem como é altamente questionável do ponto de vista econômico esta decisão
Compra dos Mi-171(?)
A compra do Mi-171 introduz no Brasil três helicópteros equivalentes de três nacionalidades distintas.
Algumas considerações.
P-3
A compra dos P-3 aconteceu em um momento onde a MB se reparava para operar aviões de asa fixa. É tentador especular sobre qual a motivação para a compra naquele momento, uma vez que a MB também poderia pleitear aeronaves ASW. Se a FAB tivesse realmente preocupada com a manutenção de sua capacidade ASW teria realizado um programa contemplando a desativação do Tracker, como forma de manutenção da doutrina EXATAMENTE COMO FIZERAM OS ARGENTINOS.
Ou na impossibilidade de adquirir naquele momento, teriam realizado uma aproximação com a MB para incorporação de plataformas como o SICONTA, nacionalizando itens importantes, EXATAMENTE COMO FIZERAM OS CHILENOS
Mirage-2000
Na ocasião da compra dos M-2000C, era factível a compra de mais F-5 para padronização dos caças em torno de apenas uma plataforma. Ou a redução de 57 para 45 caças, com a redistribuição dos F-5.
A desculpa foi a dificuldade para compra de novas células de F-5 no mercado, acredito que deva existir alguma propriedade nisto, mas é curioso, que A EMBRAER TENHA OFERECIDO F-5 MODERNIZADOS A COLOMBIA TEMPOS ATRÁS
C-212
O remodelamento da aviação de transporte, com a aposentadoria dos Bandeirante e a desativação de alguns ETA, com a aquisição de uma quantidade menor de vetores maiores como o C-295, tornaria a aviação de transporte mais atual a novas necessidades, uma vez que tanto a infra-estrutura na Amazônia, quando a doutrina de manutenção de forças no território nacional mudaram.
Mi-171
A redefinição dos papeis e modelos de emprego de asa fixa no Brasil mudaram. A FAB não precisa mais transportar tropas, porque o EB tem a sua aviação orgânica agora, se os Panteras são inadequados para isto, o seu substituto tem que ser operação pelo EB e não pela FAB. Assim como a FAB não precisa de helicópteros de ataque, Mi-35 ou equivalente isto é da alçada do EB.
Mas a FAB precisa de um esquadrão C-SAR estado da arte, e com treinamento bastante exigente. Também precisa de 4 helicópteros pesados para dar suporte a suas atividades na Amazônia.
Algumas conclusões
Quando a FAB sentiu que a MB poderia pleitear aviões de asa fixa para missões ASW, embarcou no programa P-3, que operacionalmente esta muito aquém do que Chile e Argentina fizeram.
Quando as relações com os “amigos(?)” franceses iria se encerrar, e tínhamos a chance de padronizar em 2 e não em 3 aviões de combate no Brasil, o programa M-2000C surgiu como forma de manter o “cantinho francês na FAB” para usar palavras que já foram usadas aqui neste fórum para defender estes aviões.
Quando os Bandeirante iriam ser aposentados, e tínhamos a chance de fechar alguns esquadrões e bases aéreas, bem como formar mais um esquadrão de C-295, C-130 semi-novos, ou quem sabe algumas células estratégias como o 767, tão importantes já que temos visto nos últimos anos missões de transporte de tropas de paz ou evacuação de brasileiros, a FAB deu um jeito de manter a “cultura do Bandeirante” em evidencia.
Quando tínhamos a oportunidade de redefinir a aviação de asa fixa, com a aposentadoria dos Sapões, e o foco em C-SAR e helicópteros pesados, passando a AvEx as missões que a ela realmente competem, demos um jeito de manter a cultura do “Sapão” em evidencia.
Mortal da historia
Existe um conservadorismo, motivado por razoes corporativistas que impedem a formação de uma cultura de operação que seja adequada as necessidades atuais.
A isto, eu chamo carinhosamente de “Síndrome de Gabriela”:
Eu nasci assim, eu cresci assim Eu sou mesmo assim Vou ser sempre assim Gabriela