Submarinos Classe Tupi (novos) Parâmetros operacionais
Enviado: Qua Jan 10, 2007 4:13 pm
Pessoal, considero esse texto de autoria do V.Alte(R/R1). Ruy Capetti, excelente , O Alte. Capetti , como sempre muito didático, procura abordar as mudanças de parâmetros operativos dos subs Tupi e as consequências dessas mudanças no ALI-Apoio Logistico Integrado dos subs desta classe.
O artigo é como não poderia deixar de ser extremamente técnico, mas dá uma visão clara da complexidade que envolve a operação de um sistema de armas complexo como é um submarino.
TRATA-SE DE ANALISAR AS CONSEQÜÊNCIAS DE ALTERAÇÃO DOS
PARÂMETROS DO CONCEITO DE MANUTENÇÃO NA OPERAÇÃO DOS
SUBMARINOS IKL-209-1400.ABSTRATO:
No presente artigo o autor analisa a operacionalidade e apoiabilidade dos submarinos
IKL-209-1400 em conseqüência de alterações dos parâmetros do CONCEITO DE
MANUTENÇÃO, decorrentes de reconfiguração ou extensão de seu CICLO BÁSICO (do original
50-40 para 60-30 e para 90-30).
São conceituadas algumas das características gerais desse tipo de navio (autonomia, ciclos de
atividades e ciclo básico, coeficientes de indiscrição, coeficiente operativo e coeficiente de
utilização, etc.) e relatadas as influências na PRONTIDÃO OPERACIONAL, também conhecida
como DISPONIBILIDADE OPERACIONAL, em conseqüência das alterações das características
básicas.
Conclue o autor que alterações do CONCEITO DE MANUTENÇÃO, pelo aumento dos ciclos de
atividades além do que foi projetado, inviabilizam as operações de guerra para o horizonte temporal
considerado para o tipo de submarino em questão e acrescentam cargas de trabalho de manutenção
e riscos desnecessários às operações, estes tanto em tempo de paz como de guerra, por manutenção
inadequada.
Por se tratar de assunto técnico, há necessidade de certos conhecimentos básicos sobre como
obter sistemas complexos, no caso submarinosi, além de algumas noções sobre confiabilidadeii.
1. HISTÓRICO
1A . O primeiro submarino desta classe a operar no Brasil foi o Tupi, a partir de 1984. Foi
construído na Alemanha, a partir de 1980.
1B. Em seguida foram construídos no Brasil os Tamoio, Timbira e Tapajó. Segue em
construção o Tikuna, início em 1996.
1C. Quanto ao modo de operação, o Tupi operou segundo um CICLO BÁSICO DE 50-40,
sendo sua AUTONOMIA de 52 dias.
Seu CICLO DE ATIVIDADES seria de 7 anos e meio, constituído de um PERÍODO
OPERATIVO de 6 ANOS e um PERÍODO DE GRANDE MANUTENÇÃO de 18 meses.
1D. A partir de 1991, mudou-se este CICLO BÁSICO para 60-30, muito embora a
AUTONOMIA continuasse a ser de 52 dias. Portanto, não temos, aí, mais a idéia
convencional de CICLO BÁSICO, estando mais para um PERFIL DE OPERAÇÕES.
1E. Atualmente, discute-se a idéia de se fazer outra experiência: mudar este PERFIL para
60-30
2. ALTERAÇÕES PRATICADAS NOS NAVIOS
Desconhecidas e não consideradas.
3. DEFINIÇÕES CLÁSSICAS
AUTONOMIA - Período de tempo que um navio pode permanecer no mar limitado apenas
pelo Óleo Combustível (OC) e pelos Víveres.
2
CICLO DE VIDA - Período de tempo que vai da concepção até a baixa do navio, estando aí
incluído o período de tempo de utilização, que é a maior parcela do tempo do CICLO DE VIDA.
Este período de utilização decompõe-se em CICLOS DE ATIVIDADES.
CICLO DE ATIVIDADES - Períodos de tempo em que se decompõe o período de
utilização, de modo a permitir OPERAR o navio e MANTÊ-LO, periodicamente. Cada CICLO DE
ATIVIDADES é, pois, composto de um PERÍODO OPERATIVO, seguido de um PERÍODO DE
MANUTENÇÃO GERAL. Neste CICLO pode ocorrer outras fainas de manutenção, tais como
DOCAGENS DE ROTINA, DOCAGENS INTERMEDIÁRIAS, DOCAGENS
EXTRAORDINÁRIAS, etc., como programado e como necessário.
PERÍODO OPERATIVO - tempo em que o submarino permanecerá operando, ainda que
segundo CICLOS BÁSICOS.
PERÍODO DE MANUTENÇÃO GERAL - tempo em que o submarino estará imobilizado
para atender a uma Manutenção Geral de 18 meses.
CICLO BÁSICO - decomposições dos PERÍODOS OPERATIVOS em menores parcelas
de tempo, de modo a organizar a operação e a manutenção do submarino, respeitando sua
AUTONOMIA, e suas necessidades de tempo para descanso da guarnição, seu preparo pela
instrução e adestramento, e a manutenção necessária para restaurar equipamentos (ações corretivas)
e manter os demais equipamentos/sistemas no estado operacional desejado (ações preventivas),
além do recompletamento de sobressalentes/partes de reparo, e reabastecimento de OC/Víveres e
consumíveis (gachetas, juntas, OL, etc), para atender ao próximo período de utilização. Aí incluído,
também, os recompletamentos do armamento despendido na última comissão, além das pinturas
externas/internas como necessário, limpezas de compartimentos, restauração da habitabilidade, etc.
COEFICIENTE DE INDISCRIÇÃO Ci - para submarinos convencionais é a relação do
Tempo em Snorkel para o Tempo Total de Trânsito (ou, de uma maneira, genérica, a relação entre o
tempo que o submarino navega indiscreto para o tempo total de navegação). Principal fator
condicionador da Velocidade de Avanço, quando em trânsito..
COEFICIENTE OPERATIVO Co - Relação entre o Tempo em Patrulha e o Tempo Total
da missão (Tempo de Patrulha + Tempo em Trânsito).
[REGRA - se considera que Tempos de Patrulha menores que 1/3 do Tempo Total da missão
não são rentáveis.]
COEFICIENTE DE UTILIZAÇÃO Cu - é a relação entre o Tempo que o submarino está
Operativo e o Tempo Total do CICLO DE ATIVIDADES (PERÍODO OPERATIVO + PERÍODO
DE MANUTENÇÀO GERAL)
[Este Coeficiente é importante para determinar o número de submarinos necessários para
manter pelo menos um operativo.]
[REGRA - em qualquer caso, o número mínimo de submarinos para manter 1 operativo é 3,
já que inevitavelmente haverá períodos em que 1 submarino estará em OPERAÇÃO, e pelo menos
1 dos dois restantes estará em MANUTENÇÃO]
NÚMERO DE SUBMARINOS PARA MANTER PELO MENOS UM NA ZP = 1 / [Co
x Cu]
CONFIABILIDADE - R(t) é a probabilidade de que um sistema ou produto se
desempenhará de modo satisfatório por um determinado período de tempo, quando usado sob
condições operacionais especificadas. (Os parâmetros para obtenção de um submarino constam da
Figura 2).
DISPONIBILIDADE - Medida da "prontidão" do submarino (ou de um
sistema/equipamento), ou seja, o grau, percentagem ou probabilidade de que o submarino estará
pronto ou disponível quando requisitado seu uso. A DISPONIBILIDADE pode ser expressa de
várias formas dependendo do sistema ou da missão , sendo as mais comuns a DISPONIBILIDADE
INERENTE (Ai), a DISPONIBILIDADE OBTIDA (Aa) e a DISPONIBILIDADE OPERACIONAL
(Ao). Suas definições estão em várias referências, mas para esclarecer, a DISPONIBILIDADE
OPERACIONAL é "probabilidade de que o submarino (ou um equipamento qualquer) , quando
3
usado segundo condições especificadas, num ambiente operacional real, operará satisfatoriamente
quando solicitado."
Ela é normalmente expressa como a relação entre o tempo médio entre manutenções
(MTBM) e a soma do MTBM com o tempo médio de paralisação MDT (chamado de mean
DOWNTIME, é o período de indisponibilidade por ações de manutenção) (Ao = MTBM / (MTBM
+ MDT).
Ao usar o termo DISPONIBILIDADE, deve-se ter cuidado de bem definr do que se está
tratando, para evitar mal entendidos.
PERFIL DE MISSÕES - modo como se deseja operar o submarino, para cada caso
considerado.(50-40; 60-30; 90-30).
FALHA - definida como uma instância (um caso) em que o sistema não esteja operando
dentro de um conjunto pré-definido de parâmetros.
TAXA DE FALHAS - é a taxa em que ocorrem as falhas num intervalo de tempo
especificado. Em outras palavras, o número de falhas dividido pelo número total de horas de
operação. Valor inverso do MTBF. Também conhecida como freqüência de manutenções
corretivas.
4. DEFINIÇÕES CLÁSSICAS APLICADAS AO EXERCÍCIO ANALÍTICO
DADOS DISPONÍVEIS
(CONVERSÕES: Como se trata de um exercício teórico, usaremos as seguintes bases de conversão:
1 ano = 360 dias; 1 mês = 30 dias; Autonomia=50 dias.)
CICLO DE ATIVIDADES (6 ANOS OPERANDO, ou 2160 dias + 18 MESES DE
MANUTENÇÃO GERAL, ou 540 dias)
CICLO BÁSICO - 50 Dias de AUTONOMIA + 40 dias de MANUTENÇÃO (ver item 3
tópico definição de CICLO BÁSICO, para compreender que não se trata exatamente
somente de tempo destinado à MANUTENÇÃO, muito embora possa ser totalmente
aproveitado para esta finalidade).
PERFIS DE MISSÕES:
50-40; 60-30; e 90-30
NR DE CICLOS BÁSICOS50-40 NO CICLO DE ATIVIDADES = 2160 dias/ (50 +
40) dias = 24 ciclos
NR DE CICLOS60-30 NO CICLO DE ATIVIDADES = 2160 dias/ (60 + 30) dias =
24 ciclos
NR DE CICLOS90-30 NO CICLO DE ATIVIDADES = 2160 dias/ (90 + 30) dias =
18 ciclos
(Nota: nos Perfis de 60-30 e 90-30 não mencionamos CICLO BÁSICO, pois contraria à definição.
Nestes dois casos os conceitos de Ci, Co e Cu devem ser utilizados com reserva, pois não estamos
mais lidando com a AUTONOMIA do submarino)
No CICLOS BÁSICOS50-40 DIAS DE OPERAÇÃO = 50 dias x 24 ciclos = 1200 dias
DIAS DE MANUTENÇÃO = 40 dias x 24 ciclos = 960 dias
4
No CICLOS60-30 teremos: DIAS DE OPERAÇÃO = 60 dias x 24 ciclos = 1440 dias
DIAS DE MANUTENÇÃO = 30 dias x 24 ciclos = 720 dias
No CICLOS90-30 teremos: DIAS DE OPERAÇÃO = 90 dias x 18 ciclos = 1620 dias
DIAS DE MANUTENÇÃO = 30 dias x 18 ciclos = 540 dias
Pelos números acima, podemos observar que no caso da primeira alteração (60-30) , com
relação aos parâmetros fundamentais de projeto/construção do IKL, tivemos, ao longo do CICLO
DE ATIVIDADES, um aumento de 20 % no tempo de operação, e uma redução de 25% no tempo
de manutenção (ver a definição em 3. Do CICLO BÁSICO, para entender que este tempo não é só
destinado à manutenção, muito embora possa ser integralmente aproveitado para tal); enquanto que
no caso seguinte (90-30) teremos um aumento de 35% no tempo de operação para uma drástica
redução de 43,75% no tempo de manutenção. Em ambos os casos, as operações de guerra
estarão, de qualquer maneira, condicionadas pela AUTONOMIA, nada se ganhando com
relação a elas, pela mudança dos parâmetros.
Muito embora o interesse deste estudo seja verificar as conseqüências logísticas para tais
tipos de alteração, verifiquemos o que pode ter sido alterado em termos dos Coeficientes que
condicionam o emprego dos submarinos:
Quanto ao Coeficiente de Indiscrição, nada se ganha numericamente, uma vez que o
trânsito e a patrulha continuam condicionados pela AUTONOMIA, e função das
características de desempenho do projeto/construção do submarino em questão.
O mesmo pode ser dito com relação ao Coeficiente Operativo, inteiramente dependente
da AUTONOMIA do submarino, e pelas mesmas razões acima.
Quanto ao Coeficiente de Utilização, teremos: (cálculos em dias)
Cu (CICLOS BÁSICOS50-40) = 1200 / (1200 + 960 + 540) = 0,44
Cu (CICLOS 60-30) = 1440 / (1440 + 720 + 540) = 0,53
Cu (CICLOS 90-30) = 1620 / (1620 + 540 + 540) = 0,60
Ganha-se 20,45% para a primeira mudança, com relação ao ciclo de projeto (50-40) , e
ganhar-se-á 36,36% no Coeficiente de Utilização para o segundo caso (90-30). Como o
submarino já opera com o perfil de 60-30, ganhar-se-á apenas 13,13% no Coeficiente de
Utilização.
Isto induz a acreditar, ainda que falaciosamente, que precisaremos um número menor de
submarinos para manter um determinado número operando em uma ZP. Mas cuidado deve ser
tomado para aceitar esta "verdade" apenas pela variação do Coeficiente de Utilização do submarino
em questão, pois não se está tratando de condições clássicas, e pode ser que se conclua, ao final, que
houve ou haverá sérias restrições logísticas para operá-los, tendo em vista a mudança dos
parâmetros fundamentais de projeto/construção.
5
Apenas como exercício de raciocínio, se considerarmos como 1 o valor de Co, para o caso
de 50-40 precisaríamos de 1/0,44=2,27 submarinos para manter um operando; no caso 60-30
precisaríamos 1/0,53 = 1,89 submarinos para manter um operando, e no caso extremo 90-30,
precisaríamos de 1/ 0,60 = 1,67 submarinos para ter um operando, ou seja, se atentarmos para a
regra básica de que "precisamos de no mínimo 3, para manter um operando", nada adiantou, sob
estes aspectos, ter alterado o perfil de operação do submarino em questão.
5. AUTONOMIA
Já que falamos muito em AUTONOMIA, vamos tecer algumas considerações, para clarear
esta polarização. (Ver Figura 1)
Consideremos nosso submarino IKL fictício como tendo a seguinte característica de projeto,
como ditada pelo Estado Maior (Requisitos Operacionais) - a situação tática é tal que precisamos de
um submarino de 52 dias de AUTONOMIA, que navegue 8780 milhas, com a velocidade de 7 nós
em snorquel. (52 dias x 24 horas x 7 nós = 8780 milhas)
A curva de Velocidades x Distâncias está em anexo (Figura 1). Por ela podemos observar
que para velocidades maiores que 7 nós, o submarino pára por falta de Óleo Combustível; e para
velocidades menores que 7 nós, o submarino volta por falta de Víveres. A faixa operacional está
limitada pelas linhas hachuriadas.
Por este conceito, verificamos que não há milagre possível. Dados os parâmetros de
construção, a AUTONOMIA limita o que é possível fazer.
Como temos a possibilidade de navegar 8780 milhas, e pela regra do 1/3, teremos limitadas
as nossas ZP a 17,3 dias da base, para poder permanecer 17,3 dias na ZP. Este é o limite máximo.
Fora disso, só com reabastecimento no mar.
Então nosso tempo máximo de trânsito é de 17,3 dias x 2, para patrulha de 17,36 dias numa
ZP a 2926' da base, ou 52 dias de patrulha na origem (base), sem trânsito. O tempo de patrulha do
nosso submarino fictício, dependendo da localização da ZP, está entre 17,3 dias e 52 dias, para
respeitar a AUTONOMIA.
Um requisito que poderia ter sido levantado, logo na fase conceitual, seria o das freqüências
que poderia se esperar operar em cada ZP, tanto nas mais como nas menos afastadas. Ajudaria na
análise logística necessária para definir o abastecimento e o apoio ao submarino em questão.
Enfatizamos que não adianta alterar o CICLO BÁSICO, para algum ganho operativo de
guerra, se a AUTONOMIA for mantida.
O fato de alterar o ciclo 50-40 para 60-30 só teria significado tático, se a AUTONOMIA
fosse ampliada para 60 dias. Isto pode ser possível em alguns tipos de submarinos,
convertendo tanques de lastro em tanques de nafta, e armazenando mais víveres no seu
interior. Para 90-30, teria que se alterar a autonomia para 90 dias, o que parece muito radical,
dado o espaço interno do submarino. Por isto, nem pensar.
O artigo é como não poderia deixar de ser extremamente técnico, mas dá uma visão clara da complexidade que envolve a operação de um sistema de armas complexo como é um submarino.
TRATA-SE DE ANALISAR AS CONSEQÜÊNCIAS DE ALTERAÇÃO DOS
PARÂMETROS DO CONCEITO DE MANUTENÇÃO NA OPERAÇÃO DOS
SUBMARINOS IKL-209-1400.ABSTRATO:
No presente artigo o autor analisa a operacionalidade e apoiabilidade dos submarinos
IKL-209-1400 em conseqüência de alterações dos parâmetros do CONCEITO DE
MANUTENÇÃO, decorrentes de reconfiguração ou extensão de seu CICLO BÁSICO (do original
50-40 para 60-30 e para 90-30).
São conceituadas algumas das características gerais desse tipo de navio (autonomia, ciclos de
atividades e ciclo básico, coeficientes de indiscrição, coeficiente operativo e coeficiente de
utilização, etc.) e relatadas as influências na PRONTIDÃO OPERACIONAL, também conhecida
como DISPONIBILIDADE OPERACIONAL, em conseqüência das alterações das características
básicas.
Conclue o autor que alterações do CONCEITO DE MANUTENÇÃO, pelo aumento dos ciclos de
atividades além do que foi projetado, inviabilizam as operações de guerra para o horizonte temporal
considerado para o tipo de submarino em questão e acrescentam cargas de trabalho de manutenção
e riscos desnecessários às operações, estes tanto em tempo de paz como de guerra, por manutenção
inadequada.
Por se tratar de assunto técnico, há necessidade de certos conhecimentos básicos sobre como
obter sistemas complexos, no caso submarinosi, além de algumas noções sobre confiabilidadeii.
1. HISTÓRICO
1A . O primeiro submarino desta classe a operar no Brasil foi o Tupi, a partir de 1984. Foi
construído na Alemanha, a partir de 1980.
1B. Em seguida foram construídos no Brasil os Tamoio, Timbira e Tapajó. Segue em
construção o Tikuna, início em 1996.
1C. Quanto ao modo de operação, o Tupi operou segundo um CICLO BÁSICO DE 50-40,
sendo sua AUTONOMIA de 52 dias.
Seu CICLO DE ATIVIDADES seria de 7 anos e meio, constituído de um PERÍODO
OPERATIVO de 6 ANOS e um PERÍODO DE GRANDE MANUTENÇÃO de 18 meses.
1D. A partir de 1991, mudou-se este CICLO BÁSICO para 60-30, muito embora a
AUTONOMIA continuasse a ser de 52 dias. Portanto, não temos, aí, mais a idéia
convencional de CICLO BÁSICO, estando mais para um PERFIL DE OPERAÇÕES.
1E. Atualmente, discute-se a idéia de se fazer outra experiência: mudar este PERFIL para
60-30
2. ALTERAÇÕES PRATICADAS NOS NAVIOS
Desconhecidas e não consideradas.
3. DEFINIÇÕES CLÁSSICAS
AUTONOMIA - Período de tempo que um navio pode permanecer no mar limitado apenas
pelo Óleo Combustível (OC) e pelos Víveres.
2
CICLO DE VIDA - Período de tempo que vai da concepção até a baixa do navio, estando aí
incluído o período de tempo de utilização, que é a maior parcela do tempo do CICLO DE VIDA.
Este período de utilização decompõe-se em CICLOS DE ATIVIDADES.
CICLO DE ATIVIDADES - Períodos de tempo em que se decompõe o período de
utilização, de modo a permitir OPERAR o navio e MANTÊ-LO, periodicamente. Cada CICLO DE
ATIVIDADES é, pois, composto de um PERÍODO OPERATIVO, seguido de um PERÍODO DE
MANUTENÇÃO GERAL. Neste CICLO pode ocorrer outras fainas de manutenção, tais como
DOCAGENS DE ROTINA, DOCAGENS INTERMEDIÁRIAS, DOCAGENS
EXTRAORDINÁRIAS, etc., como programado e como necessário.
PERÍODO OPERATIVO - tempo em que o submarino permanecerá operando, ainda que
segundo CICLOS BÁSICOS.
PERÍODO DE MANUTENÇÃO GERAL - tempo em que o submarino estará imobilizado
para atender a uma Manutenção Geral de 18 meses.
CICLO BÁSICO - decomposições dos PERÍODOS OPERATIVOS em menores parcelas
de tempo, de modo a organizar a operação e a manutenção do submarino, respeitando sua
AUTONOMIA, e suas necessidades de tempo para descanso da guarnição, seu preparo pela
instrução e adestramento, e a manutenção necessária para restaurar equipamentos (ações corretivas)
e manter os demais equipamentos/sistemas no estado operacional desejado (ações preventivas),
além do recompletamento de sobressalentes/partes de reparo, e reabastecimento de OC/Víveres e
consumíveis (gachetas, juntas, OL, etc), para atender ao próximo período de utilização. Aí incluído,
também, os recompletamentos do armamento despendido na última comissão, além das pinturas
externas/internas como necessário, limpezas de compartimentos, restauração da habitabilidade, etc.
COEFICIENTE DE INDISCRIÇÃO Ci - para submarinos convencionais é a relação do
Tempo em Snorkel para o Tempo Total de Trânsito (ou, de uma maneira, genérica, a relação entre o
tempo que o submarino navega indiscreto para o tempo total de navegação). Principal fator
condicionador da Velocidade de Avanço, quando em trânsito..
COEFICIENTE OPERATIVO Co - Relação entre o Tempo em Patrulha e o Tempo Total
da missão (Tempo de Patrulha + Tempo em Trânsito).
[REGRA - se considera que Tempos de Patrulha menores que 1/3 do Tempo Total da missão
não são rentáveis.]
COEFICIENTE DE UTILIZAÇÃO Cu - é a relação entre o Tempo que o submarino está
Operativo e o Tempo Total do CICLO DE ATIVIDADES (PERÍODO OPERATIVO + PERÍODO
DE MANUTENÇÀO GERAL)
[Este Coeficiente é importante para determinar o número de submarinos necessários para
manter pelo menos um operativo.]
[REGRA - em qualquer caso, o número mínimo de submarinos para manter 1 operativo é 3,
já que inevitavelmente haverá períodos em que 1 submarino estará em OPERAÇÃO, e pelo menos
1 dos dois restantes estará em MANUTENÇÃO]
NÚMERO DE SUBMARINOS PARA MANTER PELO MENOS UM NA ZP = 1 / [Co
x Cu]
CONFIABILIDADE - R(t) é a probabilidade de que um sistema ou produto se
desempenhará de modo satisfatório por um determinado período de tempo, quando usado sob
condições operacionais especificadas. (Os parâmetros para obtenção de um submarino constam da
Figura 2).
DISPONIBILIDADE - Medida da "prontidão" do submarino (ou de um
sistema/equipamento), ou seja, o grau, percentagem ou probabilidade de que o submarino estará
pronto ou disponível quando requisitado seu uso. A DISPONIBILIDADE pode ser expressa de
várias formas dependendo do sistema ou da missão , sendo as mais comuns a DISPONIBILIDADE
INERENTE (Ai), a DISPONIBILIDADE OBTIDA (Aa) e a DISPONIBILIDADE OPERACIONAL
(Ao). Suas definições estão em várias referências, mas para esclarecer, a DISPONIBILIDADE
OPERACIONAL é "probabilidade de que o submarino (ou um equipamento qualquer) , quando
3
usado segundo condições especificadas, num ambiente operacional real, operará satisfatoriamente
quando solicitado."
Ela é normalmente expressa como a relação entre o tempo médio entre manutenções
(MTBM) e a soma do MTBM com o tempo médio de paralisação MDT (chamado de mean
DOWNTIME, é o período de indisponibilidade por ações de manutenção) (Ao = MTBM / (MTBM
+ MDT).
Ao usar o termo DISPONIBILIDADE, deve-se ter cuidado de bem definr do que se está
tratando, para evitar mal entendidos.
PERFIL DE MISSÕES - modo como se deseja operar o submarino, para cada caso
considerado.(50-40; 60-30; 90-30).
FALHA - definida como uma instância (um caso) em que o sistema não esteja operando
dentro de um conjunto pré-definido de parâmetros.
TAXA DE FALHAS - é a taxa em que ocorrem as falhas num intervalo de tempo
especificado. Em outras palavras, o número de falhas dividido pelo número total de horas de
operação. Valor inverso do MTBF. Também conhecida como freqüência de manutenções
corretivas.
4. DEFINIÇÕES CLÁSSICAS APLICADAS AO EXERCÍCIO ANALÍTICO
DADOS DISPONÍVEIS
(CONVERSÕES: Como se trata de um exercício teórico, usaremos as seguintes bases de conversão:
1 ano = 360 dias; 1 mês = 30 dias; Autonomia=50 dias.)
CICLO DE ATIVIDADES (6 ANOS OPERANDO, ou 2160 dias + 18 MESES DE
MANUTENÇÃO GERAL, ou 540 dias)
CICLO BÁSICO - 50 Dias de AUTONOMIA + 40 dias de MANUTENÇÃO (ver item 3
tópico definição de CICLO BÁSICO, para compreender que não se trata exatamente
somente de tempo destinado à MANUTENÇÃO, muito embora possa ser totalmente
aproveitado para esta finalidade).
PERFIS DE MISSÕES:
50-40; 60-30; e 90-30
NR DE CICLOS BÁSICOS50-40 NO CICLO DE ATIVIDADES = 2160 dias/ (50 +
40) dias = 24 ciclos
NR DE CICLOS60-30 NO CICLO DE ATIVIDADES = 2160 dias/ (60 + 30) dias =
24 ciclos
NR DE CICLOS90-30 NO CICLO DE ATIVIDADES = 2160 dias/ (90 + 30) dias =
18 ciclos
(Nota: nos Perfis de 60-30 e 90-30 não mencionamos CICLO BÁSICO, pois contraria à definição.
Nestes dois casos os conceitos de Ci, Co e Cu devem ser utilizados com reserva, pois não estamos
mais lidando com a AUTONOMIA do submarino)
No CICLOS BÁSICOS50-40 DIAS DE OPERAÇÃO = 50 dias x 24 ciclos = 1200 dias
DIAS DE MANUTENÇÃO = 40 dias x 24 ciclos = 960 dias
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No CICLOS60-30 teremos: DIAS DE OPERAÇÃO = 60 dias x 24 ciclos = 1440 dias
DIAS DE MANUTENÇÃO = 30 dias x 24 ciclos = 720 dias
No CICLOS90-30 teremos: DIAS DE OPERAÇÃO = 90 dias x 18 ciclos = 1620 dias
DIAS DE MANUTENÇÃO = 30 dias x 18 ciclos = 540 dias
Pelos números acima, podemos observar que no caso da primeira alteração (60-30) , com
relação aos parâmetros fundamentais de projeto/construção do IKL, tivemos, ao longo do CICLO
DE ATIVIDADES, um aumento de 20 % no tempo de operação, e uma redução de 25% no tempo
de manutenção (ver a definição em 3. Do CICLO BÁSICO, para entender que este tempo não é só
destinado à manutenção, muito embora possa ser integralmente aproveitado para tal); enquanto que
no caso seguinte (90-30) teremos um aumento de 35% no tempo de operação para uma drástica
redução de 43,75% no tempo de manutenção. Em ambos os casos, as operações de guerra
estarão, de qualquer maneira, condicionadas pela AUTONOMIA, nada se ganhando com
relação a elas, pela mudança dos parâmetros.
Muito embora o interesse deste estudo seja verificar as conseqüências logísticas para tais
tipos de alteração, verifiquemos o que pode ter sido alterado em termos dos Coeficientes que
condicionam o emprego dos submarinos:
Quanto ao Coeficiente de Indiscrição, nada se ganha numericamente, uma vez que o
trânsito e a patrulha continuam condicionados pela AUTONOMIA, e função das
características de desempenho do projeto/construção do submarino em questão.
O mesmo pode ser dito com relação ao Coeficiente Operativo, inteiramente dependente
da AUTONOMIA do submarino, e pelas mesmas razões acima.
Quanto ao Coeficiente de Utilização, teremos: (cálculos em dias)
Cu (CICLOS BÁSICOS50-40) = 1200 / (1200 + 960 + 540) = 0,44
Cu (CICLOS 60-30) = 1440 / (1440 + 720 + 540) = 0,53
Cu (CICLOS 90-30) = 1620 / (1620 + 540 + 540) = 0,60
Ganha-se 20,45% para a primeira mudança, com relação ao ciclo de projeto (50-40) , e
ganhar-se-á 36,36% no Coeficiente de Utilização para o segundo caso (90-30). Como o
submarino já opera com o perfil de 60-30, ganhar-se-á apenas 13,13% no Coeficiente de
Utilização.
Isto induz a acreditar, ainda que falaciosamente, que precisaremos um número menor de
submarinos para manter um determinado número operando em uma ZP. Mas cuidado deve ser
tomado para aceitar esta "verdade" apenas pela variação do Coeficiente de Utilização do submarino
em questão, pois não se está tratando de condições clássicas, e pode ser que se conclua, ao final, que
houve ou haverá sérias restrições logísticas para operá-los, tendo em vista a mudança dos
parâmetros fundamentais de projeto/construção.
5
Apenas como exercício de raciocínio, se considerarmos como 1 o valor de Co, para o caso
de 50-40 precisaríamos de 1/0,44=2,27 submarinos para manter um operando; no caso 60-30
precisaríamos 1/0,53 = 1,89 submarinos para manter um operando, e no caso extremo 90-30,
precisaríamos de 1/ 0,60 = 1,67 submarinos para ter um operando, ou seja, se atentarmos para a
regra básica de que "precisamos de no mínimo 3, para manter um operando", nada adiantou, sob
estes aspectos, ter alterado o perfil de operação do submarino em questão.
5. AUTONOMIA
Já que falamos muito em AUTONOMIA, vamos tecer algumas considerações, para clarear
esta polarização. (Ver Figura 1)
Consideremos nosso submarino IKL fictício como tendo a seguinte característica de projeto,
como ditada pelo Estado Maior (Requisitos Operacionais) - a situação tática é tal que precisamos de
um submarino de 52 dias de AUTONOMIA, que navegue 8780 milhas, com a velocidade de 7 nós
em snorquel. (52 dias x 24 horas x 7 nós = 8780 milhas)
A curva de Velocidades x Distâncias está em anexo (Figura 1). Por ela podemos observar
que para velocidades maiores que 7 nós, o submarino pára por falta de Óleo Combustível; e para
velocidades menores que 7 nós, o submarino volta por falta de Víveres. A faixa operacional está
limitada pelas linhas hachuriadas.
Por este conceito, verificamos que não há milagre possível. Dados os parâmetros de
construção, a AUTONOMIA limita o que é possível fazer.
Como temos a possibilidade de navegar 8780 milhas, e pela regra do 1/3, teremos limitadas
as nossas ZP a 17,3 dias da base, para poder permanecer 17,3 dias na ZP. Este é o limite máximo.
Fora disso, só com reabastecimento no mar.
Então nosso tempo máximo de trânsito é de 17,3 dias x 2, para patrulha de 17,36 dias numa
ZP a 2926' da base, ou 52 dias de patrulha na origem (base), sem trânsito. O tempo de patrulha do
nosso submarino fictício, dependendo da localização da ZP, está entre 17,3 dias e 52 dias, para
respeitar a AUTONOMIA.
Um requisito que poderia ter sido levantado, logo na fase conceitual, seria o das freqüências
que poderia se esperar operar em cada ZP, tanto nas mais como nas menos afastadas. Ajudaria na
análise logística necessária para definir o abastecimento e o apoio ao submarino em questão.
Enfatizamos que não adianta alterar o CICLO BÁSICO, para algum ganho operativo de
guerra, se a AUTONOMIA for mantida.
O fato de alterar o ciclo 50-40 para 60-30 só teria significado tático, se a AUTONOMIA
fosse ampliada para 60 dias. Isto pode ser possível em alguns tipos de submarinos,
convertendo tanques de lastro em tanques de nafta, e armazenando mais víveres no seu
interior. Para 90-30, teria que se alterar a autonomia para 90 dias, o que parece muito radical,
dado o espaço interno do submarino. Por isto, nem pensar.