Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente
Enviado: Qua Dez 06, 2006 9:32 am
Sucessor de Rumsfeld admite fracasso americano na guerra
Cadi Fernandes / http://dn.sapo.pt/2006/12/06/internacional/
Robert Gates foi, ontem, bombardeado com perguntas sobre o Iraque. Questionaram-no sobre tudo e a tudo o futuro secretário da Defesa americano, antigo director da CIA, respondeu.
Com franqueza, como se estivesse a ser submetido a um polígrafo. Ao ponto de, perante a comissão das Forças Armadas do Senado, admitir que os EUA não estão a ganhar a guerra.
Ao ponto de defender contactos directos com a Síria e o Irão, dois expoentes do "eixo do mal", na definição do Presidente George W. Bush, e de descartar liminarmente uma guerra contra estes países - cenário que, "muito provavelmente", só agravaria a situação que se vive no Iraque.
À pergunta: "Pensa que estamos a ganhar a guerra?", respondeu com um lacónico "não". Mas - revelando tanto de franco quanto de hábil - Robert Gates, que sucederá no cargo ao polémico Donald Rumsfeld, acabaria por dizer "sim" quando questionado sobre se a América, não estando a ganhar, também não estará a perder. "Não estamos a ganhar, mas também não estamos a perder" o conflito no Iraque, que optou por não etiquetar de "guerra civil".
Nada, porém, que o leve a defender uma retirada imediata, sequer a sua calendarização, até porque isso, como dita a estratégia militar, isso seria dar armas ao adversário.
Aos insurrectos. "Penso que um calendário específico dir-lhes-ia praticamente quanto tempo teriam de esperar até nós partirmos", afirmou Gates aos senadores americanos, de cuja análise depende a sua confirmação no cargo para o qual foi nomeado, a 8 de Novembro, por Bush.
Uma espécie de convite à paciência dos extremistas e, ao mesmo tempo, "sinal de fraqueza" americana, portanto, que seria posteriormente aproveitado para derrubar o Governo iraquiano, garantiu Robert Gates, quando questionado sobre o assunto pelo republicano Lindsey Graham - qual dos dois mais hostil à retirada imediata.
Talvez este último, porque, enquanto Graham advoga o reforço da presença militar americana, Gates está receptivo a outras propostas, assim o convençam. "Estou aberto a ideias alternativas sobre as nossas próximas tácticas e estratégias no Iraque", admitiu no dia que precedeu a divulgação do Relatório Baker (ver texto ao lado).
O mesmo é antever que o número de soldados americanos no Iraque seja - não disse quando - "drasticamente inferior" aos actuais 140 mil.
Depois, abordou a guerra sob o prisma de poder tornar-se num "conflito regional", com o Irão a dar apoio à maioria xiita do Iraque e os restantes países maioritariamente sunitas da região, como a Síria, a perfilarem-se do outro lado da barricada. Por isso, aqui chegado, foi bastante claro: "Todos os maus da fita (bad guys) do Médio Oriente estão envolvidos no Iraque."
Contrariar esta evidência é a missão dos EUA, nem que tal implique dialogar directamente com a Síria e o Irão. "Penso que vale a pena ter um canal de comunicação com os governos" destes países, aconselhou Gates, reconhecendo, contudo, não estar "optimista" sobre essa possibilidade devido à animosidade entre Teerão e Washington. Animosidade que, pelo menos, convém deixar com está.
Por outras palavras, um ataque americano contra o Irão e a Síria só se tiver mesmo de ser. Em "caso de último recurso absoluto". Lições que o Iraque deu à América: "Vimos que a guerra, uma vez iniciada, tem consequência imprevisíveis."