NOVO GOVERNO
Disputa na Marinha
Escolha de Lula vai definir modelo de reaparelhamento. Uma ala trabalha pelo submarino nuclear, outra pelo convencional
Luiz Carlos Azedo
Da equipe do Correio
A demora para anunciar o novo ministério começa a criar problemas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva onde não havia: a troca dos comandos militares. O ministro da Defesa, Waldir Pires, já começou a arrumar as gavetas. Além da crise na Aeronáutica, onde o comandante da Força, Luiz Carlos Bueno, está desgastado porque não consegue resolver o problema com os sargentos controladores de vôo, outra crise pode emergir a qualquer momento na Marinha, por causa da troca de comando na Força, tendo como pano de fundo divergências sobre o seu programa nuclear .
Os dois almirantes-de-esquadra mais antigos, que seriam candidatos naturais ao comando da Força, estão agregados desde o dia 25 de novembro e aguardam nos respectivos cargos a transferência ex-ofício para a reserva remunerada: o atual chefe de estado maior da Armada, Euclides Ducan Janot de Matos, e o comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais, Marcelo Gaya Cardoso Tosta, entraram na compulsória pelo Estatuto dos Militares. Agora, o oficial general mais antigo é o comandante de Operações Navais, almirante-de-esquadra Julio Soares de Moura Neto. O comandante da Força, almirante-de-esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, esteve ontem com o presidente Lula, que deverá substuituí-lo. Os mais cotados são Janot de Matos e Moura Neto.
Abaixo da linha d’água da disputa pelo comando da Marinha existe uma grande polêmica sobre a estratégia de defesa naval: uma corrente defende o reaparelhamento da Marinha com base na compra de equipamentos convencionais, entre eles um submarino alemão convencional, com um pacote de equipamentos eletrônicos norte-americanos, no valor total de R$ 1,3 bilhão; a outra, a construção do submarino nuclear brasileiro, que exigiria praticamente os mesmos recursos, graças ao bem-sucedido programa de pesquisas nucleares realizado pela Marinha. O submarino nuclear é considerado o armamento ideal para defesa da costa brasileira, devido à grande autonomia, pois pode permanecer até três anos submerso, enquanto o convencional, de fácil localização, opera com pouca autonomia.
Janot de Matos é o principal defensor do programa de reaparelhamento da Armada com base em armamentos convencionais. Nas duas últimas décadas, a Marinha fez grandes investimentos na frotilha de submarinos Tupi e, mais recentemente, na construção do Tikuna, inspirados nos modelos IKL – HDW, de origem alemã. O novo submarino pertence à classe U 214, projetada pelo escritório de engenharia Ingenieur Kontor Lübeck, o mesmo que desenvolveu o submarino U209. Para justificar a compra, a Marinha alega que evitará a duplicidade de custos logísticos para apoiar submarinos de origens diferentes.
Estados Unidos
A construção do submarino nuclear está congelada desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Esbarra nas restrições dos Estados Unidos, que atribuem ao projeto o risco de uma corrida nuclear na América do Sul. O programa nunca havia sido interrompido. Agora, o Orçamento da União para 2007 reduz em 25% a verba do programa de pesquisas nucleares desenvolvido pela Marinha no Centro Experimental Aramar, em Iperó (SP). A Marinha recebeu apenas R$ 28,5 milhões este ano para o projeto e já corre o risco de dispersar os técnicos e cientistas que atuam na pesquisa. Os R$ 21,6 milhões previstos para 2007 serão aplicados na instalação e testes do protótipo de um reator nuclear.
Sucessão e disputa na MB
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"O dia em que os EUA aportarem porta aviões, navios de guerra, jatos e helicópteros apache sobre o território brasileiro, aposto que muitos brasileiros vão sair correndo gritando: "me leva, junto! me leva, junto!"