Fim do alcool na marinha
Enviado: Sáb Out 07, 2006 12:08 am
A pedido, vou colocar um artigo que relata o último dia em que se bebeu alcool a bordo dos navios da U.S.Navy.
General Order nº 99
Muita gente sabe que é proibido na Marinha Americana o consumo de bebidas alcoólicas. Poucos sabem porém como começou e o porquê dessa proibição.
Quem já pisou o convés dum navio de guerra dos Estados Unidos, pode verificar como “a lei seca” é levada a sério. A botica nos navios mais pequenos e a enfermaria nos maiores, dispõem de cofres-fortes não só para guardar drogas, mas também álcool para as desinfecções. As próprias agulhas magnéticas líquidas que nas outras marinhas têm água destilada com álcool, na USN são mergulhadas numa solução anticongelante não alcoólica.
A proibição foi determinada pelo ministro da Marinha nos primeiros dias de Abril de 1914. A famosa General Order nº 99, que muitos consideraram infame, foi dirigida só aos oficiais, pois as praças já há muito que estavam proibidas.
Ao que parece , o ministro Josephus Daniels, considerava pouco democrático que as praças pudessem servir os oficiais de bebidas, sendo rigorosamente punidos se trouxessem para bordo nem que fosse uma cerveja.
Determinado a acabar com os excessos de bebidas espirituosas e considerando mais que justo, que a lei fosse igual para todos, determinou que a partir do dia 1 de Julho de 1914, deixasse de haver bebidas alcoólicas a bordo dos navios da USN.
Imediatamente os ranchos dos oficiais trataram de vender ou passar para terra os stocks de bebidas existentes a bordo. Os navios em missão no estrangeiro enviaram grandes caixotes selados contendo somente garrafas de vinho, licores e aguardentes.
Porém não foi possível em pouco tempo acabar com todos os stocks, nomeadamente na esquadra do Atlântico que estava surta no porto de Vera Cruz, no México.
Esta esquadra era constituída por três divisões de couraçados, com cerca de 12 000 homens, dos quais 1 200 oficiais.
No dia 30 de Junho, não se tendo conseguido esgotar as bebidas a bordo, e na hipótese de deitar “tudo ao mar”, teve-se a ideia de organizar uma monumental festa onde se procurasse consumir o maior número possível de litros. Foram convidados oficiais de navios de cinco nações que se encontravam surtos em Vera Cruz.
Um pouco antes das 20.00 horas, o Wyoming, navio-chefe americano, içou o sinal de “preparar para o enterro do Rei John Barleycorn * stop apresentar comitivas e gatos pingados”. Pouco tempo depois içava-se o sinal de “execução imediata”.
Em todos os navios a actividade era febril, nas câmaras de oficiais, e sargentos-ajudantes, que têm um estatuto similar, davam-se os toques finais para a recepção aos convidados.
As lanchas andavam numa roda viva a transportar pessoal, e as escadas de portaló foram iluminadas com iluminação de gala em virtude da festa, e principalmente como precaução para a saída dos convidados já pouco direitos.
No New York os moços de cabos foram substituídos pelos criados de câmara em funeral armas.
No North Dakota o comandante e oito oficiais receberam os convidados ao portaló, enquanto os restantes oficiais empunhavam escovas e lambases.
No Washington o comandante preveniu os convidados que só podiam beber água pelos copos, mas em contrapartida, ofereceu um menu só cozinhado com vinhos.
Para aperitivo havia cocktail de frutas, banhadoem vinho branco. A sopa era de tartaruga com vinho da Madeira, e o primeiro prato , lagosta com molho de Sherry.
A carne era fiambre assado com molho de Moet Chandon e Cordon Bleu de 1892.
O doce era um bolo de frutas embebido em Cognac Martel 1887, e finalmente as chávenas de café eram cheias com mais de metade de brandy Napoleon.
Assim, a marinha (leia-se os oficiais) transformou numa festa a ordem ingrata de destruir todas as bebidas alcoólicas, festa saudável, como só os homens do mar sabem fazer no seu meio, os navios, que para eles eram como um segundo lar.
Festa ingénua que reuniu na mesma câmara oficiais de países distantes, numa camaradagem sincera, própria de mestres do mesmo ofício que poucos dias depois, se bateriam galhardamente entre si, cumprindo ordens dos políticos das suas pátrias.
As outras marinhas em breve reduziram o consumo de álcool, embora não o abolissem.
PS. Para uma mais fácil leitura deste episódio curioso, resolvi escrever o relato, em vez de copiar as páginas.
General Order nº 99
Muita gente sabe que é proibido na Marinha Americana o consumo de bebidas alcoólicas. Poucos sabem porém como começou e o porquê dessa proibição.
Quem já pisou o convés dum navio de guerra dos Estados Unidos, pode verificar como “a lei seca” é levada a sério. A botica nos navios mais pequenos e a enfermaria nos maiores, dispõem de cofres-fortes não só para guardar drogas, mas também álcool para as desinfecções. As próprias agulhas magnéticas líquidas que nas outras marinhas têm água destilada com álcool, na USN são mergulhadas numa solução anticongelante não alcoólica.
A proibição foi determinada pelo ministro da Marinha nos primeiros dias de Abril de 1914. A famosa General Order nº 99, que muitos consideraram infame, foi dirigida só aos oficiais, pois as praças já há muito que estavam proibidas.
Ao que parece , o ministro Josephus Daniels, considerava pouco democrático que as praças pudessem servir os oficiais de bebidas, sendo rigorosamente punidos se trouxessem para bordo nem que fosse uma cerveja.
Determinado a acabar com os excessos de bebidas espirituosas e considerando mais que justo, que a lei fosse igual para todos, determinou que a partir do dia 1 de Julho de 1914, deixasse de haver bebidas alcoólicas a bordo dos navios da USN.
Imediatamente os ranchos dos oficiais trataram de vender ou passar para terra os stocks de bebidas existentes a bordo. Os navios em missão no estrangeiro enviaram grandes caixotes selados contendo somente garrafas de vinho, licores e aguardentes.
Porém não foi possível em pouco tempo acabar com todos os stocks, nomeadamente na esquadra do Atlântico que estava surta no porto de Vera Cruz, no México.
Esta esquadra era constituída por três divisões de couraçados, com cerca de 12 000 homens, dos quais 1 200 oficiais.
No dia 30 de Junho, não se tendo conseguido esgotar as bebidas a bordo, e na hipótese de deitar “tudo ao mar”, teve-se a ideia de organizar uma monumental festa onde se procurasse consumir o maior número possível de litros. Foram convidados oficiais de navios de cinco nações que se encontravam surtos em Vera Cruz.
Um pouco antes das 20.00 horas, o Wyoming, navio-chefe americano, içou o sinal de “preparar para o enterro do Rei John Barleycorn * stop apresentar comitivas e gatos pingados”. Pouco tempo depois içava-se o sinal de “execução imediata”.
Em todos os navios a actividade era febril, nas câmaras de oficiais, e sargentos-ajudantes, que têm um estatuto similar, davam-se os toques finais para a recepção aos convidados.
As lanchas andavam numa roda viva a transportar pessoal, e as escadas de portaló foram iluminadas com iluminação de gala em virtude da festa, e principalmente como precaução para a saída dos convidados já pouco direitos.
No New York os moços de cabos foram substituídos pelos criados de câmara em funeral armas.
No North Dakota o comandante e oito oficiais receberam os convidados ao portaló, enquanto os restantes oficiais empunhavam escovas e lambases.
No Washington o comandante preveniu os convidados que só podiam beber água pelos copos, mas em contrapartida, ofereceu um menu só cozinhado com vinhos.
Para aperitivo havia cocktail de frutas, banhadoem vinho branco. A sopa era de tartaruga com vinho da Madeira, e o primeiro prato , lagosta com molho de Sherry.
A carne era fiambre assado com molho de Moet Chandon e Cordon Bleu de 1892.
O doce era um bolo de frutas embebido em Cognac Martel 1887, e finalmente as chávenas de café eram cheias com mais de metade de brandy Napoleon.
Assim, a marinha (leia-se os oficiais) transformou numa festa a ordem ingrata de destruir todas as bebidas alcoólicas, festa saudável, como só os homens do mar sabem fazer no seu meio, os navios, que para eles eram como um segundo lar.
Festa ingénua que reuniu na mesma câmara oficiais de países distantes, numa camaradagem sincera, própria de mestres do mesmo ofício que poucos dias depois, se bateriam galhardamente entre si, cumprindo ordens dos políticos das suas pátrias.
As outras marinhas em breve reduziram o consumo de álcool, embora não o abolissem.
PS. Para uma mais fácil leitura deste episódio curioso, resolvi escrever o relato, em vez de copiar as páginas.