Um breve e raro relato de como se desenrolou tacticamente o episódio em que forças do Brasil foram chamadas para retirar os ex-militares haitianos da casa do Aristide.
Interessante o uso de AT4. Apesar de não ser usado no dia a dia é bom saber que eles foram para o Haiti preparados para o pior.
Operação Haiti
Operação de retomada da residência do Ex-Presidente
Na manhã do dia 15DEZ de 2004, dois dias após o 2º Contingente do
Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais ter iniciado sua missão, a
residência do ex-presidente Aristide foi ocupada por cerca de 50 ex-militares
haitianos que reivindicavam emprego e a ocupação legítima do local, para
ali estabelecerem seu quartel-general, ocupação esta considerada ilegal
pelo governo transitório.
Apesar das negociações, o problema político não foi resolvido,
ensejando a ordem da ONU para retirada dos ex-militares da residência.
Às 03:00h do dia 16DEZ, o CMG(FN) Oswaldo Queiroz de Castro,
Comandante do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais
(GptOpFuzNav) Haiti, recebeu do General Vilela, Comandante da Brigada
Haiti, a ordem para retomar a residência do ex-presidente.
O pouco tempo disponível para planejamento, associado à escassez
de informações sobre os rebeldes em termos de efetivo e armamento
utilizado e, principalmente, sobre a casa, aparentemente idealizada como
um verdadeiro quartel, com muros altos e guaritas em todo o perímetro
que dominavam toda a área externa, tornavam a situação ainda mais tensa.
A situação requeria bastante cautela, pois além das dificuldades levantadas na parte
tática, ainda havia o componente político, especificamente com relação às regras de
engajamento estabelecidas pela ONU, que definem as condições para realização do tiro e do
uso da proporcionalidade da força.
O planejamento da operação foi pautado no emprego gradativo da força, orientado para
a retomada com o mínimo de agressividade possível, porém em condições de ser reajustado
caso, numa pior hipótese, fosse encontrada resistência durante a entrada na residência.
As ações foram desencadeadas a partir das 04:00h do dia 16DEZ, mediante o
estabelecimento de quatro posições de bloqueio, seguido do cerco à residência, com o
conseqüente corte nos suprimentos dos rebeldes.
A partir daí, foram iniciadas intensas negociações com os rebeldes, ocasião em que
foram oferecidas várias concessões pelo governo transitório, para que eles se rendessem e
entregassem as armas, porém, todas sem êxito. Durante a realização das negociações, o
GptOpFuzNav ampliou seus conhecimentos sobre a área de atuação e reajustou seu
planejamento inicial.
No dia 17DEZ, às 14:00 horas, o General Heleno, Comandante da MINUSTAH entregou
o ultimato aos rebeldes, com prazo de 45 minutos para a rendição. Expirado o prazo estipulado,
o Comandante do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, CMG (FN) Queiroz de Castro,
recebeu a ordem de retomada imediata da residência. Para o cumprimento desta missão o CCT/
GptOpFuzNav recebeu o reforço de um Pelotão do EB, embarcado em quatroViaturas URUTU.
Inicialmente, nossas tropas realizaram o cerco à residência, sendo estabelecidas posições
de bloqueio.
Às 16:00h foi dada a ordem para o início das ações ofensivas. Simultaneamente, o 1º
Pelotão de Fuzileiros Navais (1ºPelFuzNav) e o Pelotão do EB desencadearam o movimento
em direção ao objetivo.
O 1ºPelFuzNav progrediu pelo terreno, aproveitando a cobertura dos blindados, e apoiado
pelo fogo por uma SeçMtrP .50, uma SeçMtr MAG e por 09 peças de AT-4, portando, ainda,
granadas de mão OF/DEF e fuzis lançadores de granada M-203 carregados, compondo o
binômio carro-infantaria, com a tarefa de desencadear o ataque principal, caso houvesse
resistência inimiga, e respectiva limpeza da área externa.
Com o intuito de provocar alguma pressão psicológica sobre os rebeldes foram detonados
petardos de TNT.
Os rebeldes, com inferioridade numérica e, principalmente, de poder de combate renderam-se.
Os 43 ex-militares, assim como, as armas e munições capturadas foram escoltadas para a
Academia da Polícia Nacional Haitiana, onde foram entregues às autoridades competentes.
A situação exigia profissionalismo e, sobretudo, muito autocontrole de todos os
participantes da Operação, pois, um simples disparo seria capaz de desencadear conseqüências
que poderiam vir a comprometer definitivamente, em face dos poderes de combate envolvidos,
o clima favorável em que se desenrola a Operação para Manutenção da Paz no HAITI. Nesta
ação o GptOpFuzNav, com seu elevado nível de prontificação, honrou o nome da Marinha do
Brasil e do Corpo de Fuzileiros Navais, cumprindo a missão sem a necessidade de realizar um
único disparo e sem baixas. ADSUMUS!!!
Preparativos para a invasão
Fuzileiros Navais invadindo a residência
Idéia de manobra ao General Heleno –
Force Commander