Porta-Aviões Chinês - Aguardem
Enviado: Ter Fev 21, 2006 3:15 pm
China sinaliza que pretende montar porta-aviões
Analistas apontam a alta de gasto militar e investimentos no Varyag
David Lague
Em Pequim
Enquanto a China constrói uma força militar para acompanhar seu crescente poder econômico, seus vizinhos e potenciais rivais, inclusive os EUA, estão curiosos com uma questão chave: quando a Marinha Chinesa terá um porta-aviões?
Por décadas, autoridades militares e políticas chinesas argumentaram que, para o país se tornar uma grande potência, a Marinha do Exército da Libertação do Povo precisa acrescentar esses potentes navios de guerra a sua armada. O principal obstáculo a essa ambição é que porta-aviões são muito caros.
A Marinha Real Britânica está desenvolvendo dois navios de 50.000 toneladas, movidos por motores convencionais, que devem custar um mínimo de US$ 2,5 bilhões (em torno de R$ 5,75 bilhões) cada. A mesma quantia seria necessária para equipá-los com aviões. Além disso, os porta-aviões não operam sozinhos --precisam de uma frota de apoio com navios de guerra, submarinos e barcos de suprimentos, junto com um sistema de vigilância eletrônica avançada para apoio e proteção.
Por essas razões, a maior parte dos especialistas imaginava que a China ia demorar décadas para adquirir esse tipo de embarcação. Mas depois do aumento de dois dígitos nos gastos com defesa nos últimos 15 anos, surgem evidências de que a China tem um programa mais ambicioso.
"Estou convencido que, antes do final dessa década, veremos preparativos da China para construir seu primeiro porta-aviões", disse Rick Fisher, vice-presidente do Centro de Estratégia e Análise Internacional de Washington, especialista no exército chinês. Fisher e outros analistas observam que parece haver muito trabalho em torno do porta-aviões comprado da Ucrânia, o Varyag, atualmente ancorado no porto de Dalian, no Norte da China. Eles especulam que o Varyag, recém saído do estaleiro com a cor cinza da marinha de acordo com recentes fotografias, agora pode ser usado para treinamento ou até se tornar totalmente operacional.
Não surpreende que os militares taiwaneses também estejam monitorando a atividade em torno do Varyag. Em uma conferência com a imprensa em Taipei no dia 19 de janeiro, um porta-voz militar do Taiwan, Liu Chih-Chien, apontou para fotografias de satélite do porta-aviões ancorado em Dalian.
"Apesar de a China alegar que o Varyag será usado como atração turística, o navio de fato servirá para o treinamento de pessoal em antecipação à construção de um porta-aviões", disse Liu.
Analistas também disseram que, em recentes exibições aéreas internacionais, oficiais militares chineses vinham demonstrando forte interesse em aviões de ataque adequados para voar dos porta-aviões.
Pequim, como fez toda vez que a Marinha chinesa foi acusada de pretender adquirir porta-aviões, negou a alegação de Taiwan. "Não queremos saber de onde as autoridades taiwanesas tiraram seus dados de inteligência", disse Li Weiyi, porta-voz do Escritório de Assuntos do Taiwan na China, de acordo com a agência de notícias oficial Xinhua. A maior parte dos especialistas navais, entretanto, concorda que a China quase certamente vai construir ou comprar um porta-aviões, cedo ou tarde.
"É uma medida lógica, dadas as ambições estratégicas da China. Tenho certeza que a Marinha chinesa aspira ter um porta-aviões", disse Sam Bateman, especialista em segurança marítima do Instituto de Defesa e Estudos Estratégicos de Cingapura. Ele disse que, assim como os EUA, dois vizinhos da China, a Índia e o Japão, ficariam ansiosos com a possibilidade de um porta-aviões na frota chinesa.
O que é claro é que a China já investiu décadas de esforço para adquirir a tecnologia e o conhecimento necessários para construir e operar esses navios de guerra.
O almirante Liu Huaqing, que era vice-diretor da Comissão Militar Central da China antes de sua aposentadoria, em 1997, é considerado o pai do programa de porta-aviões da Marinha. Liu foi altamente influenciado por sua exposição aos especialistas navais russos durante seus estudos na União Soviética como jovem oficial nos anos 50.
Assim, defendeu que a China adotasse um porta-aviões como centro de uma Marinha de "água azul", que poderia ser empregada além das águas costeiras do país. Em revistas militares publicadas nos anos 90, ele escreveu que os porta-aviões assegurariam o controle da China sobre Taiwan e outros territórios no Mar do Sul da China e manteriam o equilíbrio diante do poderio militar crescente dos vizinhos, inclusive Japão e Índia.
Liu, junto com outros analistas de defesa chineses, admitiu que a China estava se tornando uma importante potência comercial e ia se tornar cada vez mais dependente de linhas marítimas seguras para garantir suas importações de energia e matéria prima e exportações de bens manufaturados.
Eles argumentaram que os porta-aviões dariam à Marinha a capacidade de manter essas linhas marítimas abertas em tempos de conflito ou tensão internacional.
Outros analistas dizem que um porta-aviões também ia ser simbolicamente importante como evidência do poderio chinês, da mesma forma que os porta-aviões da Marinha dos EUA servem de lembrete de seu alcance global.
Estudos iniciais para a construção de um porta-aviões começaram em Xangai, no início dos anos 80, mas o primeiro sinal claro da ambição da China veio em 1985, quando o país comprou um porta-aviões australiano fora de uso, aparentemente para ferro velho. Entretanto, antes de desmantelar o navio, os especialistas chineses estudaram o desenho e usaram o convés de vôo para treinamento de pilotos, de acordo com analistas navais.
A desintegração da poderosa Marinha Soviética, após o colapso da União Soviética, forneceu mais oportunidades de estudar projetos de porta-aviões modernos. Altas autoridades de defesa do Japão e do Sudeste da Ásia ficaram intrigadas quando empresas chinesas compraram dois porta-aviões anti-submarinos russos aposentados, o Minsk e o Kiev.
No entanto, as especulações de que teriam algum papel militar na China se provaram sem base. O Minsk foi convertido em um museu flutuante em Xenzhen, e o Kiev está sendo modificado para servir de atração turística em Tianjin. Nos anos 90, vários países incluindo a Espanha e a França assinalaram que estariam preparados para construir ou vender um porta-aviões para a China, mas Pequim aparentemente recusou as ofertas.
Alguns especialistas militares chineses dizem que os planos de montar ou comprar um porta-aviões foram engavetados depois de 1997, com a aposentadoria de Liu e renovados preparativos militares para lutar uma guerra por Taiwan, se a ilha declarasse independência.
A proximidade de Taiwan com o continente significa que os aviões e mísseis chineses estariam ao alcance do território, no caso de conflito. Recentemente, em 2003, o Pentágono disse em seu relatório anual ao Congresso que a China parecia ter "colocado de lado indefinidamente" seus planos de adquirir um porta-aviões.
Em vez disso, os militares chineses pareciam querer desenvolver o poder de fogo para afundar porta-aviões, com o óbvio intuito de deter os EUA se estes decidissem intervir em um conflito com Taiwan. Isso incluiu uma veloz atualização da frota de submarinos nucleares e convencionais da China, a compra de navios de guerra russos avançados, armados com mísseis supersônicos, e uma força maior de caças russos e chineses.
Entretanto, a compra do Varyag de 67.500 toneladas da Ucrânia em 1998, por US$ 20 milhões (em torno de R$ 46 milhões), sugeriu que Pequim mantinha um forte desejo de adquirir um porta-aviões e uma Marinha de água azul. O Varyag ainda estava sob construção em um estaleiro ucraniano quando a União Soviética desmoronou, e nem a Rússia nem a Ucrânia tiveram fundos para terminar o trabalho.
Uma empresa com base em Macau, com fortes laços com as forças armadas chinesas, comprou o porta-aviões sem motores, leme ou armamentos. Ela disse que seria ancorado na ex-colônia portuguesa como cassino flutuante. Na época, a maior parte dos analistas disse que a explicação parecia improvável, pois o porto de Macau era muito raso para abrigar um navio de guerra daquele tamanho.
Depois de um longo atraso provocado pelas autoridades turcas que, temerosas do perigo, negaram permissão para o porta-aviões ser rebocado pelo estreito de Bósforo, o Varyag eventualmente foi entregue ao estaleiro de Dalian em 2002.
O fato de Pequim se desdobrar em grandes esforços diplomáticos para persuadir as autoridades turcas a permitirem o trânsito foi visto por alguns especialistas como evidência da determinação da China de aumentar sua compreensão da tecnologia de porta-aviões.
Apesar da forte segurança em torno do Varyag no porto de Dalian, o trabalho no navio era claramente visível das estradas próximas. Fotografias recentes mostram reparos extensos e manutenção na estrutura e no convés do navio. "Há muito trabalho acontecendo naquela coisa que não é consistente com um cassino", disse Fisher.
Analistas apontam a alta de gasto militar e investimentos no Varyag
David Lague
Em Pequim
Enquanto a China constrói uma força militar para acompanhar seu crescente poder econômico, seus vizinhos e potenciais rivais, inclusive os EUA, estão curiosos com uma questão chave: quando a Marinha Chinesa terá um porta-aviões?
Por décadas, autoridades militares e políticas chinesas argumentaram que, para o país se tornar uma grande potência, a Marinha do Exército da Libertação do Povo precisa acrescentar esses potentes navios de guerra a sua armada. O principal obstáculo a essa ambição é que porta-aviões são muito caros.
A Marinha Real Britânica está desenvolvendo dois navios de 50.000 toneladas, movidos por motores convencionais, que devem custar um mínimo de US$ 2,5 bilhões (em torno de R$ 5,75 bilhões) cada. A mesma quantia seria necessária para equipá-los com aviões. Além disso, os porta-aviões não operam sozinhos --precisam de uma frota de apoio com navios de guerra, submarinos e barcos de suprimentos, junto com um sistema de vigilância eletrônica avançada para apoio e proteção.
Por essas razões, a maior parte dos especialistas imaginava que a China ia demorar décadas para adquirir esse tipo de embarcação. Mas depois do aumento de dois dígitos nos gastos com defesa nos últimos 15 anos, surgem evidências de que a China tem um programa mais ambicioso.
"Estou convencido que, antes do final dessa década, veremos preparativos da China para construir seu primeiro porta-aviões", disse Rick Fisher, vice-presidente do Centro de Estratégia e Análise Internacional de Washington, especialista no exército chinês. Fisher e outros analistas observam que parece haver muito trabalho em torno do porta-aviões comprado da Ucrânia, o Varyag, atualmente ancorado no porto de Dalian, no Norte da China. Eles especulam que o Varyag, recém saído do estaleiro com a cor cinza da marinha de acordo com recentes fotografias, agora pode ser usado para treinamento ou até se tornar totalmente operacional.
Não surpreende que os militares taiwaneses também estejam monitorando a atividade em torno do Varyag. Em uma conferência com a imprensa em Taipei no dia 19 de janeiro, um porta-voz militar do Taiwan, Liu Chih-Chien, apontou para fotografias de satélite do porta-aviões ancorado em Dalian.
"Apesar de a China alegar que o Varyag será usado como atração turística, o navio de fato servirá para o treinamento de pessoal em antecipação à construção de um porta-aviões", disse Liu.
Analistas também disseram que, em recentes exibições aéreas internacionais, oficiais militares chineses vinham demonstrando forte interesse em aviões de ataque adequados para voar dos porta-aviões.
Pequim, como fez toda vez que a Marinha chinesa foi acusada de pretender adquirir porta-aviões, negou a alegação de Taiwan. "Não queremos saber de onde as autoridades taiwanesas tiraram seus dados de inteligência", disse Li Weiyi, porta-voz do Escritório de Assuntos do Taiwan na China, de acordo com a agência de notícias oficial Xinhua. A maior parte dos especialistas navais, entretanto, concorda que a China quase certamente vai construir ou comprar um porta-aviões, cedo ou tarde.
"É uma medida lógica, dadas as ambições estratégicas da China. Tenho certeza que a Marinha chinesa aspira ter um porta-aviões", disse Sam Bateman, especialista em segurança marítima do Instituto de Defesa e Estudos Estratégicos de Cingapura. Ele disse que, assim como os EUA, dois vizinhos da China, a Índia e o Japão, ficariam ansiosos com a possibilidade de um porta-aviões na frota chinesa.
O que é claro é que a China já investiu décadas de esforço para adquirir a tecnologia e o conhecimento necessários para construir e operar esses navios de guerra.
O almirante Liu Huaqing, que era vice-diretor da Comissão Militar Central da China antes de sua aposentadoria, em 1997, é considerado o pai do programa de porta-aviões da Marinha. Liu foi altamente influenciado por sua exposição aos especialistas navais russos durante seus estudos na União Soviética como jovem oficial nos anos 50.
Assim, defendeu que a China adotasse um porta-aviões como centro de uma Marinha de "água azul", que poderia ser empregada além das águas costeiras do país. Em revistas militares publicadas nos anos 90, ele escreveu que os porta-aviões assegurariam o controle da China sobre Taiwan e outros territórios no Mar do Sul da China e manteriam o equilíbrio diante do poderio militar crescente dos vizinhos, inclusive Japão e Índia.
Liu, junto com outros analistas de defesa chineses, admitiu que a China estava se tornando uma importante potência comercial e ia se tornar cada vez mais dependente de linhas marítimas seguras para garantir suas importações de energia e matéria prima e exportações de bens manufaturados.
Eles argumentaram que os porta-aviões dariam à Marinha a capacidade de manter essas linhas marítimas abertas em tempos de conflito ou tensão internacional.
Outros analistas dizem que um porta-aviões também ia ser simbolicamente importante como evidência do poderio chinês, da mesma forma que os porta-aviões da Marinha dos EUA servem de lembrete de seu alcance global.
Estudos iniciais para a construção de um porta-aviões começaram em Xangai, no início dos anos 80, mas o primeiro sinal claro da ambição da China veio em 1985, quando o país comprou um porta-aviões australiano fora de uso, aparentemente para ferro velho. Entretanto, antes de desmantelar o navio, os especialistas chineses estudaram o desenho e usaram o convés de vôo para treinamento de pilotos, de acordo com analistas navais.
A desintegração da poderosa Marinha Soviética, após o colapso da União Soviética, forneceu mais oportunidades de estudar projetos de porta-aviões modernos. Altas autoridades de defesa do Japão e do Sudeste da Ásia ficaram intrigadas quando empresas chinesas compraram dois porta-aviões anti-submarinos russos aposentados, o Minsk e o Kiev.
No entanto, as especulações de que teriam algum papel militar na China se provaram sem base. O Minsk foi convertido em um museu flutuante em Xenzhen, e o Kiev está sendo modificado para servir de atração turística em Tianjin. Nos anos 90, vários países incluindo a Espanha e a França assinalaram que estariam preparados para construir ou vender um porta-aviões para a China, mas Pequim aparentemente recusou as ofertas.
Alguns especialistas militares chineses dizem que os planos de montar ou comprar um porta-aviões foram engavetados depois de 1997, com a aposentadoria de Liu e renovados preparativos militares para lutar uma guerra por Taiwan, se a ilha declarasse independência.
A proximidade de Taiwan com o continente significa que os aviões e mísseis chineses estariam ao alcance do território, no caso de conflito. Recentemente, em 2003, o Pentágono disse em seu relatório anual ao Congresso que a China parecia ter "colocado de lado indefinidamente" seus planos de adquirir um porta-aviões.
Em vez disso, os militares chineses pareciam querer desenvolver o poder de fogo para afundar porta-aviões, com o óbvio intuito de deter os EUA se estes decidissem intervir em um conflito com Taiwan. Isso incluiu uma veloz atualização da frota de submarinos nucleares e convencionais da China, a compra de navios de guerra russos avançados, armados com mísseis supersônicos, e uma força maior de caças russos e chineses.
Entretanto, a compra do Varyag de 67.500 toneladas da Ucrânia em 1998, por US$ 20 milhões (em torno de R$ 46 milhões), sugeriu que Pequim mantinha um forte desejo de adquirir um porta-aviões e uma Marinha de água azul. O Varyag ainda estava sob construção em um estaleiro ucraniano quando a União Soviética desmoronou, e nem a Rússia nem a Ucrânia tiveram fundos para terminar o trabalho.
Uma empresa com base em Macau, com fortes laços com as forças armadas chinesas, comprou o porta-aviões sem motores, leme ou armamentos. Ela disse que seria ancorado na ex-colônia portuguesa como cassino flutuante. Na época, a maior parte dos analistas disse que a explicação parecia improvável, pois o porto de Macau era muito raso para abrigar um navio de guerra daquele tamanho.
Depois de um longo atraso provocado pelas autoridades turcas que, temerosas do perigo, negaram permissão para o porta-aviões ser rebocado pelo estreito de Bósforo, o Varyag eventualmente foi entregue ao estaleiro de Dalian em 2002.
O fato de Pequim se desdobrar em grandes esforços diplomáticos para persuadir as autoridades turcas a permitirem o trânsito foi visto por alguns especialistas como evidência da determinação da China de aumentar sua compreensão da tecnologia de porta-aviões.
Apesar da forte segurança em torno do Varyag no porto de Dalian, o trabalho no navio era claramente visível das estradas próximas. Fotografias recentes mostram reparos extensos e manutenção na estrutura e no convés do navio. "Há muito trabalho acontecendo naquela coisa que não é consistente com um cassino", disse Fisher.