Palavras sobre a Classe Tupi
Enviado: Sex Dez 16, 2005 12:39 pm
Como havia prometido anteriormente, aqui vai o artigo sobre os Tupi.
Já me meti em discussões "brabas" à respeito da mudança de doutrina com a
introdução dos Tupi no serviço submarino brasileiro.
Não há dúvidas de que os Tupi ACRESCENTARAM de fato muito em
termos de desempenho, em relação ao que estávamos acostumados em
relação aos Guppy II/III(Guppy era o nome (sigla) do programa de
upgrade e não o nome da classe), mas , (e este é exatamente o ponto
polêmico)não provocaram uma EVOLUÇÂO de doutrina(como um todo), no
sentido integral do termo, principalmente em relação à classe Humaitá
(Oberom).
Admito que este é um posicionamento pessoal meu. Mas um
posicionamento lastreado em vivência de 22 anos dedicados ao serviço
naval. E acredite, não sou o único a me posicionar assim,
principalmente na Força de Submarinos.
Antes de começar meus comentários, é bom que se(eu) diga. Eu era
maquinista, portanto "botava a máquina para funcionar", não era um
responsável pelo seu emprego tático-operativo.
Isso posto, vamos a algumas considerações.
A classe Tupi é uma das melhores soluções de engenharia
naval submarina já oferecidos ao serviço submarino depois da 2GM. É como um tubarão Mako, vc só é capaz de nota-lo qdo avista sua
boca aberta engolindo seu pescoço.
Em termos de projeto hidrodinâmico, temos que acrescentar
que diversos conceitos estupidamente simples(e que causam espécie ,
só terem sido adotados pelos alemães até a pouco tempo atrás) foram
um diferencial em termos de desempenho superlativo. Exemplo, vcs terá
agora uma idéia do que falo se prestar atenção em um ponto até diria
trivial, para quem já teve a oportunidade de estar nas duas
máquinas(Oberon e Tupi), é fácil observar que os Tupi tem uma configuração de "um
só corredor", ou seja o comandante posicionado em seu posto no COC,
tem condições de "dominar" todas ações nos compartimentos de popa a
proa em caso de falha (bastante provável) do sistema de comunicações internas em uma seqüência de ataques
(seqüência de ondas de choque), permitindo preservar suas
capacidades de comando e controle. Algo que definitivamente os
Oberon não possuíam em função de suas dimensões. Para quem nunca
esteve em um sub em manobras de combate(principalmente dentro do
COC) concordo que seja até difícil mensurar este fato, mas acredite,
é sim muito relevante.
Outro ponto.
Justamente em virtude de seu tamanho reduzido.
(dos Tupi) temos algumas implicações em termos de comodidade á
bordo, por exemplo; é amplamente conhecido a necessidade de
se "desmontar"boa parte dos camarotes, para viabilizar a retirada
dos torpedos de suas baias e seu alinhamento nos tubos localizados
nas bordas do casco resistente. Nos Oberon tínhamos a facilidade de
retirar os torpedos das baias e carrega-los diretamente em seus
tubos de lançamento (seis na proa, e dois à ré). A presença dos
tubos de ré é uma reminiscência da 2 GM, uma vez que considerando a
pouca manobrabilidade do Oberom os torpedos de ré permitiam seu
disparo com apenas uma leve deriva no Timão.(com conseqüente pequena
geração de ruído).
Na parte mecânica nem precisaria me estender muito. A
maquinaria de propulsão MTU(MCP) e AEG(geradores) além do motor
elétrico(MEP) Siemens, tem qualidade e confiabilidade que beiram a
mística , desde que obviamente a eles se dispense uma manutenção
programada rígida. Mas essa rigidez é muito menos intensiva do que
era nos caso dos Oberon, que tb tinham bom desempenho de máquinas,
mas o custo era uma manutenção intensiva, diria que "duas vezes mais
manutenção"(em termos de homens hora despendidos. Havia ainda alguns
problemas de logística que a princípio não afetavam a parte
operacional. Mas que no final dos anos oitenta e principalmente dos
noventa praticamente selaram o fim de sua vida operacional, muito
prematuramente.
Ainda poderia comentar sobre o fato de se ter introduzido nos
Tupi o controle remoto(automático) de maquinaria, o q estimulou
inclusive a reformulação completa da formação dos maquinistas
submarinistas na MB com a introdução/conformação do EQ-MANCAP
(estágio de qualificação) Manutenção de controle automático de
propulsão específico para a classe Tupi. O que eliminava a
necessidade de monitoração visual in-loco dos motores de combustão
principal, atividade extremamente desagradável e insalubre.
Outro ponto digno de nota é seu sistema contra-incêndio,
principalmente o q guarnecia a praça dos MCP, acionado pelo brilho
do fogo(experimente tentar acender um cigarro...).
O que poderia dizer então dos subsistema eletrônicos, não só os
envolvidos diretamente em operações de combate como outros , como o
sistema de navegação de precisão Calipso III da Thales, que
combinado ao Sistema de navegação inercial Sperry Mk.29, nos
fornecia uma considerável segurança de navegação.
Bem, dito isso, os srs devem estar se perguntando pq eu digo que
não houve evolução doutrinária?
Vejam, em relação aos Oberon , não é preciso ser militar para q
mediante uma simples análise (e olha q eu não gosto de análises
simples), é possível constatar que o primeiro era um submarino
oceânico(capacidade de navegar 11000/12000 milhas em 56 dias
(autonomia máxima NORMAL, o q não significa que ela não pudesse ser
estendida por mais de 70 dias, se fosse necessário) e cerca de 24
torpedos.
O que conferia um superlativo desempenho oceânico natural,
sem que houvesse necessidade de improvisos ou expedientes anormais
para aquisição de desempenho oceânico, entendido como tal, a
capacidade de permanecer longos períodos sem apoio-base.
Enquanto q os submarinos classe Tupi, pelas razões de tamanho
(pequeno/médio) já explicitados, em que pese seu desempenho superior
em praticamente todas as áreas sob análise(exceto, claro a
autonomia), provocou na verdade uma IN-volução no que tange á
capacidade da MB de realizar operações oceânicas submarinas de
grande duração á longas distâncias. Uma vez que para conseguir uma
grande autonomia os Tupi precisam sofrer consideráveis adaptações
para tal. ( na forma de acomodação de suprimentos adicionais, (de
fato hà lugar para tal), peças de reposição extras adequadas para
uma maior permanência em alto-mar), e diversas outras providências
que eu não gostaria/(posso) comentar.
Em outras palavras, de uma doutrina de guerra submarina
verdadeiramente oceânica para uma doutrina quase de guerra
submarina focal(ou de posição como uns preferem).
Qdo do anúncio da aquisição dos Tupi no início da década de
oitenta , a primeira coisa q me veio á cabeça foi do bônus que seria
a operação conjunta dos Tupi e dos Oberon por um tempo considerável, até 2002 qdo os novos (na época) SNAC-1 entrassem em operação complementando os Tupi. Ficava claro para qualquer observador da cena estratégico-naval brasileira, que a principal tarefa dos Tupi, seria oferecer proteção de área submarina na região petrolífera de Campos, e mais na área contígua aos portos do Rio, Santos e Paranaguá.(por curtos períodos evidentemente).
Mas a realidade de restrições orçamentárias é implacável como
notam os senhores. Tive o privilégio como submarinista de participar
de algumas operações de emprego conjunto dos Humaitá e Tupi(como tripulante do S-30 entre 1992/3), e mais tarde no mesmo submarino em
(1995), e pude ver a devastadora complementaridade das duas
máquinas. Hoje temos restrições para operar em regimes de longa
duração com os Tupi, notadamente no que tange ao apoio à esquadra em operações de longa distância, em virtude dos motivos explicitados acima.
Gostaria de esclarecer, prevenindo qualquer mal entendido que,
em nenhum momento declaro que os Tupi sejam (falando
grosseiramente) "ruins", MUITO LONGE DISSO, no entanto, acredito que
deva ser incorporado uma nova classe de subs com capacidade oceânica
comparável ou superior à q tínhamos com os Humaitá, até para se
obter um maior aproveitamento do excelente potencial dos Tupi
(porque na época de sua compra, estava-se analisando muito
cuidadosamente o impacto da incorporação dos subs TR-1700 pela ARA)
e projetou-se a aquisição de submarinos de desempenho equivalente.
Que pelo fato de se ter escolhido o projeto da IKL seria
naturalmente o Type 2000, maior que os IKL-209.
Gostaria de me alongar mais ainda(!), mas o tempo não está
permitindo, se não se incomodar poderemos debater mais à respeito em
outra oportunidade.(amanhã, espero, fim de ano é uma barra-pesada)
Espero ter fornecido algo de novo aos srs.
Permaneço à disposição.
Walter
Já me meti em discussões "brabas" à respeito da mudança de doutrina com a
introdução dos Tupi no serviço submarino brasileiro.
Não há dúvidas de que os Tupi ACRESCENTARAM de fato muito em
termos de desempenho, em relação ao que estávamos acostumados em
relação aos Guppy II/III(Guppy era o nome (sigla) do programa de
upgrade e não o nome da classe), mas , (e este é exatamente o ponto
polêmico)não provocaram uma EVOLUÇÂO de doutrina(como um todo), no
sentido integral do termo, principalmente em relação à classe Humaitá
(Oberom).
Admito que este é um posicionamento pessoal meu. Mas um
posicionamento lastreado em vivência de 22 anos dedicados ao serviço
naval. E acredite, não sou o único a me posicionar assim,
principalmente na Força de Submarinos.
Antes de começar meus comentários, é bom que se(eu) diga. Eu era
maquinista, portanto "botava a máquina para funcionar", não era um
responsável pelo seu emprego tático-operativo.
Isso posto, vamos a algumas considerações.
A classe Tupi é uma das melhores soluções de engenharia
naval submarina já oferecidos ao serviço submarino depois da 2GM. É como um tubarão Mako, vc só é capaz de nota-lo qdo avista sua
boca aberta engolindo seu pescoço.
Em termos de projeto hidrodinâmico, temos que acrescentar
que diversos conceitos estupidamente simples(e que causam espécie ,
só terem sido adotados pelos alemães até a pouco tempo atrás) foram
um diferencial em termos de desempenho superlativo. Exemplo, vcs terá
agora uma idéia do que falo se prestar atenção em um ponto até diria
trivial, para quem já teve a oportunidade de estar nas duas
máquinas(Oberon e Tupi), é fácil observar que os Tupi tem uma configuração de "um
só corredor", ou seja o comandante posicionado em seu posto no COC,
tem condições de "dominar" todas ações nos compartimentos de popa a
proa em caso de falha (bastante provável) do sistema de comunicações internas em uma seqüência de ataques
(seqüência de ondas de choque), permitindo preservar suas
capacidades de comando e controle. Algo que definitivamente os
Oberon não possuíam em função de suas dimensões. Para quem nunca
esteve em um sub em manobras de combate(principalmente dentro do
COC) concordo que seja até difícil mensurar este fato, mas acredite,
é sim muito relevante.
Outro ponto.
Justamente em virtude de seu tamanho reduzido.
(dos Tupi) temos algumas implicações em termos de comodidade á
bordo, por exemplo; é amplamente conhecido a necessidade de
se "desmontar"boa parte dos camarotes, para viabilizar a retirada
dos torpedos de suas baias e seu alinhamento nos tubos localizados
nas bordas do casco resistente. Nos Oberon tínhamos a facilidade de
retirar os torpedos das baias e carrega-los diretamente em seus
tubos de lançamento (seis na proa, e dois à ré). A presença dos
tubos de ré é uma reminiscência da 2 GM, uma vez que considerando a
pouca manobrabilidade do Oberom os torpedos de ré permitiam seu
disparo com apenas uma leve deriva no Timão.(com conseqüente pequena
geração de ruído).
Na parte mecânica nem precisaria me estender muito. A
maquinaria de propulsão MTU(MCP) e AEG(geradores) além do motor
elétrico(MEP) Siemens, tem qualidade e confiabilidade que beiram a
mística , desde que obviamente a eles se dispense uma manutenção
programada rígida. Mas essa rigidez é muito menos intensiva do que
era nos caso dos Oberon, que tb tinham bom desempenho de máquinas,
mas o custo era uma manutenção intensiva, diria que "duas vezes mais
manutenção"(em termos de homens hora despendidos. Havia ainda alguns
problemas de logística que a princípio não afetavam a parte
operacional. Mas que no final dos anos oitenta e principalmente dos
noventa praticamente selaram o fim de sua vida operacional, muito
prematuramente.
Ainda poderia comentar sobre o fato de se ter introduzido nos
Tupi o controle remoto(automático) de maquinaria, o q estimulou
inclusive a reformulação completa da formação dos maquinistas
submarinistas na MB com a introdução/conformação do EQ-MANCAP
(estágio de qualificação) Manutenção de controle automático de
propulsão específico para a classe Tupi. O que eliminava a
necessidade de monitoração visual in-loco dos motores de combustão
principal, atividade extremamente desagradável e insalubre.
Outro ponto digno de nota é seu sistema contra-incêndio,
principalmente o q guarnecia a praça dos MCP, acionado pelo brilho
do fogo(experimente tentar acender um cigarro...).
O que poderia dizer então dos subsistema eletrônicos, não só os
envolvidos diretamente em operações de combate como outros , como o
sistema de navegação de precisão Calipso III da Thales, que
combinado ao Sistema de navegação inercial Sperry Mk.29, nos
fornecia uma considerável segurança de navegação.
Bem, dito isso, os srs devem estar se perguntando pq eu digo que
não houve evolução doutrinária?
Vejam, em relação aos Oberon , não é preciso ser militar para q
mediante uma simples análise (e olha q eu não gosto de análises
simples), é possível constatar que o primeiro era um submarino
oceânico(capacidade de navegar 11000/12000 milhas em 56 dias
(autonomia máxima NORMAL, o q não significa que ela não pudesse ser
estendida por mais de 70 dias, se fosse necessário) e cerca de 24
torpedos.
O que conferia um superlativo desempenho oceânico natural,
sem que houvesse necessidade de improvisos ou expedientes anormais
para aquisição de desempenho oceânico, entendido como tal, a
capacidade de permanecer longos períodos sem apoio-base.
Enquanto q os submarinos classe Tupi, pelas razões de tamanho
(pequeno/médio) já explicitados, em que pese seu desempenho superior
em praticamente todas as áreas sob análise(exceto, claro a
autonomia), provocou na verdade uma IN-volução no que tange á
capacidade da MB de realizar operações oceânicas submarinas de
grande duração á longas distâncias. Uma vez que para conseguir uma
grande autonomia os Tupi precisam sofrer consideráveis adaptações
para tal. ( na forma de acomodação de suprimentos adicionais, (de
fato hà lugar para tal), peças de reposição extras adequadas para
uma maior permanência em alto-mar), e diversas outras providências
que eu não gostaria/(posso) comentar.
Em outras palavras, de uma doutrina de guerra submarina
verdadeiramente oceânica para uma doutrina quase de guerra
submarina focal(ou de posição como uns preferem).
Qdo do anúncio da aquisição dos Tupi no início da década de
oitenta , a primeira coisa q me veio á cabeça foi do bônus que seria
a operação conjunta dos Tupi e dos Oberon por um tempo considerável, até 2002 qdo os novos (na época) SNAC-1 entrassem em operação complementando os Tupi. Ficava claro para qualquer observador da cena estratégico-naval brasileira, que a principal tarefa dos Tupi, seria oferecer proteção de área submarina na região petrolífera de Campos, e mais na área contígua aos portos do Rio, Santos e Paranaguá.(por curtos períodos evidentemente).
Mas a realidade de restrições orçamentárias é implacável como
notam os senhores. Tive o privilégio como submarinista de participar
de algumas operações de emprego conjunto dos Humaitá e Tupi(como tripulante do S-30 entre 1992/3), e mais tarde no mesmo submarino em
(1995), e pude ver a devastadora complementaridade das duas
máquinas. Hoje temos restrições para operar em regimes de longa
duração com os Tupi, notadamente no que tange ao apoio à esquadra em operações de longa distância, em virtude dos motivos explicitados acima.
Gostaria de esclarecer, prevenindo qualquer mal entendido que,
em nenhum momento declaro que os Tupi sejam (falando
grosseiramente) "ruins", MUITO LONGE DISSO, no entanto, acredito que
deva ser incorporado uma nova classe de subs com capacidade oceânica
comparável ou superior à q tínhamos com os Humaitá, até para se
obter um maior aproveitamento do excelente potencial dos Tupi
(porque na época de sua compra, estava-se analisando muito
cuidadosamente o impacto da incorporação dos subs TR-1700 pela ARA)
e projetou-se a aquisição de submarinos de desempenho equivalente.
Que pelo fato de se ter escolhido o projeto da IKL seria
naturalmente o Type 2000, maior que os IKL-209.
Gostaria de me alongar mais ainda(!), mas o tempo não está
permitindo, se não se incomodar poderemos debater mais à respeito em
outra oportunidade.(amanhã, espero, fim de ano é uma barra-pesada)
Espero ter fornecido algo de novo aos srs.
Permaneço à disposição.
Walter