A "Guerra" pelos ares navais
Enviado: Qua Dez 07, 2005 5:32 pm
Apesar de muita gente saber da história relativa ao inicio das operações embarcadas no Minas Gerais e a disputa política travada entre a FAB e a MB, poucos sabem que ocorreram eventos que por pouco não resultaram inclusive em aeronaves abatidas. Por isso, deixo aqui esse artigo que fala sobre esse episódio da história militar brasileira...
"O já empossado presidente Jânio Quadros queira assistir a uma demonstração dos Tracker da FAB, realizando pousos no Minas Gerais, sem nunca a FAB ter pousado alguma de suas aeronaves no porta-aviões. Uma lancha levou na véspera da data marcada todo o pessoal da FAB para o navio, mas no dia seguinte, de surpresa, foi recebida a notícia da renúncia de Jânio Quadros, o que provocou o cancelamento da demonstração e a retirada de todo o pessoal da FAB no navio. Em 1966 foi transferido o Centro de Instrução e Adestramento Aero-Naval (CIAAN) da Avenida Brasil para a recém-criada Base Aero-Naval de São Pedro d'Aldeia (BAeNSPA), curiosamente o trabalho de transferência de material e de pessoal sendo realizado à noite, tudo para evitar o reconhecimento aéreo que vinha sendo feito diariamente pela FAB.
Na verdade a Marinha estava em processo de ampliação de instalações e de seus meios aéreos, à revelia da FAB. As primeiras aeronaves próprias da Aviação Naval desde sua desativação em 20 de janeiro de 1941 foram dois helicópteros de fabricação britânica Westland WS-51 Widgeon Mk.2 e em 1962 foi colocado em operação o primeiro esquadrão próprio, o 1o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-1), composto de três helicópteros Westland WS-55 Whirlwind que vieram junto com o Minas Gerais. Também outras aeronaves vieram a fazer parte, nessa época, da Aviação Naval, entre eles três bombardeiros navais General Motors TBM-3 Avenger (também vieram junto com o Minas Gerais, mas apenas para treinamento de tripulação e de manobra no convés, hangaragem e acomodação, foram colocados em condições de vôo por um grupo da US Navy e pessoal da Marinha durante a viagem de vinda para o Brasil, acabando por operar a partir do solo) e seis aviões de treinamento de fabricação suíça Pilatus PC-3-04, que vieram no início de 1963 desmontados em contâiners no navio-transporte G-16 Barroso Pereira. Aliás, os Pilatus foram protagonistas de vários episódios.
Os Pilatus foram levados até o CIAAN, na Avenida Brasil e lá montados em completo segredo, mas a lá não havia pista de decolagem, o que levou a Marinha a iniciar a construção de uma pista, mas disfarçando as taxiways como ruas e a pista como uma avenida, conseguindo com que a FAB não soubesse nem identificasse que lá havia uma pista! Após os aviões estarem montados e aptos para o vôo, foram transladados em vôo para a BAeNSPA antes do nascer do sol, conseguindo que o pessoal da aeronáutica também não tivesse conhecimento do translado. A FAB só conseguiu descobrir os Pilatus em meados de 1963, quando um T-6 Texan em missão de reconhecimento foi interceptado quando passava pela base por um Pilatus, que simulando um dogfight não teve dificuldade em se colocar nas "seis horas" do antigo T-6.
Logo após esse acontecimento, um piloto da FAB tirou fotografias da BAeNSPA que logo foram distribuídas ao público, a FAB afirmando que a Marinha estaria realizando "atividades clandestinas". O que se segui foi quase o início de um confronto geral armado, com aeronaves da FAB que sobrevoavam a BAeNSPA sendo recebidas à bala pela artilharia anti-aéreas, o que fez com que o presidente João Goulart paralisasse todas as atividades da Marinha e da FAB por 60 dias. Apesar dos problemas, a Marinha continuou seu processo de aumento de seu poderio aéreo, agora seria a escolha de qual aeronave iria operar a bordo do Minas Gerais, sendo o North American T-28 R1 Trojan o escolhido, em um lote de seis aeronaves. Apesar da pressão exercida pela FAB pela não-liberação, a Marinha conseguiu a liberação das aeronaves. Os Trojan foram montados dentro do Minas Gerais e a Marinha criou o 1o Esquadrão de Aviões Anti-Submarino (depois renomeado 1o Esquadrão Misto de Aviões Anti-Submarino e de Ataque) para operá-los, e foram os Trojans os primeiros aviões a pousarem no Minas Gerais.
O episódio que desencadeou a proibição da operação de aeronaves de asas fixas pela Marinha foi quando o Minas Gerais entrou na Baía de Guanabara com seu pessoal e aeronaves perfilados no convés de vôo, traduzindo o orgulho da Aviação Naval, o que foi recebido como provocação explícita pela Força Aérea. O que se seguiu foi a FAB impedindo qualquer aeronave da Marinha de utilizar pistas de pouso ou qualquer instalação aeroportuária controlada pela Aeronáutica, vetando até mesmo o reabastecimento. Isso fez com que a Marinha procurasse outros meios de apoio para suas aeronaves.
A situação era realmente tensa, atingindo seu limite quando um helicóptero da Marinha pousou numa estação de navegação ( que era controlado pela companhia aérea Cruzeiro do Sul, que era bastante ligada à Marinha, dando constante apoio as aeronaves da mesma) para reabastecimento e seus tripulantes foram surpreendidos por uma tropa da FAB que acabara de dar ordem de prisão. Os aviadores negaram-se a acatar a ordem de prisão e decolaram a aeronave, que recebeu uma rajada de metralhadora na cauda, obrigando o piloto a fazer um pouso de emergência. Com a gravidade do episódio e o movimento militar que há pouco tinha deposto o presidente João Goulart, o então presidente Castello Branco tomou uma decisão que acabasse com a disputa entre as duas corporações. Em 26 de janeiro de 1965, Castello Branco assinou o Decreto 55.627, que definia que a exclusivamente a FAB operaria com todas as aeronaves de asas fixas, dando liberdade à Marinha do Brasil de operar com aeronaves de asas rotativas. No mesmo ano, os Tracker finalmente iniciaram suas operações no Minas Gerais, só sendo retirado de serviço em 1996 - 31 anos -, assim como a unidade.
Apesar de impossibilitada de operar aeronaves de asas fixas, a Marinha sempre buscou operar aeronaves eficientes e modernas. Contando hoje com cerca de 103 aeronaves (incluindo os Skyhwaks), a Marinha do Brasil possui uma frota de helicópteros modernas, bem equipadas e armadas, sempre demonstrando suas qualidades em exercícios com outras marinhas. Um dos maiores exemplos é o Westland Super Lynx, um dos mais modernos e eficientes helicóptero para ataque anti-superfície do mundo."
Fonte: http://www.zairopigatto.hpg.ig.com.br/H%20Av%202.htm
Abraços
"O já empossado presidente Jânio Quadros queira assistir a uma demonstração dos Tracker da FAB, realizando pousos no Minas Gerais, sem nunca a FAB ter pousado alguma de suas aeronaves no porta-aviões. Uma lancha levou na véspera da data marcada todo o pessoal da FAB para o navio, mas no dia seguinte, de surpresa, foi recebida a notícia da renúncia de Jânio Quadros, o que provocou o cancelamento da demonstração e a retirada de todo o pessoal da FAB no navio. Em 1966 foi transferido o Centro de Instrução e Adestramento Aero-Naval (CIAAN) da Avenida Brasil para a recém-criada Base Aero-Naval de São Pedro d'Aldeia (BAeNSPA), curiosamente o trabalho de transferência de material e de pessoal sendo realizado à noite, tudo para evitar o reconhecimento aéreo que vinha sendo feito diariamente pela FAB.
Na verdade a Marinha estava em processo de ampliação de instalações e de seus meios aéreos, à revelia da FAB. As primeiras aeronaves próprias da Aviação Naval desde sua desativação em 20 de janeiro de 1941 foram dois helicópteros de fabricação britânica Westland WS-51 Widgeon Mk.2 e em 1962 foi colocado em operação o primeiro esquadrão próprio, o 1o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-1), composto de três helicópteros Westland WS-55 Whirlwind que vieram junto com o Minas Gerais. Também outras aeronaves vieram a fazer parte, nessa época, da Aviação Naval, entre eles três bombardeiros navais General Motors TBM-3 Avenger (também vieram junto com o Minas Gerais, mas apenas para treinamento de tripulação e de manobra no convés, hangaragem e acomodação, foram colocados em condições de vôo por um grupo da US Navy e pessoal da Marinha durante a viagem de vinda para o Brasil, acabando por operar a partir do solo) e seis aviões de treinamento de fabricação suíça Pilatus PC-3-04, que vieram no início de 1963 desmontados em contâiners no navio-transporte G-16 Barroso Pereira. Aliás, os Pilatus foram protagonistas de vários episódios.
Os Pilatus foram levados até o CIAAN, na Avenida Brasil e lá montados em completo segredo, mas a lá não havia pista de decolagem, o que levou a Marinha a iniciar a construção de uma pista, mas disfarçando as taxiways como ruas e a pista como uma avenida, conseguindo com que a FAB não soubesse nem identificasse que lá havia uma pista! Após os aviões estarem montados e aptos para o vôo, foram transladados em vôo para a BAeNSPA antes do nascer do sol, conseguindo que o pessoal da aeronáutica também não tivesse conhecimento do translado. A FAB só conseguiu descobrir os Pilatus em meados de 1963, quando um T-6 Texan em missão de reconhecimento foi interceptado quando passava pela base por um Pilatus, que simulando um dogfight não teve dificuldade em se colocar nas "seis horas" do antigo T-6.
Logo após esse acontecimento, um piloto da FAB tirou fotografias da BAeNSPA que logo foram distribuídas ao público, a FAB afirmando que a Marinha estaria realizando "atividades clandestinas". O que se segui foi quase o início de um confronto geral armado, com aeronaves da FAB que sobrevoavam a BAeNSPA sendo recebidas à bala pela artilharia anti-aéreas, o que fez com que o presidente João Goulart paralisasse todas as atividades da Marinha e da FAB por 60 dias. Apesar dos problemas, a Marinha continuou seu processo de aumento de seu poderio aéreo, agora seria a escolha de qual aeronave iria operar a bordo do Minas Gerais, sendo o North American T-28 R1 Trojan o escolhido, em um lote de seis aeronaves. Apesar da pressão exercida pela FAB pela não-liberação, a Marinha conseguiu a liberação das aeronaves. Os Trojan foram montados dentro do Minas Gerais e a Marinha criou o 1o Esquadrão de Aviões Anti-Submarino (depois renomeado 1o Esquadrão Misto de Aviões Anti-Submarino e de Ataque) para operá-los, e foram os Trojans os primeiros aviões a pousarem no Minas Gerais.
O episódio que desencadeou a proibição da operação de aeronaves de asas fixas pela Marinha foi quando o Minas Gerais entrou na Baía de Guanabara com seu pessoal e aeronaves perfilados no convés de vôo, traduzindo o orgulho da Aviação Naval, o que foi recebido como provocação explícita pela Força Aérea. O que se seguiu foi a FAB impedindo qualquer aeronave da Marinha de utilizar pistas de pouso ou qualquer instalação aeroportuária controlada pela Aeronáutica, vetando até mesmo o reabastecimento. Isso fez com que a Marinha procurasse outros meios de apoio para suas aeronaves.
A situação era realmente tensa, atingindo seu limite quando um helicóptero da Marinha pousou numa estação de navegação ( que era controlado pela companhia aérea Cruzeiro do Sul, que era bastante ligada à Marinha, dando constante apoio as aeronaves da mesma) para reabastecimento e seus tripulantes foram surpreendidos por uma tropa da FAB que acabara de dar ordem de prisão. Os aviadores negaram-se a acatar a ordem de prisão e decolaram a aeronave, que recebeu uma rajada de metralhadora na cauda, obrigando o piloto a fazer um pouso de emergência. Com a gravidade do episódio e o movimento militar que há pouco tinha deposto o presidente João Goulart, o então presidente Castello Branco tomou uma decisão que acabasse com a disputa entre as duas corporações. Em 26 de janeiro de 1965, Castello Branco assinou o Decreto 55.627, que definia que a exclusivamente a FAB operaria com todas as aeronaves de asas fixas, dando liberdade à Marinha do Brasil de operar com aeronaves de asas rotativas. No mesmo ano, os Tracker finalmente iniciaram suas operações no Minas Gerais, só sendo retirado de serviço em 1996 - 31 anos -, assim como a unidade.
Apesar de impossibilitada de operar aeronaves de asas fixas, a Marinha sempre buscou operar aeronaves eficientes e modernas. Contando hoje com cerca de 103 aeronaves (incluindo os Skyhwaks), a Marinha do Brasil possui uma frota de helicópteros modernas, bem equipadas e armadas, sempre demonstrando suas qualidades em exercícios com outras marinhas. Um dos maiores exemplos é o Westland Super Lynx, um dos mais modernos e eficientes helicóptero para ataque anti-superfície do mundo."
Fonte: http://www.zairopigatto.hpg.ig.com.br/H%20Av%202.htm
Abraços