Operação além das fronteiras
Efetivos especializados e dotados de tecnologia de ponta agem secretamente
em missões de paz e na proteção de diplomatas brasileiros no exterior.
Soldados atuarão na cúpula sul-americana em Brasília
Claudio Dantas
Da equipe do Correio
Única na América Latina, a Brigada de Operações Especiais (BOE) do Exército atua secretamente além das fronteiras brasileiras na proteção de diplomatas, análise de conflitos e assistência militar estratégica em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) — inclusive na que o Brasil comanda no Haiti. Seus efetivos constituem a vanguarda operacional das Forças Armadas. Atuam na chamada “guerra irregular”, em ações de reconhecimento e resgate, além do combate à guerrilha na Amazônia. Nesta semana, as tropas da BOE estão em campo para garantir a segurança da cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). “Estamos preparados para combater o terrorismo. Essa é nossa principal competência”, diz o comandante da BOE, general Marco Aurélio Costa Vieira. Há poucas semanas, ele recebeu o Correio na sede da BOE em Goiânia. Foi a primeira vez que uma equipe de reportagem teve acesso a essa instalação militar, inaugurada em janeiro de 2004.
O projeto da base é ambicioso, prevê pistas de combate em localidade, estandes de tiro, piscina, ginásio e as instalações para o pelotão de defesa química e o corpo da guarda — além de um túnel de vento para simulação de salto em queda livre. “Temos que fazer funcionar essa estrutura até 2007”, afirma o general. Segundo ele, Goiânia foi escolhida porque é uma capital de localização central. “Num raio de mil quilômetros temos mais de 80% da população do Brasil e se formos a 1,5 mil quilômetros chegamos a 90%. Em seis horas estamos em qualquer lugar do Brasil”, afirma.
Atualmente, as operações especiais constituem essencial ferramenta para responder a cenários indefinidos. Com o fim da Guerra Fria, houve uma redução considerável do conflito ideológico. No entanto, os confrontos religiosos aumentaram — adicionados de um componente tecnológico praticamente impossível de se controlar, principalmente quando utilizado a favor da violência. “Os conflitos são de baixa intensidade com duração maior, e o combate é essencialmente urbano, no qual não se consegue identificar o inimigo”, explica Marco Aurélio.
O militar ressalta que a presença da imprensa e de organizações humanitárias em campo aumenta a problemática do combate. Questões éticas, morais e até ecológicas interferem na atividade da tropa. “Diante desse cenário, precisamos atuar com mínima margem de erro”, diz. Além de enfrentar treinamento exaustivo, as tropas da BOE dispõem de tecnologia de ponta, como fuzis de assalto Sig Sauer (suíço) e M4, luneta para visão notuna, além de equipamentos de mergulho e pára-quedas de alta perfomance. Ao todo, são cerca de 2 mil homens, sendo 73 efetivos antiterror.
Ameaça
Apesar de negar que haja “ameaça iminente”, Marco Aurélio admite que os exercícios das tropas são baseados em cenários hipotéticos. “Os mais previstos são a Amazônia, alguma ameaça urbana contra alvo estrangeiro no Brasil ou o resgate de nacionais em solo estrangeiro”, afirma. No plano interno, a BOE já atuou em cúpulas presidenciais no Rio e em Ouro Preto. Em Brasília, os efetivos garantiram a segurança dos chefes de Estado na cúpula América do Sul-Países Árabes, em maio.
No plano externo, há agentes na Colômbia e na Costa do Marfim, onde brasileiros tiveram que ser resgatados durante um conflito deflagrado no fim do ano passado. Além disso, a BOE mantém um capitão de operações especiais em Porto Príncipe, no Haiti. “O comandante da tropa de paz pediu alguém competente, que possua conhecimento estratégico, para assessorá-lo em atividades locais. A gente não usa tropa porque a ONU não permite”, explica o comandante da BOE. Questionado sobre a presença militar dos EUA no Paraguai, Marco Aurélio é direto: “Essa é uma atividade típica de operações especiais dos norte-americanos”.
Defesa @ Net
BRIGADA
PARECE QUE O EB ESTA ACORDANDO PARA O FUTURO, QUEM SABE?
BRIGADA DE OP.ESP.DO EB
Moderadores: J.Ricardo, Conselho de Moderação
- eu sou eu
- Sênior
- Mensagens: 881
- Registrado em: Ter Jul 05, 2005 2:18 pm
- Localização: JANDIRA SP BRASIL
- Agradeceu: 1 vez
Operação além das fronteiras
Efetivos especializados e dotados de tecnologia de ponta agem secretamente
em missões de paz e na proteção de diplomatas brasileiros no exterior.
Soldados atuarão na cúpula sul-americana em Brasília
Claudio Dantas
Da equipe do Correio
Única na América Latina, a Brigada de Operações Especiais (BOE) do Exército atua secretamente além das fronteiras brasileiras na proteção de diplomatas, análise de conflitos e assistência militar estratégica em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) — inclusive na que o Brasil comanda no Haiti. Seus efetivos constituem a vanguarda operacional das Forças Armadas. Atuam na chamada “guerra irregular”, em ações de reconhecimento e resgate, além do combate à guerrilha na Amazônia. Nesta semana, as tropas da BOE estão em campo para garantir a segurança da cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). “Estamos preparados para combater o terrorismo. Essa é nossa principal competência”, diz o comandante da BOE, general Marco Aurélio Costa Vieira. Há poucas semanas, ele recebeu o Correio na sede da BOE em Goiânia. Foi a primeira vez que uma equipe de reportagem teve acesso a essa instalação militar, inaugurada em janeiro de 2004.
O projeto da base é ambicioso, prevê pistas de combate em localidade, estandes de tiro, piscina, ginásio e as instalações para o pelotão de defesa química e o corpo da guarda — além de um túnel de vento para simulação de salto em queda livre. “Temos que fazer funcionar essa estrutura até 2007”, afirma o general. Segundo ele, Goiânia foi escolhida porque é uma capital de localização central. “Num raio de mil quilômetros temos mais de 80% da população do Brasil e se formos a 1,5 mil quilômetros chegamos a 90%. Em seis horas estamos em qualquer lugar do Brasil”, afirma.
Atualmente, as operações especiais constituem essencial ferramenta para responder a cenários indefinidos. Com o fim da Guerra Fria, houve uma redução considerável do conflito ideológico. No entanto, os confrontos religiosos aumentaram — adicionados de um componente tecnológico praticamente impossível de se controlar, principalmente quando utilizado a favor da violência. “Os conflitos são de baixa intensidade com duração maior, e o combate é essencialmente urbano, no qual não se consegue identificar o inimigo”, explica Marco Aurélio.
O militar ressalta que a presença da imprensa e de organizações humanitárias em campo aumenta a problemática do combate. Questões éticas, morais e até ecológicas interferem na atividade da tropa. “Diante desse cenário, precisamos atuar com mínima margem de erro”, diz. Além de enfrentar treinamento exaustivo, as tropas da BOE dispõem de tecnologia de ponta, como fuzis de assalto Sig Sauer (suíço) e M4, luneta para visão notuna, além de equipamentos de mergulho e pára-quedas de alta perfomance. Ao todo, são cerca de 2 mil homens, sendo 73 efetivos antiterror.
Ameaça
Apesar de negar que haja “ameaça iminente”, Marco Aurélio admite que os exercícios das tropas são baseados em cenários hipotéticos. “Os mais previstos são a Amazônia, alguma ameaça urbana contra alvo estrangeiro no Brasil ou o resgate de nacionais em solo estrangeiro”, afirma. No plano interno, a BOE já atuou em cúpulas presidenciais no Rio e em Ouro Preto. Em Brasília, os efetivos garantiram a segurança dos chefes de Estado na cúpula América do Sul-Países Árabes, em maio.
No plano externo, há agentes na Colômbia e na Costa do Marfim, onde brasileiros tiveram que ser resgatados durante um conflito deflagrado no fim do ano passado. Além disso, a BOE mantém um capitão de operações especiais em Porto Príncipe, no Haiti. “O comandante da tropa de paz pediu alguém competente, que possua conhecimento estratégico, para assessorá-lo em atividades locais. A gente não usa tropa porque a ONU não permite”, explica o comandante da BOE. Questionado sobre a presença militar dos EUA no Paraguai, Marco Aurélio é direto: “Essa é uma atividade típica de operações especiais dos norte-americanos”.
Defesa @ Net
BRIGADA
MAIS ALGUMA COISA SOBRE O ASSUNTO
Efetivos especializados e dotados de tecnologia de ponta agem secretamente
em missões de paz e na proteção de diplomatas brasileiros no exterior.
Soldados atuarão na cúpula sul-americana em Brasília
Claudio Dantas
Da equipe do Correio
Única na América Latina, a Brigada de Operações Especiais (BOE) do Exército atua secretamente além das fronteiras brasileiras na proteção de diplomatas, análise de conflitos e assistência militar estratégica em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) — inclusive na que o Brasil comanda no Haiti. Seus efetivos constituem a vanguarda operacional das Forças Armadas. Atuam na chamada “guerra irregular”, em ações de reconhecimento e resgate, além do combate à guerrilha na Amazônia. Nesta semana, as tropas da BOE estão em campo para garantir a segurança da cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). “Estamos preparados para combater o terrorismo. Essa é nossa principal competência”, diz o comandante da BOE, general Marco Aurélio Costa Vieira. Há poucas semanas, ele recebeu o Correio na sede da BOE em Goiânia. Foi a primeira vez que uma equipe de reportagem teve acesso a essa instalação militar, inaugurada em janeiro de 2004.
O projeto da base é ambicioso, prevê pistas de combate em localidade, estandes de tiro, piscina, ginásio e as instalações para o pelotão de defesa química e o corpo da guarda — além de um túnel de vento para simulação de salto em queda livre. “Temos que fazer funcionar essa estrutura até 2007”, afirma o general. Segundo ele, Goiânia foi escolhida porque é uma capital de localização central. “Num raio de mil quilômetros temos mais de 80% da população do Brasil e se formos a 1,5 mil quilômetros chegamos a 90%. Em seis horas estamos em qualquer lugar do Brasil”, afirma.
Atualmente, as operações especiais constituem essencial ferramenta para responder a cenários indefinidos. Com o fim da Guerra Fria, houve uma redução considerável do conflito ideológico. No entanto, os confrontos religiosos aumentaram — adicionados de um componente tecnológico praticamente impossível de se controlar, principalmente quando utilizado a favor da violência. “Os conflitos são de baixa intensidade com duração maior, e o combate é essencialmente urbano, no qual não se consegue identificar o inimigo”, explica Marco Aurélio.
O militar ressalta que a presença da imprensa e de organizações humanitárias em campo aumenta a problemática do combate. Questões éticas, morais e até ecológicas interferem na atividade da tropa. “Diante desse cenário, precisamos atuar com mínima margem de erro”, diz. Além de enfrentar treinamento exaustivo, as tropas da BOE dispõem de tecnologia de ponta, como fuzis de assalto Sig Sauer (suíço) e M4, luneta para visão notuna, além de equipamentos de mergulho e pára-quedas de alta perfomance. Ao todo, são cerca de 2 mil homens, sendo 73 efetivos antiterror.
Ameaça
Apesar de negar que haja “ameaça iminente”, Marco Aurélio admite que os exercícios das tropas são baseados em cenários hipotéticos. “Os mais previstos são a Amazônia, alguma ameaça urbana contra alvo estrangeiro no Brasil ou o resgate de nacionais em solo estrangeiro”, afirma. No plano interno, a BOE já atuou em cúpulas presidenciais no Rio e em Ouro Preto. Em Brasília, os efetivos garantiram a segurança dos chefes de Estado na cúpula América do Sul-Países Árabes, em maio.
No plano externo, há agentes na Colômbia e na Costa do Marfim, onde brasileiros tiveram que ser resgatados durante um conflito deflagrado no fim do ano passado. Além disso, a BOE mantém um capitão de operações especiais em Porto Príncipe, no Haiti. “O comandante da tropa de paz pediu alguém competente, que possua conhecimento estratégico, para assessorá-lo em atividades locais. A gente não usa tropa porque a ONU não permite”, explica o comandante da BOE. Questionado sobre a presença militar dos EUA no Paraguai, Marco Aurélio é direto: “Essa é uma atividade típica de operações especiais dos norte-americanos”.
Defesa @ Net
BRIGADA
MAIS ALGUMA COISA SOBRE O ASSUNTO
- eu sou eu
- Sênior
- Mensagens: 881
- Registrado em: Ter Jul 05, 2005 2:18 pm
- Localização: JANDIRA SP BRASIL
- Agradeceu: 1 vez
Defesanet 25 Setembro 2005
Correio Braziliense 25 Setembro 2005
Autoridade contra o terror - I
Em três partes Parte I - Parte II - Parte III
Temor de atentados leva o Brasil a criar gabinete que centralizará
dados militares, policiais e de inteligência
Claudio Dantas
Da equipe do Correio
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem em sua mesa o projeto de lei que cria a primeira estrutura de combate ao terrorismo no Brasil. Batizado de Autoridade Contra Terrorismo, o órgão terá um gabinete responsável pelo gerenciamento de medidas antiterroristas, tropas especiais e um centro de processamento de dados que integrará informações provenientes das diferentes forças militares, policiais e de inteligência. Elaborada em pouco mais de um ano por um grupo de trabalho da Creden (Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional), a proposta se soma aos esforços do governo para o cumprimento das novas normas internacionais de combate ao terror, adotadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) logo depois dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos.
Autoridades ligadas ao projeto disseram ao Correio que a idéia é avançar aos poucos para evitar atropelos administrativos numa área sensível e ainda pouco conhecida por autoridades, políticos e pela população brasileira. Por causa de restrições no orçamento, a implementação ocorrerá em fases. Um núcleo gestor deve iniciar a montagem de todo o aparato, que ficará nas mãos de um militar diretamente subordinado ao general Jorge Armando Félix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Soldados realizam exercícios na sede da Brigada de Operações Especiais do Exército, em Goiânia
Tendência
O GSI confirmou por meio de sua assessoria a necessidade de se “atuar preventivamente” face ao terror, seguindo assim uma “tendência mundial”. Mas acrescentou que o “estudo técnico produzido encontra-se no âmbito da Creden, não havendo conclusões definitivas a respeito”. Nesta semana, uma reunião entre representantes do GSI, da Casa Civil e ministérios da Defesa, das Relações Exteriores e do Planejamento decidirá sobre o local, equipamentos e funcionários para a formação do núcleo gestor.
Até 2006, seriam necessárias apenas verbas destinadas à criação de novos cargos de DAS e uma infra-estrutura mínima. Já no ano seguinte haveria realocação de recursos da área militar em combinação com recursos secretos da Presidência.
A partir de 2007, se espera evoluir para uma estrutura com efetivo próprio. Essas “tropas contra o terror” seriam formadas por militares da Brigada de Operações Especiais (BOE) do Exército e contingentes a serem treinados em sua sede em Goiânia – revelou o general Marco Aurélio Vieira, comandante da BOE. O projeto prevê que a tomada de decisões pela autoridade contra terror responderá a níveis de alerta, numa escala de um a três. Se no primeiro nível inexiste risco de atentados, o terceiro se caracteriza pela iminência de ataque terrorista.
Nos últimos quatro anos, as autoridades brasileiras têm sofrido constante pressão por parte da comunidade internacional, especialmente de Washington, devido ao atraso na aplicação das recomendações contidas na resolução 1.373 de 28 de setembro de 2001. Decretada pelas potências sob impacto dos atentados nos EUA, o conjunto de regras inclui maior controle sobre operações financeiras, combate à lavagem de dinheiro para sufocar o financiamento ao terror, rígido monitoramento de fronteiras e a certificação de portos e aeroportos.
A maior parte dos portos brasileiros está adaptada às regras. Até julho, o governo federal havia investido R$ 150 milhões na instalação de bases marítimas da Polícia Federal e sistemas de alerta de segurança em navios. Mais R$ 50 milhões estão previstos para 2006. Os avanços são limitados pela burocracia e a falta de verbas, especialmente quando se trata de investir numa estrutura contra ameaça hipotética.
Conceito
Outro problema é o debate sobre a definição de terrorismo. No ano passado, críticos denunciaram a minuta da lei que definia como atividade terrorista práticas radicais dos movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O dilema não impediu que o Senado ratificasse, no fim de agosto, a Convenção Interamericana contra o Terrorismo — assinada pelo governo Fernando Henrique em 2002.
Relatórios do FMI, da ONU e do Departamento de Estado americano são unânimes quando afirmam que o Brasil limita o trabalho das autoridades fiscais e não exige dos bancos maior comprometimento contra a abertura de contas em nomes de laranjas. A rigidez do sigilo bancário é um entrave para a polícia e o Ministério Público no combate à lavagem de dinheiro.
“Ao evitar debater esse tema o Brasil fica mais vulnerável às novas políticas antiterror do que a um ataque”, alerta o especialista Salvador Raza, professor-adjunto do Centro de Estudos de Defesa Hemisférica, da Universidade Nacional de Defesa, em Washington — uma espécie de braço acadêmico do Pentágono. “O mundo avança no desenvolvimento de novas políticas geoestratégicas, que terão impacto econômico e social direto nos países em desenvolvimento.”
Investimento
O governo federal aplicou R$ 150 milhões em bases marítimas da Polícia Federal e sistemas de segurança em navios (Nota Defesa@Net - ver artigos sobre o ISPS Code)
Novidade na democracia
A criação de um comando central antiterror é novidade no Brasil, pelo menos em tempos de democracia. Durante os 21 anos do último regime militar (1964-1985), funcionou o Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Ele integrava dados da inteligência referentes aos movimentos rebeldes e atividades da oposição política. Também centralizava as ações policiais e de repressão. O objetivo era combater o chamado “inimigo interno”.
O controle e o gerenciamento eram feitos pelo Conselho de Segurança Nacional — ligado ao Estado-Maior das Forças Armadas —, que ocupava o topo de uma estrutura vertical e hierarquizada. Na base, estavam os agentes operacionais. A inteligência era feita por meio do Serviço Nacional de Informações (SNI), antecessor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Progressivamente, uma série de órgãos foi assimilada a esse sistema, que incorporava o espírito da doutrina da segurança nacional disseminada pela Escola Nacional de Guerra norte-americana e adaptada pela Escola Superior de Guerra (ESG) brasileira.
Risco nas fronteiras
Nos últimos 40 anos, a miscigenação nas fronteiras do Brasil com Bolívia, Paraguai e Uruguai se caracterizou pela carência de políticas de desenvolvimento econômico e social, criando condições ao surgimento do terrorismo. A opinião é do professor Salvador Raza, diretor do Departamento de Relações Internacionais das Faculdades de Campinas, em São Paulo. Na última semana, ele participou de uma conferência internacional sobre políticas de segurança. No evento, ocorrido em Garmisch (Alemanha), apresentou um estudo inédito sobre a percepção do terror na América Latina e suas mudanças desde a década de 60.
“O terrorismo dos anos 60 e 70 era conspiracional. Movimentos como o Tupamaros (Uruguai) e o MR8 (Brasil) buscavam a mudança dos regimes ditatoriais, que impunham um terrorismo de Estado”, avalia Raza, que também é professor-adjunto do Centro de Estudos sobre Segurança Hemisférica (Washington). Segundo o especialista, o mundo se depara agora com o “terrorismo estratégico, caracterizado por uma rede de associações onde emergem novos padrões ideológicos”.
Raza acredita “numa correlação entre as regiões que servem de berço ao terror e as tríplices fronteiras sul-americanas onde vivem brasiguaios (brasileiros+paraguaios), bolibrários (brasileiros+bolivianos) e urubrários (brasileiros+uruguaios)”. “Esses ambientes são marcados pela diluição étnica, cultural e de identidade nacional, normalmente associada a baixos índices de desenvolvimento e grande insatisfação. As pessoas vivem numa espécie de vácuo do Estado, criando uma espécie de caldo de cultura para o terror”, conclui.
A maioria dos especialistas percebe o terrorismo como fenômeno exógeno à região, quase como uma idéia plantada por agentes externos. Para seu estudo, Raza consultou 200 pessoas ao longo de um ano, entre empresários, estudantes, professores, políticos e ex-terroristas, que hoje estão no governo de vários países da região.
Para o professor de Campinas, o Brasil precisa debater o assunto e desenvolver políticas próprias, ou corre o risco de virar “vítima” das políticas antiterror das potências.
Correio Braziliense 25 Setembro 2005
Autoridade contra o terror - I
Em três partes Parte I - Parte II - Parte III
Temor de atentados leva o Brasil a criar gabinete que centralizará
dados militares, policiais e de inteligência
Claudio Dantas
Da equipe do Correio
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem em sua mesa o projeto de lei que cria a primeira estrutura de combate ao terrorismo no Brasil. Batizado de Autoridade Contra Terrorismo, o órgão terá um gabinete responsável pelo gerenciamento de medidas antiterroristas, tropas especiais e um centro de processamento de dados que integrará informações provenientes das diferentes forças militares, policiais e de inteligência. Elaborada em pouco mais de um ano por um grupo de trabalho da Creden (Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional), a proposta se soma aos esforços do governo para o cumprimento das novas normas internacionais de combate ao terror, adotadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) logo depois dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos.
Autoridades ligadas ao projeto disseram ao Correio que a idéia é avançar aos poucos para evitar atropelos administrativos numa área sensível e ainda pouco conhecida por autoridades, políticos e pela população brasileira. Por causa de restrições no orçamento, a implementação ocorrerá em fases. Um núcleo gestor deve iniciar a montagem de todo o aparato, que ficará nas mãos de um militar diretamente subordinado ao general Jorge Armando Félix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Soldados realizam exercícios na sede da Brigada de Operações Especiais do Exército, em Goiânia
Tendência
O GSI confirmou por meio de sua assessoria a necessidade de se “atuar preventivamente” face ao terror, seguindo assim uma “tendência mundial”. Mas acrescentou que o “estudo técnico produzido encontra-se no âmbito da Creden, não havendo conclusões definitivas a respeito”. Nesta semana, uma reunião entre representantes do GSI, da Casa Civil e ministérios da Defesa, das Relações Exteriores e do Planejamento decidirá sobre o local, equipamentos e funcionários para a formação do núcleo gestor.
Até 2006, seriam necessárias apenas verbas destinadas à criação de novos cargos de DAS e uma infra-estrutura mínima. Já no ano seguinte haveria realocação de recursos da área militar em combinação com recursos secretos da Presidência.
A partir de 2007, se espera evoluir para uma estrutura com efetivo próprio. Essas “tropas contra o terror” seriam formadas por militares da Brigada de Operações Especiais (BOE) do Exército e contingentes a serem treinados em sua sede em Goiânia – revelou o general Marco Aurélio Vieira, comandante da BOE. O projeto prevê que a tomada de decisões pela autoridade contra terror responderá a níveis de alerta, numa escala de um a três. Se no primeiro nível inexiste risco de atentados, o terceiro se caracteriza pela iminência de ataque terrorista.
Nos últimos quatro anos, as autoridades brasileiras têm sofrido constante pressão por parte da comunidade internacional, especialmente de Washington, devido ao atraso na aplicação das recomendações contidas na resolução 1.373 de 28 de setembro de 2001. Decretada pelas potências sob impacto dos atentados nos EUA, o conjunto de regras inclui maior controle sobre operações financeiras, combate à lavagem de dinheiro para sufocar o financiamento ao terror, rígido monitoramento de fronteiras e a certificação de portos e aeroportos.
A maior parte dos portos brasileiros está adaptada às regras. Até julho, o governo federal havia investido R$ 150 milhões na instalação de bases marítimas da Polícia Federal e sistemas de alerta de segurança em navios. Mais R$ 50 milhões estão previstos para 2006. Os avanços são limitados pela burocracia e a falta de verbas, especialmente quando se trata de investir numa estrutura contra ameaça hipotética.
Conceito
Outro problema é o debate sobre a definição de terrorismo. No ano passado, críticos denunciaram a minuta da lei que definia como atividade terrorista práticas radicais dos movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O dilema não impediu que o Senado ratificasse, no fim de agosto, a Convenção Interamericana contra o Terrorismo — assinada pelo governo Fernando Henrique em 2002.
Relatórios do FMI, da ONU e do Departamento de Estado americano são unânimes quando afirmam que o Brasil limita o trabalho das autoridades fiscais e não exige dos bancos maior comprometimento contra a abertura de contas em nomes de laranjas. A rigidez do sigilo bancário é um entrave para a polícia e o Ministério Público no combate à lavagem de dinheiro.
“Ao evitar debater esse tema o Brasil fica mais vulnerável às novas políticas antiterror do que a um ataque”, alerta o especialista Salvador Raza, professor-adjunto do Centro de Estudos de Defesa Hemisférica, da Universidade Nacional de Defesa, em Washington — uma espécie de braço acadêmico do Pentágono. “O mundo avança no desenvolvimento de novas políticas geoestratégicas, que terão impacto econômico e social direto nos países em desenvolvimento.”
Investimento
O governo federal aplicou R$ 150 milhões em bases marítimas da Polícia Federal e sistemas de segurança em navios (Nota Defesa@Net - ver artigos sobre o ISPS Code)
Novidade na democracia
A criação de um comando central antiterror é novidade no Brasil, pelo menos em tempos de democracia. Durante os 21 anos do último regime militar (1964-1985), funcionou o Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Ele integrava dados da inteligência referentes aos movimentos rebeldes e atividades da oposição política. Também centralizava as ações policiais e de repressão. O objetivo era combater o chamado “inimigo interno”.
O controle e o gerenciamento eram feitos pelo Conselho de Segurança Nacional — ligado ao Estado-Maior das Forças Armadas —, que ocupava o topo de uma estrutura vertical e hierarquizada. Na base, estavam os agentes operacionais. A inteligência era feita por meio do Serviço Nacional de Informações (SNI), antecessor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Progressivamente, uma série de órgãos foi assimilada a esse sistema, que incorporava o espírito da doutrina da segurança nacional disseminada pela Escola Nacional de Guerra norte-americana e adaptada pela Escola Superior de Guerra (ESG) brasileira.
Risco nas fronteiras
Nos últimos 40 anos, a miscigenação nas fronteiras do Brasil com Bolívia, Paraguai e Uruguai se caracterizou pela carência de políticas de desenvolvimento econômico e social, criando condições ao surgimento do terrorismo. A opinião é do professor Salvador Raza, diretor do Departamento de Relações Internacionais das Faculdades de Campinas, em São Paulo. Na última semana, ele participou de uma conferência internacional sobre políticas de segurança. No evento, ocorrido em Garmisch (Alemanha), apresentou um estudo inédito sobre a percepção do terror na América Latina e suas mudanças desde a década de 60.
“O terrorismo dos anos 60 e 70 era conspiracional. Movimentos como o Tupamaros (Uruguai) e o MR8 (Brasil) buscavam a mudança dos regimes ditatoriais, que impunham um terrorismo de Estado”, avalia Raza, que também é professor-adjunto do Centro de Estudos sobre Segurança Hemisférica (Washington). Segundo o especialista, o mundo se depara agora com o “terrorismo estratégico, caracterizado por uma rede de associações onde emergem novos padrões ideológicos”.
Raza acredita “numa correlação entre as regiões que servem de berço ao terror e as tríplices fronteiras sul-americanas onde vivem brasiguaios (brasileiros+paraguaios), bolibrários (brasileiros+bolivianos) e urubrários (brasileiros+uruguaios)”. “Esses ambientes são marcados pela diluição étnica, cultural e de identidade nacional, normalmente associada a baixos índices de desenvolvimento e grande insatisfação. As pessoas vivem numa espécie de vácuo do Estado, criando uma espécie de caldo de cultura para o terror”, conclui.
A maioria dos especialistas percebe o terrorismo como fenômeno exógeno à região, quase como uma idéia plantada por agentes externos. Para seu estudo, Raza consultou 200 pessoas ao longo de um ano, entre empresários, estudantes, professores, políticos e ex-terroristas, que hoje estão no governo de vários países da região.
Para o professor de Campinas, o Brasil precisa debater o assunto e desenvolver políticas próprias, ou corre o risco de virar “vítima” das políticas antiterror das potências.
- rodrigo
- Sênior
- Mensagens: 12891
- Registrado em: Dom Ago 22, 2004 8:16 pm
- Agradeceu: 221 vezes
- Agradeceram: 424 vezes
O Brasil, por incrível que pareça, não possui legislação que legitima o uso da força por agentes do Estado. Mais incrível ainda é o debate que se arrasta sobre o tema, desde o avião da VASP sequestrado em 1988(?), e que depois de pousar em Goiânia, um sniper da Polícia matou o sequestrador, e tiveram que dizer que ele morreu de susto...
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa