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Crise e racionalização administrativa

Enviado: Qui Dez 31, 2015 9:25 pm
por zerouno
Com essa crise, penso que muitos sejam a favor da racionalização das estruturas do Estado brasileiro. Em relação as forças armadas, não há como defender esse tipo de coisa (pois quase sempre racionalização é desvirtuada como extinção de órgãos). Mas ela está sendo feita, veja o anúncio recente de que em 2017 a manutenção das aeronaves da FAB vai ser feita via PPP. Enfim, já que está sendo feita, que ao menos não seja racionalizando as unidades operacionais (esquadrões) - ou ao menos de que se retirarem seja pra se criar outra longe do litoral.

Agora, numa rápida consulta ao Portal da Transparência, mesmo descobrindo que se gasta pouco com os hospitais das forças armadas (em 2014 foram 75.415.044,05), não seria prudente avaliar a criação de Hospitais das Forças Armadas (como em Portugal, vejam https://pt.wikipedia.org/wiki/Hospital_ ... as_Armadas)? Obviamente hospitais como o CEMAL não podem ser juntados com os específicos da MB e EB, mas isso não poderia ser repassado ao MD?

Re: Crise e racionalização administrativa

Enviado: Sex Jan 01, 2016 12:40 pm
por FCarvalho
Eu entendo que muitas coisas podem ser racionalizadas nas ffaa's, inclusive a partir da reorganização geográfica de suas OM's, e da alteração da estrutura funcional, priorizando, naquilo que é comum a todas, tarefas e serviços que de alguma forma possam ser melhor prestados juntando esforços do que mantendo-os isolados, sob o argumentos de especificidades das forças, que são via de regra, mais genéricos do que justificativos.

Enfim, há muitas coisas que podem ser feitas. De certa forma isso já vem ocorrendo nas três armas. Mas me parece não ser exatamente naquilo que, daqui de fora, possamos crer que seja a melhor forma. Mas claro, existe um MD da vida que tem a responsabilidade de fazer isso, de acordo com necessidades e prioridades administrativas que venham de encontro a modernização e qualificação das ffaa's.

Treinamento e formação de pessoal, exercícios e instrução (da básica ao avançada), simulação e jogos de guerra, sistemas C4ISR, fardamento e equipamentos individuais, armamento e sistemas bélicos afins, saúde e logística, transporte e segurança, e por aí vai.

Estes são apenas alguns exemplos de segmentos que podem, e devem, ao meu ver, ser objeto de racionalização possível e significativa.

O que fazer, e como fazer, é o dever de casa do MD e dos estados maiores.

abs.

Re: Crise e racionalização administrativa

Enviado: Sex Jan 01, 2016 3:34 pm
por zerouno
FCarvalho escreveu:Mas me parece não ser exatamente naquilo que, daqui de fora, possamos crer que seja a melhor forma.
Essa parte da sua fala é magistral, porque apesar de não estarmos inseridos dentro das FFAA (ao menos é o meu caso), isso não diminui a importância de nossas perspectivas.

Agora, acaba de sair uma reportagem no Valor Econômico sobre o quanto o mercado de MRO anda forte no Brasil, não somente por conta da desvalorização de nossa moeda, mas também porque o número de voos tornou necessário essas empresas adentrarem nesse tipo de serviço. A FAB, após estudar os modelos logísticos existentes nas forças aéreas de economias diferentes a nossa, vai parcialmente transferir algumas atividades de MRO para o mercado.

Não conheço o estudo, mas que não "aparenta" ser o melhor, é a primeira ideia que me vem a cabeça. Quem me garante que isso aqui (http://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-m ... 56822.html) não voltará a acontecer?

Enquanto isso, tudo o que você citou (fardamento, treinamento básico-elementar, saúde, segurança civil de instalações) não vem sendo racionalizado e passado ao mercado por iniciativa de ninguém (que riscos representam para a segurança nacional?).

Re: Crise e racionalização administrativa

Enviado: Sex Jan 01, 2016 5:43 pm
por Marechal-do-ar
zerouno escreveu:Não conheço o estudo, mas que não "aparenta" ser o melhor, é a primeira ideia que me vem a cabeça. Quem me garante que isso aqui (http://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-m ... 56822.html) não voltará a acontecer?
Eu tenho certeza que isso vai acontecer.

E duvido que seja a forma mais barata de realizar esse trabalho.

Re: Crise e racionalização administrativa

Enviado: Sex Jan 01, 2016 9:41 pm
por FCarvalho
zerouno escreveu:
FCarvalho escreveu:Mas me parece não ser exatamente naquilo que, daqui de fora, possamos crer que seja a melhor forma.
Essa parte da sua fala é magistral, porque apesar de não estarmos inseridos dentro das FFAA (ao menos é o meu caso), isso não diminui a importância de nossas perspectivas.
Agora, acaba de sair uma reportagem no Valor Econômico sobre o quanto o mercado de MRO anda forte no Brasil, não somente por conta da desvalorização de nossa moeda, mas também porque o número de voos tornou necessário essas empresas adentrarem nesse tipo de serviço. A FAB, após estudar os modelos logísticos existentes nas forças aéreas de economias diferentes a nossa, vai parcialmente transferir algumas atividades de MRO para o mercado.
Não conheço o estudo, mas que não "aparenta" ser o melhor, é a primeira ideia que me vem a cabeça. Quem me garante que isso aqui (http://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-m ... 56822.html) não voltará a acontecer?
Enquanto isso, tudo o que você citou (fardamento, treinamento básico-elementar, saúde, segurança civil de instalações) não vem sendo racionalizado e passado ao mercado por iniciativa de ninguém (que riscos representam para a segurança nacional?).
Olá zerouno,

Eu creio que há muitas coisas que tem de ser mudadas nas ffaa's em termos de racionalidade operacional/organizacional antes de algo realmente mais concreto possa começar a produzir os resultados esperados. A começar pela mentalidade se seus membros, e por conseguinte, dos conceitos que estes tem de suas funções e objetivos, e sobre como melhor alcançá-los.

Muito se falou na END em dotar as ffaa's de capacidades e competências, mas da maneira como se vê hoje a organização das ffaa's, e a mentalidade reinante, percebe-se logo que este será um trabalho hercúleo.

Eu até já opinei aqui algumas vezes sobre uma reorganização da defesa aérea no tópico do FX-2, e sobre o transporte na FAB, abri um tópico sobre isso também, mas claro, de maneira bem especulativa e geral. E pelo que andei observando, mesmo com a atual estrutura, poderíamos fazer muita coisa e melhorar bastante, do ponto de vista organizacional, as nossas capacidades e competências em termos de poder aéreo, sem para isso ter de criar ou aumentar a atual estrutura; contudo, este é um assunto bem deletério tanto dentro do MD quanto nas ffaa's.

Quero crer que várias das atividades e campos que citei no último post podem ser ou repassados, ou ajudados pela iniciativa privada, via PPP, no sentido de proporcionar melhores resultados as suas funções. Mas isto tem de ser muito bem medido, posto que as atividades militares tem especificidades que devem ser observadas e acolhidas de forma que a racionalidade pretendida possa realmente gerar os resultados esperados, e não apenas lucro para a iniciativa privada através do simples repasse de funções para a mesma.

Parcerias são muito bem vindas. E elas vieram para ficar. Agora, precisamos olhar o que há por aí, entender nossas capacidades e características, e ver onde uma e outra podem unir esforços a fim de garantir sempre a melhor operacionalidade e capacidades as nossas forças.

abs.

Re: Crise e racionalização administrativa

Enviado: Sex Jan 01, 2016 11:43 pm
por zerouno
Pode ser que a introdução da PPP possa produzir bons resultados, mas meu ceticismo se justifica (1) por não sabermos a diferença entre público e privado (tenho alunos que sistematicamente, mesmo com apelos, recarregam o celular no início de TODAS as primeiras aulas da parte da tarde do dia, e reclamam de corrupção), (2) por estarmos a terceirizar atividade-fim (MRO é sim atividade-fim) e não atividades auxiliares como contratação de serviços de fardamento, treinamento básico e bem-estar da tropa e (3) por não estarmos centralizando (via estatal, como a DGA francesa, ou pela seleção de uma única empresa privada, como é hoje a OGMA para Portugal) a manutenção dos meios aéreos e armamentos.

Por fim, acho que perdemos uma oportunidade da FAB buscar recursos no mercado (e não somente através de impostos) pelo fornecimento de serviços as empresas aéreas, mantendo um número de sargentos para fazer manutenção mais básica nos esquadrões, mas contratando (via CLT) técnicos altamente especializados para fazerem a manutenção de células não só da força, mas também para as empresas aéreas. Por que isso não pode ser chamado de PPP? Só porque é o inverso, elas se aproveitando da ociosidade que a FAB necessita ter (num parque de manutenção que traga divisas para o país) para ser soberana na operação de seus meios aéreos?

Enquanto isso sai no jornal uma série de óbvios ululantes que são tratados com moralismo, como a presença de lobista na venda do Gripen, a presença de pessoas ligadas a Aeronáutica na AEL e uma campanha subliminar (na minha leitura) de que a Odebrecht deve diminuir seu crescimento, afetando diretamente o nascimento de um segundo player no mercado de defesa do Brasil!