O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) – Há algumas questões que nós vamos fazer e compartilharemos com os Senadores.
Fica evidente, após a demonstração do Brigadeiro Crepaldi, o critério adotado pela Aeronáutica, ao longo desse processo, para fazer a sua escolha. Ainda assim, há algumas questões que nós gostaríamos de ver confirmadas.
Uma das questões diz respeito à escolha do caça sueco, diz respeito à confirmação ou não de que um conjunto muito relevante de sistemas e componentes para a fabricação dessa aeronave é de outros países que não a Suécia.
O que, efetivamente, dessa aeronave é sueco e é de outros países? E essa dependência de outros países poderia nos levar àquilo que se chama o fantasma do embargo? Porque há embutida nessa proposta uma transferência de tecnologia muito firme e muito forte. Foi falado aqui que 80% de alguns componentes serão construídos no Brasil. Mas são componentes que me parecem commodities, são componentes que não têm grande grau de complexidade, que são os elementos da estrutura do Gripen
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da estrutura do Gripen. Há algumas afirmações de que grande parte dos equipamentos e sistemas do Gripen tem como origem os Estados Unidos da América. Os americanos são quem fornecem os sistemas fundamentais da aeronave – como motor, aviônica, armamentos –, o que tem impacto sobre a transferência de tecnologia e, até mesmo, sobre a transferência e o fornecimento do código-fonte para o nosso País.
Essa dependência com relação aos Estados Unidos reduz a autonomia nas transferências de tecnologia, na entrada em operação desta aeronave e na sua manutenção? Como a Força Aérea Brasileira encara esse tipo de afirmação? Se ela procede. Quanto ao nível de dependência, que nível de percentual... Há quem afirme que 40% desse equipamento não é de produção sueca. Nós gostaríamos que V. Sª pudesse falar a respeito dessas afirmações – se elas são procedentes e como a Aeronáutica tecnicamente debateu esses temas.
O SR. JUNITI SAITO – Brigadeiro Crepaldi disse que nós visamos dois aspectos: transferência de tecnologia e cooperação industrial.
No que tange ao equipamento de um avião: hoje em dia, ninguém fabrica totalmente todos os equipamentos pertencentes a sua indústria no país.
No caso do Gripen, por exemplo, a maior parte que nós temos do equipamento americano seria o motor. Mas lembre-se de que o motor é uma coisa mecânica. Na hora em que nós adquirimos os aviões, os motores virão juntos. E, além disso, nós compraremos mais motores sobressalentes. Quanto à revisão desses motores, ela está garantida por essa cooperação industrial de manutenibilidade desses equipamentos ao longo do ciclo de vida.
O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Minoria/PSDB - SP. Fora do microfone.) – Nós podemos fabricar esses motores também?
O SR. JUNITI SAITO – Senador, boa pergunta.
Eu diria que hoje nós temos quatro ou cinco fabricantes de motores no mundo inteiro. É uma tecnologia bastante avançada. Além de ter essa tecnologia, é preciso ter credibilidade, então é preciso ter muita quilometragem rodada para se conseguir desenvolver economicamente um motor desse tipo.
Nós estamos iniciando agora desenvolvimento de motor de turbina estática para geração de energia. Seria o primeiro passo para, no futuro, nós termos capacitação para desenvolver o motor aeronáutico, que é muito mais complicado.
Então, todos esses fatores levam a crer que os sistemas embarcados... Muitas coisas serão feitas aqui no Brasil – de alta tecnologia, como ele descreveu aqui. O sistema de aviônica, por exemplo, será feito aqui no Brasil.
O código-fonte. Nós teremos total acesso ao código-fonte, porque nós vamos trabalhar junto no desenvolvimento. E é importantíssimo código-fonte, como o senhor falou, Senador, porque é como nós buscamos integrar os nossos armamentos. E a indústria de armamento no Brasil é uma indústria que já fabrica bombas, fabrica mísseis. Então são esses armamentos que nós queremos integrar no avião.
Eu não sei se o Brigadeiro Crepaldi tem alguma coisa a acrescentar...
O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) – Procede a informação de que, no conjunto, esse equipamento é um equipamento em torno daquilo que é fundamental, dos seus sistemas da aviônica, são 40% norte-americanos?
O SR. JOSÉ AUGUSTO CREPALDI AFFONSO – Só complementando o Brigadeiro Saito colocou.
Questão do motor. Realmente, o motor é de origem norte-americana.
O Brigadeiro Saito colocou que a indústria nacional hoje se preocupou nessa área aeroespacial, no que se refere a estruturas, e na área de armamento. Então, como o senhor colocou, armamento. Hoje eu tenho a possibilidade de integrar armamento, seja norte-americano, seja israelense, seja europeu, e, principalmente, nacional.
Então, o que é importante para gente no domínio hoje? É a capacidade de fazer integração disso. A estrutura, por si, é alcançável de maneira mais fácil. Agora, o que a gente busca, como o Brigadeiro Saito colocou aqui, é a capacidade de desenvolver e de dominar o software no que se refere à integração.
Agora, o motor. Hoje, motores, como o Brigadeiro Saito colocou,
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(...) Como o Brigadeiro Saito colocou, o senhor conta nos dedos hoje os fabricantes de motores no mundo. O senhor conta nos dedos. Há fabricantes norte-americanos, há fabricantes russos, fabricantes canadenses, fabricantes franceses, fabricantes ingleses e fabricantes alemães. São pouquíssimos fabricantes. Qualquer que fosse a escolha, o motor ainda continuaria sem essa desejada autonomia.
O que se buscou para se mitigar isso, nas três ofertas? Foi garantir que a autonomia no que se refere ao ciclo de vida fosse mantido – como disse o Brigadeiro – com lote de sobressalentes e com uma estrutura da indústria brasileira capaz de fazer frente a esse ciclo de vida.
O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) – Na parte de aviônica, na parte de sistemas?
O SR. JOSÉ AUGUSTO CREPALDI AFFONSO – Aviônica. Hoje a aviônica é americana, Rockwell Collins, com a possibilidade, que mostrei para o senhor, de ser a AEL Sistems
O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) – Então, além do motor, além das turbinas, também aviônica norte-americana?
O SR. JOSÉ AUGUSTO CREPALDI AFFONSO – Aviônica também.
O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) – E essa transferência de tecnologia é assegurada?
O SR. JOSÉ AUGUSTO CREPALDI AFFONSO – É assegurada. Como eu coloquei ali para o senhor, por exemplo...
O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) – Mas como assegurar essa transferência se ela não é de domínio da Suécia e é de domínio dos Estados Unidos? E se, em algum momento, os Estados Unidos fizerem algum tipo de embargo? Como assegurar isso?
O SR. JOSÉ AUGUSTO CREPALDI AFFONSO – Ele é assegurado por meio do ciclo de vida. A gente está montando uma transferência que garanta para a empresa nacional que ela faça a manutenção no Brasil. Então, vendido o item, item no estoque com um nível razoável, eu consigo manter esse item.