General Leopoldo Galtieri e o Brasil
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General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Prezados camaradas, boa noite
Recebi uma informação por esses dias de um amigo brasileiro que vive aqui (estou morando em Buenos Aires), estudioso de questões militares, que o general argentino Leopoldo Galtieri, responsável pelo ataque as Malvinas (que está sendo comemorado aqui) graduou-se na escola de engenharia das forças armadas argentinas com uma tese sobre as perdas territoriais argentinas no século XIX, dando especial destaque para as perdas para o Brasil e propagandeando a retomada dessas terras.
Isso parece que vai ao encontro do chamado Plano Rosário, segundo o qual depois de invadida as Malvinas, os argentinos iriam se voltar para o Chile e depois para o Brasil.
Algum dos camaradas sabe se essa informação (a da tese do general) confere?
Um abraço
Ricardo
Recebi uma informação por esses dias de um amigo brasileiro que vive aqui (estou morando em Buenos Aires), estudioso de questões militares, que o general argentino Leopoldo Galtieri, responsável pelo ataque as Malvinas (que está sendo comemorado aqui) graduou-se na escola de engenharia das forças armadas argentinas com uma tese sobre as perdas territoriais argentinas no século XIX, dando especial destaque para as perdas para o Brasil e propagandeando a retomada dessas terras.
Isso parece que vai ao encontro do chamado Plano Rosário, segundo o qual depois de invadida as Malvinas, os argentinos iriam se voltar para o Chile e depois para o Brasil.
Algum dos camaradas sabe se essa informação (a da tese do general) confere?
Um abraço
Ricardo
- Clermont
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Eu não sei desses planos de "voltar-se para o Chile e depois para o Brasil". Parece mais fantasia bélica. Agora, com certeza, Galtieri desejava assumir a posição do Brasil como "aliado mais confiável" dos Estados Unidos. Ele, mais de uma vez, expressara seu desdém pela política "terceiro-mundista" do Brasil. Se não engano, ele usou o termo "coquetismo ideológico" para referir-se à política neutralista do Itamaraty.
Além disso, ele enviou conselheiros argentinos para os países em guerra civil da América Central e se preparava para enviar tropas de combate para lá, a fim de lutar - se não me engano - em El Salvador. Aliás, foi esse comprometimento que levou Galtieri a acalentar a ilusão fatídica de que os Estados Unidos fechariam os olhos para as estripulias argentinas nas Ilhas Falklands. Foi um erro, que custou mais de mil vidas argentinas.
Além disso, ele enviou conselheiros argentinos para os países em guerra civil da América Central e se preparava para enviar tropas de combate para lá, a fim de lutar - se não me engano - em El Salvador. Aliás, foi esse comprometimento que levou Galtieri a acalentar a ilusão fatídica de que os Estados Unidos fechariam os olhos para as estripulias argentinas nas Ilhas Falklands. Foi um erro, que custou mais de mil vidas argentinas.
- Marino
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Na época ele disse em alto e bom tom: "primero las Malvinas, después otras cosas más".
Ninguém lembra hoje, mas a Argentina ameaçou bombardear Itaipu.
Ninguém lembra hoje, mas a Argentina ameaçou bombardear Itaipu.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Clermont escreveu:Eu não sei desses planos de "voltar-se para o Chile e depois para o Brasil". Parece mais fantasia bélica. Agora, com certeza, Galtieri desejava assumir a posição do Brasil como "aliado mais confiável" dos Estados Unidos. Ele, mais de uma vez, expressara seu desdém pela política "terceiro-mundista" do Brasil. Se não engano, ele usou o termo "coquetismo ideológico" para referir-se à política neutralista do Itamaraty.
Além disso, ele enviou conselheiros argentinos para os países em guerra civil da América Central e se preparava para enviar tropas de combate para lá, a fim de lutar - se não me engano - em El Salvador. Aliás, foi esse comprometimento que levou Galtieri a acalentar a ilusão fatídica de que os Estados Unidos fechariam os olhos para as estripulias argentinas nas Ilhas Falklands. Foi um erro, que custou mais de mil vidas argentinas.
Prezado Clermont, agradeço-lhe a resposta.
Esse plano de que falei é o plano Rosário.
É curioso como a Argentina passou de aliadíssimo da OTAN a inimigo dela. Aqui se alimenta com muita força a ideia de que a Argentina é um histórico inimigo do atlantismo e do mundo anglo-saxonico, uma espécie de país-guerrilheiro. O argentino se vê assim e acha que o chileno, ao lado dele, é um lambe botas dos anglo-saxões.
Como se ve, a coisa não é assim.
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
De Itaipu não sabia.Marino escreveu:Na época ele disse em alto e bom tom: "primero las Malvinas, después otras cosas más".
Ninguém lembra hoje, mas a Argentina ameaçou bombardear Itaipu.
O que se fala é que ele planejava invadir o RS e SC para retomar territórios argentinos perdidos no século XIX.
Por isso gostaria de saber se alguém tem essa informação sobre a tese de Galtieri, que me foi passada como fidedigna.
- Clermont
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Continuo achando que é mais fantasia bélica. Galtieri (assim como o general Newton Cruz) parece que viu muitos filme sobre o general Patton, e gostava de fazer uso da retórica bombástica, característica do velho "Sangue e Tripas"..Marino escreveu:Na época ele disse em alto e bom tom: "primero las Malvinas, después otras cosas más".
Ninguém lembra hoje, mas a Argentina ameaçou bombardear Itaipu.
Acontece que os generais e almirantes argentinos não foram até as Falklands para combater os britânicos. A guerra, que deveria, justamente, ser o ofício deles, era algo com que eles não contavam. O que eles esperavam é que a Rainha "botasse o galho dentro", e que a Grã-Bretanha se conformasse, assim como Portugal se conformou com a perda de Goa (aliás, não por coincidência, o plano argentino tinha o códinome de "Goa"...) Só que no caminho argentino existia uma certa tia Maggie que não era muito chegada num "galho dentro"...
Agora, com o Chile e com o Brasil, a história seria diferente. "Después otras cosas más" significaria guerra total, nada de "galho dentro". "Bombardear Itaipu"? Embora os oficiais-generais argentinos tenham deixado claro toda sua inépcia, malucos eles não eram. Imaginem só, uma guerra numa fronteira com o Brasil do general Figueiredo. Será que o Chile do general Pinochet ficaria parado, olhando? É ruim de ser, hein? Forte cheiro de guerra em duas frentes.
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Clermont, a Argentina estava na época em disputa com o Chile pelo canal de Beagle, com planos de invadir Santiago em 78.
Essa frase do general Galtieri que o Marino citou é literal. E hoje se tem como certo que depois de conquistadas as Malvinas, os argentinos iriam atrás do Chile. O Brasil ficaria para depois. O apoio chileno a Inglaterra deu-se por isso.
Essa frase do general Galtieri que o Marino citou é literal. E hoje se tem como certo que depois de conquistadas as Malvinas, os argentinos iriam atrás do Chile. O Brasil ficaria para depois. O apoio chileno a Inglaterra deu-se por isso.
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Não esqueçamos de um ponto:
embora a Argentina em 82 não fosse realmente páreo pra Grã-Bretanha, não era nada parecida com o país pobre, destroçado economicamente e com problemas sociais gravíssimos que é hoje.
embora a Argentina em 82 não fosse realmente páreo pra Grã-Bretanha, não era nada parecida com o país pobre, destroçado economicamente e com problemas sociais gravíssimos que é hoje.
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Frases são frases, não deixam traços como fumaça no ar.RicardoAg escreveu:Essa frase do general Galtieri que o Marino citou é literal.
É preciso se concentrar na realidade por trás delas. Inclusive, porque um comandante quando tem a intenção de tomar uma certa decisão estratégica, nunca diria isso publicamente. Caso contrário, não seria um comandante, seria o soldado responsável por descascar batatas no rancho do quartel...
- Marino
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Quando eu servia no MD participei de uma conferência em Sao Paulo onde haviam dois conferencistas argentinos.
Um era o Fabian Calle e o outro o Hector San Martin.
Eles, em um jantar no qual participei, afirmaram com todas as letras que os argentinos invadiriam o Brasil por dois eixos, um no RGS e outro no Paraná.
A memória nao ajuda, mas um era em direção a Santa Maria e o outro, mais importante, em direção a Cascavel, com o objetivo de cortar o sul do país com o norte, principalmente Sao Paulo.
O General brasileiro que presidia o jantar respondeu que seria muito interessante, pois no planejamento do EB eles visualizaram esta manobra e concentraram os meios exatamente nos dois eixos, como é até hoje.
Então, nao é fantasia.
Um era o Fabian Calle e o outro o Hector San Martin.
Eles, em um jantar no qual participei, afirmaram com todas as letras que os argentinos invadiriam o Brasil por dois eixos, um no RGS e outro no Paraná.
A memória nao ajuda, mas um era em direção a Santa Maria e o outro, mais importante, em direção a Cascavel, com o objetivo de cortar o sul do país com o norte, principalmente Sao Paulo.
O General brasileiro que presidia o jantar respondeu que seria muito interessante, pois no planejamento do EB eles visualizaram esta manobra e concentraram os meios exatamente nos dois eixos, como é até hoje.
Então, nao é fantasia.
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Fantasia ou não, o único que agiu como autêntico estrategista, nesta confusão toda, foi o Pinochet, quando forneceu apoio dissimulado aos britânicos. É possível se discutir, eternamente, se os militares argentinos, sofreriam um "surto solanista-napoleônico" e partiriam para reconstruir o Vice-Reino do Prata, em pleno final do século XX (eu acho que é fantasia), mas uma coisa é certa: o poder de pressão militar da Argentina se tornaria imenso com uma vitória diplomática nas Falklands e se faria sentir em cheio sobre seus vizinhos. E, no longo prazo, uma coisa dessas poderia acabar levando a algum tipo de choque militar real com o Chile.
Sendo assim, Pinochet agiu no mais alto interesse da sua nação, apesar de na época, ter sido acusado de "trair a solidariedade latino-americana". Aliás, ainda hoje alguns ainda falam mal dos chilenos por causa disso.
Sendo assim, Pinochet agiu no mais alto interesse da sua nação, apesar de na época, ter sido acusado de "trair a solidariedade latino-americana". Aliás, ainda hoje alguns ainda falam mal dos chilenos por causa disso.
- suntsé
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Mas ao contrário da Argentina a Índia estava bem preparada e contavam com a possibilidade de guerra desde o inicio. Tanto é que atacaram os territórios portugueses com 40 mil soldados pesadamente armados. Portugal não teve como resistir, teve que aceitar por incapacidade militar mesmo.Clermont escreveu:
Acontece que os generais e almirantes argentinos não foram até as Falklands para combater os britânicos. A guerra, que deveria, justamente, ser o ofício deles, era algo com que eles não contavam. O que eles esperavam é que a Rainha "botasse o galho dentro", e que a Grã-Bretanha se conformasse, assim como Portugal se conformou com a perda de Goa (aliás, não por coincidência, o plano argentino tinha o códinome de "Goa"...) Só que no caminho argentino existia uma certa tia Maggie que não era muito chegada num "galho dentro"...
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Obrigado por compartilhar a informação, Marino.Marino escreveu:Quando eu servia no MD participei de uma conferência em Sao Paulo onde haviam dois conferencistas argentinos.
Um era o Fabian Calle e o outro o Hector San Martin.
Eles, em um jantar no qual participei, afirmaram com todas as letras que os argentinos invadiriam o Brasil por dois eixos, um no RGS e outro no Paraná.
A memória nao ajuda, mas um era em direção a Santa Maria e o outro, mais importante, em direção a Cascavel, com o objetivo de cortar o sul do país com o norte, principalmente Sao Paulo.
O General brasileiro que presidia o jantar respondeu que seria muito interessante, pois no planejamento do EB eles visualizaram esta manobra e concentraram os meios exatamente nos dois eixos, como é até hoje.
Então, nao é fantasia.
O curioso não é eles terem planejado isso efetivamente, mas o fato de terem dito abertamente para a plateia. Heheheh.
- rodrigo
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
É verdade. E o Brasil sabia e se preparou para isso.o general argentino Leopoldo Galtieri, responsável pelo ataque as Malvinas (que está sendo comemorado aqui) graduou-se na escola de engenharia das forças armadas argentinas com uma tese sobre as perdas territoriais argentinas no século XIX, dando especial destaque para as perdas para o Brasil e propagandeando a retomada dessas terras.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
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Re: General Leopoldo Galtieri e o Brasil
Clermont, seria na verdade um surto "rosista", de Juan Manuel Rosas. Essa gente existe na Argentina até hoje. E eles odeiam o Brasil por uma razão simples: 1852.Clermont escreveu:Fantasia ou não, o único que agiu como autêntico estrategista, nesta confusão toda, foi o Pinochet, quando forneceu apoio dissimulado aos britânicos. É possível se discutir, eternamente, se os militares argentinos, sofreriam um "surto solanista-napoleônico" e partiriam para reconstruir o Vice-Reino do Prata, em pleno final do século XX (eu acho que é fantasia), mas uma coisa é certa: o poder de pressão militar da Argentina se tornaria imenso com uma vitória diplomática nas Falklands e se faria sentir em cheio sobre seus vizinhos. E, no longo prazo, uma coisa dessas poderia acabar levando a algum tipo de choque militar real com o Chile.
Sendo assim, Pinochet agiu no mais alto interesse da sua nação, apesar de na época, ter sido acusado de "trair a solidariedade latino-americana". Aliás, ainda hoje alguns ainda falam mal dos chilenos por causa disso.
E concordo, o poder de pressão argentino seria imenso e irrefreável.
Concordo também quanto a Pinochet. Sua atuação foi impecável neste momento. Aqui os chilenos são até hoje odiados por conta disso.