11 de Novembro de 2010 - 92 anos do fim da Grande Guerra.
Enviado: Qui Nov 11, 2010 7:22 pm
OS HORRORES DA GUERRA.
Por Laurence M. Vance - 9 de julho de 2004.
"É bom que a guerra seja tão terrível, do contrário, acabaríamos gostando muito dela." - Robert E. Lee.
"Os males da guerra são grandes em sua perenidade, e suas conseqüências tem de ser pagas pelas eras vindouras." - Thomas Jefferson.
Tanto tem se escrito, através de toda a história, que glorifica a guerra e o guerreiro que é enviado pelo estado para cumprir a vontade deste. Morrer pela pátria - independente das circunstâncias que provocam tal conflito -, é visto como sacrifício supremo. Protestar contra a guerra é ser um traidor. Ser um soldado profissional é visto como a mais nobre das ocupações. A morte do combatente inimigo é celebrada. Baixas civis são desconsideradas como "dano colateral".
Na atual Guerra do Iraque, antes da falsa transferência de soberania de 28 de junho, 855 soldados americanos tinham morrido. São mais de oitocentos moços (e moças) que nunca darão netos aos seus pais, ou que deixaram para trás, esposas e filhos pesarosos. Esquecidos estão os mais de 5 mil militares que foram feridos, muitos dos quais suportarão o sofrimento pelo restante de suas vidas. E este número é, apenas, a contagem "oficial". Os milhares de soldados iraquianos mortos ou feridos, não são preocupação para ninguém - e, nem tampouco, as baixas civis iraquianas.
Descrições gerais dos horrores da guerra podem ser lidas em qualquer história militar de John Keegan ou Martin Gilbert. Porém, mais e mais relatos específicos dos horrores da guerra estão começando a ver a luz do dia. Blood Red Snow: The Memoirs of a German Soldier on the Eastern Front e His Times in Hell: A Texas Marine in France são dois livros recentes que exploram os horrores da guerra do ponto de vista do soldado individual. What Every Person Should Know About War de Chris Hedges é uma ardente condenação dos males gêmeos da glorificação da guerra e a ocultação de sua brutalidade.
Vozes Íntimas.
O recém-publicado Intimates Voices from the First World War diz todas estas coisas e muito mais. O que torna único este livro é que os autores - vinte e oito homens, mulheres e crianças de treze nações diferentes - por não estarem escrevendo visando publicação, não tinham nenhum objetivo particular, exceto descrever os efeitos da guerra sobre si mesmos e o ambiente ao redor deles. Isto é o máximo em matéria de fonte primária. De suas pesquisas sobre centenas de relatos de primeira mão, os editores do livro, Svetlana Palmer e Sarah Wallis, selecionaram vinte e oito diários ou coleções de cartas escritas por soldados e civis que viveram (e, em alguns casos, morreram) durante a Grande Guerra. Muitos dos diários foram encontrados, décadas após o fim da guerra e, alguns, há poucos anos atrás.
Os horrores da guerra são descritos aqui, como nenhum historiador escrevendo no século XXI poderia descrevê-los. Mas, em acréscimo aos relatos de morte, destruição e fome, Intimate Voices também dá uma compreensão do papel do estado na guerra, as idéias religiosas dos combatentes, o efeito desmoralizante da guerra sobre as mulheres e as lamentações dos soldados e civis.
A Guerra.
O conflito sobre o qual lemos em Intimate Voices é a "grande guerra" para "tornar o mundo seguro para a democracia" - a "guerra para acabar com todas as guerras". Ela começou quando a Áustria declarou guerra à Sérvia, depois do assassínio do arquiduque Francisco Ferdinando, o herdeiro do trono autro-húngaro, durante uma visita de estado a Sarajevo, a capital da província austro-húngara da Bósnia-Herzegovina. O arquiduque, recentemente, tinha oferecido um brinde no qual advogou pela paz:
Seu conselho caiu em ouvidos moucos, e o resultado foi a carnificina de mais de um milhão de soldados que lutaram pelo seu império, mais um não-contabilizado número de cidadãos comuns. No total, 65 milhões de homens envergaram uma farda militar, mais de 9,3 milhões de soldados morreram, 21 milhões de soldados foram feridos, 7,8 milhões de soldados foram capturados ou desapareceram e 6,7 milhões de civis morreram.
O Elenco de Personagens.
Os escritores dos diários e cartas em Intimates Voices são um grupo diversificado.
Paul Hub, um soldado alemão, era um jovem recruta enviado para substituir as pesadas baixas sofridas pelo seu exército em avanço. Ele casou com sua namorada, a quem escrevia durante toda a guerra. Em junho de 1918, após uns poucos dias com sua esposa, ele retornou ao front - apenas para morrer, dois meses depois. Sua viúva, a polonesa Helena Jablonska sobreviveu à guerra e morreu em 1936.
Josef Tomann, médico austríaco, atendia soldados doentes e feridos, num hospital, em Przemysl. Ele contraiu uma doença e morreu em maio de 1915, deixando uma esposa e uma filha recém-nascida.
Ernst Nopper, um decorador de interiores, de Ludwigsburg, foi morto em ação, na Frente Ocidental, deixando uma esposa e duas crianças.
Milorad Markovic, oficial sérvio, e futuro avô de Mirjana Markovic, esposa de Slobodan Milosevic. Ele sobreviveu à guerra, apenas para ser capturado pelos nazistas, na próxima. Ele escapou desta, também, e morreu em 1967.
Vasily Mishnin, soldado russo, voltou para sua esposa e dois filhos, depois da guerra. Ele retornou ao seu trabalho numa funilaria e morreu em 1955.
George Mitchell, cabo australiano, acabou a guerra como capitão. Escreveu vários livros sobre a Grande Guerra e serviu, de novo, na Segunda Guerra Mundial. Ele morreu em 1961.
Mehmed Fasih, segundo-tenente turco, foi capturado pelos Aliados e libertado no fim da guerra. Ele casou em 1924, e viveu até 1964.
Ludwig Deppe, médico alemão, voltou para Dresden, depois da guerra. Seu destino subseqüente é desconhecido.
Paul Truffrau, capitão francês, voltou para Paris, depois da guerra, onde se tornou professor. Ele voltou a lutar e manteve outro diário, na Segunda Guerra Mundial. Ele morreu em 1973.
Dmitry Oskin, oficial russo, juntou-se aos bolchevistas, após a Revolução Russa. Ele progrediu para o Partido Comunista, mas morreu, subitamente, em 1934, possivelmente, vítima do expurgo stalinista.
John Clark, oficial americano, sobreviveu à guerra e desposou sua namorada, uma enfermeira da Cruz Vermelha.
Oficial austríaco anônimo. Ele escreveu um diário que foi encontrado sobre seu cadáver, em julho de 1915. Ele morreu no meio de uma frase.
Alexei Zyikov, soldado russo, foi capturado pelos alemães. Seu diário foi achado por outro soldado russo, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.
Piete Kuhr, uma escolar alemã, atravessou a guerra e tornou-se uma dançarina profissional e, então, escritora. Ela e sua família fugiram para a Suíça, durante a Segunda Guerra Mundial. Ela morreu em 1989.
Yves Congar, um escolar francês, viveu para se tornar um padre, serviu na Segunda Guerra Mundial e foi feito cardeal. Ele viveu até 1995.
Klara Hess foi a mãe do futuro líder nazista Rudolf Hess.
Kande Kamara, africano da Guiné Francesa. Ele lutou pela França e voltou para casa no fim da guerra. Forçado a fugir de sua aldeia, ele nunca mais viu sua família.
Roberd Cude, praça britânico, voltou para Londres, depois da guerra. Ele, mais tarde, apareceu como ponta um filme de James Bond.
Richard Meinertzhagen, tornou-se coronel e participou da Conferência de Paz de Paris. Ele tornou-se um advogado do sionismo e, mais tarde, escreveu Middle East Diary, sobre suas experiências no Oriente Médio, após a Grande Guerra. Ele morreu em 1967.
Winnie McClare, do Canadá, foi morto em maio de 1917, depois de um mês de sua chegada na linha de frente. Ele tinha dezenove anos.
(continua...)
Por Laurence M. Vance - 9 de julho de 2004.
"É bom que a guerra seja tão terrível, do contrário, acabaríamos gostando muito dela." - Robert E. Lee.
"Os males da guerra são grandes em sua perenidade, e suas conseqüências tem de ser pagas pelas eras vindouras." - Thomas Jefferson.
Tanto tem se escrito, através de toda a história, que glorifica a guerra e o guerreiro que é enviado pelo estado para cumprir a vontade deste. Morrer pela pátria - independente das circunstâncias que provocam tal conflito -, é visto como sacrifício supremo. Protestar contra a guerra é ser um traidor. Ser um soldado profissional é visto como a mais nobre das ocupações. A morte do combatente inimigo é celebrada. Baixas civis são desconsideradas como "dano colateral".
Na atual Guerra do Iraque, antes da falsa transferência de soberania de 28 de junho, 855 soldados americanos tinham morrido. São mais de oitocentos moços (e moças) que nunca darão netos aos seus pais, ou que deixaram para trás, esposas e filhos pesarosos. Esquecidos estão os mais de 5 mil militares que foram feridos, muitos dos quais suportarão o sofrimento pelo restante de suas vidas. E este número é, apenas, a contagem "oficial". Os milhares de soldados iraquianos mortos ou feridos, não são preocupação para ninguém - e, nem tampouco, as baixas civis iraquianas.
Descrições gerais dos horrores da guerra podem ser lidas em qualquer história militar de John Keegan ou Martin Gilbert. Porém, mais e mais relatos específicos dos horrores da guerra estão começando a ver a luz do dia. Blood Red Snow: The Memoirs of a German Soldier on the Eastern Front e His Times in Hell: A Texas Marine in France são dois livros recentes que exploram os horrores da guerra do ponto de vista do soldado individual. What Every Person Should Know About War de Chris Hedges é uma ardente condenação dos males gêmeos da glorificação da guerra e a ocultação de sua brutalidade.
Vozes Íntimas.
O recém-publicado Intimates Voices from the First World War diz todas estas coisas e muito mais. O que torna único este livro é que os autores - vinte e oito homens, mulheres e crianças de treze nações diferentes - por não estarem escrevendo visando publicação, não tinham nenhum objetivo particular, exceto descrever os efeitos da guerra sobre si mesmos e o ambiente ao redor deles. Isto é o máximo em matéria de fonte primária. De suas pesquisas sobre centenas de relatos de primeira mão, os editores do livro, Svetlana Palmer e Sarah Wallis, selecionaram vinte e oito diários ou coleções de cartas escritas por soldados e civis que viveram (e, em alguns casos, morreram) durante a Grande Guerra. Muitos dos diários foram encontrados, décadas após o fim da guerra e, alguns, há poucos anos atrás.
Os horrores da guerra são descritos aqui, como nenhum historiador escrevendo no século XXI poderia descrevê-los. Mas, em acréscimo aos relatos de morte, destruição e fome, Intimate Voices também dá uma compreensão do papel do estado na guerra, as idéias religiosas dos combatentes, o efeito desmoralizante da guerra sobre as mulheres e as lamentações dos soldados e civis.
A Guerra.
O conflito sobre o qual lemos em Intimate Voices é a "grande guerra" para "tornar o mundo seguro para a democracia" - a "guerra para acabar com todas as guerras". Ela começou quando a Áustria declarou guerra à Sérvia, depois do assassínio do arquiduque Francisco Ferdinando, o herdeiro do trono autro-húngaro, durante uma visita de estado a Sarajevo, a capital da província austro-húngara da Bósnia-Herzegovina. O arquiduque, recentemente, tinha oferecido um brinde no qual advogou pela paz:
"À Paz! O que ganharíamos de uma guerra com a Sérvia? Perderíamos as vidas dos jovens e gastaríamos dinheiro que seria melhor utilizado em outras coisas. E qual seria o ganho, pelos Céus? Um punhado de ameixeiras, algumas pastagens cheias de cabras e um monte de rebeldes assassinos."
Seu conselho caiu em ouvidos moucos, e o resultado foi a carnificina de mais de um milhão de soldados que lutaram pelo seu império, mais um não-contabilizado número de cidadãos comuns. No total, 65 milhões de homens envergaram uma farda militar, mais de 9,3 milhões de soldados morreram, 21 milhões de soldados foram feridos, 7,8 milhões de soldados foram capturados ou desapareceram e 6,7 milhões de civis morreram.
O Elenco de Personagens.
Os escritores dos diários e cartas em Intimates Voices são um grupo diversificado.
Paul Hub, um soldado alemão, era um jovem recruta enviado para substituir as pesadas baixas sofridas pelo seu exército em avanço. Ele casou com sua namorada, a quem escrevia durante toda a guerra. Em junho de 1918, após uns poucos dias com sua esposa, ele retornou ao front - apenas para morrer, dois meses depois. Sua viúva, a polonesa Helena Jablonska sobreviveu à guerra e morreu em 1936.
Josef Tomann, médico austríaco, atendia soldados doentes e feridos, num hospital, em Przemysl. Ele contraiu uma doença e morreu em maio de 1915, deixando uma esposa e uma filha recém-nascida.
Ernst Nopper, um decorador de interiores, de Ludwigsburg, foi morto em ação, na Frente Ocidental, deixando uma esposa e duas crianças.
Milorad Markovic, oficial sérvio, e futuro avô de Mirjana Markovic, esposa de Slobodan Milosevic. Ele sobreviveu à guerra, apenas para ser capturado pelos nazistas, na próxima. Ele escapou desta, também, e morreu em 1967.
Vasily Mishnin, soldado russo, voltou para sua esposa e dois filhos, depois da guerra. Ele retornou ao seu trabalho numa funilaria e morreu em 1955.
George Mitchell, cabo australiano, acabou a guerra como capitão. Escreveu vários livros sobre a Grande Guerra e serviu, de novo, na Segunda Guerra Mundial. Ele morreu em 1961.
Mehmed Fasih, segundo-tenente turco, foi capturado pelos Aliados e libertado no fim da guerra. Ele casou em 1924, e viveu até 1964.
Ludwig Deppe, médico alemão, voltou para Dresden, depois da guerra. Seu destino subseqüente é desconhecido.
Paul Truffrau, capitão francês, voltou para Paris, depois da guerra, onde se tornou professor. Ele voltou a lutar e manteve outro diário, na Segunda Guerra Mundial. Ele morreu em 1973.
Dmitry Oskin, oficial russo, juntou-se aos bolchevistas, após a Revolução Russa. Ele progrediu para o Partido Comunista, mas morreu, subitamente, em 1934, possivelmente, vítima do expurgo stalinista.
John Clark, oficial americano, sobreviveu à guerra e desposou sua namorada, uma enfermeira da Cruz Vermelha.
Oficial austríaco anônimo. Ele escreveu um diário que foi encontrado sobre seu cadáver, em julho de 1915. Ele morreu no meio de uma frase.
Alexei Zyikov, soldado russo, foi capturado pelos alemães. Seu diário foi achado por outro soldado russo, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.
Piete Kuhr, uma escolar alemã, atravessou a guerra e tornou-se uma dançarina profissional e, então, escritora. Ela e sua família fugiram para a Suíça, durante a Segunda Guerra Mundial. Ela morreu em 1989.
Yves Congar, um escolar francês, viveu para se tornar um padre, serviu na Segunda Guerra Mundial e foi feito cardeal. Ele viveu até 1995.
Klara Hess foi a mãe do futuro líder nazista Rudolf Hess.
Kande Kamara, africano da Guiné Francesa. Ele lutou pela França e voltou para casa no fim da guerra. Forçado a fugir de sua aldeia, ele nunca mais viu sua família.
Roberd Cude, praça britânico, voltou para Londres, depois da guerra. Ele, mais tarde, apareceu como ponta um filme de James Bond.
Richard Meinertzhagen, tornou-se coronel e participou da Conferência de Paz de Paris. Ele tornou-se um advogado do sionismo e, mais tarde, escreveu Middle East Diary, sobre suas experiências no Oriente Médio, após a Grande Guerra. Ele morreu em 1967.
Winnie McClare, do Canadá, foi morto em maio de 1917, depois de um mês de sua chegada na linha de frente. Ele tinha dezenove anos.
(continua...)