http://www.segurancaedefesa.com/ModFrag_update.htm
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Na edição nº 70 de “Segurança & Defesa” apresentamos um artigo descrevendo o programa de modernização das fragatas classe “Niterói”. O texto que se segue procura dar uma idéia do atual estágio dos trabalhos e de uma maneira geral complementa, corrige e atualiza as informações publicadas naquela ocasião.
Mário Roberto Vaz Carneiro
As seis fragatas da classe “Niterói” foram incorporadas à Marinha do Brasil entre 1973 e 1980, e a partir de então se constituíram nos principais navios de escolta da força. A classe era dividida em duas variantes: uma anti-submarino (quatro navios A/S) e outra de emprego geral (dois navios E/G). Externamente, a diferença principal era o fato de que, a ré, as fragatas A/S dispunham de um lançador de mísseis anti-submarino Ikara, enquanto as E/G possuíam um segundo canhão Mk.8.
Considerando que normalmente a vida útil dos cascos de navios de combate supera em muito o período ao longo do qual os sistemas eletrônicos e de armas podem ser considerados eficazes e adequados, seria inevitável que esses navios, em algum momento, viessem a ser submetidos a uma modernização de meia-vida. Assim, entre 1989 e 1993 o Estado-Maior da Armada trabalhou nesse assunto, identificando pontos fracos e elaborando os requisitos para que as “Niterói” pudessem se manter atualizadas em termos de armamento, sistemas e equipamentos.
Ao lado A União, embora num estágio mais avançado do que a Constituição, é vista no dique seco, em fase de instalação dos novos equipamentos.
Observe-se os andaimes tubulares em torno do mastro, ainda sem a antena do Scanter e os equipamentos MAGE (Foto: Segurança & Defesa).
[b]Nasceu assim o Programa de Modernização das Fragatas da Classe “Niterói”, conhecido como ModFrag. Trata-se de um empreendimento extremamente complexo, envolvendo inúmeras Organizações Militares, entidades e empresas. Iniciado em 1994, o ModFrag enfrentou logo de saída consideráveis problemas, que acabaram levando no ano seguinte à rescisão do contrato com a empresa-líder do consórcio inicialmente escolhido, a ESCA. De forma a evitar uma parada, que traria conseqüências ainda piores ao programa, a Marinha assinou em 1995 um contrato provisório com a empresa IES. Em 1996 foi escolhido um novo consórcio, inicialmente liderado pela Elebra e que, a partir de 1999, passou ao comando da DSND Consub.
Ao lado A única fragata a receber a instalação do SCMPA será a Independência, segunda a voltar ao serviço ativo. Quando essa foto foi feita, em junho de 2004, restavam poucos
equipamentos a serem instalados (Foto: Segurança & Defesa).
Além disso, óbices de natureza técnica tiveram que ser superados. Foi estipulado que todo o software, incluindo os sistemas de códigos, seria genuína e totalmente nacional, uma decisão cuja relevância não pode ser minimizada. Sem dúvida, qualquer defasagem adicional que tenha sido introduzida no cronograma devido a essa razão é mais do que contrabalançada pelo “know-how” adquirido no importantíssimo campo da integração de sistemas. Se no futuro, por exemplo, for desejado introduzir um novo sistema de armas nos navios, basta que o fornecedor repasse os acordos de interface; o trabalho restante será feito aqui mesmo. O ModFrag também representou a primeira vez em que foi adotado na Marinha do Brasil o moderno conceito de COTS (Commercial Off-The-Shelf), que consiste na adoção, sempre que possível, de material disponível comercialmente, daí advindo imensas vantagens logísticas.[/b]
Acima A Defensora em meados de 2004; o estágio seguinte será a realização de vários testes. Visíveis na foto: dois reparos de SLDM, reparo triplo de tubos lança-torpedo, radar RTN-30X de ré, radar RAN-20 (no mastro do radar), radar Scanter Mil (no mastro de combate) e reparo Mk.3 de bombordo (Foto: Segurança & Defesa).
Acrescente-se ainda o perene problema das restrições orçamentárias e se terá a verdadeira dimensão das dificuldades que tiveram que ser suplantadas. Somente para efeito de comparação, vale mencionar que em 2004 a Marinha Argentina incorporou a corveta Gómez Roca, da classe “MEKO 140”, cuja quilha havia sido batida em 1983, com o lançamento tendo ocorrido três anos depois. Ou seja, devido à insuficiência de recursos alocados, o navio levou 21 anos para ficar pronto.
Hoje, o ModFrag envolve as seguintes entidades:
- DGMM (Diretoria Geral de Material da Marinha), que tem a seu cargo a supervisão direta e a coordenação geral;
- DSAM (Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha), executora da modernização dos sistemas de combate;
- EMGEPRON (Empresa Gerencial de Projetos Navais), responsável pela gerência executiva e pela prestação de assessorias;
- DSND Consub, o consórcio integrador;
- DEN (Diretoria de Engenharia Naval), executora dos Projetos SCMPA (Sistema de Controle e Monitoração da Propulsão e Auxiliares) e SCAV (Sistema de Controle de Avarias);
- IPqM (Instituto de Pesquisas da Marinha), fornecedor de equipamento dos novos sistemas de Guerra Eletrônica (GE) e desenvolvedor do SCAV;
- CETM (Centro de Eletrônica da Marinha), CAM (Centro de Armas da Marinha), CeMASb (Centro de Mísseis e Armas Submarinas) e CASOp (Centro de Apoio a Sistemas Operativos), futuros mantenedores do sistema;
- DTM (Diretoria de Telecomunições da Marinha), que atuará em coordenação com a DSAM para gerenciar e instalar o sistema DICS (Digital Internal Communication Systems) e Enlace Automático de Dados (EAD);
- AMRJ (Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro), que faz prestação de serviços complementares; e
- CTMSP (Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo), desenvolvedor do SCMPA.
A seqüência de trabalhos a que cada navio é submetido é mostrada abaixo, e enquanto ela se desenvolve são ministrados às tripulações dos navios os cursos e o adestramento necessários à operação e manutenção dos novos equipamentos e sistemas:
- remoção dos equipamentos que serão substituídos;
- execução de obras para preparar e adequar os compartimentos aos novos equipamentos;
- instalação desses equipamentos;
- testes de verificação e aceitação dos equipamentos no porto e no mar;
- testes de demonstração;
- testes de alinhamento;
- testes de integração de software;
- testes de integração de sistemas no porto;
- testes de integração de sistemas no mar; e
- teste de aceitação de sistemas de combate.
Durante o período de modernização, os navios permanecem subordinados ao setor operativo (ComemCh), mas ficam sob o controle operativo da DGMM.
Acima COC da Liberal em plena atividade: o novo centro nervoso das fragatas emprega tecnologia de ponta nacional. A Liberal será a primeira das “Niterói’ a voltar ao serviço ativo, o que está programado para março de 2005 (Foto: Segurança & Defesa).
COC
Um dos principais melhoramentos introduzidos nas fragatas é o novo COC (Centro de Operações de Combate). O COC original incorporava tecnologia dos anos 70 e tinha tipologia centralizada entre seus computadores, enquanto no atual ela é do tipo distribuída. No novo COC a reconfiguração é automática, e ao se perder um console a operação em curso não será prejudicada. Os consoles atuais são todos verticais, enquanto que no COC original eram horizontais; em virtude disso, o posicionamento dos operadores foi alterado, de acordo com suas funções.
O controle tático fica a cargo do SICONTA Mk.II, um sistema complexo baseado em computação distribuída, de arquitetura e tecnologias de hardware e software mais modernas em comparação com o antigo Ferranti CAAIS, que utilizava uma arquitetura de processamento centralizado e com menor capacidade, baseado em linguagens de programação específicas. No SICONTA Mk.II, o software foi desenvolvido em várias camadas, algumas das quais são compostas por softwares comerciais proprietários. A versão atual do SICONTA Mk.II, porém, não integra ainda os equipamentos de guerra eletrônica.
O sistema de enlace de dados (“data link”) utilizado na modernização das fragatas usa rádios HF e UHF operando com protocolos Link YB, Link 14, sendo compatível com o das corvetas classe “Inhaúma” e o das fragatas classe “Greenhalgh”, além de diversos navios das marinhas argentina e uruguaia. Não é, porém, compatível com aquele empregado por aeronaves da FAB (o atual R-99 e os futuros ALX, FX e PX). Isso ocorre porque o sistema utilizado pela FAB é o SECOS (Secure Communication Systems), da Rohde & Schwarz, que emprega uma rede terrestre de retransmissão dos sinais VHF e UHF, rede essa obviamente inexistente no mar. Entretanto, isso não quer dizer que os sistemas da MB e o da FAB não poderão “conversar”. Isso será possível, porém não de forma direta: deverá haver, entre um navio e uma aeronave que opere com o SECOS, uma estação de relay.
Acima Lançador óctuplo do sistema Albatros, para mísseis Aspide Mod7, visto na Liberal (Foto: Segurança & Defesa). Na foto menor, o disparo de um Aspide pela Defensora, em março de 2004 (Foto: Marinha do Brasil).
Ao lado Reparo Bofors Mk.3, de 40mm, na Liberal; em 2001 o navio realizou os testes de aceitação do
sistema. Já foram realizados exercícios utilizando os controles primário (consoles de controle de armas) e secundário (alça optrônica EOS-400B/10B) (Foto: Segurança & Defesa).
ArmamentoO principal armamento antiaéreo das “Niterói” era o míssil Sea Cat, cujo desempenho já não era mais adequado ao enfrentemento das modernas ameaças representadas por aeronaves de alta performance, mísseis ar-superfície de longo alcance (“stand-off”) e mísseis antinavio. Foi determinada sua retirada e a adoção do sistema italiano Albatros, cujo componente missilístico é o Aspide. Assim, o canhão Mk.8 de popa das fragatas E/G e o lançador de mísseis anti-submarino Ikara das A/S foram retirados, e em seu lugar posicionado um lançador óctuplo de mísseis Aspide, da versão Mod7. Entretanto, o sistema pode ser adaptado para utilizar o míssil Aspide 2000, de maior alcance (cerca de 20 km).
A Marinha considera o número de recargas do Aspide como dado reservado. A edição 2002-2003 do Combat Fleets of the World menciona que não há recargas (o que certamente não é o caso), mas o Jane’s Fighting Ships (JFS) 2003-2004 menciona duas recargas. Uma comparação com a capacidade de mísseis das fragatas italianas da classe “Maestrale”, de porte menor que as “Niterói”, poderia ser interessante e até certo ponto esclarecedora: segundo o Combat Fleets, elas transportam um total de 24 mísseis Aspide (oito mísseis no lançador e mais duas recargas completas), enquanto o JFS é de opinião que os navios só têm capacidade para 16 Aspide. Nas “Niterói”, o carregamento dos mísseis no lançador é feito manualmente. No dia 23 de março de 2004 a Defensora lançou um Aspide contra um drone Banshee 520, capaz de voar a 200 nós. Embora no momento do fechamento dessa matéria os dados ainda estivessem sendo analisados, sabe-se que o resultado foi bem sucedido, com o alvo sendo destruído por impacto direto.
O programa ModFrag incluiu também a retirada dos dois antigos reparos de canhões Bofors 40mm/L70, e sua substituição por modernos reparos Bofors Mk.3 de 40mm. Os testes de aceitação desse armamento foram concluídos em 2001 na Liberal, quando foi abatido um drone aéreo, utilizando-se a munição do tipo 3P (Programável, Pré-Fragmentada e com espoleta de Proximidade). Essa munição, diga-se de passagem, encontra-se nacionalizada, sendo produzida pela Fábrica de Munições Almirante Jurandyr da Costa Muller de Campos. Na ocasião, o controle dos canhões foi realizado em modo secundário, pela alça optrônica EOS-400/10B. Já foram também feitos exercícios utilizando o controle primário, executado pelos consoles de controle de armas.
Em todas as fragatas foram mantidos os canhões Mk.8 (4,5”) de proa, bem como os lançadores de foguetes anti-submarino SR-375 Boroc e os dois reparos triplos de tubos lança-torpedos de 324mm Plessey STWS-1. Os mísseis superfície-superfície são agora os MM40 Exocet, e não mais os MM38, de menor alcance, originalmente utilizados.
Ao lado No centro da foto a antena do radar de busca RAN-20S, que substituiu o AWS-2; à direita, no mastro de combate, vê-se a antena do Scanter Mil (Foto: Segurança & Defesa).
Ao lado Sobre o passadiço da Liberal, a pequena antena do radar Furuno; atrás, a plataforma que serve de base ao CME ET/SLQ-1A (que será reinstalado), e em último plano o radar RTN-30X de vante (Foto: Segurança & Defesa).
Radares
Se no setor de armamentos muita coisa foi mantida, em termos de radares a mudança foi total. O radar de busca combinada Plessey AWS-2 foi substituído pelo AESN RAN-20S, cuja transmissão se baseia em tecnologia mais avançada, empregando módulos amplificadores em estado sólido independentes e não utilizando válvulas de potência, como a Magnetron. A flexibilidade de operação é muito maior, pois graças à existência de 16 módulos de transmissão independentes, o radar é capaz de suportar múltiplas avarias sem interromper sua operação.
Além disso, o RAN-20S possui recurso MTD (Moving Target Detection, ou Detecção de Alvos Móveis), que permite a detecção e acompanhamento de alvos sobre terra (o alvo e o clutter são apresentados em filtros diferentes). Dispõe também da possibilidade de transmissão por setores; podem ser criados até oito setores simultaneamente, em uma mesma varredura. O AWS-2 possuía apenas duas freqüências, que poderiam ser selecionadas dentro de sua faixa de operação. O RAN-20S, entretanto, permite a operação com agilidade de freqüência. Apresenta indicações de falhas e avarias, por meio de um circuito de BITE (Built-In Test Equipment, ou equipamento interno de testes), tem maior alcance/sensibilidade e discrição (menor potência) — devido à compressão de pulso, envia apenas metade da potência do AWS-2. Possui agilidade de freqüência em FRP (Freqüência de Repetição de Pulsos), e indicador de jammer (embaralhador)
Ao lado Esse é o console ARPA instalado no
passadiço da Liberal, e que estará presente
também nos cinco outros navios. Graças aos seus recursos, o equipamento funciona como um
mini-SICONTA (Foto: Segurança & Defesa).
O radar de navegação Signaal ZW-06 foi substituído por um Terma Scanter Mil, de procedência dinamarquesa, com maior alcance e tecnologias de hardware e software mais modernas, maior facilidade de monitoração de falhas e de introdução de configuração, além de capacidade de mudar a FRP. No passadiço dos navios foi instalada uma ARPA (Automatic Radar Plotting Aid), que provê processamento de sinais e atua como um mini-SICONTA, com extrator próprio para acompanhamento de contactos, informando seu rumo e velocidade e apresentando seus vetores e cálculos de distância. O sistema calcula ainda o tempo que falta para chegar ao PMA (Ponto de Maior Aproximação), possibilita a inserção de linhas indexadas, derrotas, pontos de referência, marcação e distância em relação a outro contacto, e recebimento de latitude e longitude.
Ao lado Mastro da Defensora, vendo-se a antena do radar de navegação Scanter Mil, de fabricação dinamarquesa, que
substituiu o antigo Signaal ZW-06 (Foto: Segurança & Defesa).
A modernização das fragatas inclui a instalação de um radar de navegação Furuno 1942 Mk.2, que por ser um radar comercial possui uma rotina de manutenção bem simples. Apesar de pequeno, oferece recursos de grande importância para o Oficial de Quarto no Passadiço, tais como: transmissão por setores, capacidade de receber sinal de GPS e inserção de setores, facilitando assim a manutenção de posição na cobertura e área de guarda (na verdade, para esses fins ele é utilizado em preferência ao Scanter). Em caso de avaria do radar Scanter, o Furuno é utilizado para navegação no passadiço. Uma vantagem adicional é o fato de que, desligando seus outros emissores e utilizando apenas o Furuno, as fragatas podem até se passar por mercantes quando as circunstâncias assim o exigirem.
Acima Dois dos reparos do SLDM, na Defensora.
A incorporação de uma plataforma giro-estabilizada o transformará os reparos em plataformas de lançamento multi-uso, e o sistema poderá ser considerado um dos melhores do mundo, no gênero (Foto: Segurança & Defesa).
Os dois radares de direção de tiro RTN-10X foram substituídos por dois RTN-30X similarmente posicionados, mas de concepção de operação totalmente diferente. O RTN-30X fornece dados de marcação, sítio e distância dos alvos para o sistema de controle das armas, a fim de possibilitar a obtenção da direção de tiro por elas. Trata-se de um radar monopulso, enquanto o RTN-10X executava varredura cônica, sendo muito mais fácil de ser detectado e de sofrer interferências provenientes de medidas de ataque eletrônico. O RTN-30X possui vários recursos utilizados na Guerra Eletrônica (GE), como agilidade de freqüência e baixa potência de pico. Seu alcance é maior e sua potência transmitida é menor (devido à compressão de pulso); possui agilidade de freqüência, FRP, MTI (Moving Target Indicator, ou Indicador de Alvo Móvel) e a possibilidade de “trecar”em jamming e detectar um míssil disparado pelo alvo, pela atuação do recurso “Incoming Missile”. Cada RTN-30X pode dirigir simultaneamente até dois mísseis Aspide, lançados sobre o mesmo alvo.
Alças e sonares
A antiga alça LAS (localizada a vante) foi retirada e substituída por uma EOS-400B. Esta é uma alça optrônica, que pode controlar os canhões Mk.3 de 40mm e o canhão Vickers Mk.8. Podendo realizar a predição de tiro independentemente do SICONTA Mk.II, essa alça e constitui portanto num subsistema de controle de armas acima d’água. Dotada de câmeras térmica e de TV, pode ser empregada nos períodos diurno e noturno. Foi mantida a alça pedestal (ótica) anteriormente existente a ré da chaminé, e que é capaz de fornecer dados de marcação e sítio para o sistema de armas.
O sonar de casco EDO 610E foi substituído por um EDO 997(F), de mesma potência mas com processamento de sinais bem mais evoluído. Para a fabricação dos 997 (F), foram aproveitados os frames do 610E, após breve inspeção e manutenção, bem como: parte fixa do domo, suporte da caixa de junção, sistema de arriamento, cabeção até os elementos transmissores e algumas partes mecânicas.
A Marinha considera que, na conjuntura mundial atual, a tendência é que o foco da guerra A/S se concentre nas águas litorâneas (“águas marrons”), e não mais nos espaços abertos e grandes profundidades dos oceanos (“águas azuis”). Por isso, percebe igualmente que diminuiu a importância de sonares dos tipos VDS (Variable-Depth Sonar, ou Sonar de Profundidade Variável) e Towed Array (Sonar de Hidrofone Rebocado) — isso porque, embora ainda sendo úteis em certos casos, tais sonares diminuem consideravelmente a mobilidade dos navios que os estejam utilizando, e além disso sua utilidade em águas rasas não é tão grande. Assim, os antigos VDS foram retirados das “Niterói”, e embora tenha sido desenvolvido um estudo no sentido da possível adoção de sonares Towed Array, sua implementação não está prevista.
Guerra Eletrônica
Em todas as fragatas, o equipamento MAGE (Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica) RDL 2/5 e o CDL 160 foi retirado, e está sendo instalado em seu lugar o Cutlass B1BW. Quando comparada à capacidade dos radares atuais, a tecnologia dos antigos módulos CDL e RDL já estava obsoleta. Em relação ao antigo RDL, o MAGE B1BW possui como principais avanços tecnológicos uma maior sensibilidade, maior precisão, disponibilidade de biblioteca de emissores, associação automática entre um ruído detectado com o existente na biblioteca, e apresentação dos parâmetros de emissão para vários emissores simultâneos. O Cutlass emprega tecnologia digital, e sua IHM (Interface Homem-Máquina) oferece maior facilidade para operação e melhor visualização dos ruídos, maior faixa de freqüência de recepção, além de possuir uma tela de apresentação geográfica, onde os ruídos são apresentados sobrepostos a um mapa.
A Defensora e a Liberal receberam o equipamento de CME (Contra-Medidas Eletrônicas) ET/SLQ-1A, desenvolvido pelo IPqM e produzido no Brasil pela Elebra. O CME ET/SLQ-1 foi testado quando embarcado no antigo CT Mariz e Barros e nas Corvetas classe “Inhaúma”. Os resultados foram satisfatórios, embora sua avaliação operacional não tenha sido realizada. Ele sofreu modernização, sendo compatibilizado com o SICONTA Mk.II para o ModFrag.Trata-se de um equipamento de Medida de Ataque Eletrônica não destrutiva (“soft kill”), e permite a defesa contra mísseis (bloqueio de seus radares, “arrastamento” do tracking de radares de direção de tiro ou mísseis e geração de alvos falsos).
O CME ET/SLQ-1A faz parte do sistema de defesa combinado das fragatas. Sua operação integrada ao MAGE B1BW e ao SLDM (Sistema de Lançamento de Despistadores de Mísseis, do qual falaremos mais adiante) permite que um radar ameaça seja despistado automaticamente após ter sido detectado pelo MAGE B1BW. A técnica de despistamento do radar ameaça poderá definir uma ação combinada do CME ET/SLQ-1A com um lançamento automático do foguete de chaff. O CME ET/SLQ-1A foi projetado para despistar todos os radares importantes para a defesa (tais radares poderão estar instalados em navios, aeronaves ou mísseis). Após o MAGE B1BW detectar um radar hostil, o SICONTA acionará automaticamente o CME ET/SLQ-1A, que por sua vez iniciará também automaticamente a técnica de despistamento mais apropriada ao tipo de radar identificado pelo MAGE.
O SLDM é um sistema desenvolvido pelo IPqM, inspirado no sistema britânico Plessey Shield 200, instalado nas corvetas “Inhaúma”. Embora podendo até utilizar a munição do Shield 200, o SLDM incorpora uma série de características que o sistema anterior não contempla, dentre as quais pode-se citar:
- o SLDM está preparado para operar com até quatro tipos de munição distintos, enquanto o sistema Shield está limitado a dois tipos;
- o SLDM opera com até 12 tubos em cada reparo, enquanto o Shield está limitado a nove tubos;
- o BITE do SLDM é muito mais elaborado, permitindo uma identificação mais rápida e precisa da avaria.
Na categoria de sistemas fixos, o SLDM não fica em desvantagem em relação aos demais sistemas, possuindo a vantagem de ter a sua tecnologia totalmente dominada pela MB, o que não é o caso dos outros. O próximo passo do SLDM será a incorporação de uma plataforma giro-estabilizada, com movimentos de conteira e elevação, o que o colocará entre os sistemas mais avançados do mundo, além de torná-lo uma plataforma de lançamento multi-uso.
O SLDM foi projetado para reconhecer e processar até quatro tipos distintos de munição, tanto do tipo foguete quanto do tipo morteiro. Até hoje, só existe disponível o foguete de chaff (para despistar sinais radar); entretanto, o sistema poderá operar com munições do tipo flares (para despistar buscadores infra-vermelho pelo calor que irradiam), despistadores de torpedo, etc.; para isso, é claro, faz-se necessário um upgrade de software no sistema.
Nas fragatas, dois reparos de SLDM encontram-se instalados em cada bordo, sobre o hangar. Nas proximidades dos lançadores existem dois armários para armazenamento de munição, cada um com capacidade para 24 foguetes. Portanto, para pronto uso, são 48 foguetes nos tubos e outros tantos nos armários.
Quando operando no Modo Integrado, isto é, sob o controle do SICONTA, o sistema pode engajar-se nos Modos Automático e Semi-automático. Quando engajado nesses modos de operação, ao receber uma Designação de Alvo, processa e gera automaticamente a solução tática (padrão de disparo) em função das informações da ameaça, oriundas do SICONTA, dos dados do navio e das condições ambientais, oriundas da Unidade de Distribuição de Sinais do Navio (UDSN) . Se estiver programado para engajamento Automático, após a geração da solução tática, o sistema dispara automaticamente os foguetes previstos no padrão calculado, sem a interferência do operador. Entretanto, se estiver programado para engajamento no Modo Semi-automático, assim que dispuser da solução tática, sinaliza ao operador, através de sua IHM central no COC, e aguarda a liberação do disparo, que será feita através da mesma IHM.
Quando operando no Modo Autônomo, uma vez que não está recebendo os dados da ameaça do SICONTA, propicia recursos para que o operador, utilizando sua IHM central instalada no COC, introduza os dados da ameaça, assim como, se for necessário, os dados do navio e os dados ambientais. A partir daí o sistema calculará automaticamente o padrão de disparo.
Quando operando em emergência, quer localmente ou a partir da sua IHM central no COC, o sistema permite que sejam utilizados padrões de disparo pré-programados, que não levam em consideração os dados do navio, ambientais ou da ameaça. O padrão de disparo a ser utilizado tem que ser escolhido pelo operador dentre os disponíveis. Estes padrões de disparo têm que ser programados com base num sistema apropriado, e posteriormente carregados na configuração do SLDM.
Outros itens e estágio atual
Além dos equipamentos/sistemas já mencionados, todos os navios receberão também um receptor de transponder de aeronave RRB e um hodômetro AGI AGILOG. Alguns outros itens, entretanto, estão sendo instalados apenas em algumas unidades: o ET/SLQ-1A, como já vimos, está sendo aplicado somente à Liberal e à Defensora, enquanto o SCMPA está sendo instalado somente na Independência e o SCAV na Defensora. A falta de recursos impediu que esses sistemas fossem instalados em todos os navios. Vale mencionar que a única alteração prevista e em andamento para o sistema de propulsão dos navios é a instalação do Sistema de Controle e Monitoração da Propulsão e Auxiliares na Independência. A previsão de comissionamento é para o segundo semestre de 2004.
Todos os mísseis, sonares, radares, alças, etc. já foram recebidos. Todos os equipamentos já foram instalados a bordo da Liberal e da Defensora e estão sendo submetidos a testes. Encontram-se parcialmente instalados na Niterói e na Independência, já começaram a ser instalados na União e em breve começarão a ser instalados na Constituição.
Além das fragatas “Niterói”, outros navios são beneficiados pelo programa ModFrag, recebendo ítens de armamento ou sistemas retirados por ocasião da modernização: um canhão Mk.8 da Constituição será instalado na corveta Barroso; os antigos canhões de 40mm vão para as fragatas da classe “Greenhalgh”; os cartões de computadores Ferranti foram testados, embalados e guardados como “spares” das fragatas classe “Greenhalgh”; um radar RTN-10X foi para o CASOp, que o instalará numa raia para estudos, enquanto os outros foram testados, tiveram seus cartões testados e embalados para servir de “spares” para as corvetas “Inhaúma”; um radar AWS-2 foi instalado no Ceará. Além disso, um radar ZW-06 foi cedido à Força Aérea Brasileira para pesquisa na área de guerra eletrônica.
Em termos de custo/benefício o ModFrag se destaca como uma exemplo extremamente positivo. Ao término do programa, a Marinha terá em mãos seis navios de escolta plenamente atualizados e padronizados, com vida útil adicional prevista de 15 anos, pelo custo de aquisição de um só navio novo, com características semelhantes. E isso sem contar o incomensurável valor da aquisição de know-how e tecnologia, que poderá no futuro trazer benefícios mais visíveis. Como exemplo, através da EMGEPRON está sendo fomentado o possível uso desses conhecimentos e sistemas por outros países latino-americanos.
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