Fórum Defesa Brasil

Stardust // 27/December/2008 às 17:56

Para o pessoal que fala que 195 mortos é poucos já que o Hamas tem 15.000… o hamas tá falando de gente, ok? como família e tudo mais. Para um povo sobre siege, todo mundo pode ter que virar “soldado”, e enquadrar esses indivíduos - na prática, policiais, bombeiros, agentes da prefeitura - como terroristas cuja perda da vida não tem maiores consequencias é, no mínimo, meio insensível.

Estou aqui no west bank. Todas as lojas de Ramallah fecharam as 2 da tarde. Revoltosos fizeram barricada no checkpoint de Qalandia. Os cidadãos estão inconformados e há quem já maldiga as tentativas do Abbas de tentar fazer a paz com os mesmos insraelenses que estão matando seus parentes ali na Faixa. A Palestina, quebrada em 2 pelas fações políticas, hoje foi una na dor, na raiva, e no luto pelos que morreram.

Nessa tentativa de se livrar do Hamas, temo que Israel possa acabar perdendo a pouca boa vontade que tinha do Fatah para qualquer negociação.

Stardust // 27/December/2008 às 18:28

Do que eu tô sabendo: Israel escolheu entre os alvos alguns quarteis da polícia (num dos atingidos estava havendo a formatura de uma turma nova de policiais), o chefe de segurança de Gaza (não consigo lembrar o nome) foi morto.

Muitos locais civis foram atingidos também. Pela Al jazeera árabe (na qual não rola nenhuma censura qto a corpos e cenas chocantes), vi gente sendo retirada dos escombros de lojas e mercadinhos. Dizem que não foram apenas f-16, mas que bombardearam de navios em direção à costa. Há muita informação desencontrada, mas o sentimento aqui no West Bank é tristeza e muita revolta. Deve haver luto oficial de 3 dias e os checkpoints para o lado israelense estão parcialmente fechados, por causa das manifestações.

Stardust // 27/December/2008 às 18:49

Poxa, de nadinha, Proftel! ^^

Uma coisa engraçada é que é uma preocupação real do palestino médio é saber se a gente, de fora, sabe o que está acontecendo com eles . Eu tava no centro, Al Manara Square, quando teve o primeiro ataque. Mesmo eu sendo estrangeira, as pessoas me chamavam para assistir TV dentro das lojas, para que eu visse e soubesse o que aconteceu, para eu visse os feridos, as crianças lá no meio. Havia muitos turistas lá no centro e os locais pediam para eles assistirem também, traduziam a narração do árabe, contavam o número de mortos atualizado.
Eles esperam que o mundo saiba, que o mundo não desvalorize essas tragédias. Por isso também que resolvi comentar hoje aqui.

check point nr. 6 (ou: desculpa aí o gás lacrimogêneo)
*

200 mortes em Gaza e todo o Wesk Bank se revoltando. Qalândia está, literalmente, em chamas - e obviamente ninguém passa pelo checkpoint. E lá estou eu, caminhando em direção ao soldadinho israelense de arma em punho, tentando dar a carteirada da minha vida:

- Jornalista, você falou?

- Não. Sou da Embaixada do Brasil. (entrego a identidade)

(ele chama outro soldado mais atrás)
- Ou, Iacob, a moça aqui é da... da... ahn, como é que fala Embaixada em hebraico hein moça?

- Desculpa, Senhor, eu não sei. (me falaram e eu esqueci)

- Iacob, ela tem carteira diplomática, deixa passar? (e pra mim) É só a senhora mesmo?

- E minha família lá atrás.

- E a família dela, Iacob.

- Senhor... eu não tou conseguindo abrir os olhos. Por quê?

- É que tão atirando bombas de gás ali na frente...

- Ah, tá...

- Desculpa aí, não tamos jogando em vocês não, mas é que o vento virou.

- Sem problemas. Você acha que vai ficar assim muito tempo? Fecharam todas as lojas em Ramallah...

- Espero que não. Depois que acabar a prece o povo deve ir pra casa. Mais tarde ou amanhã deve normalizar... Ah, pode chamar sua família aqui.

That`s it. We`re in.