HISTÓRIAS DE CAÇADORES
Enviado: Sex Set 05, 2008 5:25 pm
Tigrada, estava dando uma 'googlada' básica e achei um PDF estupendo que, até onde sei, nunca foi mencionado aqui. Selecionei dois dos muitos textos assinados por pilotos de caça Brasileiros, o segundo traz informações interessantíssimas sobre operações com Mirage III, mas tem de tudo para todos os gostos, Thunderbolt, Warhawk, Meteor, Shooting Star, é só baixar. O site é este:
http://zairopigatto.sites.uol.com.br/
Espero que apreciem tanto quanto estou apreciando (é causo que não acaba mais, POWS!!!).
http://zairopigatto.sites.uol.com.br/
Espero que apreciem tanto quanto estou apreciando (é causo que não acaba mais, POWS!!!).
COLISÃO COM PÁSSARO
No dia 08 de Novembro de 1983, as 12:30 P, decolamos da Base Aérea de
Canoas (RS) para uma missão operacional de emprego do 1/14o G.Av, a qual
constava de navegação rasante com ataque ao estande de Butiá (RS).
A esquadrilha, composta por 3 aeronaves F5-E, tinha como pilotos o Cap.
Arsand (líder), Cap. Servan (nº 2) e Ten. Sevalho (nº 3).
Voávamos com velocidade de 360 KT, mantendo formatura para penetração
rasante (100 a 500 ft acima do terreno), ou seja, O nº 2 voando de um lado do
líder, afastado 1000 ft numa relativa de 45º, e o nº 3, do outro lado, mantendo a
mesma relativa e distância.
Após 15 minutos de vôo, próximo a Bom Retiro do Sul (RS), eu voava à direita.
do líder, acompanhando a navegação através de um cheque cruzado entre os
pontos do terreno, o mapa e o cronômetro, ao mesmo tempo em que checava
minha posição na formatura. Quando, ao olhar para frente, avistei um bando de
urubus bem na minha trajetória de vôo, conclui que, pela distância, não daria
tempo para desviar.
Como os urubus estavam no meu nível de vôo e acima, minha única chance de
escapar seria tentar desviar para baixo e, apesar do desconforto e da
resistência que, inconscientemente os pilotos opõem às manobras com "G"
negativo, empurrei o manche para frente. Acompanhei a passagem do urubu
mais próximo virando a cabeça para o lado direito, achando que ele bateria na
empenagem vertical.
Foi nesse momento que senti o choque. Havia colidido com outro urubu.
A primeira sensação foi de dormência no lado esquerdo do rosto e que a visão
não estava normal.
Imediatamente, recuperei a atitude normal de vôo porque estava me
aproximando rapidamente do chão, comecei a subir para uma altura de
segurança (2000 ft) e, enquanto fazia uma análise da situação, falei no rádio:
"Bati num urubu!"
Quando falei, não ouvi minha voz nos fones do capacete. Como devido ao
impacto, a máscara de oxigênio havia sido arrancada, achei que não ouvira a
transmissão porque o microfone, que faz parte da máscara de oxigênio, estava
muito afastado da boca. Com a mão esquerda, coloquei a máscara sobre a
boca, abaixei a cabeça para apoiá-la sobre o peito e falei novamente. "Alô, alô,
alô..." Continuei não ouvindo minha voz e achei que estava com pane rádio,
desistindo de qualquer outra tentativa.
Posteriormente, fiquei sabendo que os outros pilotos da esquadrilha receberam
minha transmissão, porque o fio que tinha se rompido era o dos fones e não o
do microfone.
Haviam decorridos uns 60 segundos desde a colisão, e a situação era a
seguinte;
- não sentia nenhuma dor, somente uma dormência no rosto;
- havia examinado meu rosto através do espelho do pára-brisa, verificando que
o lado esquerdo estava disforme devido aos cortes, ao sangue e aos pedaços
de carne do urubu, o que não me permitia avaliar corretamente a gravidade dos
ferimentos. Aparentemente, a pálpebra do olho esquerdo estava fechada no
meio daquela massa de carne, sangue e penas. O quadro me preocupou
bastante. Achei que poderia ter perdido o olho esquerdo e não somente a
visão.
- estava perdendo muito sangue e, por isso, temia perder os sentidos;
- havia um buraco, no alto, à esquerda do pára-brisa, e eu só podia enxergar
para frente pelo lado direito, porque o outro lado estava cheio de rachaduras.
Em função disso, reduzi a velocidade para 280 kt, a fim de evitar que a pressão
aerodinâmica do ar pudesse quebrar totalmente o pára-brisa; e
- o avião voava normalmente, com os instrumentos dos motores dentro das
faixas normais de funcionamento.
Se me ejetasse naquele local, a meio caminho entre Canoas e Santa Maria.
além da perda do avião, que funcionava perfeitamente, o resgate de
helicóptero demoraria demais e eu estava precisando de cuidados médicos
com urgência. Além disso, uma ejeção naquelas condições poderia agravar
meus ferimentos.
Optei por tentar voltar com o avião, pois esta seria a maneira mais rápida de eu
ser socorrido.
Decidi que aproaria Canoas com curva pela esquerda, para dentro da
formatura, para aumentar a possibilidade de que o outro avião da esquadrilha
me visse e me acompanhasse, dando apoio caso eu necessitasse.
Ao fazer força sobre o manche para iniciar a curva, senti uma dor muito forte na
altura do biceps do braço direito. Olhei para o local, notando que o tecido do
macacão estava rasgado e sujo de sangue. Achei que o causador desse
ferimento fosse o pedaço metálico do arco do pára-brisa, o qual havia se
rompido com o impacto e estava cravado na forração interna da nacele, bem
ao lado do braço ferido.
Optei por não olhar dentro do rasgo do macacão com receio do que pudesse
ver. Preferi o desconhecido
A partir desse momento, a dor no braço não parou mais, só aumentou.
Mais tarde, a investigação do acidente ratificou minha suspeita; aquele pedaço
do arco do pára-brisas cortou 50% do meu bíceps direito antes de cravar na
forração interna da nacele,
Terminei a curva e verifiquei que a proa para Canoas estava somente 10º
defasada do rumo da pista 12 , o que permitiria uma aproximação direta para
pouso.
Mantinha 2000 ft e 280 kt. Pela distância da Base, levaria aproximadamente 10
minutos de vôo. Meu pensamento era que se começasse a me sentir mal
devido à perda de sangue, me ejetaria. Só então vi que havia um F-5 na minha
ala direita que, pela matrícula, era pilotado peio Cap. Arsand.
Informei a ele, através de sinais visuais, que eu prosseguiria na frente para
pouso, ao que ele aquiesceu com movimentos de cabeça.
Naquele momento a dor no braço estava tão forte que não me permitia fazer
mais nenhum movimento com ele. Apesar de estar segurando o manche com a
mão direita, as curvas eram feitas com a mão esquerda mas, como podia ainda
mexer o polegar sem aumentar a dor, utilizava o compensador do manche para
variar a arfagem.
Ao avistar a pista de Canoas, iniciei os procedimentos para pouso. Através de
sinais visuais com a mão esquerda, comandei o "flap de manobra" para o ala, e
trem em baixo ao atingir a velocidade de 250 kt.
Então surgiu outro problema; ao fazer o cheque para pouso, verifiquei que as
luzes de indicação de trem de pouso baixado e travado, das pernas principais,
não estavam acesas, Somente a bequilha tinha indicação de travamento. Fiz
sinal de trem de pouso para o ala, seguido do sinal negativo e ciclei a alavanca
do trem. As luzes continuaram apagadas.
O ala iniciou o escalonamento para checar visualmente e, ao chegar do outro
lado, fez sinal de que o trem estava baixado. Agora, eu só não sabia se ele
estava travado.
Apesar de não haver indicação, eu havia sentido aquele tranco característico
de quando o trem trava embaixo, o que me deixava mais confiante de que era
somente uma pane de indicação.
A partir dai, passei a me preocupar somente com o pouso porque a visão de
profundidade estava bastante prejudicada por não ter havido tempo suficiente
para uma adaptação, e também porque teria que pousar com a mão esquerda.
Prossegui na aproximação final, mantendo 160 kt, 05 kt acima do previsto para
aquele peso e configuração, para ter algum planeio após a redução das
manetes,
Ao cruzar a cabeceira, reduzi as manetes e segurei o manche com a mão
esquerda para manter o nariz do avião levantado até o toque.
Pousei curto e sai na interseção "Charlie" porque lá estava uma ambulância me
aguardando.
Desci do avião, entrei na ambulância e segui para o Hospital de Aeronáutica de
Canoas, onde passei algumas horas na sala de cirurgia para os remendos
necessários.
Hoje, passados 14 anos daquele acidente que me privou da visão do olho
esquerdo, período durante o qual tentei de todas as maneiras continuar
pilotando e acredito ter provado, na prática, que tinha condições para isso e
período, também, durante o qual encontrei o apoio de muitos e a
incompreensão de alguns, estou afastado da atividade aérea.
Lembro com saudade daquela época em que servia no Esquadrão Pampa.
Começaria tudo novamente.
A la chasse!!
Ten Cel. Av. Ricardo da Silva Servan
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NOS PRIMÓRDIOS DA AVIAÇÃO SUPERSÔNICA.
A notícia caiu como uma bomba no meio da tenentada, durante e leitura do
Boletim no final do expediente, dentro do hangar do Zepelin naquela tarde
chuvosa do mês de julho.
Corria o ano de 1973, e eu, 1º Tenente "antigão", líder de esquadrilha piloto de
TF-33, F-8 e de AT-26 Xavante, servindo no 2º/1º Gp.Av.Ca. há mais de dois
anos, estava sendo transferido para a 1a ALADA em Anápolis, juntamente com
mais 4 companheiros do Grupo de Caça. O Jairo (Pirú), o Miana, o Fernandes
(Piu-Piu) e o Cortez (Bidon), todos já casados, encararam bem a possibilidade
de ir para Anápolis. Eu, pelo meu lado, fiquei meio preocupado em trocar o Rio
de Janeiro por Anápolis. Principalmente sabendo que seria o único oficial
solteiro servindo na 1a ALADA durante os próximos anos. Bem, afinal de
contas a Força Aérea tinha recém adquirido os F-103 Mirage III para que nós,
Tenentes e Capitães Caçadores, os voássemos. Assim sendo, fui matriculado
no Curso de Aperfeiçoamento na EAOAr (que ainda era em Cumbica), e alguns
meses depois me desimpedi de Santa Cruz. Juntei todos os meus pertences
(couberam em duas malas) devolvi o apartamento alugado no Leblon, coloquei
tudo dentro do meu Puma e "decolei" rumo ao Planalto Central.
Durante a viagem, com pernoites em São Paulo e Goiânia, tive bastante tempo
para me acostumar com a idéia e, principalmente, começar a gostar dela.
Senão, vejamos: piloto de caça, solteiro, com 26 anos de idade, cheio de
saúde, com uma conta bancária ainda "adubada" em razão de uma Loteria
Esportiva faturada em 1970, dirigindo um Puma amarelo novo (era o "carro" da
época), estava sendo convocado para integrar o seletíssimo grupo de pilotos
que teriam o prazer e a responsabilidade de voar um dos melhores caças do
mundo, o Mirage III, famoso por seu desempenho nos conflitos do Oriente
Médio. Era o primeiro avião supersônico a voar na Força Aérea Brasileira! Não
havia do que reclamar. .
A chegada à Anápolis foi decepcionante. Entrei na cidade num domingo de
manhã, com tudo fechado, poucas pessoas nas ruas, um deserto. Após dobrar
umas três ou quatro esquinas, voltei ao ponto de partida e descobri que já tinha
percorrido todo o centro da cidade. Quem conhece Anápolis hoje não imagina
como era há 25 anos atrás...
Foi quando vi um militar fardado da Aeronáutica e me lembrei que eu tinha de
achar onde ficava a Base Aérea. Era o sargento Fausto, controlador de vôo,
que estava indo para a Base para entrar de serviço. Ofereci-lhe carona, e lá
fomos nós. Passamos pela Vila dos Oficiais, pela Faculdade e pegamos a
estrada Belém-Brasília, rumo Norte. Alguns quilômetros acima, 90 graus à
direita para pegar um acesso de terra que terminava no portão próximo aos
bombeiros: era por onde se entrava na 1a ALADA.
A Base ainda estava em construção, e as vias de acesso eram de terra. Não
existia o prédio do Comando, nem rancho, nem hospital. Felizmente, o Cassino
já estava pronto e lá me alojei. Os prédios do GDA e do hangar de Manutenção
já estavam operando, mas uma poeira vermelha tomava conte de tudo.
No dia seguinte, apresentei-me ao Cel. Av. Antônio Henrique, o primeiro
comandante da 1a ALADA, Jaguar 01 e um dos oito "Dijon Boys" que Fizeram
curso do Mirage na França. Fui recebido muito bem pelo comandante", que me
deu as boas-vindas e me informou que eu devia imediatamente me dirigir à
quadra de futebol de salão, porque minha Esquadrilha (Amarela) ia disputar um
jogo decisivo contra a Azul. Voltei ao Cassino e lá encontrei todos os oficiais,
que se preparavam para o jogo e para a Educação Física.
Quase todos eram meus conhecidos, pois os que não tinham servido em Santa
Cruz ou Canoas foram instrutores da minha turma no 1º/ 4 º G.Av. em
Fortaleza, em 1969.
A 1a ALADA, naquela época, possuía, em seu efetivo, um Grupo de Caçadores
fora de série, não só pela experiência de vôo como também pelas qualidades
humanas e peculiaridades individuais de cada um.
Eram comandados do Cel. Antônio Henrique, por antiguidade, os seguintes
Pilotos de Caça: Ten. Cel. Bins (Binsinho, Sub-Cmte.), Ten. Cel. Frota (Cmte.
do GDA), Ten. Col. Jaeckel, Maj. Trompowski, Maj. Starling Maj. Blower, Maj.
Villaça (todos "Dijon Boys") e, ainda, Maj. Fleury e os Cap. Candiota, Cardoso,
Ary Pimenta, José Euclides, Iso Cavalcanti, Bukowitz, Montgomery, Túlio,
Mourão e Rodrigues, além da tenentada citada anteriormente.
A instrução para nós, pilotos chegados em 1973, só começaria no início de
1974, de forma que passamos aquele final de ano pilotando o C-42 Regente na
"coca-cola" para Brasília. Serviço também era conosco: OPO, Of. de Dia e
também de controlador no Estande de Tiro do Gorilão, em Planaltina, onde o 1º
GDA, ainda em dezembro de 1973. fez sua primeira campanha de Tiro
Terrestre.
Aos poucos, nós, os recém-chegados, fomos tomando conhecimento da nova
nomenclatura das coisas em Anápolis, pois, como era de se esperar após
longos anos operando aeronaves americanas ou inglesas, a chegada dos
Mirage trouxe junto toda uma nova influência francesa: novos nomes para
instrumentos, partes do avião, manobras, novas músicas, queijos e vinhos etc.
Tudo enfim, era alimentado por nós pilotos, que fazíamos questão de
"afrancesar" o que fosse possível, pois desta forma demarcávamos nossa área,
a dos Pilotos de Mirage, os únicos pilotos supersônicos da FAB! Assim, uma
nova terminologia aeronáutica foi surgindo, logicamente envolta em muita
gozação de nossa parte.
Imaginem Tommy Blower dando instrução de duplo-comando para o Burkowitz,
e ordenando o seguinte: "Buko, agora verifica a "Boule," abre o PC "Maxi," e
quando atingir Mach 1.25, verifica o "souri".
Os termos mais usados por nós, as novidades vindas da França que
constantemente repetíamos (principalmente quando a platéia era de pilotos
subsônicos), eram os seguintes:
Pos Combustion Pós-Combustão, popularizando o PC
PC Maxi Pós-Combustão Máxima
PC Mini Pós-Combustão Mínima
Radome Proteção de fibra que protege o Radar no nariz do avião
Pérche O grande sensor à frente do Radome, no nariz do avião
Sous arrière Pequeno tanque de combustível localizado sob a cauda
Bidon Tanque de combustível alijável, utilizado sob as asas ou fuselagens
BidonzaraIho O tanque maior, de 556 gl
Elevon Superfície de comando, que faz às vezes de aileron e profundor
Doppler Radar Doppler, novidade na época, com estações pré-programadas
Sur-vitesse Sobre-velocidade
Boule Indicador de Atitude
Souri Regulador de fluxo de ar , nas duas entradas de ar da turbina
Enfoncer No sentido de ligar. Logo virou enfunchar, na língua dos tenentes
Acrocher Acoplar (O Radar)
Mini-stop Dispositivo semelhante ao anti-skid
À la Chasse! Até hoje é o nosso grito de guerra
Iniciamos o curso teórico em abril de 1974, e após 12 missões
(aproximadamente 10 horas de instrução duplo-comando), iniciaram os vôos
solos. Isto aconteceu apenas depois que a primeira turma que solou no Brasil,
cujos pilotos foram Fleury, Candiota, Mourão e Montgomery, ponderou contra
as quase 25 horas de duplo-comando que foram obrigados a cumprir. Como na
França tinha sido assim, os "Dijon Boys" com toda a razão, adotaram o mesmo
Programa de Instrução em Anápolis. Após a chiadeira, uma criteriosa análise
do Programa foi realizada pelos instrutores, que decidiram então pela redução
no número de missões de duplo-comando, e o aumento de missões "solo".
Das duas, uma: ou os instrutores franceses não faziam muita fé nos pilotos
brasileiros, ou os descendentes de Saint-Exupéry tinham uma certa dificuldade
em aprender a voar a "Jaca"... Acho que a primeira suposição deve ser a mais
correta, pois a gloriosa "L'Armée de L'Air" não tinha nenhuma amostragem da
habilidade e da inventividade dos descendentes de Santos Dumont.
Estes primeiros anos de operação foram muito bons, pois as aeronaves
estavam novas, havia muito suprimento e um bom suporte técnico dado pelos
franceses. Voávamos bastante.
O SISDACTA não era operacional ainda, e os testes de detecção Radar
aconteciam diariamente. Os Xavantes de Santa Cruz, operando de Anápolis,
faziam determinados circuitos nas médias altitudes, enquanto os Mirage
circulavam nas grandes altitudes, acima de 40.000 pés, auxiliando os técnicos
na delimitação dos espaços onde haveria um controle Radar efetivo.
Nesta época, um Radar "Picador" (que nada mais era do que um Radar de
Campanha localizado em frente à Torre, do outro lado da pista) garantia nosso
recolhimento com qualquer tempo. Era um bom Radar, e muito bem operado
por dois Tenentes controladores franceses, e também pelo Isso, Candiota e
Miana, que receberam instrução desses oficiais, e posteriormente passaram a
conduzir nossas operações com a mesma eficiência.
Quando o SISDACTA iniciou sua operação, já tínhamos alguma experiência
em vetoração Radar, e as missões ,de interceptação, procedimentos GCA e
missões de alerta previstas no Programa de Instrução finalmente tiveram início.
Que avanço incrível! como era bom voar controlado pelo Radar! Finalmente , o
Caçador, que sempre esteve completamente só e isolado em sua cabine, tinha
alguém olhando por ele! O controlador informava até posição das formações de
nuvens pesadas! Durante as missões de combate na área de instrução, de vez
em quando éramos questionados por ele: "Jaguar Amarelo: conta-corrente!", o
que nos obrigava a olhar o totalizador e o liquidômetro, conferindo o
combustível. Ou então: "Amarelo lider, 10 mil pés!'. Esta era a altitude mínima
que determinava o encerramento do combate. Durante um deslocamento ou
viagem, a qualquer momento o piloto tinha informações de proa, tempo,
distância e condições meteorológicas de qualquer pista dentro de seu raio de
ação, sem precisar abrir mapas e fazer contas. Isto era fantástico!".
Como diria o Blower: "Ah! Estes americanos..."
No final de 1974, o 1º GDA deslocou com oito "máquinas" para Fortaleza para
realizar sua 1a Campanha de Tiro Aéreo. Seria o coroamento do ano de
instrução, com a realização das missões que faltavam para a declaração dos
novos Pilotos Operacionais. Os pilotos foram divididos em dois grupos de
instrutores e alunos, e cada grupo permaneceu aproximadamente 20 dias
operando no Nordeste. Que maravilha! Tiro aéreo, água-de-coco, e ainda
tínhamos tempo de sobra para desenvolver um bom relacionamento com a
população feminina local.
Na parte operacional, alguns problemas preocupavam o Oficial de Operações
do 1º GDA quanto ao sucesso das missões de Tiro-Aéreo com , F-103 Mirage.
Senão, vejamos:
1) o avião-reboque teria que ser um AT-26 Xavante;
2) o Mirage III tinha dois canhões DEFA 3Omm, que atiravam defasados
alguns graus um do outro, espalhando chumbo no mundo;
3) o diferencial de velocidade entre o Mirage III e o Xavante no momento do tiro
seria em torno de 300 nós;
4) a biruta e ser utilizada seria a mesma do Xavante, de pano de cor branca;
5) o Mirage só realiza um tiro ar-ar efetivo se o Radar estiver acoplado no alvo;
6) a biruta do Xavante não tinha refletor Radar.
Com exceção do item n º 6, não havia com interferir no problema. O pessoal do
Setor de Operações juntou-se, então, aos sempre "guerreiros' da Seção de
Armamento e, depois de muitos estudos e tentativas conseguiram confeccionar
um refletor Radar. Este refletor nada mais era do que uma chapa de lata, de 1
metro quadrado, dobrada ao meio em "V" e fixada no mastro da biruta!
Os procedimentos com o piloto do avião-reboque foram acertados, e decolou
então o primeiro elemento de Mirage para a missão de teste do refletor Radar.
A engenhosa invenção de nossos especialistas dera um bom resultado, mas
outro problema surgiu durante este vôo de avaliação: o Xavante camuflado de
verde, voando sobre os verdes mares cearenses era praticamente invisível,
bem como a biruta de cor branca, que também se confundia com a espuma
das marolas levantadas pelos constantes 15 nós de vento.
E agora? Como fazer para que os pilotos não perdessem de vista o reboque?
Não tínhamos muito tempo a perder, e nem como repor as missões abortadas.
Mais uma vez a criatividade e o "jeitinho" resolveram o impasse. Não me
lembro de quem foi a idéia genial, mas o avião reboque passou a levar na
nacele traseira, de saco, um estagiário do 1º / 4º G.Av. munido de um espelho
(daqueles do "kit" de sobrevivência, com um buraco no meio), que tinha por
missão "iluminar" o Mirage que estivesse no poleiro iniciando mergulho. Não é
que deu certo?
O "papo-rádio" recebeu então uma inovação: quando o piloto caía no mergulho
já vinha gritando no canal tático: "Az no mergulho. Espelho, espelho, espelho
!!!" e iniciava o desespero para avistar o avião-reboque. Só depois de avistar o
reflexo do espelho salvador, o piloto podia colocar "piper" na posição correta,
atrás do Xavante, para então deixá-lo escorregar até alcançar a biruta, e só aí
iniciar a tentativa de acoplagem. Isto tudo acelerando a "viatura" para mais de
400 nós e procurando o ponto certo da reversão. Com o diferencial de 300 nós
de aproximação da biruta, não sobravam mais do que alguns segundos para
buscar a visada correta puxando os "Gs" necessários para tentar um bom tiro.
A rajada padrão era de 1/2 segundo, conforme previsto na N.P.A (será que
alguém já conseguiu contar 1/2 segundo mentalmente durante o tiro? É uma
dúvida que me persegue até hoje...), e imediatamente após nariz para cima,
numa recuperação que mais parecia uma puxada de "looping" quase na
vertical do Xavante. Sem tirar o olho do reboque, sem piscar para não perdê-lo
de vista, o piloto afrouxava o manche lentamente para cair novamente no
poleiro.
Depois de algumas missões de tiro-foto, já estávamos "safos" nos
posicionamentos e nas manobras, quase um "ballet", em torno do avião
reboque...
Começaram, então as missões "molhadas" de tiro real. Logo na sua primeira
missão de treinamento, o "velho" Trompowski encheu a mão. Com apenas 25
tiros dados, fez mais de 10 furos na biruta! Para nós, era um ótimo resultado,
partindo do principio que apenas dois tiros de calibre 30mm eram suficientes
para derrubar um Caça.
Corremos todos para a crítica-foto, na intenção de aprender como se fazia,
mas o filme não havia rodado. Mesmo assim, ficamos todos satisfeitos, pois
ficou provado que, sendo bem pilotado, o avião fazia o seu papel e a coisa
funcionava.
Nas missões seguintes ninguém acertou mais nada, nem um furo. No outro dia,
depois de várias missões com a biruta voltando "cabaço", começamos a sentir
que a coisa não seria como estávamos imaginando. Nas missões com 100 tiros
começaram a ocorrer alguns poucos acertos coisa de dois ou três em cada
missão, percentuais desmoralizantes para quem vinha de Esquadrões onde
missões de mais de 50% (com T-33 e F-80) não eram raras.
O que estaria acontecendo? Já era para alguém ter feito uma missão decente!
Para cômputo do Esquadrão, apenas as três últimas missões iriam valer. Assim
sendo, nossa agonia aumentava na medida em que chegavam ao fim as
missões de treinamento, sem que conseguíssemos um bom resultado.
Pensando sobre o assunto, lembrei-me da fórmula de sucesso em combate
aéreo, adotada por todos os ases e sobreviventes da guerra aérea que, como
todos nós sabemos, e a seguinte: "Para se abater uma aeronave inimiga, é
preciso mergulhar de cima, por trás, com o sol nas costas, chegar o mais perto
possível sem ser percebido e dar uma boa "rajada!".
Foi, então, que percebi o que estava acontecendo: estávamos atirando de
muito longe. A própria distância de "foul", onde o dedo já devia estar fora do
gatilho, era muito grande.
Tomei, então, uma "importante" decisão: eu ia atirar de mais perto! Dito e feito!
Fui confiante para as missões "valendo", e obtive o seguinte resultado:
número de acertos 21
minha média 7%
número de fouls todos os passes
minha média para o GDA zero%
conseqüência bronca & muitas estrelas(#)
(#)estrela= multa monetária (não oficial)
Coisas de Tenente! Bons tempos aqueles!
Peixe Lima, R - Cel. Av. RR.
Jaguar 25 Cmte. 1º Gp.Av.Ca.