A missão secreta por trás do resgate do Titanic
Enviado: Qua Jul 30, 2008 3:09 pm
A missão secreta por trás do resgate do Titanic
Jacinto Antón
Dois objetivos estavam em jogo. O de Robert Ballar era encontrar o "Titanic". E o do vice-almirante Nils Thunman era investigar dois submarinos nucleares afundados com suas tripulações em plena guerra fria. Os dois homens fizeram um pacto em 1982. A dupla missão teve sucesso. Documentos confidenciais revelados recentemente pela marinha dos EUA mostram os resultados da missão secreta.
"Morrer em um submarino pode ser cruel, como no caso do Kursk, mas às vezes o mar é misericordioso: as tripulações dos nossos submarinos nucleares de ataque USS Scorpion e USS Thresher tiveram um fim rápido". Quem fala, grave e pausadamente, do outro lado da linha, desde sua casa em Springfield (Illinois), é o vice-almirante norte-americano aposentado Nils Thunman, ex-chefe de Operações Navais de Guerra Submarina do Pentágono. Ouvi-lo falando, já tarde da noite - por causa da diferença de fuso horário - de submarinos perdidos, de catástrofes e da experiência de viver a bordo desses sarcófagos subaquáticos é assustador. Thunman, com uma carreira de 35 anos em submarinos - serviu em quatro deles e comandou uma frota no Pacífico -, é um homem que tem muitas coisas para contar. Mas sua "história de mar favorita", conforme explicou em uma longa conversa com o El País, começa no dia em que o explorador submarino Robert Ballard entrou em seu escritório pedindo ajuda para encontrar o Titanic.
"Pensei que aquele jovem entusiasta não tinha nenhuma chance, que era uma idéia louca", lembra-se Thunman, "mas disse a ele que podíamos nos ajudar mutuamente". Assim começou uma das missões secretas mais alucinantes que se pode imaginar, digna de um filme de aventura de espionagem: um pacto fáustico entre Ballard e as forças navais norte-americanas. Pelo acordo, o explorador receberia apoio e financiamento para sua busca em troca de investigar, usando a missão do Titanic como fachada, as tumbas no fundo do Atlântico representadas pelos submarinos nucleares Scorpion e Thresher, máquinas predatórias avançadas e silenciosas perdidas nos anos 60, em plena guerra fria.
"Queríamos saber exatamente por que eles haviam afundado, e estávamos preocupados com o estado de seus reatores, se havia algum vazamento", lembra-se o vice-almirante. "Também nos interessava saber ser alguém, especialmente os soviéticos, havia visitado os submarinos". A preocupação era natural. O Scorpion afundou com dois torpedos com ogivas nucleares, uma pilhagem tentadora para os russos, o Doctor No ou Spectra.
O acordo, que pareceu mais uma mistura extravagante entre os filmes "Titanic" e "Caçada ao Outubro Vermelho", for firmado em 1982. Ballard foi para o mar e usou sua avançada tecnologia - paga em boa parte pela marinha - para estudar ambos os submarinos, descobrindo dados valiosíssimos para o Pentágono. Só depois, em 1985, cumprida sua parte do trato, seguiu adiante e localizou o Titanic. "Quando ele me ligou do alto mar, numa ligação muito ruim, e disse: "O encontramos", eu respondi: "O quê?", lembra-se o vice-almirante. "O Titanic..., não pude acreditar".
O último mistério relacionado ao Titanic, a história de que o seu achado está ligado a um capítulo secreto da Guerra Fria e que o resplandecente transatlântico juntou-se no fundo do oceano com os letais tubarões nucleares, revelou-se agora com a divulgação das informações confidenciais sobre a operação.
"A marinha estava bastante interessada na tecnologia que havíamos desenvolvido", explicou Ballard recentemente à CNN. "Queriam saber por que haviam perdido os dois submarinos. Seus dados sobre o assunto eram limitados. Não foi de fato uma busca, porque eles já sabiam o lugar onde estavam os submarinos. Fizemos o que nos pediram, compartilhamos nossa tecnologia, levamos nossas câmeras até os submergíveis, realizamos um reconhecimento minucioso e então tivemos tempo para encontrar o Titanic". Ballard estava consciente de que fazer um pacto com os militares tinha seus riscos. "O primeiro temor era de que eles não me financiassem; o segundo foi: 'Meu Deus, eles me financiaram!'." Em todo caso, o meio militar não era estranho a Ballard, que havia servido durante anos na marinha e se orgulha muito disso.
O Thresher - nome inglês para uma espécie de tubarão com uma longa nadadeira caudal - e o Scorpion são os dois únicos submarinos nucleares perdidos pelos EUA e foram desenhados para caçar submarinos soviéticos. O primeiro, um peixe metálico de 85 metros lançado ao mar em 1960, afundou em 10 de abril de 1963 - com toda sua tripulação -: 16 oficiais e 96 homens. O Scorpion, de 76,8 metros, lançado ao mar em 1959, com oito oficiais e 75 homens, afundou em 22 de maio de 1968 a 740 quilômetros a sudoeste das ilhas Açores.
O Thresher (numeração SSN-593) afundou enquanto realizava manobras com o barco de resgate submarino USS Skylark, que não conseguiu salvar ninguém, mas pelo menos testemunhou a catástrofe. Segundo as evidências, enquanto o submarino descia em busca de sua profundidade limite, a tubulação de água salgada arrebentou e provocou uma inundação e um curto-circuito do sistema elétrico, o que causou um apagão automático - scram - do reator nuclear. Sem propulsão, incapaz de conseguir potência suficiente para ascender, com a escuridão tomando conta de tudo - em meio ao terror inimaginável da escuridão e da profundidade -, o Thresher desceu até o fundo. Em algum momento entre os 400 e os 600 metros, profundidade sob a qual sua estrutura não era mais capaz de resistir, o submarino foi esmagado pela pressão. Desde o navio Skylark pôde-se ouvir o som espantoso dos compartimentos do submarino cedendo, espremidos como uma lata de refrigerante.
"Durante algum tempo, eles souberam que iriam morrer", disse Thunman por telefone. "Mas a morte em si provavelmente não demorou mais do que um ou dois segundos". O velho submarinista ficou em silêncio do outro lado da linha pelo mesmo tempo. Que pareceu bem mais longo.
Em julho de 1984, Ballard submergiu seu robô Argos até o submarino, a dois quilômetros e meio de profundidade no fundo do mar. O que encontrou foi, como disse o programa do canal National Geographic sobre a operação, "uma destruição total, como se alguém tivesse pegado um brinquedo e o jogado em uma máquina trituradora". Os restos estavam espalhados por uma extensão de dois quilômetros, conforme caíram após a implosão. Ballard encontrou o reator e constatou que não havia vazamento radioativo.
A exploração seguinte, do Scorpion (SSN-589), a 3.350 metros de profundidade, foi mais excitante, porque o submarino desapareceu sem testemunhas, levava armamento nuclear e estava envolvido em operações muito agressivas. Especulava-se que ele havia sido atacado por um torpedo soviético, em represália pelo abatimento do submarino russo K-129, que afundou depois e uma suposta colisão com o USS Swordfish. A marinha dos EUA localizou o submarino russo e a CIA enviou clandestinamente, em 1974, um barco de exploração ao K-129, o Glomar Explorer, para tentar recuperá-lo; investigou os restos da embarcação e até mesmo extraiu uma parte do casco com seis marinheiros russos, que foram sepultados num cerimonial no mar.
Ballard chegou ao Scorpion em julho de 1985 e encontrou uma cena similar à do Thresher: o submarino estava horrorosamente esmagado e os restos dispersos em uma longa faixa, como se fosse a cauda de um cometa. Nesse caso, o Scorpion estava partido em dois pedaços. Entretanto, não foram encontradas evidências de um ataque de torpedo. Novamente, parece que o Scorpion sofreu uma implosão ao descer abaixo de seu limite de profundidade; ou seja, arrebentou por não ser capaz de agüentar a tremenda pressão da água. Ninguém sabe como se chegou a essa situação. Thunman crê que isso talvez esteja relacionado com as tensões da guerra fria e o com grande nível de estresse de que sofria a tripulação e seu navio, mas não com uma causa externa.
Era um jogo arriscado que realizavam os submarinos da Otan e da URSS lá embaixo. "E como! Comandei um submarino na época, um gêmeo do Scorpion, o USS Snook. Era a Guerra Fria embaixo dos oceanos. Tempos perigosos". Os russos praticavam a manobra Ivan Louco, como no cinema e nos livros de Tom Clancy? "Sim, claro", ri o veterano submarinista. "Era muito arriscado porque, de repente, com essa manobra, eles ficavam em cima de nós e havia alto risco de colisão. Sou amigo de Clancy e já conversamos sobre isso".
Ballard localizou o reator do Scorpion, que, segundo ele, também não representa perigo, e assegura que os torpedos nucleares estão em um lugar seguro no interior do navio. E os tripulantes? Nos restos do K-129, foi fotografado o esqueleto de um marinheiro soviético com colete salva-vidas e casaco impermeável. Thunman demorou para responder. "Nós, submarinistas, somos como uma fraternidade, uma confraria subaquática: não gostamos de falar disso, as famílias ainda estão vivas e isso é muito doloroso para elas".
O antigo oficial se surpreende quando quem assina essas linhas menciona o susto da claustrofobia, com uma voz angustiada. "Não, não sofremos disso, há todo um treinamento para vencê-la. Eu nunca vi nenhum claustrofóbico em um submarino". O velho marinheiro parece sussurrar do outro lado da linha. Nessa madrugada de navios naufragados e tripulações afogadas, não me diga que sente nostalgia, vice-almirante. "É claro! Foi uma época grandiosa, os melhores dias da minha vida". Thunman despede-se recordando que já teve sua base em Rota (Espeanha) e dá uma mostra desconcertantede seu conhecimento de espanhol: "Nunca he visto nada tan bonito como tu, señorrita. [Nunca vi nada tão belo como tu, senhorita]".
O mais surpreendente da história do Titanic, do Thresher e do Scorpion é que Ballard nunca teria encontrado o transatlântico, segundo ele mesmo diz, se não fosse pelas operações prévias nos dois submarinos nucleares. Depois de cumprir sua parte no pacto, ele tinha apenas duas semanas para dedicar-se à sua obsessão. Era uma missão quase impossível, dado tamanho da área a explorar. Mas Ballard teve uma revelação: e se o Titanic tivesse se esmigalhado em partes como aconteceu com os dois submarinos e seus restos também tivessem sido espalhados pela correnteza em uma faixa extensa? Então ele começou a procurar não pelo barco, mas sim pelo seu rastro, o que permitiu abarcar áreas muito maiores de busca do que a do simples casco, percorrendo linhas separadas entre si por 1,5 quilômetro. E acabou o encontrando.
Jacinto Antón
Dois objetivos estavam em jogo. O de Robert Ballar era encontrar o "Titanic". E o do vice-almirante Nils Thunman era investigar dois submarinos nucleares afundados com suas tripulações em plena guerra fria. Os dois homens fizeram um pacto em 1982. A dupla missão teve sucesso. Documentos confidenciais revelados recentemente pela marinha dos EUA mostram os resultados da missão secreta.
"Morrer em um submarino pode ser cruel, como no caso do Kursk, mas às vezes o mar é misericordioso: as tripulações dos nossos submarinos nucleares de ataque USS Scorpion e USS Thresher tiveram um fim rápido". Quem fala, grave e pausadamente, do outro lado da linha, desde sua casa em Springfield (Illinois), é o vice-almirante norte-americano aposentado Nils Thunman, ex-chefe de Operações Navais de Guerra Submarina do Pentágono. Ouvi-lo falando, já tarde da noite - por causa da diferença de fuso horário - de submarinos perdidos, de catástrofes e da experiência de viver a bordo desses sarcófagos subaquáticos é assustador. Thunman, com uma carreira de 35 anos em submarinos - serviu em quatro deles e comandou uma frota no Pacífico -, é um homem que tem muitas coisas para contar. Mas sua "história de mar favorita", conforme explicou em uma longa conversa com o El País, começa no dia em que o explorador submarino Robert Ballard entrou em seu escritório pedindo ajuda para encontrar o Titanic.
"Pensei que aquele jovem entusiasta não tinha nenhuma chance, que era uma idéia louca", lembra-se Thunman, "mas disse a ele que podíamos nos ajudar mutuamente". Assim começou uma das missões secretas mais alucinantes que se pode imaginar, digna de um filme de aventura de espionagem: um pacto fáustico entre Ballard e as forças navais norte-americanas. Pelo acordo, o explorador receberia apoio e financiamento para sua busca em troca de investigar, usando a missão do Titanic como fachada, as tumbas no fundo do Atlântico representadas pelos submarinos nucleares Scorpion e Thresher, máquinas predatórias avançadas e silenciosas perdidas nos anos 60, em plena guerra fria.
"Queríamos saber exatamente por que eles haviam afundado, e estávamos preocupados com o estado de seus reatores, se havia algum vazamento", lembra-se o vice-almirante. "Também nos interessava saber ser alguém, especialmente os soviéticos, havia visitado os submarinos". A preocupação era natural. O Scorpion afundou com dois torpedos com ogivas nucleares, uma pilhagem tentadora para os russos, o Doctor No ou Spectra.
O acordo, que pareceu mais uma mistura extravagante entre os filmes "Titanic" e "Caçada ao Outubro Vermelho", for firmado em 1982. Ballard foi para o mar e usou sua avançada tecnologia - paga em boa parte pela marinha - para estudar ambos os submarinos, descobrindo dados valiosíssimos para o Pentágono. Só depois, em 1985, cumprida sua parte do trato, seguiu adiante e localizou o Titanic. "Quando ele me ligou do alto mar, numa ligação muito ruim, e disse: "O encontramos", eu respondi: "O quê?", lembra-se o vice-almirante. "O Titanic..., não pude acreditar".
O último mistério relacionado ao Titanic, a história de que o seu achado está ligado a um capítulo secreto da Guerra Fria e que o resplandecente transatlântico juntou-se no fundo do oceano com os letais tubarões nucleares, revelou-se agora com a divulgação das informações confidenciais sobre a operação.
"A marinha estava bastante interessada na tecnologia que havíamos desenvolvido", explicou Ballard recentemente à CNN. "Queriam saber por que haviam perdido os dois submarinos. Seus dados sobre o assunto eram limitados. Não foi de fato uma busca, porque eles já sabiam o lugar onde estavam os submarinos. Fizemos o que nos pediram, compartilhamos nossa tecnologia, levamos nossas câmeras até os submergíveis, realizamos um reconhecimento minucioso e então tivemos tempo para encontrar o Titanic". Ballard estava consciente de que fazer um pacto com os militares tinha seus riscos. "O primeiro temor era de que eles não me financiassem; o segundo foi: 'Meu Deus, eles me financiaram!'." Em todo caso, o meio militar não era estranho a Ballard, que havia servido durante anos na marinha e se orgulha muito disso.
O Thresher - nome inglês para uma espécie de tubarão com uma longa nadadeira caudal - e o Scorpion são os dois únicos submarinos nucleares perdidos pelos EUA e foram desenhados para caçar submarinos soviéticos. O primeiro, um peixe metálico de 85 metros lançado ao mar em 1960, afundou em 10 de abril de 1963 - com toda sua tripulação -: 16 oficiais e 96 homens. O Scorpion, de 76,8 metros, lançado ao mar em 1959, com oito oficiais e 75 homens, afundou em 22 de maio de 1968 a 740 quilômetros a sudoeste das ilhas Açores.
O Thresher (numeração SSN-593) afundou enquanto realizava manobras com o barco de resgate submarino USS Skylark, que não conseguiu salvar ninguém, mas pelo menos testemunhou a catástrofe. Segundo as evidências, enquanto o submarino descia em busca de sua profundidade limite, a tubulação de água salgada arrebentou e provocou uma inundação e um curto-circuito do sistema elétrico, o que causou um apagão automático - scram - do reator nuclear. Sem propulsão, incapaz de conseguir potência suficiente para ascender, com a escuridão tomando conta de tudo - em meio ao terror inimaginável da escuridão e da profundidade -, o Thresher desceu até o fundo. Em algum momento entre os 400 e os 600 metros, profundidade sob a qual sua estrutura não era mais capaz de resistir, o submarino foi esmagado pela pressão. Desde o navio Skylark pôde-se ouvir o som espantoso dos compartimentos do submarino cedendo, espremidos como uma lata de refrigerante.
"Durante algum tempo, eles souberam que iriam morrer", disse Thunman por telefone. "Mas a morte em si provavelmente não demorou mais do que um ou dois segundos". O velho submarinista ficou em silêncio do outro lado da linha pelo mesmo tempo. Que pareceu bem mais longo.
Em julho de 1984, Ballard submergiu seu robô Argos até o submarino, a dois quilômetros e meio de profundidade no fundo do mar. O que encontrou foi, como disse o programa do canal National Geographic sobre a operação, "uma destruição total, como se alguém tivesse pegado um brinquedo e o jogado em uma máquina trituradora". Os restos estavam espalhados por uma extensão de dois quilômetros, conforme caíram após a implosão. Ballard encontrou o reator e constatou que não havia vazamento radioativo.
A exploração seguinte, do Scorpion (SSN-589), a 3.350 metros de profundidade, foi mais excitante, porque o submarino desapareceu sem testemunhas, levava armamento nuclear e estava envolvido em operações muito agressivas. Especulava-se que ele havia sido atacado por um torpedo soviético, em represália pelo abatimento do submarino russo K-129, que afundou depois e uma suposta colisão com o USS Swordfish. A marinha dos EUA localizou o submarino russo e a CIA enviou clandestinamente, em 1974, um barco de exploração ao K-129, o Glomar Explorer, para tentar recuperá-lo; investigou os restos da embarcação e até mesmo extraiu uma parte do casco com seis marinheiros russos, que foram sepultados num cerimonial no mar.
Ballard chegou ao Scorpion em julho de 1985 e encontrou uma cena similar à do Thresher: o submarino estava horrorosamente esmagado e os restos dispersos em uma longa faixa, como se fosse a cauda de um cometa. Nesse caso, o Scorpion estava partido em dois pedaços. Entretanto, não foram encontradas evidências de um ataque de torpedo. Novamente, parece que o Scorpion sofreu uma implosão ao descer abaixo de seu limite de profundidade; ou seja, arrebentou por não ser capaz de agüentar a tremenda pressão da água. Ninguém sabe como se chegou a essa situação. Thunman crê que isso talvez esteja relacionado com as tensões da guerra fria e o com grande nível de estresse de que sofria a tripulação e seu navio, mas não com uma causa externa.
Era um jogo arriscado que realizavam os submarinos da Otan e da URSS lá embaixo. "E como! Comandei um submarino na época, um gêmeo do Scorpion, o USS Snook. Era a Guerra Fria embaixo dos oceanos. Tempos perigosos". Os russos praticavam a manobra Ivan Louco, como no cinema e nos livros de Tom Clancy? "Sim, claro", ri o veterano submarinista. "Era muito arriscado porque, de repente, com essa manobra, eles ficavam em cima de nós e havia alto risco de colisão. Sou amigo de Clancy e já conversamos sobre isso".
Ballard localizou o reator do Scorpion, que, segundo ele, também não representa perigo, e assegura que os torpedos nucleares estão em um lugar seguro no interior do navio. E os tripulantes? Nos restos do K-129, foi fotografado o esqueleto de um marinheiro soviético com colete salva-vidas e casaco impermeável. Thunman demorou para responder. "Nós, submarinistas, somos como uma fraternidade, uma confraria subaquática: não gostamos de falar disso, as famílias ainda estão vivas e isso é muito doloroso para elas".
O antigo oficial se surpreende quando quem assina essas linhas menciona o susto da claustrofobia, com uma voz angustiada. "Não, não sofremos disso, há todo um treinamento para vencê-la. Eu nunca vi nenhum claustrofóbico em um submarino". O velho marinheiro parece sussurrar do outro lado da linha. Nessa madrugada de navios naufragados e tripulações afogadas, não me diga que sente nostalgia, vice-almirante. "É claro! Foi uma época grandiosa, os melhores dias da minha vida". Thunman despede-se recordando que já teve sua base em Rota (Espeanha) e dá uma mostra desconcertantede seu conhecimento de espanhol: "Nunca he visto nada tan bonito como tu, señorrita. [Nunca vi nada tão belo como tu, senhorita]".
O mais surpreendente da história do Titanic, do Thresher e do Scorpion é que Ballard nunca teria encontrado o transatlântico, segundo ele mesmo diz, se não fosse pelas operações prévias nos dois submarinos nucleares. Depois de cumprir sua parte no pacto, ele tinha apenas duas semanas para dedicar-se à sua obsessão. Era uma missão quase impossível, dado tamanho da área a explorar. Mas Ballard teve uma revelação: e se o Titanic tivesse se esmigalhado em partes como aconteceu com os dois submarinos e seus restos também tivessem sido espalhados pela correnteza em uma faixa extensa? Então ele começou a procurar não pelo barco, mas sim pelo seu rastro, o que permitiu abarcar áreas muito maiores de busca do que a do simples casco, percorrendo linhas separadas entre si por 1,5 quilômetro. E acabou o encontrando.