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Brasil + China
Enviado: Sáb Mai 22, 2004 9:21 am
por VICTOR
Tópico para notícias e considerações sobre as relações entre os dois países, a viagem, seus desdobramentos e assim por diante.
Vou começar com um artigo do britânico Financial Times.
FINANCIAL TIMES
Enviado: Sáb Mai 22, 2004 9:26 am
por VICTOR
22/05/2004
Ligação Brasil-China representa desafio geopolítico para EUA
Antiamericanismo latino e parceria comercial podem ser início de novo bloco de poder
Richard Lapper
Durante toda a noite, caminhões gigantescos com rodas enormes se arrastam para cima e para baixo nas ladeiras das imensas minas a céu aberto em Carajás, no coração da selva amazônica. Eles carregam minério de ferro na primeira etapa de sua viagem para a China - matéria-prima para alimentar o apetite insaciável do setor industrial do país.
Somente este ano, a Companhia Vale do Rio Doce, a maior companhia de minério de ferro do mundo, investirá US$ 1,8 bilhão para manter as rodas girando. Ela acaba de anunciar planos para o que será o terceiro maior navio cargueiro do mundo, para levar o material ao mercado ainda mais depressa.
"Estamos trabalhando em plena capacidade 24 horas por dia. Não conseguimos atender todas as encomendas", diz Fernando Thompson, da diretoria da CVRD e um dos mais de 450 empresários brasileiros que acompanharão o presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva, em uma visita oficial de quatro dias à China que começa neste domingo (23/05).
A missão de Lula reflete o entusiasmo febril pela China entre a comunidade empresarial brasileira. Mas também chama a atenção para uma tendência econômica com implicações geopolíticas potencialmente enormes. A ligação entre Brasil e China conecta os maiores mercados emergentes dos hemisférios ocidental e oriental. Nas palavras de Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores brasileiro, poderá fazer parte de "uma certa reconfiguração da geografia comercial e diplomática do mundo".
Isso poderá representar um desafio para o governo de George W. Bush, com sua obsessão pelo Oriente Médio e sua miopia sobre os desenvolvimentos em seu próprio quintal. Parte da retórica sobre esse novo relacionamento pode ser remanescente de reuniões do antigo movimento dos não-alinhados.
Mas a nova conexão "sul-sul" é mais importante porque se baseia em fundamentos econômicos. A China pode representar uma ameaça competitiva para o México e países no norte da região que se beneficiaram da exportação de bens manufaturados para os Estados Unidos. Mas países como Brasil e Argentina são uma rica fonte de alimentos e matérias-primas de que a China precisa para alimentar sua crescente população urbana e suas indústrias florescentes.
A China tem o índice de poupança e o capital que a América Latina nunca teve. Há sinais do efeito China em toda a região. Plantadores de soja da Argentina, Brasil, Paraguai e até da Bolívia desfrutaram uma bonança nos últimos meses. As minas de cobre do Chile e do Peru estão pujantes. A demanda da China no ano passado foi um dos motivos do aumento da maioria dos preços das commodities. Hoje há sinais de um boom de investimentos recíproco da China na região.
Nos próximos dias, Lula discutirá planos para investimentos chineses em estradas, portos e ferrovias - projetos que garantiriam o abastecimento de matérias-primas. Segundo um estudo recente da Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento da ONU, a China será o quinto maior fornecedor mundial de investimentos estrangeiros diretos este ano.
No próximo ano a China deverá aderir ao Banco Interamericano de Desenvolvimento, dando acesso a suas empresas construtoras aos projetos de infra-estrutura do banco.
Existem riscos evidentes para a América Latina. As commodities parecem ter chegado a um pico, e uma desaceleração muito acentuada do crescimento econômico chinês de seu atual nível de mais de 9% ao ano poderá reduzir ainda mais os preços. A maior preocupação, porém, é que o boom de commodities possa encerrar a América Latina em um novo ciclo de dependência da produção de matérias-primas, distorcendo ainda mais os padrões de desenvolvimento. Ambos os temores são provavelmente exagerados. Os atuais índices de investimento da China certamente são insustentáveis.
Mas, por mais perturbadora que seja em médio prazo, uma desaceleração - ou mesmo uma quebra - não deterá a inexorável modernização da China. A dependência de matérias-primas pode criar vulnerabilidades, mas o boom também oferece à América Latina a melhor oportunidade desde o início do século 20 de capitalizar sua vantagem comparativa como produtora competitiva de matérias-primas . O caminho do progresso é concentrar-se em áreas que agregam valor - produzir vinho, petróleo e aço, e não apenas uvas, sementes e minério de ferro.
O desafio para os Estados Unidos é mais complexo. O sistema interamericano, modificado ao final da Guerra Fria para promover as economias de mercado e a democracia na região, parece esfarrapado. Com Bush, os Estados Unidos observaram inutilmente enquanto um país após o outro tropeçava em crises financeiras ou políticas.
Países como México e Colômbia desfrutaram de laços preferenciais com Washington em conseqüência de acordos comerciais ou considerações de segurança, mas as relações com outros países, incluindo Brasil, Argentina e Venezuela, se deterioraram.
A influência chinesa nesse último grupo de países ricos em matérias-primas poderá eventualmente agravar essas divisões e até levar à formação de novos blocos de poder na região. Para evitar esse resultado, os Estados Unidos - juntamente com a Europa e o Japão - devem parar de excluir os agricultores sul-americanos de seus mercados. Precisam reconhecer que seus mercados de trabalho precisam de trabalhadores latino-americanos e oferecer um regime mais seguro para os imigrantes.
E precisam dar mais apoio às iniciativas multilaterais para melhorar a infra-estrutura. Essa agenda pode ser politicamente custosa, mas o fracasso também terá um preço. No melhor caso, o baixo nível de antiamericanismo na região, que resultou num apoio inconsistente e a contragosto aos Estados Unidos em seu combate ao terror, crescerá. No pior caso, a política antiamericana mais visceral demonstrada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, poderá ganhar popularidade. É por isso que, no mínimo, Washington precisa prestar atenção.
Enviado: Dom Mai 23, 2004 10:43 pm
por César
Lula inaugura escritório da Petrobras em Pequim e anuncia acordo
23/05 - 11:04
Reuters
Por Cláudia Pires
PEQUIM - O governo brasileiro deu início a sua ofensiva comercial na China, neste domingo, com o anúncio de um acordo para exploração conjunta de petróleo entre a Petrobras e sua similar chinesa Sinopec. A divulgação do acerto foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de escritório de representação da estatal brasileira em Pequim.
"A Petrobras é uma empresa genuinamente nacional que cada vez mais se volta para o exterior... A Petrobras tem um papel central na parceria estratégica que o Brasil e a China vêm consolidando", disse o presidente durante discurso no local.
Lula afirmou que a Petrobras e a Sinopec vão operar na exploração conjunta de petróleo em águas profundas. O presidente disse ainda que esse era apenas o "primeiro de muitos" acertos que brasileiros e chineses poderiam fazer na área". Os valores e termos do acordo não foram divulgados pelas empresas.
O anúncio do acordo entre as duas empresas petrolíferas é o primeiro feito na viagem presidencial, que tem como principal objetivo expandir os negócios entre os dois países.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, nesta semana devem ser assinados 11 acordos entre Brasil e China. Entre eles, Amorim citou a venda de oito aviões da Embraer e um acordo entre a empresa chinesa Baoo Steel e a Vale do Rio Doce para a construção de uma siderúrgica no Maranhão.
"Os acordos são sobre os temas mais variados, desde o memorando de entendimento sobre a parte da ferrovia e maquinaria, até questões como facilitação de vistos de negócios", disse o ministro durante o evento. "Enfim, estamos dando um novo dinamismo para as relações Brasil e China", acrescentou.
"Essa visita não é só um gesto protocolar ou diplomático... Acho que os frutos virão muito rapidamente", acrescentou.
Segundo o ministro do Planejamento, Guido Mantega, os principais acordos a serem fechados entre os dois países dizem respeito à área de infra-estrutura. Mantega afirmou, porém, que o primeiro passo é assinar um protocolo de intenções destes acordos, o que deve acontecer nesta semana.
O ministro explicou que, especialmente no caso de infra-estrutura, os projetos dependem da aprovação do PPP (projeto de Parceria Público Privada) pelo Congresso, o que o ministro espera que aconteça dentro de um mês.
Mantega citou que os projetos mais amadurecidos poderão receber investimento chinês em "alguns meses". As áreas que o chineses demonstraram mais interesse são os de irrigação para produção de etanol, no valor de 600 milhões de dólares, o de construção e modernização de ferrovias, com destaque para a ferrovia Norte-Sul, e a modernização de portos, principalmente o porto de Santos.
Só para a rodovia Norte-Sul serão necessários 1,5 bilhão de dólares. "O protocolo é amplo e menciona empreendimentos comuns do governo brasileiro com o chinês em várias áreas", disse Mantega.
A Petrobras não é a primeira empresa brasileira a abrir um escritório na China. Já possuem escritórios em na China (entre Xangai e Pequim) as empresas brasileiras Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Softex e Varig, além do Banco do Brasil, Embraco e Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
COMEMORAÇÃO À BRASILEIRA
Em seu primeiro dia em Pequim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por fazer um programa nem um pouco tradicional para os chineses. O presidente e a primeira-dama, Marisa Letícia, almoçaram em uma churrascaria brasileira neste domingo para comemorar 30 anos de casamento.
Lula esteve na churrascaria Beijing Brasil, de propriedade da Sadia, acompanhado pelos governadores Geraldo Alckmin (São Paulo), Blairo Maggi (Mato Grosso), Wellington Dias (Piauí), Jorge Viana (Acre) e Zeca do PT (Mato Grosso do Sul).
Depois do almoço, Lula e Marisa visitaram o Palácio de Verão dos Imperadores, um dos locais turísticos mais visitados em Pequim.
Durante a manhã, Lula e Marisa não deixaram a residência oficial. A programação oficial do presidente na China começa apenas na segunda-feira, quando será realizada cerimônia de boas-vindas na Praça da Paz Celestial com a presença do presidente chinês Hu Jintao.
Neste final de semana, em homenagem à chegada de Lula, bandeiras brasileiras foram hasteadas na praça, próximas à entrada da Cidade Proibida.
Abraço a todos
César