O preço de se tomar decisões no campo de batalha.
Enviado: Qui Mai 13, 2004 8:57 pm
COMO UM FUZILEIRO NAVAL PERDE SEU COMANDO NA CORRIDA PARA BAGDÁ.
O "ritmo" do coronel Joe Dowdys desagradou seus superiores; Equilíbrio de missão x Homens; Nome de chamada do general: "caos".
Christopher Cooper, Repórter Adjunto do Wall Street Journal, 5 de abril de 2004.
Em duas semanas durante a guerra no Iraque, o coronel fuzileiro naval Joe D. Dowdy concluiu a manobra militar que coroou sua vida, atacando um grupo de elite de soldados iraquianos e, então, conduzindo 6 mil homens numa corrida de alta velocidade de 18 horas, rumo à Bagdá.
Mas nenhum louvor aguardava o comandante regimental da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais, enquanto ele adentrava na tenda de seu superior, major-general fuzileiro naval, James Mattis, em 4 de abril de 2003. Ao invés, o Cel Dowdy foi despido de seu comando, efetivamente, findando sua carreira de 24 anos nos Fuzileiros Navais. Num golpe final, o Cel Dowdy disse que o general solicitou-lhe que esvaziasse sua arma de porte, e entregasse sua munição. "Ele achou que eu ia me matar," disse o coronel.
Assumir um comando de campo de batalha é o ápice da carreira de um fuzileiro naval. Ser removido é quase o nadir, excedido, apenas, pela corte marcial. É extremamente raro para as modernas Forças Armadas dos EUA exonerar um comandante de ponta, especialmente, durante o combate. O Cel Dowdy, 47 anos, foi o único oficial superior, em qualquer das forças armadas, a ser demitido no Iraque. Ele disse que preferia ter tomado um tiro do inimigo.
A demissão do Cel Dowdy foi mais inusitada porque ele não cometeu qualquer um dos atos que, normalmente, precipitam tal atitude: falha em completar uma missão, desobediência à uma ordem direta, quebra das regras de guerra. "Foi uma decisão baseada no ritmo operacional", disse o tenente Eric Knapp, um porta-voz para a 1ª Divisão de Fuzileiros Navais. Ele não quis complementar.
A remoção do coronel detonou uma cobertura da imprensa e intensa especulação no Corpo de Fuzileiros Navais. As razões para a demissão não ficaram claras, principalmente devido ao coronel e seus superiores recusarem a falar sobre ela. Agora, entrevistas com o Cel Dowdy e um punhado de oficiais e praças mostram que o coronel foi condenado, em parte por uma antiga tensão de tempo de guerra: homens versus missão - na qual ele favoreceu seus homens.
O Maj-Gen Mattis e Cel Dowdy personificam tudo o que é celebrado na cultura do Corpo de Fuzileiros Navais. O Maj-Gen Mattis, 53 anos, é um "monge guerreiro", como alguns dos seus homens denominam isso, um celibatário por toda a vida, consumido com o estudo e a prática de táticas de batalha. O Cel Dowdy é amado pela atenção que ele presta a seus homens, dos "grunts" (Government Rejects Unfit to Training, ou "rejeitos governamentais, inadequados para treinamento", apelido dos combatentes da linha de frente) para cima.
As qualidades desses dois fuzileiros navais, eventualmente, os dilaceraram. O Maj-Gen Mattis, um fuzileiro naval durante trinta e três anos, via a velocidade como primordial no plano da Guerra do Iraque. O Cel Dowdy pensava que sacrificar tudo pela velocidade, arriscava o bem-estar de seus homens.
A disputa foi alimentada por suposições errôneas sobre como os iraquianos iriam lutar. O desejo por velocidade provinha da expectativa do Pentágono de uma feroz e arrastada batalha em Bagdá, com resistência bem menor em outras áreas. Mas acabou que Bagdá caiu facilmente, enquanto o interior do país continuou em ebulição com a resistência.
Hoje, enquanto forças dos EUA chocam-se com um inimigo que, claramente, subestimaram, os militares continuam a debater se acelerar o rumo à capital iraquiana foi o melhor caminho para tomar.
O Maj-Gen Mattis declinou de ser entrevistado para essa história. Seu chefe de estado-maior, coronel Joe Dunford, disse que uma decisão feita durante o combate é impossível de explicar agora. "É uma dessas coisas que, ao tentar colocar os pedaços de volta, não há modo de conseguir."
Sobre um prato de empanados de frango, próximo a sua casa em Carlsbad, Califórnia, o Cel Dowdy admite ter cometido erros. Mas não acredita que qualquer um deles tenha garantido sua remoção. Ele tem orgulho de que apenas um fuzileiro naval tenha morrido sob seu comando. "Ao menos, eu não tenho uma conta de carniceiro para pagar," ele disse.
A poeira cobria os 900 caminhões e tanques no regimento do Cel Dowdy, quando eles emergiam do deserto, em 22 de março de 2003. Há dois dias na guerra, o regimento foi dirigido rumo à Nasiriyah, um amontoado de favelas e instalações industriais onde os problemas do Cel Dowdy iriam começar. Desde que era um menino em Little Rock, Arkansas, o coronel sonhava por uma designação como essa. Comandante de 6 mil homens do 1º Regimento de Fuzileiros Navais por quase um ano antes da guerra começar, o Cel Dowdy era profundamente familiar com o plano para invadir o Iraque.
Com a cabeça raspada, e poderosa constituição, o Cel Dowdy parece o arquétipo do fuzileiro naval. Seus homens o louvam por tratá-los como iguais, apesar da organização estratificada dos Fuzileiros Navais. Afastando-se do costume, o Cel Dowdy, casado com três filhos, convidava praças tanto como oficiais para a festa de Natal em sua casa. Quando os Fuzileiros estavam acampados no Kuwait, preparando-se para a guerra, o Cel Dowdy declinou do uso de um ar condicionado, quando se tornou claro que apenas oficiais poderiam obtê-los, relembra o sargento-de-armas (Gunnery-Sergeant) Robert Kane.
"Como coronel, ele estava autorizado à certos privilégios, mas ele era o tipo de homem que, se seus navais não podiam ter algo, ele também não," disse o sargento Kane, que serviu sob o Cel Dowdy no Iraque e no Timor Oriental, em 1999.
Por vários relatos, o Cel Dowdy estava destinado a ganhar as estrelas de general após a guerra no Iraque. "Eu conheço pessoas, apoiadores, pares que pensavam que Joe Dowdy podia caminhar sobre a água," disse Anthony Zinni, um general fuzileiro de quatro-estrelas. Quando o Cel Dowdy serviu sob ele, "era o melhor tenente que eu tinha," disse o Gen Zinni.
Igual a muitos no seu regimento, o Cel Dowdy carecia de extensiva experiência de batalha. Em 1983, ele viu ação limitada em Beirute, onde 241 fuzileiros foram mortos num atentado suicida. Ele serviu na Somália em 1993 e 1994, onde os Fuzileiros Navais foram a vanguarda do que se tornou uma sangrenta missão humanitária.
O Maj-Gen Mattis mapeou o amplo plano dos Fuzileiros para o Iraque, que muitos analistas de defesa consideravam taticamente brilhante. Dois regimentos de 6 mil homens cada, da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais iriam rumar para Bagdá. O regimento do Cel Dowdy iria se encaminhar para a cidade de Kut - onde um contingente de 8 mil dos melhores homens da Guarda Republicana de Saddam Hussein estavam entrincheirados.
Foi presumido que os iraquianos tinham armas químicas, portanto o plano foi evitar engajá-los diretamente. A unidade do Cel Dowdy devia agir como isca, desviando a atenção dos soldados de Hussein e permitindo aos outros regimentos americanos investi-los a partir do noroeste, através de uma brecha nas defesas iraquianas para alcançar Bagdá. A rota do Cel Dowdy iria levá-lo através da cidade de Nasiriyah. Outra unidade de fuzileiros navais, chamada Força-Tarefa Tarawa, foi encarregada de manter a ordem ali. Funcionários do Pentágono presumiam que a cidade iria oferecer pouca resistência pois havia sido longamente oprimida por Hussein. Essa suposição se mostraria errada.
O plano começou a se complicar em Nasiriyah. Quando o Cel Dowdy e seus homens chegaram nos limites da cidade, eles encontraram sua passagem bloqueada por uma maciça troca de tiros. Os boatos começaram a circular de que a Força-Tarefa Tarawa havia sofrido baixas, incluindo 18 mortos. Somando-se à confusão estava uma unidade de suprimentos do Exército americano, que havia entrado por engano, em Nasiriyah. Vários soldados dessa unidade foram mortos. Outros, incluindo a praça de 1ª classe Jessica Lynch, haviam sido feitos prisioneiros. Fora da cidade, o Cel Dowdy e seu estado-maior debatiam sobre o que fazer. Várias centenas de caminhões do trem de transportes do Cel Dowdy careciam de blindagem, e comprimí-las através de uma feroz zona de batalha poderia ser complicado, especialmente através das ruas estreitas de Nasiriyah.
Um contorno de 300 quilômetros em volta de Nasiriyah não parecia plausível. O Cel Dowdy não estava certo de ter bastante combustível e não sabia que tipo de resistência poderia enfrentar. O 1º Regimento estava paralisado.
O alto era anátema para o Maj-Gen Mathis, um devoto de uma moderna doutrina militar conhecida como "guerra de manobras". Embora os Fuzileiros Navais tenham praticado a técnica por anos, a Guerra do Iraque foi o primeiro teste em larga escala. Em vez de seguir rígidos planos de batalha e atacar frentes bem-definidas, essa tática demanda forças menores para se moverem rapidamente sobre as zonas de combate, explorando oportunidades e semeando confusão entre o inimigo. A técnica é resumida no nome-códido radiofônico do Maj-Gen Mattis: "Caos".
O Maj-Gen Mattis havia lutado no Iraque antes, na primeira Guerra do Golfo. Após isso, ele comandou o 7º Regimento de Fuzileiros Navais da 1ª Divisão, conhecido como uma das unidades dos Fuzileiros mais preparadas para combate. "Eu o seguiria novamente," disse o sargento-de-armas Kane, que lutou sob o Maj-Gen Mattis no Afeganistão. "Sua vida inteira é o Corpo."
Pequeno em estatura e feroz no comportamento, o Maj-Gen Mattis aumentou sua reputação no Afeganistão, onde seus homens capturaram uma pista de pouco fora de Kandahar (*). A ousada incursão isolou o coração da resistência Taliban. "Os Fuzileiros desembarcaram e agora nós temos nosso próprio pedaço do Afeganistão," o Maj-Gen Mattis contou aos repórteres, apenas uns poucos meses após o 11 de setembro de 2001. O Pentágono tratou de repudiar essa declaração, mas os Fuzileiros a adoraram.
Para alguns nas Forças Armadas, a Guerra do Iraque prometia ser o teste perfeito da guerra de manobras. Na época, os EUA achavam que a luta mais feroz iria começar próximo a Bagdá, e iria envolver uma arrastada luta de rua com uso de armas químicas. Velocidade era tudo. A jornada de 2 mil quilômetros para Bagdá, muitos imaginavam, seria apenas um aquecimento.
Detido fora de Nasiriyah, o Cel Dowdy disse que não ficou surpreso quando o principal ajudante do Maj-Gen Mattis, o brigadeiro-general John Kelly, apareceu. Os dois ficaram conversando sobre a ponte fora da cidade, observando a luta. O Brig-Gen Kelly, 53 anos, que era fuzileiro naval há trinta e três anos, havia servido, principalmente, em postos acadêmicos e administrativos. "Eu pensei que sabia o que era a guerra," ele disse. "É difícil imaginar se você não esteve lá."
O regimento do Cel Dowdy já estava paralisado em Nasiriyah há mais de 24 horas. Em retrospecto, ele disse que deveria ter sido mais decisivo em mover-se através da cidade.
Uma das regras cardeais da guerra de manobra estipula que os generais devem permitir aos comandantes em campanha, tais como o Cel Dowdy, tomar decisões táticas. O Brig-Gen Kelly disse que nunca ordenou ao Cel Dowd para se mover através de Nasiriyah e nunca ameaçou removê-lo de seu posto. Mas o tenente-coronel Pete Owen, chefe de estado-maior do Cel Dowdy, tinha uma lembrança diferente. "Quando nós ficamos detidos fora de Nasiriyah, o general Kelly veio até mim, e disse, "se o Cel Dowdy não colocar sua coluna em movimento, vou removê-lo.'"
Tarde da noite, o Cel Dowdy decidiu se mover. Ele deu ao comandante de batalhão, tenente-coronel Lew Craparottta, uma hora para resolver como formar um cordão de fuzileiros que iriam escudar o regimento enquanto ele passava através da cidade. O Ten-Cel Craparotta não estava contente. "Eu não acho que, da próxima vez, eu queira planejar alguma coisa no capô do meu "Humvee", em plena escuridão," ele disse. O regimento deslocou-se, ruidosamente, através de Nasiriyah, passando por cascos enegrecidos de viaturas americanas e cadáveres de fuzileiros navais esperando para serem recuperados pela Força-Tarefa Tarawa. Foi uma visão, disse o Cel Dowdy, que iria permanecer com ele por toda a campanha.
Enquanto outros dois regimentos dirigiram-se rumo ao norte, sobre uma autoestrada de quatro pistas, o grupamento do Cel Dowdy rolava sobre uma estrada vicinal de duas pistas que corria através de dúzias de vilarejos, eriçados de forças inimigas. Um relato oficial dos Fuzileiros, registrou mais tarde, como "um troca de tiros em movimento através da lama da Mesopotâmia."
O regime do Iraque inundou a estrada com milhares de combatentes. Logo, os homens do Cel Dowdy estavam engajados em batalha. Uma tempestade de areia misturada com chuvas reduziu a quase zero, a visibilidade dos Fuzileiros. O regimento sofreu sua primeira baixa quando um rojão antitanque explodiu através da porta de um "Humvee" e decepou a mão de um capitão, de acordo com os homens que viram a cena.
Enquanto as balas voavam e o capitão era levado de helicóptero, o Cel Dowdy, há dois dias sem dormir, relaxava em seu "Humvee", com seu estado-maior em volta dele. Ele caiu no sono.
Nas guerras, comandantes caem no sono em encontros, no rádio, mesmo durante a troca de tiros. O Cel Dowdy cochilou por uns cinco minutos, disseram seus homens. Mas o momento não poderia ter sido pior. Nesse momento, o ajudante principal do major-general Mattis, o Brig-Gen Kelly, viu o coronel dormindo. Alguns dos homens do Cel Dowdy que estavam lá, crêem que isso criou uma impressão permanente.
O Brig-Gen Kelly declina de comentar sobre a remoção do Cel Dowdy, dizendo que tais coisas são "território sagrado" que apenas o Maj-Gen Mattis pode tratar. Em resposta a questões gerais sobre a guerra, ele disse que prioridade principal de um comandante de campo de batalha é "pôr tudo o mais de lado e focalizar a missão. Eu tenho visto uma porção de gente aprender isso do modo mais difícil."
Dois dias mais tarde, em 27 de março, o Exército dos Estados Unidos ordenou um alto indefinido para a guerra, a fim de permitir que as linhas de suprimento alcançassem os combatentes americanos. O regimento do Cel Dowdy estava acampado cerca de 100 quilômetros ao sudeste de Kut. Ele tinha feito seus homens capturarem um campo de pouso próximo para que os suprimentos pudessem ser aerotransportados. No dia seguinte, o Maj-Gen Mattis desembarcou para checar seus homens - e ficou enfurecido pelo que viu: uma pista de pouso esburacada e um capitão fuzileiro naval sentado num "bulldozer" lendo um documento. O capitão disse que não havia recebido ordens para consertar a pista de pouso.
Umas poucas horas mais tarde, o Cel Dowdy diz, ele ganhou um puxão de orelhas do Maj-Gen Mattis. Este lhe disse que deveria ter deixado claro que o trabalho de consertar a pista seria feito. O Cel Dowdy agora diz que devia ter atribuído uma ordem escrita (**). Ele pensou em dispensar o operador do "bulldozer" do seu comando, mas pensou melhor. "Se você demite todo mundo que comete um erro, em breve você ficará lá sozinho," ele disse.
Apesar do mau-passo, o Cel Dowdy estava recebendo louvores diários do estado-maior do Maj-Gen Mattis, de acordo com o coronel John Toolan, que foi o chefe de estado-maior do general. Relatórios da Inteligência sugerem que a captura do aeroporto havia atraído a atenção dos soldados da Guarda Republicana. Os iraquianos logo anunciaram sua presença, ao disparar projéteis de artilharia sobre o regimento do Cel Dowdy.
O ardil estava funcionando. Os outros regimentos de fuzileiros navais aceleraram sobre o flanco ocidental desguarnecido dos iraquianos, rumo à Bagdá, de acordo com o plano. Nesse ponto, podia se afirmar que o Cel Dowdy havia cumprido sua missão. O plano de guerra previa que ele se retirasse e fizesse um contorno em volta de Kut. O Brig-Gen Kelly reconhece que esse era o plano original.
Mas, após ver os aldeões na área acenando e saudando os Fuzileiros, o brigadeiro-general Kelly acreditava que o colapso inimigo era iminente. "Havia tão pouca resistência," ele disse. "Eu achei que eles, ou desertaram ou estavam enfiados tão fundo nas suas tocas que não queriam mais lutar." Em 1º de abril, o 5º Regimento de Fuzileiros Navais, tomou uma ponte próximo a Kut. Nesse ponto, o Brig-Gen Kelly disse, a antigamente temida Divisão Bagdá se tornou "irrelevante."
Num movimento inesperado, o Brig-Gen Kelly ordenou que o Cel Dowdy encabeçasse o avanço para Kut, com uma missão de "objetivo limitado." Uma vez que lá estivesse, o Cel Dowdy decidiria se o regimento deveria avançar através da cidade, o que economizaria várias horas em tempo de deslocamento.
O Cel Dowdy não achava que pressionar através de Kut seria sábio. Isso seria uma rota mais rápida para Bagdá, mas ele pensava que seria perigoso. Seus homens haviam visto "foxholes" fortificados, edifícios com sacos de areia, minas ao longo das estradas e vários milhares de combatentes iraquianos. Com suas pontes estreitas e emaranhado urbano, Kut parecia ainda mais perigosa que Nasiriyah. Seria a economia de umas poucas horas digna do risco?
"Na guerra, você tem demandas concorrentes entre homens e a missão," diz o Cel Dowdy. "O que deve prevalecer? Não há resposta fácil." Seus superiores confirmam que ele não recebeu ordens para levar seu regimento através da cidade. Mas um agressivo fuzileiro naval deveria ter escolhido penetrar, para atingir Bagdá mais rápido.
Os generais do Corpo de Fuzileiros Navais estavam cada vez mais impacientes. O Exército já havia alcançado os arredores de Bagdá. Na manhã de 3 de abril, o décimo-quinto dia da guerra, o Brig-Gen Kelly chamou o Cel Dowdy para dizer que queria ver o assalto sobre Kut começando imediatamente. O Cel Dowdy disse que estava aguardando mais munição e checando um relatório de que a estrada para Kut estava minada.
O Brig-Gen Kelly estava furioso, de acordo com o Cel Dowdy. "Estas não são considerações, são desculpas," o Cel Dowdy relembra as palavras do general. Ele disse que o general continuou: "Por quê você não está rumando através de Kut, nesse momento? Quer saber? Vou recomendar que você seja exonerado do comando. Talvez o general Mattis não faça isso. Talvez ele decida que pode continuar com um regimento que não vale merda nenhuma. Mas é isso que vou recomendar."
O Brig-Gen Kelly disse que não lembra dessa conversa específica. Ele disse que apreciou o risco de vida potencial que uma ruptura através de Kut iria representar. Num e-mail recente do Iraque, onde ele está servindo uma segunda temporada, ele escreveu, "A escolha entre missão e homens... nunca é entre um ou o outro, mas sempre um equilíbrio."
Dentro de uma hora ou tanto, Cel Dowdy e dois de seus batalhões moveram-se para Kut. Imediatamente, eles encontraram resistência, com combatentes saindo das portas e vielas. "Minha metralhadora estava enlouquecida," disse o suboficial (Warrant Officer) Thomas Parks, um atirador deslocando-se na dianteira.
Os batalhões se detiveram diante de um tanque iraquiano, que o atirador Parks atingiu com um rojão, provocando fogo de resposta de um barraco de dois andares, alinhado com a estrada. A porta do "Humvee" do atirador Parks, foi arrancada de suas dobradiças, enquanto projéteis enchiam a porta da viatura do Cel Dowdy, de acordo com os dois homens. Momentos mais tarde o atirador Parks deu uma olhada e viu o Cel Dowdy correndo para uma família de civis iraquianos. O coronel recolheu duas crianças e enfiou a família numa cratera de bombas, como cobertura, disse o atirador Parks. Um combatente iraquiano movendo-se por uma viela, apontou uma metralhadora contra o Cel Dowdy. O atirador Parks o baleou na cabeça. "Isso me exigiu três tentativas," ele disse.
A decisão de pressionar ou não, através de Kut era, no fim, do Cel Dowdy. Mas nas horas antes e durante a luta, ele e seu estado-maior dizem ter recebido orientações conflitantes. No telefone de campanha, o Brig-Gen Kelly estava dizendo para pressionar através de Kut. Mas no rádio, o comando da divisão estava solicitando uma retirada. "Havia uma porção de confusão," disse o Cel Dowdy. "Vão. Não vão." O Brig-Gen Kelly concorda que havia discussão sobre o que o regimento devia fazer.
Portanto, o Coronel Dowdy tomou uma decisão crucial: ele decidiu não ir através da cidade. Alcançar Bagdá mais cedo não valia o risco, ele disse. "Nesse ponto, talvez você seja condenado se você vai e condenado se você não vai," disse o sargento-mor Gregory Leal, o praça mais graduado no regimento do Cel Dowdy. "Não há livro nenhum que diga, 'É assim que você liberta e ocupa um país.' "
Ao pôr-do-sol, o 1º Regimento de Fuzileiros Navais começou a se mover para uma área de estacionamento com o resto da divisão através de um contorno de 350 quilômetros em volta de Kut. Os homens do Cel Dowdy haviam recolhido 30 prisioneiros e, o coronel disse, "eu sentia vontade de levá-los para a divisão e dizer, 'olha, seus babacas, nós enfrentamos resistência e aqui está a prova.' "
Faróis dianteiros ligados e atraindo fogo intermitente de camponeses iraquianos, o regimento cobriu os quilômetros em cerca da metade das 36 horas que se supôs que levariam. Em 4 de abril de 2003, o regimento rolou para Numaniyah, onde os Fuzileiros Navais tinham planejado se reunir. O regimento havia completado sua missão com amplo tempo para se juntar ao assalto sobre Bagdá.
Porém, a carreira do Coronel Dowdy estava morta.
Um helicóptero aguardava quando o Cel Dowdy chegou a Numaniyah. O Cel Dowdy e o sargento-mor Leal embarcararm. O major-general Mattis havia pedido para vê-los. Eles voaram até o acampamento do general, cerca de 100 quilômetros de distância.
Quando chegaram, o sargento Leal disse que o Maj-Gen Mattis o levou para um lado. "Como seu chefe está se saindo?" o sargento-mor relembra dele perguntar. "Eu respondi, 'ele está se saindo bem, senhor.' " Então, de acordo com o sargento Leal, o general o cortou, bruscamente: "Vocês não estão engajados o bastante. Vocês tinham quatro batalhões e vocês não estão insistindo com o ataque.' "
"Eu disse para o general não demití-lo," relembra o sargento Leal. "Eu disse, 'diga-me o que nós precisamos fazer e nós faremos.' "
Os homens sob o comando do major-general Mattis dizem que ele toma decisões rapidamente e nunca olha para trás. O sargento-mor Leal disse que acreditava que o Maj-Gen Mattis já tinha tomado sua decisão.
Granadas de artilharia rugiam por sobre as cabeças e os tanques e caminhões do 5º Regimento de Fuzileiros Navais avançavam barulhentamente, passando pelo Cel Dowdy, enquanto ele abria caminho para a tenda do Maj-Gen Mattis. Lá dentro, o coronel sentou encarando os generais Mattis e Kelly enquanto um ordenança servia chá quente. O coronel diz que sabia no seu íntimo que estava perto de ser demitido. "Era como se eu estivesse em algum lugar onde nunca havia estado," ele relembra. "Estou falhando miseravelmente e não sei como e porquê."
Ele disse que o Maj-Gen Mattis começou com um tom simpático: "vamos dar a você algum descanso." O general Mattis trouxe de volta o incidente do "bulldozer". Então, de acordo com o Cel Dowdy, o general disse que o coronel se preocupava demais com a resistência inimiga e observou sua falta de experiência de batalha.
O Cel Dowdy disse que respondeu: "eu estive lutando para abrir caminho por esta estrada fodida nas últimas duas semanas." Ele relembra de apelar ao general Mattis para reconsiderar. "Pense na minha família, na minha unidade," ele relembra de dizer.
Mas isso não aconteceria. Quando o general Mattis requisitou sua munição, o Cel Dowdy, lhe assegurou que ainda considerava a si próprio como um integrante dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. O general abrandou-se. Em breve, o Cel Dowdy pegou um helicóptero para o Kuwait. Ele chamou sua esposa Priscilla. Ela já havia visto as novas na CNN.
As novas de sua demissão rapidamente percorreram o caminho até seus homens. Fuzileiros que estavam lá disseram que houve conversas esparsas sobre motim. "Eu queria ir com ele," disse o sargento-de-armas Kane. "Uma porção de sujeitos, sentiam o mesmo. Se o Cel Dowdy dissesse, 'peguem suas coisas, vocês vem comigo,' eu iria, mesmo se significasse o fim da minha carreira."
Nos dias que se seguiram, as publicações da imprensa e os "chat rooms" dos Fuzileiros Navais na Internet especularam sobre a remoção do coronel. Um dia ou mais, após sua demissão, o Cel Dowdy escreveu uma carta que foi postada num "web site" que congrega familiares da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais.
"Como todos estão cientes... eu não sou mais um membro do Regimento," a carta dizia. "Que fique claro, ninguém, exceto eu, é responsável por minha realocação. Priscilla e eu permanecemos leais ao Corpo de Fuzileiros Navais, à nossa Divisão e à seus muito capazes líderes." O Coronel Toolan, chefe de estado-maior do major-general Mattis, assumiu o comando. O regimento entrou em Bagdá, se estabelecendo numa favela antes conhecida como Saddam City.
Umas poucas semanas mais tarde, o Cel Dowdy encontrou o suboficial Parks, que estava voltando para os EUA, como a maioria da 1ª Divisão. O coronel arranjou para que seu subordinado conseguisse roupas civis e assim, pudesse pegar um vôo comercial e encontrar a esposa em Nova Iorque. "Ele chamou o comandante e disse, 'tenho um herói voltando, tome conta dele,' " o suboficial Parks relata. "Então ele ficou um pouco emocionado, eu fiquei um pouco emocionado, embarquei no helicóptero e saí."
O Cel Dowdy diz que não sentiu prazer algum na sua próxima designação, como chefe de pessoal na Estação Aérea dos Fuzileiros Navais, em Miramar, Califórnia. Em junho, a 1ª Divisão concedeu-lhe uma avaliação de desempenho. Ela o culpava por "estar fatigado além do normal" e "por não empregar o regimento até seu pleno potencial combativo," ele disse, citando o documento. Também estava escrito que ele estava "excessivamente preocupado com o bem-estar" de seus fuzileiros navais, de acordo com o Cel Dowdy. Por política, os Fuzileiros Navais não comentam sobre suas avaliações de desempenho.
Em novembro último, pela primeira vez em vinte e cinco anos, o Cel Dowdy e sua esposa evitaram o Baile do Corpo de Fuzileiros Navais. A 1ª Divisão retornou ao Iraque nessa primavera. O Cel Dowdy recebeu permissão para se reformar mais cedo, e deixou os Fuzileiros no mês passado. "Eu acho que eles, provavelmente, não sabiam o que fazer comigo," disse.
A questão da velocidade no Iraque permanece em debate. No último outono, o Colégio de Guerra do Exército, uma escola financiada pelo Pentágono onde oficiais analisam táticas, liberou um estudo dizendo que há poucas evidências de que a velocidade tenha afetado o resultado da guerra. A dura resistência fora de Bagdá sugere que as forças dos EUA teriam feito melhor movendo-se a um passo mais cadenciado, entrando em mais cidades, desentocando combatentes e deixando mais tropas nas províncias para reforçar a ordem, diz o relatório.
Entretanto, em outro estudo ainda por ser completado, o Centro Conjunto para Lições Aprendidas das Forças Armadas diz que a velocidade foi parte integral dos sucessos militares dos EUA no Iraque. Num discurso em fevereiro, o Almirante E.P. Giambastiani, comandante das Forças Conjuntas, disse que a velocidade "reduz os ciclos de decisão e execução, cria oportunidades, nega opções ao inimigo e acelera seu colapso."
O general reformado Zinni diz que, para o Cel Dowdy, a questão é acadêmica. "O chefe é o chefe," ele diz. "Se o general Mattis sente que você precisa se mover mais rápido, então você se move mais rápido." Ainda assim, ele diz que a demissão do Cel Dowdy irá atormentar o Maj-Gen Mattis também. "Isso não irá somar ao brilho de Jim Mattis."
O sargento-mor Leal, agora estacionado no Texas, freqüentemente fala ao coronel Dowdy que sua reputação irá ser limpa, um dia. "Eu acho que ele sempre será conhecido como o sujeito que escolheu os homens sobre a missão," diz o sargento Leal. "Se é assim que ele irá ser lembrado, tudo bem."
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(*) Mas eu já li que foi o Exército americano quem tomou a pista de pouso. E que os fuzileiros só tiveram o trabalho de desembarcar nela, roubando os méritos dos soldados. Mais um exemplo das "fofoquinhas" inter-armas dos americanos...
(**) Uai! Sendo os U.S. Marines tão badalados, um pobre paisano como eu iria esperar um pouco mais de iniciativa individual de gente que é profissional do ramo. O cara era um capitão, não um recruta. Estava sentado em cima do trator, com uma porção de buracos na sua frente. Era mesmo necessário alguém esfregar no focinho dele, um pergaminho, dizendo: "Em nome do Presidente Bush Baby, eu ordeno que use o seu trator e tape todos os buracos"?
O "ritmo" do coronel Joe Dowdys desagradou seus superiores; Equilíbrio de missão x Homens; Nome de chamada do general: "caos".
Christopher Cooper, Repórter Adjunto do Wall Street Journal, 5 de abril de 2004.
Em duas semanas durante a guerra no Iraque, o coronel fuzileiro naval Joe D. Dowdy concluiu a manobra militar que coroou sua vida, atacando um grupo de elite de soldados iraquianos e, então, conduzindo 6 mil homens numa corrida de alta velocidade de 18 horas, rumo à Bagdá.
Mas nenhum louvor aguardava o comandante regimental da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais, enquanto ele adentrava na tenda de seu superior, major-general fuzileiro naval, James Mattis, em 4 de abril de 2003. Ao invés, o Cel Dowdy foi despido de seu comando, efetivamente, findando sua carreira de 24 anos nos Fuzileiros Navais. Num golpe final, o Cel Dowdy disse que o general solicitou-lhe que esvaziasse sua arma de porte, e entregasse sua munição. "Ele achou que eu ia me matar," disse o coronel.
Assumir um comando de campo de batalha é o ápice da carreira de um fuzileiro naval. Ser removido é quase o nadir, excedido, apenas, pela corte marcial. É extremamente raro para as modernas Forças Armadas dos EUA exonerar um comandante de ponta, especialmente, durante o combate. O Cel Dowdy, 47 anos, foi o único oficial superior, em qualquer das forças armadas, a ser demitido no Iraque. Ele disse que preferia ter tomado um tiro do inimigo.
A demissão do Cel Dowdy foi mais inusitada porque ele não cometeu qualquer um dos atos que, normalmente, precipitam tal atitude: falha em completar uma missão, desobediência à uma ordem direta, quebra das regras de guerra. "Foi uma decisão baseada no ritmo operacional", disse o tenente Eric Knapp, um porta-voz para a 1ª Divisão de Fuzileiros Navais. Ele não quis complementar.
A remoção do coronel detonou uma cobertura da imprensa e intensa especulação no Corpo de Fuzileiros Navais. As razões para a demissão não ficaram claras, principalmente devido ao coronel e seus superiores recusarem a falar sobre ela. Agora, entrevistas com o Cel Dowdy e um punhado de oficiais e praças mostram que o coronel foi condenado, em parte por uma antiga tensão de tempo de guerra: homens versus missão - na qual ele favoreceu seus homens.
O Maj-Gen Mattis e Cel Dowdy personificam tudo o que é celebrado na cultura do Corpo de Fuzileiros Navais. O Maj-Gen Mattis, 53 anos, é um "monge guerreiro", como alguns dos seus homens denominam isso, um celibatário por toda a vida, consumido com o estudo e a prática de táticas de batalha. O Cel Dowdy é amado pela atenção que ele presta a seus homens, dos "grunts" (Government Rejects Unfit to Training, ou "rejeitos governamentais, inadequados para treinamento", apelido dos combatentes da linha de frente) para cima.
As qualidades desses dois fuzileiros navais, eventualmente, os dilaceraram. O Maj-Gen Mattis, um fuzileiro naval durante trinta e três anos, via a velocidade como primordial no plano da Guerra do Iraque. O Cel Dowdy pensava que sacrificar tudo pela velocidade, arriscava o bem-estar de seus homens.
A disputa foi alimentada por suposições errôneas sobre como os iraquianos iriam lutar. O desejo por velocidade provinha da expectativa do Pentágono de uma feroz e arrastada batalha em Bagdá, com resistência bem menor em outras áreas. Mas acabou que Bagdá caiu facilmente, enquanto o interior do país continuou em ebulição com a resistência.
Hoje, enquanto forças dos EUA chocam-se com um inimigo que, claramente, subestimaram, os militares continuam a debater se acelerar o rumo à capital iraquiana foi o melhor caminho para tomar.
O Maj-Gen Mattis declinou de ser entrevistado para essa história. Seu chefe de estado-maior, coronel Joe Dunford, disse que uma decisão feita durante o combate é impossível de explicar agora. "É uma dessas coisas que, ao tentar colocar os pedaços de volta, não há modo de conseguir."
Sobre um prato de empanados de frango, próximo a sua casa em Carlsbad, Califórnia, o Cel Dowdy admite ter cometido erros. Mas não acredita que qualquer um deles tenha garantido sua remoção. Ele tem orgulho de que apenas um fuzileiro naval tenha morrido sob seu comando. "Ao menos, eu não tenho uma conta de carniceiro para pagar," ele disse.
A poeira cobria os 900 caminhões e tanques no regimento do Cel Dowdy, quando eles emergiam do deserto, em 22 de março de 2003. Há dois dias na guerra, o regimento foi dirigido rumo à Nasiriyah, um amontoado de favelas e instalações industriais onde os problemas do Cel Dowdy iriam começar. Desde que era um menino em Little Rock, Arkansas, o coronel sonhava por uma designação como essa. Comandante de 6 mil homens do 1º Regimento de Fuzileiros Navais por quase um ano antes da guerra começar, o Cel Dowdy era profundamente familiar com o plano para invadir o Iraque.
Com a cabeça raspada, e poderosa constituição, o Cel Dowdy parece o arquétipo do fuzileiro naval. Seus homens o louvam por tratá-los como iguais, apesar da organização estratificada dos Fuzileiros Navais. Afastando-se do costume, o Cel Dowdy, casado com três filhos, convidava praças tanto como oficiais para a festa de Natal em sua casa. Quando os Fuzileiros estavam acampados no Kuwait, preparando-se para a guerra, o Cel Dowdy declinou do uso de um ar condicionado, quando se tornou claro que apenas oficiais poderiam obtê-los, relembra o sargento-de-armas (Gunnery-Sergeant) Robert Kane.
"Como coronel, ele estava autorizado à certos privilégios, mas ele era o tipo de homem que, se seus navais não podiam ter algo, ele também não," disse o sargento Kane, que serviu sob o Cel Dowdy no Iraque e no Timor Oriental, em 1999.
Por vários relatos, o Cel Dowdy estava destinado a ganhar as estrelas de general após a guerra no Iraque. "Eu conheço pessoas, apoiadores, pares que pensavam que Joe Dowdy podia caminhar sobre a água," disse Anthony Zinni, um general fuzileiro de quatro-estrelas. Quando o Cel Dowdy serviu sob ele, "era o melhor tenente que eu tinha," disse o Gen Zinni.
Igual a muitos no seu regimento, o Cel Dowdy carecia de extensiva experiência de batalha. Em 1983, ele viu ação limitada em Beirute, onde 241 fuzileiros foram mortos num atentado suicida. Ele serviu na Somália em 1993 e 1994, onde os Fuzileiros Navais foram a vanguarda do que se tornou uma sangrenta missão humanitária.
O Maj-Gen Mattis mapeou o amplo plano dos Fuzileiros para o Iraque, que muitos analistas de defesa consideravam taticamente brilhante. Dois regimentos de 6 mil homens cada, da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais iriam rumar para Bagdá. O regimento do Cel Dowdy iria se encaminhar para a cidade de Kut - onde um contingente de 8 mil dos melhores homens da Guarda Republicana de Saddam Hussein estavam entrincheirados.
Foi presumido que os iraquianos tinham armas químicas, portanto o plano foi evitar engajá-los diretamente. A unidade do Cel Dowdy devia agir como isca, desviando a atenção dos soldados de Hussein e permitindo aos outros regimentos americanos investi-los a partir do noroeste, através de uma brecha nas defesas iraquianas para alcançar Bagdá. A rota do Cel Dowdy iria levá-lo através da cidade de Nasiriyah. Outra unidade de fuzileiros navais, chamada Força-Tarefa Tarawa, foi encarregada de manter a ordem ali. Funcionários do Pentágono presumiam que a cidade iria oferecer pouca resistência pois havia sido longamente oprimida por Hussein. Essa suposição se mostraria errada.
O plano começou a se complicar em Nasiriyah. Quando o Cel Dowdy e seus homens chegaram nos limites da cidade, eles encontraram sua passagem bloqueada por uma maciça troca de tiros. Os boatos começaram a circular de que a Força-Tarefa Tarawa havia sofrido baixas, incluindo 18 mortos. Somando-se à confusão estava uma unidade de suprimentos do Exército americano, que havia entrado por engano, em Nasiriyah. Vários soldados dessa unidade foram mortos. Outros, incluindo a praça de 1ª classe Jessica Lynch, haviam sido feitos prisioneiros. Fora da cidade, o Cel Dowdy e seu estado-maior debatiam sobre o que fazer. Várias centenas de caminhões do trem de transportes do Cel Dowdy careciam de blindagem, e comprimí-las através de uma feroz zona de batalha poderia ser complicado, especialmente através das ruas estreitas de Nasiriyah.
Um contorno de 300 quilômetros em volta de Nasiriyah não parecia plausível. O Cel Dowdy não estava certo de ter bastante combustível e não sabia que tipo de resistência poderia enfrentar. O 1º Regimento estava paralisado.
O alto era anátema para o Maj-Gen Mathis, um devoto de uma moderna doutrina militar conhecida como "guerra de manobras". Embora os Fuzileiros Navais tenham praticado a técnica por anos, a Guerra do Iraque foi o primeiro teste em larga escala. Em vez de seguir rígidos planos de batalha e atacar frentes bem-definidas, essa tática demanda forças menores para se moverem rapidamente sobre as zonas de combate, explorando oportunidades e semeando confusão entre o inimigo. A técnica é resumida no nome-códido radiofônico do Maj-Gen Mattis: "Caos".
O Maj-Gen Mattis havia lutado no Iraque antes, na primeira Guerra do Golfo. Após isso, ele comandou o 7º Regimento de Fuzileiros Navais da 1ª Divisão, conhecido como uma das unidades dos Fuzileiros mais preparadas para combate. "Eu o seguiria novamente," disse o sargento-de-armas Kane, que lutou sob o Maj-Gen Mattis no Afeganistão. "Sua vida inteira é o Corpo."
Pequeno em estatura e feroz no comportamento, o Maj-Gen Mattis aumentou sua reputação no Afeganistão, onde seus homens capturaram uma pista de pouco fora de Kandahar (*). A ousada incursão isolou o coração da resistência Taliban. "Os Fuzileiros desembarcaram e agora nós temos nosso próprio pedaço do Afeganistão," o Maj-Gen Mattis contou aos repórteres, apenas uns poucos meses após o 11 de setembro de 2001. O Pentágono tratou de repudiar essa declaração, mas os Fuzileiros a adoraram.
Para alguns nas Forças Armadas, a Guerra do Iraque prometia ser o teste perfeito da guerra de manobras. Na época, os EUA achavam que a luta mais feroz iria começar próximo a Bagdá, e iria envolver uma arrastada luta de rua com uso de armas químicas. Velocidade era tudo. A jornada de 2 mil quilômetros para Bagdá, muitos imaginavam, seria apenas um aquecimento.
Detido fora de Nasiriyah, o Cel Dowdy disse que não ficou surpreso quando o principal ajudante do Maj-Gen Mattis, o brigadeiro-general John Kelly, apareceu. Os dois ficaram conversando sobre a ponte fora da cidade, observando a luta. O Brig-Gen Kelly, 53 anos, que era fuzileiro naval há trinta e três anos, havia servido, principalmente, em postos acadêmicos e administrativos. "Eu pensei que sabia o que era a guerra," ele disse. "É difícil imaginar se você não esteve lá."
O regimento do Cel Dowdy já estava paralisado em Nasiriyah há mais de 24 horas. Em retrospecto, ele disse que deveria ter sido mais decisivo em mover-se através da cidade.
Uma das regras cardeais da guerra de manobra estipula que os generais devem permitir aos comandantes em campanha, tais como o Cel Dowdy, tomar decisões táticas. O Brig-Gen Kelly disse que nunca ordenou ao Cel Dowd para se mover através de Nasiriyah e nunca ameaçou removê-lo de seu posto. Mas o tenente-coronel Pete Owen, chefe de estado-maior do Cel Dowdy, tinha uma lembrança diferente. "Quando nós ficamos detidos fora de Nasiriyah, o general Kelly veio até mim, e disse, "se o Cel Dowdy não colocar sua coluna em movimento, vou removê-lo.'"
Tarde da noite, o Cel Dowdy decidiu se mover. Ele deu ao comandante de batalhão, tenente-coronel Lew Craparottta, uma hora para resolver como formar um cordão de fuzileiros que iriam escudar o regimento enquanto ele passava através da cidade. O Ten-Cel Craparotta não estava contente. "Eu não acho que, da próxima vez, eu queira planejar alguma coisa no capô do meu "Humvee", em plena escuridão," ele disse. O regimento deslocou-se, ruidosamente, através de Nasiriyah, passando por cascos enegrecidos de viaturas americanas e cadáveres de fuzileiros navais esperando para serem recuperados pela Força-Tarefa Tarawa. Foi uma visão, disse o Cel Dowdy, que iria permanecer com ele por toda a campanha.
Enquanto outros dois regimentos dirigiram-se rumo ao norte, sobre uma autoestrada de quatro pistas, o grupamento do Cel Dowdy rolava sobre uma estrada vicinal de duas pistas que corria através de dúzias de vilarejos, eriçados de forças inimigas. Um relato oficial dos Fuzileiros, registrou mais tarde, como "um troca de tiros em movimento através da lama da Mesopotâmia."
O regime do Iraque inundou a estrada com milhares de combatentes. Logo, os homens do Cel Dowdy estavam engajados em batalha. Uma tempestade de areia misturada com chuvas reduziu a quase zero, a visibilidade dos Fuzileiros. O regimento sofreu sua primeira baixa quando um rojão antitanque explodiu através da porta de um "Humvee" e decepou a mão de um capitão, de acordo com os homens que viram a cena.
Enquanto as balas voavam e o capitão era levado de helicóptero, o Cel Dowdy, há dois dias sem dormir, relaxava em seu "Humvee", com seu estado-maior em volta dele. Ele caiu no sono.
Nas guerras, comandantes caem no sono em encontros, no rádio, mesmo durante a troca de tiros. O Cel Dowdy cochilou por uns cinco minutos, disseram seus homens. Mas o momento não poderia ter sido pior. Nesse momento, o ajudante principal do major-general Mattis, o Brig-Gen Kelly, viu o coronel dormindo. Alguns dos homens do Cel Dowdy que estavam lá, crêem que isso criou uma impressão permanente.
O Brig-Gen Kelly declina de comentar sobre a remoção do Cel Dowdy, dizendo que tais coisas são "território sagrado" que apenas o Maj-Gen Mattis pode tratar. Em resposta a questões gerais sobre a guerra, ele disse que prioridade principal de um comandante de campo de batalha é "pôr tudo o mais de lado e focalizar a missão. Eu tenho visto uma porção de gente aprender isso do modo mais difícil."
Dois dias mais tarde, em 27 de março, o Exército dos Estados Unidos ordenou um alto indefinido para a guerra, a fim de permitir que as linhas de suprimento alcançassem os combatentes americanos. O regimento do Cel Dowdy estava acampado cerca de 100 quilômetros ao sudeste de Kut. Ele tinha feito seus homens capturarem um campo de pouso próximo para que os suprimentos pudessem ser aerotransportados. No dia seguinte, o Maj-Gen Mattis desembarcou para checar seus homens - e ficou enfurecido pelo que viu: uma pista de pouso esburacada e um capitão fuzileiro naval sentado num "bulldozer" lendo um documento. O capitão disse que não havia recebido ordens para consertar a pista de pouso.
Umas poucas horas mais tarde, o Cel Dowdy diz, ele ganhou um puxão de orelhas do Maj-Gen Mattis. Este lhe disse que deveria ter deixado claro que o trabalho de consertar a pista seria feito. O Cel Dowdy agora diz que devia ter atribuído uma ordem escrita (**). Ele pensou em dispensar o operador do "bulldozer" do seu comando, mas pensou melhor. "Se você demite todo mundo que comete um erro, em breve você ficará lá sozinho," ele disse.
Apesar do mau-passo, o Cel Dowdy estava recebendo louvores diários do estado-maior do Maj-Gen Mattis, de acordo com o coronel John Toolan, que foi o chefe de estado-maior do general. Relatórios da Inteligência sugerem que a captura do aeroporto havia atraído a atenção dos soldados da Guarda Republicana. Os iraquianos logo anunciaram sua presença, ao disparar projéteis de artilharia sobre o regimento do Cel Dowdy.
O ardil estava funcionando. Os outros regimentos de fuzileiros navais aceleraram sobre o flanco ocidental desguarnecido dos iraquianos, rumo à Bagdá, de acordo com o plano. Nesse ponto, podia se afirmar que o Cel Dowdy havia cumprido sua missão. O plano de guerra previa que ele se retirasse e fizesse um contorno em volta de Kut. O Brig-Gen Kelly reconhece que esse era o plano original.
Mas, após ver os aldeões na área acenando e saudando os Fuzileiros, o brigadeiro-general Kelly acreditava que o colapso inimigo era iminente. "Havia tão pouca resistência," ele disse. "Eu achei que eles, ou desertaram ou estavam enfiados tão fundo nas suas tocas que não queriam mais lutar." Em 1º de abril, o 5º Regimento de Fuzileiros Navais, tomou uma ponte próximo a Kut. Nesse ponto, o Brig-Gen Kelly disse, a antigamente temida Divisão Bagdá se tornou "irrelevante."
Num movimento inesperado, o Brig-Gen Kelly ordenou que o Cel Dowdy encabeçasse o avanço para Kut, com uma missão de "objetivo limitado." Uma vez que lá estivesse, o Cel Dowdy decidiria se o regimento deveria avançar através da cidade, o que economizaria várias horas em tempo de deslocamento.
O Cel Dowdy não achava que pressionar através de Kut seria sábio. Isso seria uma rota mais rápida para Bagdá, mas ele pensava que seria perigoso. Seus homens haviam visto "foxholes" fortificados, edifícios com sacos de areia, minas ao longo das estradas e vários milhares de combatentes iraquianos. Com suas pontes estreitas e emaranhado urbano, Kut parecia ainda mais perigosa que Nasiriyah. Seria a economia de umas poucas horas digna do risco?
"Na guerra, você tem demandas concorrentes entre homens e a missão," diz o Cel Dowdy. "O que deve prevalecer? Não há resposta fácil." Seus superiores confirmam que ele não recebeu ordens para levar seu regimento através da cidade. Mas um agressivo fuzileiro naval deveria ter escolhido penetrar, para atingir Bagdá mais rápido.
Os generais do Corpo de Fuzileiros Navais estavam cada vez mais impacientes. O Exército já havia alcançado os arredores de Bagdá. Na manhã de 3 de abril, o décimo-quinto dia da guerra, o Brig-Gen Kelly chamou o Cel Dowdy para dizer que queria ver o assalto sobre Kut começando imediatamente. O Cel Dowdy disse que estava aguardando mais munição e checando um relatório de que a estrada para Kut estava minada.
O Brig-Gen Kelly estava furioso, de acordo com o Cel Dowdy. "Estas não são considerações, são desculpas," o Cel Dowdy relembra as palavras do general. Ele disse que o general continuou: "Por quê você não está rumando através de Kut, nesse momento? Quer saber? Vou recomendar que você seja exonerado do comando. Talvez o general Mattis não faça isso. Talvez ele decida que pode continuar com um regimento que não vale merda nenhuma. Mas é isso que vou recomendar."
O Brig-Gen Kelly disse que não lembra dessa conversa específica. Ele disse que apreciou o risco de vida potencial que uma ruptura através de Kut iria representar. Num e-mail recente do Iraque, onde ele está servindo uma segunda temporada, ele escreveu, "A escolha entre missão e homens... nunca é entre um ou o outro, mas sempre um equilíbrio."
Dentro de uma hora ou tanto, Cel Dowdy e dois de seus batalhões moveram-se para Kut. Imediatamente, eles encontraram resistência, com combatentes saindo das portas e vielas. "Minha metralhadora estava enlouquecida," disse o suboficial (Warrant Officer) Thomas Parks, um atirador deslocando-se na dianteira.
Os batalhões se detiveram diante de um tanque iraquiano, que o atirador Parks atingiu com um rojão, provocando fogo de resposta de um barraco de dois andares, alinhado com a estrada. A porta do "Humvee" do atirador Parks, foi arrancada de suas dobradiças, enquanto projéteis enchiam a porta da viatura do Cel Dowdy, de acordo com os dois homens. Momentos mais tarde o atirador Parks deu uma olhada e viu o Cel Dowdy correndo para uma família de civis iraquianos. O coronel recolheu duas crianças e enfiou a família numa cratera de bombas, como cobertura, disse o atirador Parks. Um combatente iraquiano movendo-se por uma viela, apontou uma metralhadora contra o Cel Dowdy. O atirador Parks o baleou na cabeça. "Isso me exigiu três tentativas," ele disse.
A decisão de pressionar ou não, através de Kut era, no fim, do Cel Dowdy. Mas nas horas antes e durante a luta, ele e seu estado-maior dizem ter recebido orientações conflitantes. No telefone de campanha, o Brig-Gen Kelly estava dizendo para pressionar através de Kut. Mas no rádio, o comando da divisão estava solicitando uma retirada. "Havia uma porção de confusão," disse o Cel Dowdy. "Vão. Não vão." O Brig-Gen Kelly concorda que havia discussão sobre o que o regimento devia fazer.
Portanto, o Coronel Dowdy tomou uma decisão crucial: ele decidiu não ir através da cidade. Alcançar Bagdá mais cedo não valia o risco, ele disse. "Nesse ponto, talvez você seja condenado se você vai e condenado se você não vai," disse o sargento-mor Gregory Leal, o praça mais graduado no regimento do Cel Dowdy. "Não há livro nenhum que diga, 'É assim que você liberta e ocupa um país.' "
Ao pôr-do-sol, o 1º Regimento de Fuzileiros Navais começou a se mover para uma área de estacionamento com o resto da divisão através de um contorno de 350 quilômetros em volta de Kut. Os homens do Cel Dowdy haviam recolhido 30 prisioneiros e, o coronel disse, "eu sentia vontade de levá-los para a divisão e dizer, 'olha, seus babacas, nós enfrentamos resistência e aqui está a prova.' "
Faróis dianteiros ligados e atraindo fogo intermitente de camponeses iraquianos, o regimento cobriu os quilômetros em cerca da metade das 36 horas que se supôs que levariam. Em 4 de abril de 2003, o regimento rolou para Numaniyah, onde os Fuzileiros Navais tinham planejado se reunir. O regimento havia completado sua missão com amplo tempo para se juntar ao assalto sobre Bagdá.
Porém, a carreira do Coronel Dowdy estava morta.
Um helicóptero aguardava quando o Cel Dowdy chegou a Numaniyah. O Cel Dowdy e o sargento-mor Leal embarcararm. O major-general Mattis havia pedido para vê-los. Eles voaram até o acampamento do general, cerca de 100 quilômetros de distância.
Quando chegaram, o sargento Leal disse que o Maj-Gen Mattis o levou para um lado. "Como seu chefe está se saindo?" o sargento-mor relembra dele perguntar. "Eu respondi, 'ele está se saindo bem, senhor.' " Então, de acordo com o sargento Leal, o general o cortou, bruscamente: "Vocês não estão engajados o bastante. Vocês tinham quatro batalhões e vocês não estão insistindo com o ataque.' "
"Eu disse para o general não demití-lo," relembra o sargento Leal. "Eu disse, 'diga-me o que nós precisamos fazer e nós faremos.' "
Os homens sob o comando do major-general Mattis dizem que ele toma decisões rapidamente e nunca olha para trás. O sargento-mor Leal disse que acreditava que o Maj-Gen Mattis já tinha tomado sua decisão.
Granadas de artilharia rugiam por sobre as cabeças e os tanques e caminhões do 5º Regimento de Fuzileiros Navais avançavam barulhentamente, passando pelo Cel Dowdy, enquanto ele abria caminho para a tenda do Maj-Gen Mattis. Lá dentro, o coronel sentou encarando os generais Mattis e Kelly enquanto um ordenança servia chá quente. O coronel diz que sabia no seu íntimo que estava perto de ser demitido. "Era como se eu estivesse em algum lugar onde nunca havia estado," ele relembra. "Estou falhando miseravelmente e não sei como e porquê."
Ele disse que o Maj-Gen Mattis começou com um tom simpático: "vamos dar a você algum descanso." O general Mattis trouxe de volta o incidente do "bulldozer". Então, de acordo com o Cel Dowdy, o general disse que o coronel se preocupava demais com a resistência inimiga e observou sua falta de experiência de batalha.
O Cel Dowdy disse que respondeu: "eu estive lutando para abrir caminho por esta estrada fodida nas últimas duas semanas." Ele relembra de apelar ao general Mattis para reconsiderar. "Pense na minha família, na minha unidade," ele relembra de dizer.
Mas isso não aconteceria. Quando o general Mattis requisitou sua munição, o Cel Dowdy, lhe assegurou que ainda considerava a si próprio como um integrante dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. O general abrandou-se. Em breve, o Cel Dowdy pegou um helicóptero para o Kuwait. Ele chamou sua esposa Priscilla. Ela já havia visto as novas na CNN.
As novas de sua demissão rapidamente percorreram o caminho até seus homens. Fuzileiros que estavam lá disseram que houve conversas esparsas sobre motim. "Eu queria ir com ele," disse o sargento-de-armas Kane. "Uma porção de sujeitos, sentiam o mesmo. Se o Cel Dowdy dissesse, 'peguem suas coisas, vocês vem comigo,' eu iria, mesmo se significasse o fim da minha carreira."
Nos dias que se seguiram, as publicações da imprensa e os "chat rooms" dos Fuzileiros Navais na Internet especularam sobre a remoção do coronel. Um dia ou mais, após sua demissão, o Cel Dowdy escreveu uma carta que foi postada num "web site" que congrega familiares da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais.
"Como todos estão cientes... eu não sou mais um membro do Regimento," a carta dizia. "Que fique claro, ninguém, exceto eu, é responsável por minha realocação. Priscilla e eu permanecemos leais ao Corpo de Fuzileiros Navais, à nossa Divisão e à seus muito capazes líderes." O Coronel Toolan, chefe de estado-maior do major-general Mattis, assumiu o comando. O regimento entrou em Bagdá, se estabelecendo numa favela antes conhecida como Saddam City.
Umas poucas semanas mais tarde, o Cel Dowdy encontrou o suboficial Parks, que estava voltando para os EUA, como a maioria da 1ª Divisão. O coronel arranjou para que seu subordinado conseguisse roupas civis e assim, pudesse pegar um vôo comercial e encontrar a esposa em Nova Iorque. "Ele chamou o comandante e disse, 'tenho um herói voltando, tome conta dele,' " o suboficial Parks relata. "Então ele ficou um pouco emocionado, eu fiquei um pouco emocionado, embarquei no helicóptero e saí."
O Cel Dowdy diz que não sentiu prazer algum na sua próxima designação, como chefe de pessoal na Estação Aérea dos Fuzileiros Navais, em Miramar, Califórnia. Em junho, a 1ª Divisão concedeu-lhe uma avaliação de desempenho. Ela o culpava por "estar fatigado além do normal" e "por não empregar o regimento até seu pleno potencial combativo," ele disse, citando o documento. Também estava escrito que ele estava "excessivamente preocupado com o bem-estar" de seus fuzileiros navais, de acordo com o Cel Dowdy. Por política, os Fuzileiros Navais não comentam sobre suas avaliações de desempenho.
Em novembro último, pela primeira vez em vinte e cinco anos, o Cel Dowdy e sua esposa evitaram o Baile do Corpo de Fuzileiros Navais. A 1ª Divisão retornou ao Iraque nessa primavera. O Cel Dowdy recebeu permissão para se reformar mais cedo, e deixou os Fuzileiros no mês passado. "Eu acho que eles, provavelmente, não sabiam o que fazer comigo," disse.
A questão da velocidade no Iraque permanece em debate. No último outono, o Colégio de Guerra do Exército, uma escola financiada pelo Pentágono onde oficiais analisam táticas, liberou um estudo dizendo que há poucas evidências de que a velocidade tenha afetado o resultado da guerra. A dura resistência fora de Bagdá sugere que as forças dos EUA teriam feito melhor movendo-se a um passo mais cadenciado, entrando em mais cidades, desentocando combatentes e deixando mais tropas nas províncias para reforçar a ordem, diz o relatório.
Entretanto, em outro estudo ainda por ser completado, o Centro Conjunto para Lições Aprendidas das Forças Armadas diz que a velocidade foi parte integral dos sucessos militares dos EUA no Iraque. Num discurso em fevereiro, o Almirante E.P. Giambastiani, comandante das Forças Conjuntas, disse que a velocidade "reduz os ciclos de decisão e execução, cria oportunidades, nega opções ao inimigo e acelera seu colapso."
O general reformado Zinni diz que, para o Cel Dowdy, a questão é acadêmica. "O chefe é o chefe," ele diz. "Se o general Mattis sente que você precisa se mover mais rápido, então você se move mais rápido." Ainda assim, ele diz que a demissão do Cel Dowdy irá atormentar o Maj-Gen Mattis também. "Isso não irá somar ao brilho de Jim Mattis."
O sargento-mor Leal, agora estacionado no Texas, freqüentemente fala ao coronel Dowdy que sua reputação irá ser limpa, um dia. "Eu acho que ele sempre será conhecido como o sujeito que escolheu os homens sobre a missão," diz o sargento Leal. "Se é assim que ele irá ser lembrado, tudo bem."
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(*) Mas eu já li que foi o Exército americano quem tomou a pista de pouso. E que os fuzileiros só tiveram o trabalho de desembarcar nela, roubando os méritos dos soldados. Mais um exemplo das "fofoquinhas" inter-armas dos americanos...
(**) Uai! Sendo os U.S. Marines tão badalados, um pobre paisano como eu iria esperar um pouco mais de iniciativa individual de gente que é profissional do ramo. O cara era um capitão, não um recruta. Estava sentado em cima do trator, com uma porção de buracos na sua frente. Era mesmo necessário alguém esfregar no focinho dele, um pergaminho, dizendo: "Em nome do Presidente Bush Baby, eu ordeno que use o seu trator e tape todos os buracos"?