Marcelo Ponciano escreveu: Dom Dez 10, 2023 10:25 pm
O que a corte internacional decidiu foi um pedido de liminar, nele a Guiana pleiteava que a Haia deveria proibir o referendo. Haia não acolheu o pedido de proibição do referendo, apenas determinou que a Venezuela não deveria tomar nenhuma atitude direta sobre a anexação até que o a causa seja julgada. Portanto, não foi uma vitória da Guiana como a mídia propagou, foi um acolhimento parcial bem menor do que o postulado pela Guiana.
A única "vitória" da Guiana, por assim dizer, na corte foi ela se declarar competente para julgar o caso. A Venezuela argumentava que Haia não detém competência jurídica para decidir a questão (competência, no direito, é aquele que detém o poder para decidir algo), pois a Venezuela queria uma negociação bilateral. Mas em 2017 a Corte de Haia entendeu que detém sim poder (competência) para julgar a causa,
julgamento que ainda não ocorreu.
Mas veja que, se a Guiana aceitar negociações bilaterais diretas, e algo efetivamente for decidido, tecnicamente a única vitória da Guiana em Haia vai por água abaixo. E não tem motivo para a Guiana sentar na mesa de negociações bilaterais se não estiver disposta a ceder algo. Se a intenção for insistir no julgamento em Haia eles não precisam de uma reunião bilateral para isso, é só continuar de braços cruzados.
Por fim, sobre o "Uti Possidetis" ser usado contra nós, para que isso seja possível primeiro aquele que o reclama tem que ser um país soberano. Se um país soberano ocupar território brasileiro com indivíduos étnicos é possível sim a aplicação do "Uti Possidetis". É por isso que desde a década de 50 todos os governos brasileiros intensificaram a interiorização da população brasileira. Parte dessa estratégia envolveu a construção de Brasília, a construção da Belém-Brasília (conjunto de BRs que ligam Brasília a Belém) e a BR 040, que liga Brasília ao Rio de Janeiro passa do por Minas Gerais. Bem como tantos outros planos de ocupação da Amazônia desenvolvidos nos governos militares. Você não pode usar o "Uti Possidetis" para criar um país que ainda não existe. E se a região estiver ocupada por brasileiros, nenhum país terá êxito em usá-lo contra nós. Essa é a estratégia desde então.
A Guiana com certeza não irá sentar-se com a Venezuela para tomar decisões bilaterais, pois sabe que não tem força para colocar na mesa suas próprias convicções e impô-las como medida de referência.
Com relação ao Utis Possidetis, qualquer um lá fora que esteja interessado em arrumar uma confusão aqui para controlar um pedaço da região pode utilizar este argumento simplesmente apontando o dedo para as populações indígenas, que não seriam, convenientemente, consideradas brasileiros, mas, etnias diferentes dentro da sociedade brasileira, e que, por estarem aqui muito antes de qualquer europeu, tem mais direito à terra do que qualquer um que chegou depois.
É um argumento pífio e cheio de contradições, além de errôneo e subjetivo, o que pode denotar interpretações as mais variadas e convenientes que se queria dar a ele. E isso já foi argumentado antes contra nós, pelo menos desde os anos 1990. E bem mais de uma vez.
Ademais, brasileiros na região norte é o que menos se encontra nas áreas de fronteira, e longe das grandes capitais. A densidade demográfica aqui é ladeira abaixo desde sempre, e todas as ações de povoamento que se fez aqui desde a colonização tiveram respostas parciais e intempestivas. Notar, a maioria da população nas fronteiras é formada justamente por reservas indígenas demarcadas e\ou áreas de proteção ambiental e parques de preservação.
A última tentativa de povoamento da região norte foi feita nos anos 1970\1980 com o projeto calha norte e os PEF, que deu em nada, como havia de se esperar. O programa até hoje existe, mas ninguém sequer lembra dele e muito menos sabe para o que serve, mas o EB faz questão de manter ele lá, mesmo com resultados pífios e orçamentos mais que limitados.
Como na matéria postada aqui sobre a invasão do estado de Roraima, é simples entrar naquele estado e fazer o que tiver que fazer cortando as raríssimas linhas de comunicação que se tem. E o EB está se lixando para isso, visto que mantém na verdade apenas o 7o BIS ali, e ainda assim uma OM até outro dia de tipo II, ou seja, se nem os militares tratam com seriedade as HE que eles mesmos inventam na cabeça, imagine-se lá fora o pessoal vendo tudo isso que está acontecendo agora e pensando... essa gente é muito lesa mesmo.
Aliás, eu iria um pouco mais longe do que o proposto pelo autor do texto. Ainda que contando com apenas metade da frota de Su-30 e F-16, seria mais que suficiente e possível à FAV elaborar um plano para destruir todas as pistas das bases áreas de Manaus, Belém, Boa Vista, além das pistas em São Gabriel da Cachoeira e Barcelos, e até Tefé, onde ficam os BIS mais perto das suas fronteiras com o Brasil. As pistas de Santarém e Macapá também estão ao alcance da aviação de caça venezuelana. Juntos com as pontes indicadas, eles podem muito bem fazer ataques sem aviso a todas estas localidades, e deixar o EB e a FAB sem conseguir chegar perto do TO da Guiana, e ter mais tempo, inclusive, para alocar mais tropas para aquele país via território brasileiro. E não temos absolutamente nada aqui para nos defender de algo assim, simplesmente porque alguém em Brasília acha que guerra é problema dos outros e que isso não acontece aqui, a começar pelos próprios militares, que deixaram a região ao léu há décadas.
Fazer o que se Defesa no Brasil não é assunto sério nem para as ffaa's.