EDSON escreveu: Você sabe de alguma estimativa quanto ao número de forças rebeldes combinadas contra o governo Sírio, Edson? E uma estimativa das forças totais deste?
Isto varia segundo a fonte mais as frentes reunidas variam de 50.000 a 100.000 .
Pergunto isso pois, embora Assad lute contra mais grupos rebeldes, não sei quão grande é o número de forças paramilitares que o apoiam. Tenho a impressão de que o total de Hezbollah, NDF, milícias xiitas estrangeiras, IRGC, etc...é maior na Síria do que o número de forças paramilitares que apoiam o governo do Iraque.
Sim as milicias que apoiam Assad são maiores que as do Iraque.
Por fim, aparentemente a preocupação principal do ISIS na Síria são os Curdos. Assad sempre foi de interesse secundário para este grupo terrorista. Mas não tenho números para saber quantas forças o ISIS tem mobilizado contra Assad, se comparada às que possui contra os Curdos (na Síria e Iraque) e contra o governo Iraquiano.
O ISIS segundo alguns possui 30.000 combatentes em todas as frentes mas são fontes que não podem ser confirmadas.
Gostaria de saber o quão verdade é a afirmação 'As forças iraquianas estão mais eficazes em combate'. Estão ganhando em Mossul, mas a força reunida é imensa, muito maior do que os Sírios reuniram em Alepo. As vitórias delas são meramente devido à vantagem numérica? Quão grande é essa vantagem, se comparada com a vantagem (ou desvantagem) numérica de Assad e seus adversários?
Eficacia pode ser variável mas as forças regulares iraquianas só puderam reverter as derrotas anteriores quando as milícias Xiitas entraram em ação sem isto o exército Iraquiano não conseguiria reverter os ganhos do ISIS. O principal grupo é o Katab Hezbollah iraquiano que conseguiu reunir 100.000 voluntários mobilizáveis mas nem todos é claro estão na linha de frente.
Quão correto seria afirmar que os Sírios estão menos eficientes em combate? Após a tomada de Alepo, eu esperava ao menos uma estabilização das linhas de frente contra o ISIS, e não um recuo.
O ISIS surpreendeu ao iniciar uma ofensiva quando as principais forças sírias estavam envolvidas no norte em Alepo e forças estas que tiveram uma cota considerável de baixas.
Não me parece que as ofensivas contra o ISIS no Iraque expliquem esse recuo. Estas ofensivas enfraquecem esse grupo. A quantidade de militantes que ele é capaz de transferir é limitada nestas condições. Fora que boa parte das transferências nas ofensivas contra T4, Palmyra e Deir Ez Zour vieram de Raqqa (sob ataque dos curdos) e Al Bab (sob ataque dos FSA/Turcos), que são forças do ISIS que já estavam na Síria e estão sob pressão. Uma outra parte veio de Anbar, no Iraque.
A que considerar que o fluxo de combatentes para o ISIS vindo do deserto arábico nunca sessou.
Por que, mesmo após a tomada de Alepo, Assad está tendo problemas para manter suas linhas contra o ISIS? Como estão as forças Sírias, se comparadas às Iraquianas? Acho que dá pra debater muita coisa. Não sei as respostas.
As forças iraquianas estão sendo recuperadas dia a dia pois sempre recebem material bélico e tem algum recurso para financiar armamamento mas o Exército sírio depende agora muito do "expresso sírio" e veremos agora se com a criação do 5º Corpo de Exército as forças de Assad conseguem recuperar terreno em Palmira. A Situação em Der er Zoer só pode ser mantida pelos os combatentes que la estão e algum reforço via helicóptero e isto terá que ser o suficiente pois certamente mais nada poderá ser feito.
O Exército Sírio até agora foi mais eficaz pois todos os grupos jihadistas tiveram apoio de forças estrangeiras com muito dinheiro empregado mas por algum milagre as forças sírias não foram derrotas completamente se fosse em outros países uns meses e tudo teria ruído.
Obrigado pela resposta, Edson.
Só queria aproveitar para fazer comentários. Embora concorde que as forças opositoras ao regime recebam apoio de potências estrangeiras, também é verdade que o exército Sírio só não caiu pois a Síria recebeu, também, um apoio crucial de outros países. Sem Irã, Rússia e Hezbollah, Assad já teria sido derrotado. O mesmo vale para o Iraque, sem apoio dos EUA e do Irã.
Apesar dos adversários de Assad serem numerosos, a Síria possui uma grande vantagem em equipamento pesado e monopólio de poder aéreo. Mas, ao que tudo indica, usou essas vantagens muito mal. São inúmeros os relatos de forças blindadas sem apoio de infantaria, sendo dizimadas por armamento anti-tanque. Blindados em posições estáticas e alvos fáceis para insurgentes (Assad perdeu milhares de blindados no conflito, uma boa parte deles por erros básicos de coordenação com infantaria). O poder aéreo ficou, em grande parte, restrito a bombardeios punitivos e de pouca eficácia militar.
Por exemplo, este relato:
But as the SyAAF remains largely unable to respond to actual developments, and often only joins the fray after the battle on the ground has been fought, better coordination between regime forces on the ground and SyAAF aircraft and helicopters in the sky is required to fully optimise the assests available at T4. Furthermore, the desperate revenge strikes flown by the SyAAF on recently lost towns could be stopped to spare not only the life of the many innocent civilians killed during these sorties, but also the precious airframes used in these useless sorties, with the wasted flight-hours instead allocated to supporting the regime's ground forces.
For example, only one symbolic sortie from T4 was flown in aid of the defenders of Hulayhilah, while the defenders of al-Sukhna, al-Hail, Arak and the numerous other towns and gasfields recently captured by the fighters of the Islamic State received no aerial support whatsoever. The SyAAF also largely stood by when Tadmur was captured, only flying some aimless sorties to boost moral of the regime forces on the ground. The town was heavily hit only after it was captured by the Islamic State, with the ordnance used randomly dropped on residential areas.
Fonte:
http://spioenkop.blogspot.com.br/2015/0 ... t-war.html
As forças sírias foram, ainda antes da guerra, infestadas por corrupção e clientelismo, o que afetava a sua eficiência. A seguir mostro uns trechos interessantes de uma referência que afirma que, um dos motivos de Assad ter sobrevivido em certos lugares, se deve a sua rede de clientelismo com elites locais:
The army’s ability to hold territory vital to the regime of Syrian President Bashar al-Assad is the result of an unexpected paradox: the factors that had eviscerated its fighting ability in peacetime have become its main strength during the war. In particular, the army’s networks of patronage and nepotism, which predate the war, have morphed into a parallel chain of command that strengthens the regime. By withdrawing the army from select front lines, the regime has managed to bolster its social, political, and local community base after outsourcing its infantry needs to ad hoc militias. The parallel chain of command has enabled the regime to adapt its strategy to reflect the conflict’s quickly changing dynamics, secure its authority over loyalist paramilitary forces, and entrench itself in key territories.
(...)
Although exemplary administrative work could in theory assist an officer’s advancement, nepotism and clientelism have traditionally been the main factors in promotions, particularly among the middle and upper echelons.6 Rising above the rank of colonel was simply impossible without the necessary connections. One former conscript, assigned to the mapping unit of his army division in 2002, recalled having to carry out the most basic professional tasks for his colonel supervisor who lacked even the most elementary cartography skills. This particular colonel, who had family connections in the security services, became a brigadier general in 2005 and was later tasked with commanding a brigade in Daraa in 2012.
Fonte: http://carnegie-mec.org/2016/03/14/stre ... -pub-62968
Já na referência abaixo, há menções sobre a estrutura de clientelismo que o regime de Assad montou com as elites locais, para manter a ordem nas províncias. Com a destruição destas redes em certos lugares (a matéria analisa o caso de Idlib), a volta do status quo a estas regiões, após sua retomada, seria dramaticamente difícil.
Even if Assad could muster the forces necessary to retake Idlib City, his Damascus government now lacks the administrative and repressive props that it relied on during nearly five decades of Baath Party rule and the first four years of civil war. After more than a year of Sunni Islamist control, who would the army hand power to? Where are the trusted supporters that can re-staff and restore the bureaucracy, Baath Party organs, and municipal functions on which government control in Idlib depended? Who would monitor the population, now that the security offices have been ransacked and the informers revealed? Who would step forth to be the new Jamal Suleiman?
(...)
In all these regions, the grassroots machinery of Assad’s Syria has been smashed to pieces and will have to be rebuilt virtually from scratch if the Baathist regime, in its current and centralized form, is ever to return there. For a government so exhausted in terms of manpower, resources, support, and legitimacy, reconstructing a solid system of governance across the entirety of today’s Syria now seems virtually impossible. And perhaps most troublingly, no other actor will find it any easier.
Fonte:
https://tcf.org/content/report/assads-b ... ase-idlib/
Dito tudo isto: Praticamente tudo o que eu disse quanto a corrupção, incompetência e clientelismo nas forças Sírias, se aplica igualmente bem ao Iraque. Talvez lá o problema seja um pouco menor, pois os xiitas são a maioria.
Quanto a participação de milícias xiitas no Iraque: Concordo que foram vitais para evitar a queda do regime em Bagdá. Mas em termos de ações ofensivas, parecem ter se restringido às batalhas pela refinaria de Baiji e a conquista de Tikrit. Nas demais áreas, dominadas por sunitas, estas forças paramilitares parecem ter um papel de apoio, ao invés de tomar a carga do combate. Ramadi, Fallujah e Mossul foram/estão, em grande parte, sendo conquistadas por forças regulares, em particular as forças de elite CTS.
As forças regulares iraquianas que não são de elite, por outro lado, tiveram a todo momento um desempenho vergonhoso, como pôde ser verificado recentemente, no massacre que o ISIS impôs a elas no hospital Al Salam em Mossul. Foram dizimadas, e tiveram que ser resgatadas por forças especiais (
https://www.washingtonpost.com/world/mi ... 555fa46ee4 ).
Abraços
César