Do Áreamilitar
Argentina envia sinais ao Brasil…
Ministra argentina da defesa, relembra capacidade nuclear do país
07.06.2010
A ministra argentina da defesa, Nilda Garre, deu a entender recentemente numa entrevista à comunicação social daquele país sul americano, que a Argentina não descarta a possibilidade de vir a possuir submarinos movidos a energia nuclear.
As declarações da ministra argentina têm atraído alguma atenção dos analistas internacionais que acompanham a questão das relações entre Brasil e Argentina, nomeadamente no campo da energia nuclear.
A crescente importância do Brasil em termos mundiais e a sua ascensão como potência de grande dimensão, veio colocar os argentinos perante uma realidade que desde a saída do poder da junta militar [1] tem vindo a ser esquecida, a da decadência da capacidade militar daquele país.
A capacidade militar das forças armadas argentinas, tem vindo a decrescer consideravelmente nas últimas décadas, quando há 20 anos atrás a força podia ser considerada a mais poderosa e melhor equipada do continente.
A diferença entre Brasil e Argentina tem-se acentuado, à medida que o PIB brasileiro aumenta. O Brasil possui uma população que já ultrapassou os 200 milhões de habitantes, ou seja, cinco vezes mais que a população da Argentina [2].
A diferença tende a aumentar, mas o desconforto dos argentinos inevitavelmente acaba por ser notado nos fóruns internacionais.
A recente política nuclear do Brasil, que após decisão do presidente Lula da Silva, resolveu continuar com o programa nuclear militar da marinha, destinado a construir um reactor atómico para ser utilizado a bordo de submarinos tem sido visto crescente com desconfiança internacional.
O Brasil assinou vários convénios internacionais com a Argentina e é signatário do tratado de não proliferação de armas nucleares, mas mantém ainda assim um programa nuclear com ligações aos militares.
A Argentina, por seu lado, que como o Brasil também manteve um programa militar com o objectivo de construir uma arma atómica cancelou completamente os seus desenvolvimentos na área.
As declarações da ministra argentina da defesa não foram no sentido de afirmar que o país das pampas prosseguiria um qualquer plano nuclear destinado a produzir um reactor nuclear para utilização a bordo de submarinos, mas não descartou a possibilidade.
Vários analistas e especialistas na área da energia atómica afirmam que o programa nuclear argentino, que começou muito antes do brasileiro (podendo ser considerado mais avançado), não foi no entanto dirigido ao objectivo principal de criar um reactor nuclear de pequenas dimensões que possa ser utilizado a bordo de um submarino.
Isto implica que neste campo, a Argentina poderá não ter capacidade para acompanhar o Brasil numa eventual corrida. As declarações da ministra argentina no entanto, são um clássico de afirmação diplomática de disposição em seguir um determinado caminho.
As posições tomadas pelo Brasil no conselho de segurança das Nações Unidas, juntamente com a Turquia a propósito do programa nuclear iraniano, ajudaram a colocar o país numa posição de confronto com os Estados Unidos.
É tradição da politica externa norte-americana a utilização de políticas de contenção e balanceamento de poder entre potências regionais.
Washington, poderá no futuro utilizar a Argentina e um eventual apoio técnico aos argentinos como forma de pressionar o Brasil no que respeita à possibilidade de desenvolvimento de armamento atómico. No entanto, essa possibilidade também é vista como remota pois a ministra Garre, foi uma antiga activista extremista da esquerda argentina.
Mas o facto de uma esquerdista argentina considerar a possibilidade de um programa argentino que só pode ser visto como uma resposta ao programa da marinha brasileira, vem deitar uma nova luz sobre a questão do equilíbrio geoestratégico na América do Sul:
Tenham governos de esquerda ou de direita, Brasil e Argentina são dois países diferentes, e nenhum deles deixará o outro ganhar uma vantagem absoluta em termos geoestratégicos. A arma nuclear é a única forma conhecida, de um país cinco vezes mais pequeno ter capacidade para garantir a credibilidade do seu poder militar.
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[1] – Junta militar, que conduziu o país a uma humilhante derrota frente à Grã-bretanha em 1982 na guerra das Malvinas.
[2] - A diferença entre o PIB per capita dos dois países tem vindo a reduzir-se drasticamente. Longe vão os tempos em que p Brasil tinha uma renda que era praticamente um quinto da renda argentina, o que colocava os dois países em patamares idênticos.
Hoje, a Argentina apesar da crise continua a ser um país mais rico que o Brasil, mas essa diferença reduziu-se dramaticamente com o rendimento argentino a um nível idêntico ao brasileiro (e cerca de 30% superior ao brasileiro em termos de paridade de poder de compra)
O PIB brasileiro à taxa de câmbio real, está em torno de 1.5 triliões de dólares (1.500.000.000.000) [a] enquanto que o argentino se cifra em 304 biliões [a] 304.000.000.000. O rendimento per capita real é portanto de $7.462 para o Brasil e de $7.414 para a Argentina. Em termos de paridade de poder de compra, a Argentina mantém no entanto uma vantagem de 30% sobre o Brasil.
[a] – Considerando que um trilião são 1000 biliões, ainda que esta definição seja utilizada no Brasil. Em Portugal, um bilião representa um milhão de milhões e não mil milhões.
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