Re: Última Fronteira do Brasil
Enviado: Dom Jul 27, 2008 10:49 am
Do JB:
Brasil é pioneiro no redesenho do mapa submarino junto à ONU
O Brasil tem uma extensão superior a 8,5 milhões de km² em terra e equivalente a 4,2 milhões de km² em mar, que abriga um potencial de riqueza tão grande quanto o anterior. Desde o ano passado, os livros didáticos estão autorizados a ensinar que o Brasil tem exatos 12,712 milhões de km², e não os apenas 8,5 milhões de km² informados às gerações anteriores, porque ampliou seu domínio marítimo.
Para conquistar este espaço de terra encharcada, o Brasil encaminhou em 2004 um pedido à ONU de extensão de sua plataforma continental. O país desenvolveu um minucioso trabalho de mapeamento científico da área a partir de um detalhamento feito pela Marinha durante 17 anos (de 1987 a 2004) com investimento de US$ 40 milhões – metade dos quais bancados pela Petrobras. No chamado Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira, navios da Marinha percorreram 230 mil km.
Três anos mais tarde, a ONU deu sinal verde para o Brasil incorporar, para além das 200 milhas náuticas, mais 712 mil km² de extensão da plataforma continental, acatando 80 % do seu pedido.
– O Brasil demonstrou seu firme propósito de ocupar e explorar, pacificamente, as áreas oceânicas do Atlântico Sul sob sua jurisdição – diz o comandante Alexandre Tagore.
Na área, correspondente ao tamanho dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, o país também já tem assegurada a soberania de exploração e aproveitamento de todos os recursos naturais do solo e do subsolo marinhos.
– É uma área bastante extensa e praticamente inexplorada, com exceção do petróleo – avalia o professor do Instituto Oceanográfico da USP Belmiro Mendes de Castro Filho, um dos coordenadores da pesquisa encomendada pelo governo.
No início do mês, o presidente Lula determinou a continuação dos trabalhos, o que deve resultar no envio de uma contraproposta do Brasil à CLPC relativa aos 20 % do pedido original rejeitado.
O comandante Tagore ratifica que "apesar das inúmeras atividades de pesquisa realizadas na área, nossa margem continental ainda precisa ser mais pesquisada e estudada":
– Além de petróleo e gás, os fundos marinhos da nossa plataforma continental poderão ser ricos em outros tipos de recursos, tais como nódulos polimetálicos, crostas cobaltíferas e sulfetos polimetálicos.
O Brasil foi o segundo país a pedir a ampliação de sua área de mar depois da Rússia – que não foi atendida por não ter a fronteira marítima bem delimitada. Depois do Brasil, Austrália, Irlanda, Nova Zelândia, França, Irlanda, Espanha, Reino Unido, Noruega, França, México, Barbados, Reino Unido e Indonésia pleitearam a expansão de seus mares.
O pioneirismo brasileiro deve-se ao fato de que "nossa margem continental é comprovadamente rica em petróleo e possivelmente em outros recursos minerais", diz Tagore:
– Além disso, estamos tratando da última fronteira do Estado brasileiro a ser estabelecida, razão pela qual a Marinha e demais entidades da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar envolvidas no tema engajaram-se decididamente desde o primeiro momento.
O senador Pedro Simon garante que "o Brasil vai lutar o máximo possível para defender sua soberania marítima":
– Nenhum país tem um estudo tão aprofundado como o Brasil, que tem tecnologia de ponta para explorar o fundo do mar.
Defesa da Amazônia Azul é estratégica
Descoberta de petróleo no limite do território marítimo brasileiro pressiona por expansão da soberania
Camila Arêas
Chamado de Amazônia Azul, o território marítimo brasileiro, duas vezes maior que o Estado do Amazonas, entrou no foco das preocupações políticas. No momento em que os mais recentes poços de petróleo encontrados pela Petrobras encostam no limite de 200 milhas náuticas da área considerada de exploração exclusiva do Brasil, a reativação em junho da Quarta Frota da Marinha americana para operações militares nas Américas do Sul, Central e Caribe, conjuga um quadro de inquietação.
Potências estrangeiras têm interesses econômicos e estratégicos na questão. Os Estados Unidos não são signatários da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), o acordo internacional que estabelece o limite dos mares territoriais de cada nação costeira, do qual o Brasil é signatário desde 1982. E, mês passado, reativaram a Quarta Frota, unidade naval que, segundo o Pentágono, vai patrulhar águas internacionais da costa sul-americana.
Por iniciativa do senador Pedro Simon, a Comissão de Relações Exteriores do Senado decidiu escrever uma carta dirigida aos candidatos à Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama e John McCain. No documento, foi formalizada a preocupação do Senado brasileiro com a reativação da Frota.
– O Brasil precisa defender seu mar territorial, pois é nessa área que está o petróleo cobiçado em todo o mundo. O ministério da Defesa prevê que os próximos poços descobertos ultrapassem a extensão de soberania brasileira. As riquezas em alto-mar se valorizaram muito nos últimos anos. De um lado estão as riquezas marítimas da plataforma continental e de outro a Amazônia, está claro que a não assinatura do acordo é uma estratégia dos EUA.
Ouro negro
Geógrafo da USP, Aziz Nacib Ab' Saber sustenta a preocupação do ministério da Defesa em relação a novas descobertas de petróleo com base na teoria da formação das bacias sedimentares:
– No período de separação entre a América do Sul e a África, ambas costas foram inundadas com bolos sedimentares de algas e restos de animais. Em seguida, levantaram-se os blocos continentais e as bacias sedimentares se aprofundaram, gerando um aquecimento geotérmico que acelerou a transformação deste bolo biogênico em óleo. O petróleo é fruto do movimento tectônico.
O geógrafo conclui que "entre América do Sul e África há muito petróleo que ultrapassa nossa extensão marítima", ressaltando ser preciso "defender o patrimônio, que parte inalienável da soberania brasileira".
A camada pré-sal, com reservatórios biogênicos que se estendem por 800 km do Espírito Santo a Santa Catarina, pode conter um volume de petróleo capaz de colocar o Brasil entre as maiores potências petrolíferas. Até agora, a Petrobras estimou apenas as reservas do campo de Tupi, em entre 5 a 8 bilhões de barris de óleo, mas fala-se em 33 bilhões de barris só na bacia de Santos.
O Brasil já negocia com a França um acordo para a construção de um submarino à propulsão nuclear que ajudaria na proteção dessas áreas.
Perito brasileiro da Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) junto à ONU, o oficial da Marinha Alexandre Tagore Albuquerque pondera que "em todas as declarações do governo americano consta a afirmação de que respeitarão a jurisdição dos Estados costeiros em relação aos seus espaços marítimos", mas ressalta a soberania brasileira:
– Limites de fronteira são uma questão de Estado que invariavelmente envolvem a economia, posto que em última análise o território terrestre ou marítimo será sempre importante fonte de recursos naturais. O interesse de qualquer potência estrangeira não pode ir além do que preconiza o direito internacional. É disso que tratamos.
A Quarta Frota atuou entre os anos de 1943 e 1950 e foi reativada mês passado, sem explicações ou aviso prévio aos países da região que vai patrulhar. O sobressalto levou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a dizer que "Os EUA poderão atuar em áreas não jurisdicionais brasileiras. Aqui não entra!".
Simon conta que o chanceler Celso Amorim "recebeu um telefonema da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, desculpando-se por não ter se dirigido antes aos governos da América Latina".
O senador questiona por que um presidente em final de mandato como George Bush tomou uma atitude como esta sem consultas.
– Por isso queremos saber qual é a posição dos presidenciáveis americanos sobre o tema – insiste. – É uma disputa nova, sem experiências antecedentes. É necessário abrir um diálogo com os presidentes latinos.
Jobim declarou que uma das prioridades da política nacional de defesa, que será anunciada dia 7 de setembro, reestruturar os conceitos da defesa da soberania nacional. Nesse sentido, chegou a defender que a Petrobras colabore com o reaparelhamento da Marinha, que receberia parte dos royalties resultantes da exploração de petróleo.
Brasil é pioneiro no redesenho do mapa submarino junto à ONU
O Brasil tem uma extensão superior a 8,5 milhões de km² em terra e equivalente a 4,2 milhões de km² em mar, que abriga um potencial de riqueza tão grande quanto o anterior. Desde o ano passado, os livros didáticos estão autorizados a ensinar que o Brasil tem exatos 12,712 milhões de km², e não os apenas 8,5 milhões de km² informados às gerações anteriores, porque ampliou seu domínio marítimo.
Para conquistar este espaço de terra encharcada, o Brasil encaminhou em 2004 um pedido à ONU de extensão de sua plataforma continental. O país desenvolveu um minucioso trabalho de mapeamento científico da área a partir de um detalhamento feito pela Marinha durante 17 anos (de 1987 a 2004) com investimento de US$ 40 milhões – metade dos quais bancados pela Petrobras. No chamado Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira, navios da Marinha percorreram 230 mil km.
Três anos mais tarde, a ONU deu sinal verde para o Brasil incorporar, para além das 200 milhas náuticas, mais 712 mil km² de extensão da plataforma continental, acatando 80 % do seu pedido.
– O Brasil demonstrou seu firme propósito de ocupar e explorar, pacificamente, as áreas oceânicas do Atlântico Sul sob sua jurisdição – diz o comandante Alexandre Tagore.
Na área, correspondente ao tamanho dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, o país também já tem assegurada a soberania de exploração e aproveitamento de todos os recursos naturais do solo e do subsolo marinhos.
– É uma área bastante extensa e praticamente inexplorada, com exceção do petróleo – avalia o professor do Instituto Oceanográfico da USP Belmiro Mendes de Castro Filho, um dos coordenadores da pesquisa encomendada pelo governo.
No início do mês, o presidente Lula determinou a continuação dos trabalhos, o que deve resultar no envio de uma contraproposta do Brasil à CLPC relativa aos 20 % do pedido original rejeitado.
O comandante Tagore ratifica que "apesar das inúmeras atividades de pesquisa realizadas na área, nossa margem continental ainda precisa ser mais pesquisada e estudada":
– Além de petróleo e gás, os fundos marinhos da nossa plataforma continental poderão ser ricos em outros tipos de recursos, tais como nódulos polimetálicos, crostas cobaltíferas e sulfetos polimetálicos.
O Brasil foi o segundo país a pedir a ampliação de sua área de mar depois da Rússia – que não foi atendida por não ter a fronteira marítima bem delimitada. Depois do Brasil, Austrália, Irlanda, Nova Zelândia, França, Irlanda, Espanha, Reino Unido, Noruega, França, México, Barbados, Reino Unido e Indonésia pleitearam a expansão de seus mares.
O pioneirismo brasileiro deve-se ao fato de que "nossa margem continental é comprovadamente rica em petróleo e possivelmente em outros recursos minerais", diz Tagore:
– Além disso, estamos tratando da última fronteira do Estado brasileiro a ser estabelecida, razão pela qual a Marinha e demais entidades da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar envolvidas no tema engajaram-se decididamente desde o primeiro momento.
O senador Pedro Simon garante que "o Brasil vai lutar o máximo possível para defender sua soberania marítima":
– Nenhum país tem um estudo tão aprofundado como o Brasil, que tem tecnologia de ponta para explorar o fundo do mar.
Defesa da Amazônia Azul é estratégica
Descoberta de petróleo no limite do território marítimo brasileiro pressiona por expansão da soberania
Camila Arêas
Chamado de Amazônia Azul, o território marítimo brasileiro, duas vezes maior que o Estado do Amazonas, entrou no foco das preocupações políticas. No momento em que os mais recentes poços de petróleo encontrados pela Petrobras encostam no limite de 200 milhas náuticas da área considerada de exploração exclusiva do Brasil, a reativação em junho da Quarta Frota da Marinha americana para operações militares nas Américas do Sul, Central e Caribe, conjuga um quadro de inquietação.
Potências estrangeiras têm interesses econômicos e estratégicos na questão. Os Estados Unidos não são signatários da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), o acordo internacional que estabelece o limite dos mares territoriais de cada nação costeira, do qual o Brasil é signatário desde 1982. E, mês passado, reativaram a Quarta Frota, unidade naval que, segundo o Pentágono, vai patrulhar águas internacionais da costa sul-americana.
Por iniciativa do senador Pedro Simon, a Comissão de Relações Exteriores do Senado decidiu escrever uma carta dirigida aos candidatos à Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama e John McCain. No documento, foi formalizada a preocupação do Senado brasileiro com a reativação da Frota.
– O Brasil precisa defender seu mar territorial, pois é nessa área que está o petróleo cobiçado em todo o mundo. O ministério da Defesa prevê que os próximos poços descobertos ultrapassem a extensão de soberania brasileira. As riquezas em alto-mar se valorizaram muito nos últimos anos. De um lado estão as riquezas marítimas da plataforma continental e de outro a Amazônia, está claro que a não assinatura do acordo é uma estratégia dos EUA.
Ouro negro
Geógrafo da USP, Aziz Nacib Ab' Saber sustenta a preocupação do ministério da Defesa em relação a novas descobertas de petróleo com base na teoria da formação das bacias sedimentares:
– No período de separação entre a América do Sul e a África, ambas costas foram inundadas com bolos sedimentares de algas e restos de animais. Em seguida, levantaram-se os blocos continentais e as bacias sedimentares se aprofundaram, gerando um aquecimento geotérmico que acelerou a transformação deste bolo biogênico em óleo. O petróleo é fruto do movimento tectônico.
O geógrafo conclui que "entre América do Sul e África há muito petróleo que ultrapassa nossa extensão marítima", ressaltando ser preciso "defender o patrimônio, que parte inalienável da soberania brasileira".
A camada pré-sal, com reservatórios biogênicos que se estendem por 800 km do Espírito Santo a Santa Catarina, pode conter um volume de petróleo capaz de colocar o Brasil entre as maiores potências petrolíferas. Até agora, a Petrobras estimou apenas as reservas do campo de Tupi, em entre 5 a 8 bilhões de barris de óleo, mas fala-se em 33 bilhões de barris só na bacia de Santos.
O Brasil já negocia com a França um acordo para a construção de um submarino à propulsão nuclear que ajudaria na proteção dessas áreas.
Perito brasileiro da Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) junto à ONU, o oficial da Marinha Alexandre Tagore Albuquerque pondera que "em todas as declarações do governo americano consta a afirmação de que respeitarão a jurisdição dos Estados costeiros em relação aos seus espaços marítimos", mas ressalta a soberania brasileira:
– Limites de fronteira são uma questão de Estado que invariavelmente envolvem a economia, posto que em última análise o território terrestre ou marítimo será sempre importante fonte de recursos naturais. O interesse de qualquer potência estrangeira não pode ir além do que preconiza o direito internacional. É disso que tratamos.
A Quarta Frota atuou entre os anos de 1943 e 1950 e foi reativada mês passado, sem explicações ou aviso prévio aos países da região que vai patrulhar. O sobressalto levou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a dizer que "Os EUA poderão atuar em áreas não jurisdicionais brasileiras. Aqui não entra!".
Simon conta que o chanceler Celso Amorim "recebeu um telefonema da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, desculpando-se por não ter se dirigido antes aos governos da América Latina".
O senador questiona por que um presidente em final de mandato como George Bush tomou uma atitude como esta sem consultas.
– Por isso queremos saber qual é a posição dos presidenciáveis americanos sobre o tema – insiste. – É uma disputa nova, sem experiências antecedentes. É necessário abrir um diálogo com os presidentes latinos.
Jobim declarou que uma das prioridades da política nacional de defesa, que será anunciada dia 7 de setembro, reestruturar os conceitos da defesa da soberania nacional. Nesse sentido, chegou a defender que a Petrobras colabore com o reaparelhamento da Marinha, que receberia parte dos royalties resultantes da exploração de petróleo.