Re: SYRIA
Enviado: Ter Jul 14, 2015 7:00 am
SÍRIA - QUEM É RESPONSÁVEL PELO HORROR?
Eric Margolis - Lewrockwell.com - 13 de julho de 2015.
"Os turcos passaram por aqui; tudo está em ruínas e desolação."
Assim escreveu o grande escritor da França, Victor Hugo, sobre os horrores que ele presenciou durante as guerras de libertação balcânicas dos anos 1880. Se Hugo estivesse vivo hoje, ele bem poderia ter empregado estas assustadoras linhas para descrever os destroços fumegantes do Oriente Médio. Exceto que dessa vez foram os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha que trouxeram a destruição ao mundo árabe, apoiados pela moderna Turquia.
O tzar dos refugiados da ONU, Antonio Guterres, acabou de afirmar que agora há 4.013.000 refugiados sírios fora de sua terra natal e outros 7,6 milhões como refugiados internos da guerra grassando lá desde 2011.
Isto totaliza cerca de 11,6 milhões de refugiados - estarrecedores 50 porcento da população da Síria. Mais de um quarto de milhão está refugiado na Europa; o restante espalha-se por todo o Oriente Médio com os maiores números no Líbano e Jordânia.
Esta enchente de gente deslocada é o maior número de refugiados nos últimos vinte e cinco anos, de acordo com Guterres da ONU. De fato, os refugiados da Síria agora ultrapassam o número dos 5,5 milhões de refugiados palestinos. Ao menos os sírios podem um dia retornar para casa; por contraste, os palestinos, sem estado há mais de seis décadas, não tem nenhuma esperança realista de retornarem a seus antigos lares no que é hoje Israel.
Antes da guerra de 2011, a Síria costumava ser uma vibrante nação em crescimento com maravilhosas cidades antigas e uma rica e ancestral cultura recuando mais de 2.500 anos. Acredita-se que Damasco seja a mais velha cidade continuamente habitada no mundo.
A Síria foi sempre considerada como o coração pulsante do mundo árabe e seu epicentro intelectual. Ela também foi a progenitora do nacionalismo árabe, uma defensora de longo tempo dos palestinos, e uma determinada adversária de Israel - emboraa em recentes anos a fronteira sírio-israelense tenha estado muito quieta. Damasco, duas geraçãos atrás de Israel em força militar, não ousava confrontar diretamente o poderoso estado judaico.
Pelas últimas quatro décadas, a Síria tem sido governada por sua minoria alauíta, um rebento da fé xiita islâmica. Os alauítas, como seus correligionários xiitas no Líbano, eram o povo mais pobre, mais marginalizado da nação. O único trabalho que muitos podiam conseguir era nas forças armadas. Eventualmente, um alauíta de punho de ferro, general da força aérea, Hafez al-Assad, tomou o poder. Após a morte de Assad, seu segundo filho, Bashar, assumiu o encargo do regime, apoiado por um exército forte e implacáveis órgãos de segurança.
A administração Bush, incitada por Israel, brincou com a idéia de derrubar o regime Assad mas recuou quando umas poucas mentes espertas em Washington perguntaram quem os EUA botariam para substituir o governo existente? A principal oposição da Síria era oriunda da banida e subterrânea Confraria Muçulmana que falava pela longamente reprimida maioria sunita da Síria. Washington não queria nada com a Confraria. Melhor os Assads, que silenciosamente cooperavam com Washington apesar de serem apoiados pelo Irã.
Mas em 2009-2010, Washington mudou de política. Enquanto crescia a febre de guerra anti-iraniana nos EUA, a Casa Branca exigiu que Damasco renunciasse a sua aliança com o Irã. O plano era isolar este último antes de atacá-lo. Mas a Síria recusou a cortar seus laços vitais com Teerã.
Portanto a Síria foi marcada para mudança de regime. Washington estava farta de líderes árabes que desafiavam o Raj americano. Os Assads encontrariam o mesmo fim medonho de Saddam Hussein e Muammar Khadaffi.
Na primavera de 2011, guerrilheiros anti-Assad, armados e treinados na Jordânia pela CIA, infiltraram-se do Líbano no sul da Síria, em Derna. Este era o esquálido vilarejo no qual Lawrence da Arábia foi capturado pelos turcos. Derna era um leito de agitação antigovernamental. Logo, mais rebeldes patrocinados pelos EUA infiltraram-se através da fronteira libanesa. Forças especiais britânicas e francesas juntaram-se aos rebeldes. A Arábia Saudita forneceu o financiamento.
A França, a antiga governante colonial da Síria e Líbano, estava particularmente interessada em retomar sua influência no Levante e os ricos em petróleo estados do Golfo. Israel estava convencido de que a derrubada do regime Assad em Damasco isolaria seus dois principais inimigos, Irã e o movimento Hezbollah no Líbano, deixando este último vulnerável a um novo ataque israelense.
Uma blitz propagandística foi desfechada contra o presidente Assad rotulando-o como o açougueiro do Oriente Médio. Isso é uma insensatez. O suave Assad era um antigo oftalmologista formado em Londres que tornou-se líder da Síria quando seu irmão mais velho, Basil, foi morto num acidente de carro. O regime Assad tinha alguma figuras antigas, muito duras e desagradáveis, mas certamente não piores ou mais brutais do que muitos outros aliados americanos do Oriente Médio como Egito, Iraque, Argélia ou Marrocos.
Isso não importava. Bashar Assad tornou-se o novo diabo da América no Oriente Médio e o alvo da mudança de regime engendrada pelo Ocidente. Os meios para isso seriam uma repetição da jihad do Afeganistão contra os soviéticos que este escritor cobriu.
Um exército árabe de jovens variando de idealistas a descontentes foi formado pelos serviços de inteligência ocidentais. Mas, ao contrário do Afeganistão, a nova força árabe era principalmente composta de fanáticos jihadistas salafistas criados pela Arábia Saudita e auxiliados pela Turquia e Jordânia para entrar na Síria.
Os "salafistas da América" eram o fio cortante da grande estratégia do Oriente Médio de Washington, desenvolvida durante a invasão do Iraque de 2003, para dividir e governar, voltando muçulmanos sunitas e xiitas uns contra os outros. Os resultados no Iraque foram espetaculares. A idéia era fazer o mesmo novamente na Síria, onde um regime da minoria xiita governava uma intratável maioria sunita.
O resultado, como estamos vendo, é a inexorável destruição da Síria pela guerra civil. A nação inteira tornou-se uma colcha de retalhos de grupos belicosos similar à Alemanha durante a Guerra dos Trinta Anos. Os jihadistas salafistas combatem os jihadistas alinhados com a al-Qaida que combatem as forças do ISIS que combatem as milícias curdas, com forças especiais francesas, turcas e britânicas profundamente misturadas na refrega.
Os cristãos da Síria, cerca de 10 porcento da população, estão apoiando o governo Assad. Eles viram a destruição das comunidades cristãs ancestrais do Iraque, que anteriormente foram protegidas pelo presidente Saddam Hussein, após a invasão americana de 2003 liberar os salafistas fanáticos.
A carnificina na Síria não tem paralelos no Oriente Médio. Ela excede mesmo os muitos horrores da guerra civil libanesa de 1975-1990. A luta de rua está destruindo muitas aldeias, vilas e cidades da Síria. A maravilhosa Aleppo, um patrimônio mundial está sendo feita em pedaços.
Os grupos antiregime da Síria não poderiam continuar lutando sem armas, munições, suprimentos médicos, rádios e dinheiro das potências ocidentais. As estúpidas declarações de Washington de que está desdobrando jihadistas "moderados" é uma amarga brincadeira. Os EUA estão apoiando totalmente os extremistas da região contra um de seus mais antigos regimes seculares. Quem finalmente vencerá está multifacetada guerra civil permanece obscuro.
Mas está claro que a Síria foi, em grande parte, destruída. Ela juntou-se ao Afeganistão, Iraque e Somália nas ruínas e lamentação - todos exemplos de estados que desafiaram o Raj americano. Os tormentos de cerca de 11 milhões de refugiados sírios amontoados em tendas, afogados no Mediterrâneo ou fugindo por suas vidas podem ser colocados diretamente na conta de Washington.
Da nação da Estátua da Liberdade esperava-se que oferecesse boas vindas e abrigo às massas fugindo da fome e do perigo, não que fosse a causa de milhões de refugiados por culpa de suas ruinosas políticas para o Oriente Médio.
Eric Margolis - Lewrockwell.com - 13 de julho de 2015.
"Os turcos passaram por aqui; tudo está em ruínas e desolação."
Assim escreveu o grande escritor da França, Victor Hugo, sobre os horrores que ele presenciou durante as guerras de libertação balcânicas dos anos 1880. Se Hugo estivesse vivo hoje, ele bem poderia ter empregado estas assustadoras linhas para descrever os destroços fumegantes do Oriente Médio. Exceto que dessa vez foram os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha que trouxeram a destruição ao mundo árabe, apoiados pela moderna Turquia.
O tzar dos refugiados da ONU, Antonio Guterres, acabou de afirmar que agora há 4.013.000 refugiados sírios fora de sua terra natal e outros 7,6 milhões como refugiados internos da guerra grassando lá desde 2011.
Isto totaliza cerca de 11,6 milhões de refugiados - estarrecedores 50 porcento da população da Síria. Mais de um quarto de milhão está refugiado na Europa; o restante espalha-se por todo o Oriente Médio com os maiores números no Líbano e Jordânia.
Esta enchente de gente deslocada é o maior número de refugiados nos últimos vinte e cinco anos, de acordo com Guterres da ONU. De fato, os refugiados da Síria agora ultrapassam o número dos 5,5 milhões de refugiados palestinos. Ao menos os sírios podem um dia retornar para casa; por contraste, os palestinos, sem estado há mais de seis décadas, não tem nenhuma esperança realista de retornarem a seus antigos lares no que é hoje Israel.
Antes da guerra de 2011, a Síria costumava ser uma vibrante nação em crescimento com maravilhosas cidades antigas e uma rica e ancestral cultura recuando mais de 2.500 anos. Acredita-se que Damasco seja a mais velha cidade continuamente habitada no mundo.
A Síria foi sempre considerada como o coração pulsante do mundo árabe e seu epicentro intelectual. Ela também foi a progenitora do nacionalismo árabe, uma defensora de longo tempo dos palestinos, e uma determinada adversária de Israel - emboraa em recentes anos a fronteira sírio-israelense tenha estado muito quieta. Damasco, duas geraçãos atrás de Israel em força militar, não ousava confrontar diretamente o poderoso estado judaico.
Pelas últimas quatro décadas, a Síria tem sido governada por sua minoria alauíta, um rebento da fé xiita islâmica. Os alauítas, como seus correligionários xiitas no Líbano, eram o povo mais pobre, mais marginalizado da nação. O único trabalho que muitos podiam conseguir era nas forças armadas. Eventualmente, um alauíta de punho de ferro, general da força aérea, Hafez al-Assad, tomou o poder. Após a morte de Assad, seu segundo filho, Bashar, assumiu o encargo do regime, apoiado por um exército forte e implacáveis órgãos de segurança.
A administração Bush, incitada por Israel, brincou com a idéia de derrubar o regime Assad mas recuou quando umas poucas mentes espertas em Washington perguntaram quem os EUA botariam para substituir o governo existente? A principal oposição da Síria era oriunda da banida e subterrânea Confraria Muçulmana que falava pela longamente reprimida maioria sunita da Síria. Washington não queria nada com a Confraria. Melhor os Assads, que silenciosamente cooperavam com Washington apesar de serem apoiados pelo Irã.
Mas em 2009-2010, Washington mudou de política. Enquanto crescia a febre de guerra anti-iraniana nos EUA, a Casa Branca exigiu que Damasco renunciasse a sua aliança com o Irã. O plano era isolar este último antes de atacá-lo. Mas a Síria recusou a cortar seus laços vitais com Teerã.
Portanto a Síria foi marcada para mudança de regime. Washington estava farta de líderes árabes que desafiavam o Raj americano. Os Assads encontrariam o mesmo fim medonho de Saddam Hussein e Muammar Khadaffi.
Na primavera de 2011, guerrilheiros anti-Assad, armados e treinados na Jordânia pela CIA, infiltraram-se do Líbano no sul da Síria, em Derna. Este era o esquálido vilarejo no qual Lawrence da Arábia foi capturado pelos turcos. Derna era um leito de agitação antigovernamental. Logo, mais rebeldes patrocinados pelos EUA infiltraram-se através da fronteira libanesa. Forças especiais britânicas e francesas juntaram-se aos rebeldes. A Arábia Saudita forneceu o financiamento.
A França, a antiga governante colonial da Síria e Líbano, estava particularmente interessada em retomar sua influência no Levante e os ricos em petróleo estados do Golfo. Israel estava convencido de que a derrubada do regime Assad em Damasco isolaria seus dois principais inimigos, Irã e o movimento Hezbollah no Líbano, deixando este último vulnerável a um novo ataque israelense.
Uma blitz propagandística foi desfechada contra o presidente Assad rotulando-o como o açougueiro do Oriente Médio. Isso é uma insensatez. O suave Assad era um antigo oftalmologista formado em Londres que tornou-se líder da Síria quando seu irmão mais velho, Basil, foi morto num acidente de carro. O regime Assad tinha alguma figuras antigas, muito duras e desagradáveis, mas certamente não piores ou mais brutais do que muitos outros aliados americanos do Oriente Médio como Egito, Iraque, Argélia ou Marrocos.
Isso não importava. Bashar Assad tornou-se o novo diabo da América no Oriente Médio e o alvo da mudança de regime engendrada pelo Ocidente. Os meios para isso seriam uma repetição da jihad do Afeganistão contra os soviéticos que este escritor cobriu.
Um exército árabe de jovens variando de idealistas a descontentes foi formado pelos serviços de inteligência ocidentais. Mas, ao contrário do Afeganistão, a nova força árabe era principalmente composta de fanáticos jihadistas salafistas criados pela Arábia Saudita e auxiliados pela Turquia e Jordânia para entrar na Síria.
Os "salafistas da América" eram o fio cortante da grande estratégia do Oriente Médio de Washington, desenvolvida durante a invasão do Iraque de 2003, para dividir e governar, voltando muçulmanos sunitas e xiitas uns contra os outros. Os resultados no Iraque foram espetaculares. A idéia era fazer o mesmo novamente na Síria, onde um regime da minoria xiita governava uma intratável maioria sunita.
O resultado, como estamos vendo, é a inexorável destruição da Síria pela guerra civil. A nação inteira tornou-se uma colcha de retalhos de grupos belicosos similar à Alemanha durante a Guerra dos Trinta Anos. Os jihadistas salafistas combatem os jihadistas alinhados com a al-Qaida que combatem as forças do ISIS que combatem as milícias curdas, com forças especiais francesas, turcas e britânicas profundamente misturadas na refrega.
Os cristãos da Síria, cerca de 10 porcento da população, estão apoiando o governo Assad. Eles viram a destruição das comunidades cristãs ancestrais do Iraque, que anteriormente foram protegidas pelo presidente Saddam Hussein, após a invasão americana de 2003 liberar os salafistas fanáticos.
A carnificina na Síria não tem paralelos no Oriente Médio. Ela excede mesmo os muitos horrores da guerra civil libanesa de 1975-1990. A luta de rua está destruindo muitas aldeias, vilas e cidades da Síria. A maravilhosa Aleppo, um patrimônio mundial está sendo feita em pedaços.
Os grupos antiregime da Síria não poderiam continuar lutando sem armas, munições, suprimentos médicos, rádios e dinheiro das potências ocidentais. As estúpidas declarações de Washington de que está desdobrando jihadistas "moderados" é uma amarga brincadeira. Os EUA estão apoiando totalmente os extremistas da região contra um de seus mais antigos regimes seculares. Quem finalmente vencerá está multifacetada guerra civil permanece obscuro.
Mas está claro que a Síria foi, em grande parte, destruída. Ela juntou-se ao Afeganistão, Iraque e Somália nas ruínas e lamentação - todos exemplos de estados que desafiaram o Raj americano. Os tormentos de cerca de 11 milhões de refugiados sírios amontoados em tendas, afogados no Mediterrâneo ou fugindo por suas vidas podem ser colocados diretamente na conta de Washington.
Da nação da Estátua da Liberdade esperava-se que oferecesse boas vindas e abrigo às massas fugindo da fome e do perigo, não que fosse a causa de milhões de refugiados por culpa de suas ruinosas políticas para o Oriente Médio.