Agora é contigo Túlio, vamos lá
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Túlio escreveu:Cupincha véio, por gentileza, me cites UM sistema capaz de discriminar, em uma revoada de drones, qual é decoy, qual está fazendo reconhecimento e qual está em missão de ataque. Unzinho só. E falo do que há de mais moderno em sistemas de detecção, notes. Notes também:
A - No post anterior deixo claro que o Predator é um exemplo apenas, e acrescento que há vários outros UAVs que podem ser adaptados (o próprio Predator UCAV é uma adaptação do UAV/Decoy) para cumprir as mesmas missões. Até no Brasil há modelos assim em desenvolvimento, como o HARPIA, parceria entre a EMBRAER e a AEL (leia-se ELBIT).
B - Notes ainda que o que encarece estas aeronaves são os sistemas embarcados (todos os sensores são passivos, ou seja, sem emissão EM) e armamentos. Tire-se isso e, repito o post anterior, temos um teco-teco sem piloto. A guiagem e o monitoramento (mesmo dos decoys) são por data-link e a transcepção é via satélite (longe da base) e/ou rádio (perto). Isso os deixa (sem os sensores) apenas um pouquinho mais caros que um teco-teco, ou seja, meios sacrificáveis sem dó. Notar ainda que um motorzinho Rotax zero km (completo com caixa de redução) custa em torno de USD 30.000 no varejo (direto da fábrica e em lote deve ser bem menos), aliás, dá para comprar até pela internet.
C- Vamos lembrar que o EXEMPLO que citei, o Predator UCAV, descende do Reconhecedor (UAV). Recebeu novos sensores, diretores de tiro, pilones e mísseis (no caso citado, Hellfire, mas pode ser Stinger também) mas, em essência, é a mesma aeronave. Assim, para complicar a detecção/discriminação visual, qual a dificuldade em adaptar pilones e mísseis falsos e mesmo a "bola" ventral onde vão os sensores (sem nada dentro)? Mantenhamos em mente que estas aeronaves operam normalmente entre FL150 e FL250, ou seja, além de estarem fora do alcance de qualquer Can AAe (mesmo os maiores, de emprego naval, já estarão ao alcance dos Hellfires (ou similares) bem antes de poderem engajar) ainda podem utilizar nuvens para complicar a vida de sensores termais e visuais. Mesmo com céu limpo, vou repetir a pergunta: como discriminar? Eles são todos iguais (mesma velocidade e altitude, mesmo RCS, mesmo sinal térmico, mesmo aspecto visual), estão todos em formação de combate e vêm na direção do(s) alvo(s). Nas buenas, não vejo maneira de achares tão fácil saber quem é quem. Como não vejo lógica em, dispondo de SAMs de longo alcance e sem ter certeza de qual (ou quais) dos alvos existentes na região será (serão) atacado(s), se irá deixar que se aproximem apenas para se poder disparar armas mais baratas e de menor alcance. Sobre alcance de detecção, aliás, uma ilustração: em 23/12/2002, às vésperas da Segunda Guerra do Golfo aconteceu o primeiro engajamento em combate de um UCAV (Predator) x um caça tripulado (MiG-25). Apesar daquele radarzão (Saphir), o Foxbat se aproximou frontalmente até permitir que o UCAV o atacasse com um mísero Stinger, mais ou menos ao mesmo tempo em que o Piloto do MiG finalmente o enquadrava e disparava seu próprio Msl (provavelmente um R-40), que teve o duplo condão de desorientar o Stinger e abater o UCAV. Pelo relatório, se vê que estavam em rota de colisão (ou o Stinger não teria passado tão perto do outro Msl a ponto de ficar sem saber a quem perseguir), o que nos permite concluir que um UCAV não deve ser nada fácil de detectar, seja no radar, seja no visual...
Túlio, o sistema AAe não precisa identificar os modelos de drones e muito menos o que eles carregam à bordo, basta avaliar o seu desempenho para designar que sistema irá enfrentá-los.
Drones “baratinhos” usados como decoys seriam como versões peladas de um Predator ou um um Hermes-900. Cada um deles tem preços na faixa dos 2 milhões de dólares completo, mas se for pelado pode cair para algo como USD 250-500 mil (chute meu – baseado nos preços de aeronaves leves e no fato de que eles precisam seguir especificações militares, que não ajudam em nada a reduzir o preço). Não dá para ser muito menos do que isso, pois airframe, comandos, motorização e equipamento mínimo de comunicação e navegação não podem ser retirados, caso contrário ele nem voa. Estes UAV´s tem velocidades máximas entre 180 e 250 Km/h, não dá para confundi-los com nenhum avião de ataque a jato (na verdade nem mesmo com um ST). Um míssil AAe de alcance e desempenho medianos (imagine quando muito um ESSM, um Barak-8 ou um Bamse) podem abatê-los com facilidade, e mísseis ar-ar como o Piranha-II adaptados com boosters também serviriam. Esqueça usar S-300 ou 400 para isso, ninguém o faria em circunstância alguma. Estes mísseis menos sofisticados podem custar menos de USD 200 Mil por disparo. Na verdade dependendo de como fosse montado o sistema de defesa eles poderiam ser enfrentados mesmo com mísseis de alcance e custo ainda menor, como um Crotale ou o 57E-6 do Pantsir. Não é preciso se preocupar muito quando estes drones “baratinhos” aparecem no radar ou em outro sensor qualquer, pois eles não podem levar armamento de maior alcance e nem mais pesado, no máximo uma pequena quantidade de mísseis e bombas com menos de 50Kg e alcance menor que 20Km. O que “bombardeiros” desta categoria vão fazer contra que alvos?
Existem, é claro, UAV´s com melhor desempenho (como o Reaper), mas aí estamos falando de coisas com o custo similar pelo menos ao de um Super-Tucano, de vários milhões de dólares, e então a relação custo—benefício contra qualquer míssil AAe, mesmo os mais sofisticados, fica desfavorável.
LeandroGCard escreveu:Desculpes mas devo, mesmo tentando bastante, não ter sido suficientemente claro: quando falei no custo-benefício, me referi à destruição da Bia inteira (incluindo sistemas e Bias auxiliares) e não apenas dos mísseis disparados x UAVs/UCAVs perdidos. E torno a repetir, quem vai deixar algo potencialmente perigoso chegar perto o suficiente para usar suas armas? Aqui não é a Sérvia, onde por padrão deixavam os caças passar e disparar suas armas sobre o alvos para só depois tentar atingi-los quando já estavam quase fora do espaço aéreo local. O fato de ter ousado atacar um F-117 (de uma unidade composta por quatro) antes mesmo que este pudesse abrir seu bomb-bay foi um dos fatores determinantes para criar a aura quase mística em torno do Cel Zoltan.
Túlio, mais uma vez você está encarando a AAe como um jogo de tudo-ou-nada, em que se o inimigo chegar ao alcance de disparo é o fim, o sistema de defesa está completamente arruinado sem chance de escapatória e a guerra acabou. Mas na verdade não é assim que a coisa funciona (e já estou ficando meio que cansado de explicar isso), a função da AAe NÃO É impedir que o inimigo dispare, e sim impor uma taxa de atrito que torne a continuação dos ataques impossível por seu custo excessivo. Por isso a tática é exatamente esta, atirar apenas quando os alvos de valor estiverem dentro de uma zona de alta probabilidade de sucesso (como fez Zoltan – pena que os mísseis que tinha eram obsoletos e a probabilidade de sucesso mínima na forma como a OTAN estava operando). E para isso a AAe precisa ser plenamente capaz de sobreviver a eventuais armas lançadas pelo inimigo, o que se obtém pela mobilidade (que não é apenas desejável, é FUNDAMENTAL), pelo uso de uma camada de defesa aproximada contra munições como bombas guiadas e mísseis (função dos mísseis menores e dos canhões de um Pantsir ou um Gepard), pelo uso de decoys, ECM e etc... . Nestas condições a eficiência dos ataques da aviação inimiga não é jamais 100%, na prática é muitíssimo menor, novamente como demonstrou o Cel. Zoltan, que mesmo em uma situação de extrema inferioridade tática e tecnológica frente aos ataques de toda a coalizão ocidental terminou a guerra com sua unidade praticamente intacta.
A idéia é extatamente esta, manter os atacantes em um duelo contínuo contra uma AAe que ele não tem como destruir com um único ataque, e impor uma taxa de desgaste que o obrigue a desistir antes de se voltar com toda força contra os alvos realmente estratégicos. Por isso coisas como grandes radares fixos ou meramente deslocáveis como os do Sivan (que não podem ser defendidos de forma eficiente) não devem sequer ser cogitados para integrar sistemas de defesa AAe – servem apenas para controle de tráfego em tempo de paz e ajuda no patrulhamento aéreo (é claro, muito úteis em tempo de paz para evitar que se fiquem deslocando radares realmente móveis e aeronaves AEW a todo momento por bobagens), e olhe lá.
Bueno, elas existem, tanto para a AAAe quanto para a DA. Creio que esqueceste de mencionar que a AAAe precisa de muito menor variedade de repuestos e combustível que a DA. Só que caças voltam à Base após sua missão e lá estão os suprimentos; já a AAAe, se desdobrada à distância, precisa ser constantemente suprida, criando um cordão logístico que seria a festa para as FFEE inimigas (tinha esquecido de mencionar essa parte).
A AAe não precisa se deslocar tanto assim, afinal os alvos estratégicos basicamente não se deslocam. Ela precisa se posicionar na área a ser defendida, e depois apenas mudar de posição algumas centenas de metros ou kms em torno de um ponto fixo. E isso é uma enorme vantagem em termos de sobrevivência se comparado por exemplo a uma base aérea da DA, que estará sempre lá exatamente no mesmo lugar, convidando para ser inutilizada... .
E quanto a esta história do cordão logístico, em ação a AAe vai basicamente deslocar seus próprios veículos e repostos de munição (o combustível é diesel o comum, encontrável em qualquer lugar e utilizado em quantidades ínfimas se comparado ao consumo de querosene especial de aviação da DA), algo esparso e dificílimo de ser atacado com eficiência por meio de ataques planejados. Para tentar interceptá-los seria necessário efetuar missões de interdição do campo de batalha, que exigem sobrevoos constantes em busca de alvos que não se sabe com antecedência onde estão ou o que são. Justamente o cenário ideal para a AAe em seu duelo contra a força aérea inimiga (aliás esta é a aplicação básica dos mísseis de alcance médio – 30 a 50 Km - com sensores passivos, em missões de tocaia).
LeandroGCard escreveu:Perdão mas não falei de 03
unidades de S-400, foram 03
Baterias completas, ou seja, 18 unidades de lançamento, cada Bia com 06 lançadores capazes de, em conjunto, ter 24 mísseis 40N6 (até 400 km de alcance) para pronto emprego cada uma. Não especifiquei as Bias auxiliares mas fico com o Pantsir, capaz de disparar em movimento e dispondo de nada menos de uma dúzia de mísseis para pronto emprego cada um, totalizando outros 72 SAMs por Bia. Assim, é quase uma centena de mísseis para atacar as aeronaves e, no caso do Pantsir, ainda temos um par de canhões de 30 mm para atacar as munições disparadas (pena que falta uma Airburst). Ademais, onde a "força ilimitada"? Não paro de demonstrar quão baratos podem ser os drones (e deixei claro que a maioria é
decoy!) e mencionei apenas alguns
Wild Weasels que apenas acabariam o serviço contra a AAAe. Que "força ilimitada" é essa? Se fores ver bem, está até ao
NOSSO alcance: com o que se gastou na modernização dos F-5 iria dar e sobrar para fazer todos os estimados 200 drones (2/3 falsos, lembres); para acabar o serviço seria botar MAR-1 e pod EW nos Gripens e deu pra bola, POWS!!!
Depois só mandar os AMX e Super Tucanos para completar a lambança. Então, se até NÓS podemos...
Ou seja, ainda estamos falando de MENOS DE 300 MÍSSEIS (que, veja bem, são apenas a munição), a grande maioria pequenos e baratos 57E-6, contra DUAS CENTENAS DE DRONES e ainda uma força completa de AMX, F-5M ou Gripen! Só para operar estes drones, quantas unidades de controle e especialistas seriam necessários? Quantos mísseis e bombas guiadas estes drones e aviões teriam que ter à sua disposição? E quanto custa manter os aviões no ar durante uma campanha aérea (quem acharia os alvos para drones e aviões)? E tudo isso para enfrentar basicamente apenas 108 mísseis com alcance maior que o das armas stand-off.
Seria como, no cenário da SGM, colocar 200 tanques leves e mais uns 100 pesados contra 18 canhões antitanque (ah, mas cada um com direito a seis tiros!) protegidos por algumas metralhadoras .50. Isso é jogo equilibrado pra você?
Mas na verdade eu nem colocaria o S-400 na jogada, este tipo de arma é para cenários bem específicos onde está presente a ameaça de mísseis balísticos de curto-médio alcance, o que não é o nosso caso. Para nós um S-300 já estaria pra lá de bom, e ainda assim em pequenas quantidades. O grosso da defesa poderia ser composto por sistemas da classe do Barak-8 ou do ESSM, além dos 57E-6 ou equivalentes em reparos dedicados, sem a necessidade de incorporar os canhões que deveriam ser instalados separadamente (juntos só fazem sentido para a função original do Pantsir, a proteção de tropas em movimento).
E você nunca se perguntou porquê eram necessárias mil bombas para destruir cada alvo, se no início da guerra os Stukas e Aichis faziam isso com umas poucas, mesmo contra alvos móveis como navios? Então eu lhe digo, é porque a defesa AAe não permitia o uso de bombardeios de baixa e média altitudes ou de mergulho, os aviões atacantes tinham que ficar acima do alcance efetivo dos canhões de calibre maior como o 88mm. Na altitude em que os aliados atacavam eles de fato ficavam praticamente imunes à defesa AAe (os próprios relatórios alemães são claros em dizer que naquela situação os Flak tinham função basicamente psicológica, para dar a impressão à população civil de que os nazistas estavam fazendo alguma coisa para defendê-la), mas o fato é que a eficiência dos ataques ficou uma bos%@ se comparada aos bombardeios de baixa e média altitude testados antes da guerra (lembra de Billy Mitchel?) e no início dela, a ponto deles não chegarem a afetar a Alemanha de forma decisiva como quase ocorreu com a Inglaterra em 1940 antes de Hitler desviar a Luftwaffe das fábricas de Spitfires e Hurricanes para Londres (mais uma vez, a Alemanha foi derrotada pelo bloqueio de matérias primas e no solo, não pelo ar).
Já quanto ao Japão, ele foi derrotado por bombas atômicas, o que é outro assunto. Não há o que discutir a respeito, se elas entram em cena ataques aéreos, DA ou AAe passam a ser irrelevantes (a menos que se considere eventuais sistemas ABM, uma derivação da AAe – e não da DA).
E daí?
Mais uma vez, a função da AAe não é impedir que uma única bomba sequer caia, e sim tornar a campanha aérea ineficiente e cara demais. E foi isso exatamente que os vietnamitas conseguiram, a ponto de não serem derrotados mesmo por bombardeios mais intensos que os lançados contra Alemanha e Japão juntos. E sabe porquê isso? Por que a distribuição dos ataques aéreos americanos por frequência era mais ou menos assim:
1- Áreas distantes da AAe vietnamita, mas onde também não haviam alvos de valor a destruir. Os relatórios sobre estes ataques (por exemplo contra a trilha Ho Chi Min e a supostas concentrações de unidades Vietkong nas florestas – que jamais foram confirmadas) são ridículos, contando por exemplo o número de bicicletas destruídas por um ataque de dezenas de B-52 (aliás, número falso, porque não foi ninguém lá verificar)! Uma percentagem absurda das bombas lançadas sobre território vietnamita foi simplesmente desperdiçada assim (meu pai tinha uma história muito interessante para contar sobre isso).
2- Sites da própria AAe – os americanos caíram na armadilha de entrar em duelo com a AAe e desperdiçar assim seus recursos. A maioria dos aviões americanos perdidos na guerra foi abatida assim, em missões de supressão de defesas.
3- Alvos defendidos por AAe de baixa eficiência (basicamente metralhadoras e canhões operados manualmente – contra jatos!), como pontes distantes e postos de observação em montanhas. Reconstruídos dias ou mesmo horas após cada ataque bem sucedido (embora diversos aviões tenham sido perdidos assim também, para surpresa dos EUA).
4- Alvos defendidos por AAe pesada, como a capital Hanoi. Neste caso os ataques foram suspensos antes de se obter qualquer dos efeitos políticos esperados.
Ademais, como assim, VENCEU? Que eu saiba os EUA é que perderam, retirando-se em 1973. E não perderam militarmente para os Charlies mas para sua própria imprensa e população, visceralmente contra. E por que estavam contra? Porque seu adorado Kennedy escalou o conflito, começando a mandar mais a mais tropas para ocupar terreno. Ora, o racismo entre Ocidentais e Orientais é lendário e não começou ontem. Não havia como estabelecer uma empatia entre os GIs e o Povo da região. Ambos se consideravam mutuamente como untermencshen, bárbaros & quetales. Deu no que deu, baixas crescentes, recrutamento obrigatório, repúdio a ele, mais baixas, mais repúdio, insurreições civis, mais baixas, até que a situação se tornou politicamente insustentável e os ianques tiveram que dar no pé. Seria interessante - em OUTRO tópico - debatermos como teria sido se os ianques tivessem mantido tudo como estava em 1963, com Aviação e Marinha fustigando a infraestrutura inimiga e FFEE treinando/armando aldeões e praticando ataques-surpresa e sabotagens. Mesmo com Russos e Chineses suprindo generosamente, quanto tempo o Vietnã aguentaria?
E porque será que os EUA não mantiveram a situação como em 1963 e escalaram o conflito em terra, foi só para dar inspiração para filmes como Rambo e Platoon? É claro que não, foi exatamente porque as perdas em aeronaves (basicamente para a AAe) estavam sendo maiores do que as vantagens obtidas com os ataques aéreos (veja bem, eu não estou dizendo que elas eram insustentáveis, mas apenas que não valiam o gasto enquanto estes ataques não se mostravam decisivos – e para tentar torná-los decisivos a perda de aeronaves e pilotos teria que ser ainda maior), e a continuação deste tipo de campanha mostrou ter relação custo-benefício negativa. Por isso, aliás, os ataques foram desviados para áreas distantes da AAe (eles não pararam, isso seria politicamente inaceitável para as forças americanas) e deixaram de ter influência importante no desenrolar posterior do conflito - apesar da esmagadora superioridade aérea dos EUA.
E é claro que se os EUA perderam o Vietnã venceu, pois alcançou seus objetivos políticos (a própria razão de ser do conflito). E como pode haver um derrotado sem um vencedor? Ou o povo americano teria ficado visceralmente contra a guerra se seus pilotos estivessem destruindo completamente o inimigo praticamente sem perdas, e soldados no solo fossem desnecessários?
IRAQUE - Uma Força Aérea que não voa (porque se voar derrubam) é o quê? Serve para quê? Para mim estava
soft-killed desde o começo do conflito.
Exatamente nossa situação contra qualquer inimigo credível (não temos inimigos realmente credíveis dentro da AL).
LÍBANO E PALESTINA - Israel repetindo o erro dos EUA no Vietnã. Tropas desdobradas para ocupação em um terreno onde vivem pessoas que, além de amplo acesso a armas modernas, têm diferenças irreconciliáveis com os Judeus. Tinha como dar em outra coisa que não fosse um fracasso?
E mais uma vez a aviação foi inútil, não fazendo a menor diferença. Mas ela não era a toda-poderosa, com um único ataque bem sucedido que passasse pela AAe decidindo a guerra? E aí?
SÉRVIA - Já falei na Sérvia. Ali fizeram o certo, foi ataque aéreo e mais ataque aéreo até os caras se renderem. O terreno é tão favorável aos defensores (em caso de ofensiva terrestre) que até os EUA compreenderam que as baixas seriam inaceitáveis.
Estude um pouco mais a guerra da Sérvia, e verá que o objetivo inicial da campanha era destruir as forças armadas sérvias, o que não aconteceu porque a defesa AAe não pôde ser neutralizada. Ao final da guerra as forças armadas sérvias estavam praticamente intocadas, e foi isso que impediu a entrada de tropas terrestres da Otan.
Mas aí a situação da Otan se complicou. A princípio ela não queria partir para ataques contra a infra-estrutura civil sérvia, pois isso daria margem a que outros países se posicionassem contra o conflito (o que de fato chegou a acontecer, com a Rússia e a China entre outros colocando protestos formais). Mas seria politicamente pior ainda se retirar e aceitar que não se podia fazer mais nada. Daí a mudança para os ataques estratégicos até a Sérvia desistir. E então o que a pobre Sérvia poderia fazer, um país menor que o estado de Pernambuco com um PIB igual a um terço do da Grécia contra a OTAN inteira? E os Sérvios nem mesmo produziam os radares e mísseis de médio alcance que tinham alguma chance de hostilizar a aviação inimiga (só mísseis de curto alcance como Manpads), tinham apenas um estoque antigo sem acesso a reposições... , daí a necessidade absoluta de economizar munições deixando os aviões passarem. Exatamente o que eu sempre digo que não funciona, e o motivo da produção de alguns sistemas ter que ser local.
FEE são unidades compostas por Militares cuidadosamente selecionados, altamente treinados e superequipados. Em suma, Forças Especiais são compostas por Soldados Especiais com Equipamentos Especiais, ou seja, muito além das capacidades de uma tropa comum. Te dou um exemplo bem legal: nas Falklands, em 1982, bem antes de a Frota Inglesa desembarcar tropas e retomar as ilhas, já estavam ocultos pequenos contingentes (geralmente duplas) do SAS e SBS. É difícil de achar referências a isso - tudo material classificado - mas, no meu caso, lendo uma entrevista do mais famoso dos Cmtes da FT Britânica, Alte Sandy Woodward, no começo dos anos 90, encontrei um trecho onde ele mencionava a surpresa do EM com reiteradas infos de "fontes no terreno" (adivinhes
quem ) dando conta que San Carlos Water, ponto excelente para desembarque, estava completamente desguarnecido. O erro dos argies era tão escandaloso que não dava para acreditar, tanto que, segundo ele, aviões da RAF e RN tiveram que fazer vários voos de reconhecimento até se certificarem. Outro ponto interessante - e igualmente espantoso - foi a surpresa ao saberem (novamente via HUMINT-FFEE) que os argies deixaram a pista de Stanley como estava, sem ampliar de modo a poder empregar ao menos Skyhawks e Super Etendards. Notemos ainda que a ilha onde se localiza San Carlos é menor que o município Gaúcho de Alegrete e concentrava o grosso das forças Argentinas sendo, portanto, constantemente patrulhada e ainda assim as FFEE operaram sem problemas...
Por melhores que soldados em terra sejam, eles não são supe-heróis, não tem capacidade de se deslocar por dezenas ou centenas de km sozinhos em território hostil e nem podem atuar sem informações precisas de onde estão seus alvos. No caso de posições de AAe fixas (que não deveriam existir, lembra?) em um território pequeno e de fácil acesso por mar como as Malvinas eles podem ter eficiência maximizada, e ainda assim os radares e mísseis Roland argentinos estavam operacionais ao final do conflito, e foram capturados intactos. O que tropas especiais fariam contra unidades dispersas e movendo-se constantemente em um terreno maior e dezenas de km longe de qualquer ponto de acesso? Ou tendo que realmente se aproximar de alvos como radares e lança-mísseis para poder destruí-los (e não ficar apenas de longe observando com binóculos)? Ou contra unidades militares mais eficientes que os pobres recrutas argentinos?
E uma informação que recebi do Cel Fregapanni sobre as ações das Malvinas (não sei se certa ou errada, foi o que ouvi da boca dele, que estudou aquele conflito à fundo): Quem dava informações para o comando inglês (as fontes no terreno) eram os kelpers, os moradores das ilhas, que desde sempre tiveram meios de se comunicar diretamente com a Inglaterra, nem que fosse por meio de radio-amadores. Não seriam necessários soldados especiais no terreno para isso.
Por fim, qual o motivo para atacar um dispositivo duríssimo como seria o defensivo das Bias AAe se, como mencionado acima, bastaria montar POs ao longo das linhas de suprimento e atacá-las? De resto, bastaria um primeiro ataque bem sucedido (retraindo a seguir para longe) para criar uma tremenda paranóia entre os defensores. Iriam centuplicar as patrulhas, montar uma porção de PCs, em suma, um simples deslocamento de suprimentos iria acabar levando dias e não horas para chegar às Bias...
Porque não se saberia onde as unidades das Bias AAe, móveis, estariam, e consequentemente também não as suas linhas de suprimento? Porque o TO seria grande, com centenas de Km2, e não concentrado em um ponto único fixo como nas Malvinas? Porque para levar os mísseis e a eventual munição de canhões provavelmente se usariam helis civis fretados e não caminhões militares (combustível não é problema, existem postos espalhados pelo país inteiro e um sistema completo e difuso para abastecê-los)? Se é tão simples assim, porque as AAe´s sérvia, iraquiana ou mesmo argentina estavam ainda ativas durante as respectivas campanhas? Uma dúzia de unidades de forças especiais não bastariam para eliminá-las?
Perae, comparar indústrias do tempo da 2GM com as de hoje é sodas! Quantas "horas" achas que levaria para reoperacionalizar uma moderna indústria aeronáutica (EMBRAER, p ex), de mísseis (Mectron, p ex), radares (Bradar, p ex) ou foguetes (Avibrás, p ex), após serem atingidas por bombas modernas? E a CBC? FI? AEL? Notar que a esmagadora maioria do maquinário usado nas linhas de produção é IMPORTADO e não é COTS, tipo "encomendou, pagou, embarcou". Sério, tens idéia de quanto tempo qualquer uma delas levaria para ser reparada ou substituída? Estamos longe dos tempos em que uma fábrica de máquinas de costura (ex Vigorelli) podia ser rápida e facilmente convertida para produção de armas (chegou a fabricar a SMG Uru mas tinha condições de fazer até Mtr .50), cupincha. Daí a mísseis, radares e aeronaves...
Em caso de guerra, muitíssimo pouco tempo, pode crer.
Estas fábricas todas na verdade tem muito menos equipamentos ultra-hiper-super sofisticados do que você imagina, visite a Embraer e depois uma ferramentaria qualquer e verá o que digo. Tirando os componentes eletrônicos (que em caso de guerra teriam sua produção imediatamente transferida para áreas altamente protegidas no interior do país, além da montagem de estoques – não somos tão estúpidos assim), os elementos mais importantes na verdade são planos de montagem, salas de medição e gabaritos/moldes. Os primeiros podem ser guardados em pen-drives ou até na internet, e reproduzidos à vontade. Os segundos existem em muitíssimas empresas, na verdade atualmente a maior parte das peças já chega à fábrica com qualidade garantida pelo próprio fornecedor. E os últimos são construídos artesanalmente (é isso mesmo, não são fabricados mas construídos, usando inclusive muito trabalho de ajuste manual). O maquinário na verdade não é tão específico assim, pode ser substituído por outros presentes em toda a nossa base industrial, e muitos deles são sim produzidos aqui mesmo há tempos, só se utilizam muitos equivalentes importados porque o custo (pelo menos até pouco tempo atrás, com o dólar barato) era mais compensador. Mas o Brasil já foi um importante exportador de máquinas industriais para o resto do mundo, fique sabendo, marcas como a Romi são bem conhecidas e apreciadas na Europa e nos EUA. E o trabalho de retrofit de máquinas mais antigas, que as transforma em unidades produtivas modernas e extremamente especializadas é realizado por diversas empresas brasileiras sim, eu mesmo prestei consultoria a diversas delas. A mesma estrutura industrial pode sem problemas ser empregada no reparo de máquinas danificadas.
Veja bem, uma coisa é a produção em tempo de paz de produtos com o mínimo preço possível para um mercado altamente competitivo, e outra completamente diferente é a produção de guerra para atender às demandas das FAA´s durante um conflito. Não dá para imaginar a segunda nos mesmos moldes da primeira, são realidades completamente diferentes. Vai por mim, trabalho nisso e sei bem do que estou falando. 99% do que importamos hoje pode sim ser produzido perfeitamente aqui e em pouco tempo, apenas os custos é que ficariam muito longe de ser compensadores, daí a importação. Mas isso é irrelevante em caso de guerra.
Ué, da mesma fuente de onde viriam os repuestos para a AAAe. Um peso, uma medida...
Sendo que as peças e repostos para aeronaves são muitíssimo mais complexas e caras do que para veículos terrestres de qualquer tipo que seja. E também mais complexas do que mísseis (que, aliás, as aeronaves também precisariam usar como munição). A mesma medida dá pesos muito diferentes... .
AAAe + DA.
Ou seja, a DA não consegue nem mesmo se proteger sozinha sem a AAe? E vai querer proteger mais o quê então sem ela?
Primeiramente, apenas um país com a capacidade dos EUA poderia no futuro previsível vir a efetuar um ataque contra nosso território usando dezenas ou centenas de drones de qualquer tipo, que foi o exemplo que você mesmo colocou. Nem as nações da OTAN poderiam fazer isso hoje, e Israel não teria como trazer seus drones para cá.
Mas não é este o motivo para eu sempre contrapor forças dos EUA e da OTAN quando discuto AAe. O que tenho em mente é outra coisa muito diferente de um ataque ao nosso território. O fato é que praticamente qualquer outro país que sequer pense em comprar sistemas AAe de fabricação brasileira estará sim imaginando os EUA, países da OTAN ou todos juntos como possíveis atacantes, e só cogitará a aquisição de sistemas capazes de enfrentar ESTES inimigos. Simplesmente ninguém em sã consciência iria gastar uma quantidade significativa de $$$ para se proteger de ataques aéreos da Venezuela ou da Argentina.
Juro que me esforço mas não tem jeito de eu entender este teu conceito de caças operando ATRÁS da AAAe, simplesmente não faz sentido para mim, desculpes.
Não entendo qual a dificuldade. A AAe fica a frente (maior alcance) e ao lado (curto alcance) dos alvos à proteger, e a DA acima e atrás deles (para evitar que a AAe seja flanqueda). O território a frente dos alvos por definição não apresenta alvos a serem bombardeados, e portanto não precisa ser protegido, porque alguém mandaria caças para lá, reduzindo suas vantagens táticas na defesa? Isso eu é que não entendo. Muito melhor deixar o inimigo se preocupar em realizar os maiores trajetos, penetrar nas defesas AAe, gastar seu combustível e cansar seus pilotos antes de enfrentar os caças da defesa, apoiados por seus sistemas de radar, aeronaves AEW, comunicações, tudo colocado na retaguarda. Isso complica sobremaneira a vida dos atacantes e contribui para aumentar sua taxa de atrito enquanto reduz a dos defensores, que deve ser o objetivo básico da defesa aérea como um todo (e não impedir que toda e qualquer bomba seja lançada, mantenha isso em mente).
Botar os caças lá na frente enfrentando todas as desvantagens que o inimigo é que deveria enfrentar só porque eles podem (ou ficaria bonito em um filme) não faz o menor sentido prático. Mas eu entendo sua confusão, ela ocorre porque estamos falando das missões DEFENSIVAS. É claro que as aeronaves não vão ficar apenas defendendo a retaguarda o conflito inteiro, a grande vantagem delas é justamente poder ir lá na frente levar a guerra ao coração do território inimigo. Mas aí a AAe estará do outro lado, e a discussão é outra (como sobreviver a ela). Então mantenha em mente que quando falo da cooperação de aviões de caça e AAe estou me referindo EXCLUSIVAMENTE a ações DEFENSIVAS, e neste caso é melhor os caças estarem atrás da AAe do que na frente dela. A menos que tenhamos ampla superioridade aérea contra o inimigo, e neste caso a AAe perde muito de sua importância, como ocorre com os EUA (o que dificilmente será o caso do Brasil algum dia, mesmo contra nossos pobres vizinhos que já há muito tempo estão justamente na situação contrária).
Rever o exemplo de Tróia. Ou preferes um exemplo mais moderno? Tri, Batalha da Inglaterra. A AAAe teve bastante trabalho mas quem fez mesmo a alemoada desistir foi a RAF...
Péssimos exemplos Túlio.
As muralhas de Tróia jamais foram derrotadas, mesmo com um bando de semi-deuses lutando pelo lado adversário. Elas inclusive permitiram que um fraco e covarde Páris derrotasse o poderoso Aquiles, o que um igualmente poderoso Heitor não conseguiu fazer ao abandonar a proteção delas. Foi preciso um subterfúgio para penetrá-las, e os portões tiveram que ser abertos por dentro. Se os troianos não tivessem sido levados a acreditar que a guerra já estava terminada eles não teriam levado aquele cavalo de madeira ridículo para dentro, o teriam queimado no local, e Troia talvez estivesse de pé até hoje... .
E a Inglaterra não possuía AAe digna de nota, o que quase a levou à derrota para a Luftwaffe. Os ataques de He-111 e Do-17 a média altitude contra as fábricas e campos de aviação ingleses, embora também não fossem lá nenhuma maravilha, foram muito mais bem sucedidos do que os ataques de grande altitude de B-17 e Lancasters contra as fábricas alemãs protegidas por flak, mesmo os bombardeiros aliados sendo muito maiores e melhores. Não fosse a bobagem de Hitler em insistir nos ataques a Londres a RAF não teria sobrevivido muito mais tempo, e a história seria bem outra.
E mais, se a ideia dos comandantes inferiores e pilotos da RAF tivesse sido seguida, com os caças avançando para lutar ainda na França ou sobre o canal (a ideia de lançar os caças à frente) a RAF sequer teria conseguido manter pilotos suficientes em operação para vencer a batalha (ela mal conseguiu manter seus números, e mesmo assim com qualidade decrescente ao longo da batalha – imagine com seus pilotos caindo no mar ou em território inimigo). Apenas a insistência de seu comandante, o brigadeiro Dowding, em manter táticas defensivas permitiu a RAF impor uma taxa de atrição tal que acabou fazendo a Alemanha desistir da batalha.
Por outro lado, se os ingleses tivessem utilizado a AAe com mais intensidade poderiam ter tido sua vitória extremamente facilitada, como mostrou a campanha da Holanda:
“
Unknown to the British because of the chaos of war,[119] the Luftwaffe had suffered very heavy losses during their attack on the Netherlands, losing 64 fighters, 276 transport planes and various other aircraft for a total of 525 lost in just four days in May, due to fierce Dutch anti-aircraft defences that the Luftwaffe had grossly underestimated “
Fonte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of ... strategies
Grande abraço,
Leandro G. Card