Se chamava Hassan. Já tivera outro nome, este em em francês mas, com a passagem dos anos, acabara esquecendo. Mas não de seus pais e irmão, todos mortos lutando contra os soldados do cruel e sanguinário governo de Mobutu Sese Seko, no então Zaire. Na ocasião ele tinha apenas nove anos de idade e, quando os primeiros tiros e explosões foram ouvidas e as primeiras notícias sobre o combate haviam chegado através de um vizinho, mal entendera o que significavam. Apenas vira seus pais – a mãe grávida de quatro meses – e seu irmão de quinze anos (outros cinco entre eles haviam falecido de doenças e desnutrição, exceto um – uma menina – vítima de um projétil disparado à toa ou mesmo sem querer por um soldado do governo embriagado, durante uma patrulha) empunharem imediatamente seus fuzis Kalashnikov e seguirem decididos rumo a algum lugar, de onde podia ouvir disparos e explosões. Devia ser a praça a alguns quarteirões dali. Lhe haviam dito para ficar em casa – de qualquer modo, não havia fuzil para ele – até que retornassem. Mas o pequeno lembrara do revólver calibre .38 que seu pai guardava sempre carregado embaixo da humilde cama de tábuas e um colchão fino fornecido pela missão da ONU que compartilhava com a esposa. Foi até lá e apanhou-o. Sentiu a empunhadura e o poder que dele emanava. Era pesado, mas isso foi o definitivo ponto de inflexão em sua vida, jovem e adulta. Para sempre!
Com a arma na mão direita, correra em direção aos disparos, acreditando que seus familiares seguiriam mais ou menos o mesmo trajeto e que agora obviamente indicavam que intuíra o lugar correto dos eventos, a praça. Quase com naturalidade, conhecedor que era das redondezas, desembocara na área mais ou menos ampla, onde o combate parecia estar no auge. Havia muitas pessoas atirando e uma enorme massa de seus concidadãos, vários deles vizinhos e conhecidos seus, lutando contra aqueles invasores. O ruído dos disparos e explosões, somado ao estrondo dos motores a diesel, o agudo guinchar das lagartas, os gritos e exortações, e o esporádico atroar dos canhões, era praticamente insuportável. Mas mesmo com a barulhenta cacofonia que imperava Hassan, para sua eterna tristeza, localizara sua mãe no exato instante em que, com um grito que o jovem adivinhara sem poder ouvir, tal a balbúrdia, ela caíra, atingida. Correra até ela e, ao abraçá-la e erguer-lhe suavemente o rosto, já sabia, mesmo em seus tenros anos, que a vida a deixara para sempre. Mas podia ficar pior e com efeito havia ficado. Seu pai jazia a poucos metros, tão morto quanto a esposa. Estava órfão! A tristeza deu imeditamente lugar à extrema raiva e, sem sequer olhar para os fuzis que agora jaziam calados ao lado de seus falecidos usuários (de qualquer forma, jamais aprendera a usá-los, era pequeno e jovem demais, segundo seu agora falecido pai, que apenas lhe ensinara a disparar o revólver), correu para o engenho de guerra que avistara. Tinha sua arma e iria usá-la. Era (ele naturalmente não sabia, não entendia de coisas assim) um carro de combate T-55, de fabricação russa, que rodava decidido e abrindo caminho a ferro e fogo. Outros podiam ser avistados nas adjacências mas queria aquele! Não saberia explicar o porquê, contudo assim era. Talvez fosse a bandeirola colorida, presa à ponta da antena de um rádio transceptor inoperante por falta de manutenção e que indicava ser o carro do comandante da unidade, outra coisa que a criança ignorava. Talvez, por ser o mais próximo, ele o considerasse o mais provável culpado por sua recente orfandade. Na verdade, isso pouco importava. Queria sangue!
E quiseram as circunstâncias do combate que o blindado parasse exatamente quando o menino dele se aproximava, correndo, a fúria lhe emprestando asas aos pés. O direito pousara num salto sobre a lagarta, o esquerdo sobre o chassis (carroceria), tendo batido dolorosamente a canela na lateral do carro mas isso não importava agora, na verdade mal havia se dado conta, as veias inundadas de adrenalina. Com a mão esquerda agarrara uma das “pegas” da torre, equipada com o canhão e as metralhadoras. Então uma das escotilhas se abriu. Não sabia quem era (o comandante/chefe do carro e do pequeno esquadrão, não dispondo de outro meio para se comunicar com as outras unidades, ordenara ao auxiliar do atirador, encarregado de manter as armas municiadas, que subisse, abrisse sua escotilha e fizesse sinais manuais aos demais blindados para pararem e se reposicionarem) mas pouco lhe importava, era o inimigo e, em seu juízo, assassinara covardemente a seus pais! Segurando seu .38 com apenas a mão direita, fechou um olho, como seu pai lhe ensinara, e apontou em direção ao rosto do homem, que estava meio de lado, tentando sinalizar com os braços aos outros carros, expondo-se ao fogo em lugar de seu comandante. O homem, notando com a visão periférica a presença do menino, começou a voltar sua cabeça para ele quando o garoto constatou que simplesmente não tinha forças para pressionar o duro gatilho da arma de dupla ação. Lembrando-se da alternativa que seu pai, rindo gostosamente de sua pouca força, lhe mostrara, tratou de usar o polegar esquerdo junto com o direito para engatilhar, soltando-se da torre e arriscando a ser derrubado por seu simples movimento giratório (mas o mecanismo de giro também tinha problemas de manutenção, sendo naquele momento, por ordem do comandante, movido lentamente através de uma manivela pelo atirador). O homem, horrorizado, havia se dado conta de que estava em sua própria escotilha que, ao contrário da do comandante, não possuía metralhadora própria para autodefesa. Então o disparo! O municiador improvisado em sinaleiro agora olhava direto para o pequeno Hassan, olhos esbugalhados de surpresa e terror. Seu rosto imediatamente oscilou para trás e em seguida para a frente, banhando-se de vermelho, e o menino sabia que sua vingança pessoal havia começado. Apenas começado. Ato contínuo, o homem deslizou frouxamente para dentro do veículo e o menino seguiu para a escotilha, que permanecia aberta. Alguns projéteis voavam e embatiam contra o blindado ao seu redor mas sequer se dava conta. Não importava...
Enfiou o rosto pelo buraco no topo da torre, olhando para baixo. Viu o homem que matara (sim, havia matado um ser humano, haveriam orações e expiações a serem oferecidas por ter feito isso, fora ensinado e bem desde cedo, mas não podia sinceramente dizer que lamentava, não com tanto ódio borbulhando em sua corrente sanguínea) desabado sobre o piso interno do veículo. Um outro homem, o atirador, ainda girando a manivela, olhou para cima, apenas para ver um vulto indistinto que lhe apontava uma arma. Começou a dizer algo, ainda girando tola e inutilmente a manivela mas, com o mesmo expediente “engatilhar/mirar/disparar”, o menino o silenciou para sempre, também com um disparo na cabeça, que transfixou o capacete de couro de fabricação soviética e o crânio do infeliz. A sensação era embriagadora. O seguinte foi o comandante, que tentava desajeitadamente sacar uma pistola de seu antigo coldre militar com tampa e botão, derrubado com um par de disparos, já que o primeiro, ali pelo tórax, aparentemente não bastara, o homem ainda se movia e por isso recebera um segundo disparo, agora ao lado da cabeça. Não vendo mais ninguém e com o blindado retomando o movimento, decidiu entrar e caçar quem mais estivesse a bordo. Mas o motorista não era exatamente tolo e, ao perceber o que ocorria e que a Morte estava ali dentro com ele, largou os comandos e abriu sua própria escotilha, saltando de qualquer maneira para fora do carro de combate e a seguir deitando a correr em direção ao blindado mais próximo. Vendo o movimento de onde estava (já na base da torre), o menino chegou a disparar mas errou, atingindo apenas o encosto do assento do banco do condutor. Deslocou-se rapidamente pelo meio confinado, graças ao seu pequeno tamanho, e emergiu da escotilha por onde escapara o motorista, já com a arma novamente engatilhada. O maldito assassino corria para longe o mais rápido que podia, estando já a alguns bons metros. Fechou um olho e mirou com cuidado. O disparo alcançou o homem de verde ali pelo meio das costas, atingindo o coração e fazendo o soldado desabar no chão, imóvel. O menino exultou. Era o único ser vivo dentro daquela máquina infernal. Estava vingado! E também vingara seus pais...
Não sabia mas sua ação era observada atentamente por outro envolvido naquela batalha, este um homem adulto chamado Ahmed, que comandava um pequeno subgrupo de guerrilheiros e imprimiria (ambos ainda o ignoravam, naturalmente) o definitivo rumo de sua jovem vida.
Ahmed mantivera seu grupo cuidadosamente oculto. Mesmo aos vinte e cinco anos, já era um guerrilheiro experiente, que conhecia as virtudes da prudência. Primeiro observe e avalie o inimigo, depois descubra e explore suas deficiências e só então o esmague, aprendera cedo e à custa de vários amigos perdidos, além de um par de ferimentos em sua própria carne. E erros operacionais ali havia de sobra, era incrível como aquela gente lutava mal. As pessoas disparavam fuzis, carabinas, submetralhadoras e metralhadoras leves contra carros de combate e ainda por cima se expunham ao fazer isso. Loucura! Pior, notara que vários simplesmente fechavam ambos os olhos ao disparar.
E o que dizer dos blindados? Eram cinco e avançavam sós, sem qualquer infantaria de apoio capaz de protegê-los ou qualquer cobertura aérea e/ou de artilharia, ao menos que pudesse ver, talvez por imaginar que enfrentariam apenas civis com armas leves. Uma presa fácil para seus atiradores de RPG, que se haviam posicionado e aguardavam cuidadosamente ocultos a hora de agir. E então aquilo!
Um menino franzino, seminu, vestindo apenas um calção largo demais para ele, que corria descalço e de modo suicida com alguma arma leve (parecera-lhe aos olhos experientes um revólver, mas não havia como ter certeza, o pequeno vulto se movia rápido demais) numa das mãos rumo ao T-55 de comando (Ahmed notara a bandeirola). Fixara-se na cena, imaginando seu triste final. Mais uma criança violentamente morta onde tantas crianças morriam pela violência – e isso as que tinham sorte, pois a fome e as doenças matavam muito mais. Então, o inesperado: sem ser atingido, o menino saltara agilmente para o topo do carro ao mesmo tempo em que se abria uma escotilha e um homem emergia, voltando-se para os demais blindados e começando a agitar os braços. Um atirador apontou imediatamente seu fuzil de precisão SVD mas Ahmed o deteve com um gesto. Queria ver! E, para seu espanto, viu mesmo.
O menino matou o soldado com um único disparo e logo a seguir enfiou-se na torre, tudo com extrema rapidez. Em instantes havia desaparecido no interior do blindado. Ahmed só se deu conta do final ao ver o motorista saltar e correr, apenas para ser também abatido a poucos metros do veículo pelo menino que emergira dali logo a seguir. Inacreditável, uma simples criança capturara um carro de combate operacional sozinha diante de seus olhos, após aparentemente massacrar toda a guarnição e isso tudo com apenas um mísero revólver! Já o garoto novamente desaparecia nas entranhas do monstro de aço.
Os atiradores de RPG haviam começado seu trabalho. Pelo jeito haviam também visto ou sido informados do ocorrido, pois rápida e eficazmente atingiram e destruíram os quatro outros T-55 (sem sofrerem baixas, pois Ahmed os havia treinado bem) quase ao mesmo tempo mas sequer prestaram atenção ao veículo capturado pelo menino. Talvez tivessem notado a proximidade do líder e sua escolta, não querendo arriscar acidentes ou mesmo fratricídio, ou talvez mesmo tivessem assistido também, igualmente espantados, à extraordinária ação do menino...
A praça era um espetáculo tétrico, triste de se ver, mesmo para o endurecido coração de Ahmed. Pessoas mortas e feridas por toda parte, sangue fluindo de feridas abertas e corpos mutilados, pedaços de corpos, gemidos e lamentos, pessoas grotescamente esmagadas pelas lagartas dos blindados de trinta e seis toneladas, fogo e fumaça, a horrenda cena se repetia em qualquer direção para a qual olhasse. Mas a batalha, ao que parecia, terminara. Era hora de medicar feridos e chorar e sepultar os mortos. Não obstante, o guerrilheiro não prestava realmente atenção àquilo, sua atenção estava concentrada no T-55 intacto. Era uma bela presa de guerra. Não serviria, claro, à sua organização, mas já imaginava o quanto renderia, oferecido às pessoas certas. Armas, munições, alimentos, medicamentos e, claro, algo que dinheiro algum pode pagar: prestígio! Encaminhou-se para ele com alguns homens, já indagando a si mesmo a quem deveria entregar sua operação até a entrega ao futuro usuário. A poucos passos o menino emergiu da mesma escotilha por onde entrara (certamente não tinha força suficiente para abrir as outras). A arma ainda na mão direita, a curta distância de Ahmed. A aparição foi tão súbita que ninguém esboçou a mínima reação, tal a surpresa. Então as duas mãos da criança tornaram a engatilhar a arma, agora apontada para o rosto do líder guerrilheiro.
E dois dedos infantis pressionaram o gatilho. Ahmed sequer sentiu medo, tão surpreso estava, como todos os demais. Apenas olhou o menino nos olhos e viu a mais absoluta frieza, além de algo mais, que não conseguia definir. “Vou morrer fitando olhos de leão”, pensou, algo poeticamente, no que imaginava por alto como seu último momento de vida. A arma apenas emitiu um suave clique. Descarregada. O menino usara todos os seis cartuchos em sua macabra vingança e não dispunha de munição extra.
Finalmente os homens (sua escolta pessoal) reagiram, armas foram destravadas e apontadas, estando prestes a serem descarregadas contra o pequeno inimigo. Então Ahmed se ouviu gritando, braço erguido:
- Não atirem! Não atirem! Cessar fogo!
Bem treinados, os homens obedeceram, algo inquietos, pois o negrinho (árabes como eles nunca foram particularmente famosos por sua tolerância étnica), ainda olhando fixamente para os olhos de Ahmed, tornava a engatilhar e pressionar o gatilho da arma descarregada. Começava a engatilhar outra vez, a arma sempre apontada. Ahmed então falou em voz suficientemente alta para ser compreendido:
- Garoto, você está sem munição. E não sou seu inimigo, por que quer me matar? – perguntara em árabe, mesmo sabendo serem o francês e dialetos africanos as línguas predominantes ali. Após alguns instantes, o menino pareceu retomar o controle de si próprio e compreender o que lhe fora dito. Para surpresa do guerrilheiro e dos demais, respondeu ofegante e aos arrancos, mas no mesmo idioma:
- Desculpe. Estou nervoso. Mataram minha mãe. Mataram meu pai. Pensei que você fosse gente do governo também. Desculpe, repetiu. – e baixou a arma.
Isso provocou uma enorme gargalhada entre os demais guerrilheiros. Como podiam eles ser do Zaire? Eram bem mais claros e tinham cabelos lisos. Se não tivesse sido dito por uma criança, considerariam como séria ofensa. Então Ahmed respondeu:
- Desça daí, garoto. Ninguém vai lhe fazer mal, tem minha garantia.
O menino pareceu hesitar por alguns instantes. Então, sem largar o revólver, desceu agilmente da torre, saltando direto do casco do blindado para o solo. Um feio corte sangrava em sua canela mas não parecia sequer notá-lo ou sentir dor. Postou-se diante do líder do grupo, arma pendendo da mão, e olhou para cima – era bem mais baixo – outra vez diretamente nos olhos. Ahmed, novamente pensando “olhos de leão” (aquilo não lhe saía da mente), então perguntou-lhe:
- Como fala tão bem meu idioma?
A resposta foi imediata:
- Meu pai ensinou a todos nós desde bem pequenos, dizia que devemos orar na língua do Profeta se quisermos as bênçãos plenas de Alá, para sempre seja louvado. Vários aqui também falam...
Esta frase teve o condão de silenciar imediatamente os últimos resquícios de risadas entre os guerrilheiros. O menino falava como um Verdadeiro Crente, e isso em um país onde estes eram uma minoria perseguida. Ahmed, prático como a vida o ensinara a ser, disse então:
- Bem, vamos procurar seus pais e lhes dar um sepultamente digno de um Fiel. Você sabe onde estão?
- Sei. Só não encontrei meu irmão ainda.
- Vamos procurá-lo também. Tudo bem para você que o ajudemos...Irmão? - os homens da escolta apenas se entreolharam e o que cada um pensou, tratou de guardar para sim. De qualquer modo, estavam todos muito impressionados com a espantosa façanha daquela...daquela criança.
O menino assentiu com a cabeça mas nada respondeu, limitando-se a caminhar, agora assumindo um ar algo aturdido, em direção ao local onde encontrara seus pais. Sem hesitar, Ahmed o seguiu, a escolta logo atrás e atenta a qualquer risco para o líder, como sempre. Ele os havia treinado bem.
Os corpos foram encontrados rapidamente e então o garoto abandonou qualquer vestígio da dureza que causara admiração ao experiente guerrilheiro. Era agora apenas uma criança que soluçava abraçada ao cadáver da mãe, murmurando preces e palavras de carinho e de tristeza, o revólver esquecido no solo poeirento e ensanguentado.
O resto seguiu seu curso normal. O cadáver mutilado do irmão do garoto fora igualmente encontrado nas proximidades dos corpos dos pais. A família lutara e morrera unida. Após, algumas mulheres apanharam, conduziram para um recinto fechado e se ajudaram mutuamente a despir e lavar o corpo da mãe, enquanto os homens de Ahmed (alguns meio que a contragosto, lhes repugnava tocar em pessoas daquela cor) recolhiam e davam o mesmo tratamento ao pai e ao irmão do garoto; preces foram ditas e os sepultamentos concluídos, sempre em presença de Ahmed. Então, na manhã seguinte, este perguntou ao menino, este ainda algo entre ensimesmado e choroso:
- E agora, Irmão? Você tem parentes, alguém com quem ficar?
- Acho que não. Tenho uns tios que moram em alguma outra cidade mas não sei onde é, nos visitavam de vez em quando...
- Então, o que pretende fazer?
O menino o olhou mais uma vez nos olhos e o experiente guerreiro novamente pensou em leões, tal a fria ferocidade com que o pequeno o encarava, as lágrimas secando na face lisa, e respondeu:
- Vou matar mais deles. Todos os que puder.
Não havia raiva, apenas decisão.
Num impulso, o homem disse ao menino, sem sequer refletir, mas intimamente respaldado na certeza de que algo de muito bom resultaria daquilo:
- Quer vir conosco, meu jovem leão? Para ser um guerreiro é preciso antes aprender a ser guerreiro e posso lhe ensinar coisas que nem imagina. Quando tiver a minha idade já terá combatido tanto que sequer se recordará de todos os inimigos que enfrentou...
- E poderei matar mais gente maldita que faz o que esses homens fizeram à minha família? – as lágrimas se aproximavam de novo.
Ahmed sorriu-lhe. Então ficou sério novamente:
- Não apenas isso. O fará em nome de Deus e com Suas bênçãos. E, na falta de seu querido pai, que o Nosso Piedoso e Clemente Deus o tenha na maior das felicidades, você terá a mim para aconselhá-lo, guiá-lo e, se necessário, protegê-lo, até se tornar um homem feito. Tem a minha palavra e meu juramento de que, se me servir e obedecer fielmente, só terá a ganhar. Mil novas vinganças o aguardam, se vier comigo...
Ahmed estava certo de que encontrara uma valiosíssima jóia bruta e se propunha a lapidá-la e poli-la por quantos anos isso fosse necessário, até que ela brilhasse sozinha e alcançasse todo o seu valor, que ele apenas intuía. Agradeceu silenciosamente a Alá pelo presente.
Com um aceno de cabeça, o menino simplesmente aquiesceu, selando em definitivo sua aliança com o guerreiro.