Tem coisa que eu realmente não entendo. Consideremos:
Um conflito, que chegue ao ponto de escalar até o nível de ser necessário o emprego de caças com BVRs não ocorre de um dia para o outro. Faço uma analogia com uma cebola, são camadas e mais camadas a serem "descascadas" até se ter de botar os caças no céu em Missão de Combate Aéreo;
Isso pode ser comprovado por simplesmente TODOS os enfrentamentos entre Nações Soberanas nas últimas décadas; o próprio onze de setembro, evento mais traumático (em termos militares) deste século, mostra isso: o Afeganistão nem podia ser chamado de País pois já estava em guerra interna (além de o Talibã não ser reconhecido pela esmagadora maioria das Nações, exceto os de sempre, Arábia Saudita, Paquistão e EAU) com o poder em disputa entre o Talibã e os
warlords que formavam a chamada Aliança do Norte; foi avisado e recusou-se a entregar o véio Binla e uns cupinchas dele, além de fechar bases e centros de treinamento de terroristas. Com a recusa, levou pau em menos de um mês mas tudo o que os EUA tiveram que fazer foi mandar missões de ataque ao solo, já que nem caças existiam para enfrentá-los. A rigor nem dá para considerar como um conflito entre Países; já o caso do Iraque foi BEM diferente, levou cerca de um ano e meio entre o ato terrorista e a invasão. Aí a diferença entre tomar partido em uma guerra civil preexistente e entrar em guerra com outro País. E nos dois casos havia uma questão semelhante a Pearl Harbour, todo ianque queria arrancar o couro de quem perpetrou o atentado mas notemos a diferença, o alvo - um não-País - foi atacado em menos de um mês, já o
bônus - um País reconhecido - levou um ano e meio escalando até estourar;
Mais para trás, a Guerra do Golfo (que começou de fato com a invasão do Kuwait pelo Iraque em AGO/1990, após a tensão escalar durante décadas, pois já nos anos 60 o UK teve que botar o Iraque pra correr, pois tinha invadido e anexado o Kuwait já naquele tempo) mostrou ofertas e ultimatos para o Iraque se retirar durante mais de meio ano, sendo a Operação autorizada pela própria ONU. Bastaria Saddam aproveitar o ultimato final e retirar as tropas em 24 horas para deixar mais de meio milhão de tropas da Coalizão com cara de bobos, mas tempo não lhe faltou para sossegar o facho ou, alternativamente, se equipar de verdade para lutar uma guerra contra inimigos que usavam amplamente uma tecnologia então nova - mas já conhecida - e militarmente disponível, que era o hoje prosaico GPS (no caso deles teria que ser provavelmente o GLONASS, que ainda se limitava aos Russos, ou seja, dificilmente a teriam). Graças ao GPS, as forças terrestres da Coalizão podiam se deslocar pelo deserto, enquanto as do Iraque apenas pelas estradas, o que as tornou fáceis de detectar e atacar, tanto por terra quanto pelo ar. Para as partes que ficaram "enterradas" ou entrincheiradas foi pior ainda, eram alvos fixos para a Aviação e Artilharia, que fizeram a festa. O fato que importa é que não começou de uma hora para outra, houve um longo período de escalada (mesmo na 2GM não tinha como não somar o tremendo rearmamento da Alemanha e Japão com o discurso imperialista. O erro foi de quem viu todos os sinais e não se preparou para o que era mais do que óbvio);
Se formos recuando no tempo veremos sempre isso, tensões políticas que vão escalando até chegar ao ponto em que a coisa toda vai parar nas mãos dos Generais. Ou os políticos botam panos quentes e a coisa esfria. Ou algum meio-termo, como foi a questão da Cordilheira do Condor, que nem dá para chamar de
guerra.
E chegamos ao ponto em que fico surpreso, à luz do exposto: sem qualquer um dos necessários e claros indicativos de guerra, sem necessidade das manobras diplomáticas protelatórias, negociações de bastidores, formação de alianças & quetales, por que iria o Brasil necessitar de centenas de Gripens, todos arrumadinhos numa base
quantitativa de X caças aqui, mais Y caças ali, outros X lá, mais Y acolá e por aí vai; depois uma bilionária batelada de mísseis, tanques descartáveis, pods e bombas inteligentes correspondentes a tantos pilones quantos os caças puderem levar (mais os ditos pilones, que são uma conta separada) sabendo que em uma década, pouco mais, pouco menos, quase tudo vai ter que ser comprado de novo, e isso num País no meio de uma baita crise financeira. SE, e somente SE, houvesse/houver uma clara HE, os esforços diplomáticos não estivessem/estiverem dando resultado, claro que o dinheiro iria/irá aparecer e seria/será facílimo de justificar; no momento atual, a única mensagem que isso passaria - ao invés de deterrência - seria a mesma de Alemães e Japoneses às vésperas da 2GM, ou seja, que estamos aprontando alguma.
Porque não faço a menor ideia de qual País da vizinhança "mereça" mais do que 20/30 Meteor e uns 10/15 Gripens - e olhe lá! - para ter sua Força Aérea completamente varrida do céu. E falo do
worst case scenario, que seria a Venezuela ter seus 23 FLANKERS plenamente operacionais e armados, o que me parece muito mas MUITO duvidoso, e dar sinais claros de intentar um invasão com vistas a, digamos, incorporar RR ao seu território. Teria que ser muito DOIDO para fazer isso, pois restaria mais de 8,3 milhões de km² de Brasil e uns 205 milhões de Brasileiros para dar o troco, e a coberto do Direito Internacional, como País
agredido.
Deixo de analisar Rússia e China pela falta de poderio/interesse em uma Operação dessa envergadura sem a necessária capacidade de projeção de poder a uma distância tão grande (lembremos, Potência Global segue e ainda vai seguir por décadas sendo
apenas os EUA) ou a impossibilidade logística de montar e manter indefinidamente uma base militar de considerável tamanho e capacidade terra-mar-ar tão longe de casa, eis que isso iria drenar recursos consideráveis de suas Economias em troca de pouco ou nada: a Rússia já exporta todo o petróleo e gás para os quais encontra compradores, por que iria se meter numa guerra que não pode vencer em troca de um pouco mais, e ainda por cima reduzir suas próprias defesas e criar problemas políticos desnecessários em casa? Ou a China, com projetos Geoestratégicos altamente ambiciosos, como a Nova Rota da Seda e ampliação consistente de sua influência na Ásia, África e até Europa Ocidental, iria arriscar tanta coisa só para se aliar militarmente a uma
narcoditadura tão repudiada internacionalmente quanto o Talibã do começo deste século? Brabo...
É o que penso.