Senhores, algumas considerações:
Referi mais acima que o
dream fighter para a FAB do começo dos anos 90 era o F-16. A razão era simples, não havia nem de longe outro caça com o custo-benefício dele, especialmente com a restrição a BVRs então vigente. Lembrar, na década anterior o Peru havia comprado Mirage 2000 mas necas de S-530, porque o Françuá não iria desafiar o véio Sam. Também usava caça soviético mas nem o Ivan vendia BVR pra sudaca, era muito arriscado se meter no
backyard...
Não obstante, para ser usado no Brasil, o F-16 não poderia vir sozinho: já fazíamos REVO aqui mas o padrão era e é o P&D (Probe & Drogue), muito diferente do FB (Flying Boom) que é o padrão da USAF. Ou seja, ou comprávamos
Tankers novos ou fazíamos uma adaptação cara e complicada - incluindo treinamento de operadores, alteração na Doutrina & quetales - nos que já tínhamos. Não recordo se já estavam disponíveis para exportação os CFTs ou se sequer já estavam operacionais. E desconheço F-16 com sonda REVO (P&D).
Ainda sobre REVO, apenas para detalhar um pouco, a FAB escolheu seu padrão em meados dos anos 70, em função dos F-5E. Primeiro REVO em 1975, usando um KC-130. P&D, naturalmente, o que na metade da década seguinte orientou a escolha pela compra dos -137 ex-VARIG, igualmente P&D. Notemos que converter um FB para P&D é relativamente simples e barato, só comprar e instalar os pods nas asas; já o oposto não é mole: inclui mudanças na cauda, instalação de equipamentos volumosos, caros e pesados, além de extenso treinamento aos Operadores. Considerando que os Boeings não eram KC-135 originais, já com o FB e bastando instalar os pods (ou até já vindo com eles), e sim aeronaves comerciais convertidas, claro que a FAB teria que escolher entre o caminho mais difícil e caro ou o mais simples e barato, e isso sem ter a menor ideia se um dia iria precisar de FB. E uma Força com orçamento eternamente restrito não se meteria a gastar com base em "vai que um dia a gente precisa disso"...
Assim, no primeiro FX foi oferecido um nebuloso F-16BR, que seria uma versão do block 50M52 customizada para a FAB. Alguma solução para o REVO por certo foi considerada, fosse a instalação de uma sonda, fosse enfiar um par de -135 no negócio (a flexibilidade proporcionada pelo FMS é quase uma
indecência ) mas talvez não levada a sério, pois na segunda rodada (FX-2) a FAB já não queria mais F-16
nem de graça.
Finalizando a parte sobre REVO, num País tão grande e com tão poucas aeronaves de combate, ou todas (as que podem, nunca vi fazer isso em Super Tucano) as que têm esta capacidade são todas compatíveis com o padrão adotado ou são pouco úteis, já que restritas pelo alcance. Uma alternativa barata, o
Buddy System, "come" uma estação na aeronave receptora e vários (potencialmente quase todos) na transmissora. Com o fato de para cada incursão de uma aeronave teria que decolar outra - e quase no seu limite de peso - para reabastecê-la, o barato sai caro...
Sempre vou estranhar essa charla de "se não fosse o Snowden", não vejo sustentação séria nisso. O caso do espião foi POLÍTICO, a escolha da COPAC foi TÉCNICA. Por exemplo, a FAB queria IRST orgânico, onde botar isso no F-18? Tem um Vulcan e seu tambor de munições no lugar, daí começam as escolhas: ou reposiciona (onde for colocado é combustível interno a menos), usa em pod (problemas de pontaria por distorções de montagem durante manobras) ou simplesmente fica sem (não-opção aqui); depois escolhe um IRST no mercado, instala e integra. Tudo isso não vai ajudar a baratear o preço final, pelo contrário, e quem pede paga. Lembrar ainda que IRST em pod (que é o que o F-18 pode usar) não é orgânico da aeronave. O WAD também seria problema com os ianques, que o cogitavam apenas para o F-35 e a FAB não arredava pé. Neste ponto me parece que as coisa estava entre o Rafale (Política, o que pode ser confirmado pelo "gópi do Lula", que tentou passar por cima de tudo na caradura e comprar direto do Françuá, sendo logo a seguir desmentido por seus próprios subordinados, incluindo o MinDef Jobim, francófilo de carteirinha) e o Gripen (Técnica, lembrar que desde o FX-1 o escolhido pela COPAC era o C/D), agora NG.
Ainda sobre a dimensão política (e aí entra o Snowden, não antes), quando a "marolinha" começou a virar TSUNAMI, houve uma claríssima tentativa de reaproximação com os EUA, que é um fenômeno que vemos hoje entre pais e filhos: x mimizentx fica xem $$$ e fax o quê? Xe lembrx que tem x cumpanhêrx Papai/Mamãe, aquelx BURGUEX FAXIXTX, mas tem que baixar a bola porque a coisa tá
feia ! Outro fator na equação era o "namoro" da EMBRAER com a BOEING, simpático tanto aos politiqueiros quanto às altas esferas da FAB, o que criou de fato um ambiente propício ao Super Hornet (e pelo menos sem a desvantagem técnica de não poder fazer REVO com o que já tínhamos, eis que é da USN/USMC, que também empregam P&D); já a COPAC manteve sua decisão com base no que lhe foi requisitado pela FAB, e aí retornam as incompatibilidades, como o citado IRST e dúvidas sobre
offsets e transferências de tecnologia.
Como subsídio, lembremos de outro
leak, este referente àquela, sei lá,
exótica reunião do Saito com o Embaixador dos EUA: basta ler o
cable para constatar que ele não está pedindo propina ou alguma outra vantagem indevida, ele pede é por subsídios e garantias TÉCNICAS para convencer não o GF (que compraria qualquer coisa por un$ apoiozinho$ no aperto que estava vindo) mas
a COPAC sobre a capacidade do F-18 de preencher todos os requisitos da FAB, da qual era Comandante mas não DONO. Esforço vão, claro, pois se o custo de botar o WAD no Gripen virou numa chiadeira das brabas, imaginem o de botar isso e mais coisa (IRST, EW Suite onboard, etc) no SH, ia ser a versão mais BAD ASS dele mas custaria bem mais que o Rafale. E com o risco de muitas das transferências não serem aceitas pelo Congresso dos EUA (aquilo de "multa de 6%" não foi exatamente
tranquilizador para ninguém) e, portanto, acabar tudo no véio "ora veja". A tigrada da COPAC não é exatamente composta por
amadores, tanto que deram chapéu até na Flygvapnet, que não conseguia ver vantagem no WAD...até conseguir, agora quer porque quer e pronto; deu-se bem a AEL, todo Gripen E vai ter conteúdo dela a bordo.
Por fim, essa charla de "nos convidaram para o F-35" está sendo
BEM superestimada: o "parceirão" dos EUA nisso é o UK, o resto é pouco mais que figurante. Esse convite era para termos as mesmas permissões que os brits? Brabo, e mesmo eles não cansam de choramingar sobre a quantidade de barreiras para mexer no
core da aeronave. Por fim, até os ianques sabem que não vai dar para substituir os
teen fighters pelo F-35, sempre vai ter missão para aeronaves de alto desempenho mas com custos bem menores. Deve ter um balaio de gente chorando por lá, dado não ter sido desenvolvido um financeiramente mais confortável 4,5 G como substituto para os caças mais antigos, ficando como LO, deixando os 5G como HI. A alternativa mesmo parece ser o Viper (USAF) e F-18E (USN/USMC) para as missões menos complexas, que poderão ser desempenhadas a um custo bem menor e com disponibilidade bem maior. Talvez apareça mesmo até um pequeno nicho para o Super Tucano nesse balaio de melancia.
É o que penso.