Trechos da sessão na CRE de Dezembro de 2014 (1 ano após a decisão) com o MD, Comandante FAB e da COPAC para falar sobre o GripenNG e o contrato. Eles resumem as intenções do FX2, reforça que a Embraer tinha preferência pela proposta do Gripen e há várias outras informações importantes. Retirado do Depto de Taquigrafia:
(...)
O SR. MINISTRO CELSO AMORIM:
(...)
Em 2013, eu, Ministro da Defesa, pedi à EMBRAER que reiterasse e
confirmasse a sua opção, o que foi feito, e então pus o meu de acordo no projeto da
SAAB/Gripen NG, e, com autorização da Presidenta Dilma Rousseff, anunciei, no
dia 18 de dezembro, que havia sido escolhido esse avião. Desde então, nós
dissemos que esse processo, até a assinatura do contrato, levaria entre 10 e 12
meses, que foi efetivamente o tempo necessário para fazê-lo. Relembro que na
época mencionei que os critérios eram basicamente três fatores que tinham que ser
combinados, de acordo inclusive com uma pontuação que foi feita pela Força Aérea,
critérios tinham que a ver com performance, transferência de tecnologia e custos de
aquisição e manutenção.
Repetindo algo que foi dito na época, os principais pontos fortes do projeto
Gripen, da SAAB, são: motor com menor custo operacional, reduzida a quantidade
de equipamento externo para apoio e mão de obra; menor impacto de implantação
na infraestrutura atual da FAB; potencial industrial da empresa; montagem sem
custo adicional no Brasil — refiro-me especificamente à montagem e à estrutura,
não a outros aspectos —; maior transferência de tecnologia em áreas sensíveis;
direito de compartilhamento da propriedade intelectual do projeto brasileiro; e
autonomia nacional para integração de novos sistemas. Enfim, esses são alguns dos
fatores; há outros ainda. Todos esses sistemas levaram à decisão de aquisição do
Gripen.
(...)
No início das conversações, chegou-se à conclusão de que era
necessário haver algumas modificações, que tinham a ver com o fato de o projeto ter
sido feito 5 anos antes.
Então, em alguns aspectos, havia, por exemplo, uma defasagem tecnológica
industrial. Eu confesso aos senhores que eu não tenho capacidade técnica de
descrevê-los, mas, por exemplo, em relação aos radares, em relação à tecnologia
que se havia desenvolvido, havia necessidade de melhorar o alcance de detecção,
de alvos de baixa, que eles chamam de Seção Reta Radar, etc. Havia também
obsolescência de alguns itens, como o sistema de guerra eletrônica, usado nas
versões anteriores do Gripen — era preciso que fosse um novo sistema — e
também a ideia de novos conceitos operacionais. Esses são, digamos, os novos
requisitos que se impuseram.
(...)
O outro aspecto, que também é preciso mencionar, é que não se trata aqui de uma
aquisição meramente operacional. “Olha, vamos comprar um avião para operar
amanhã. Vamos comprar o mais barato que existir no mercado.” Não é isso, nós não
só queremos um avião de qualidade, com performance, mas também que ajude no
desenvolvimento da indústria brasileira.
(...)
O SR. JOSÉ AUGUSTO CREPALDI AFFONSO:
Então, seguindo a cartilha da Estratégia Nacional de Defesa, o Projeto FX-2 tinha
duas vertentes, como eu disse, que tinham que ser balanceadas: o atendimento
técnico-operacional e o atendimento à indústria.
Desde o primeiro momento a gente tinha plena consciência de que se a
indústria nacional não fosse atendida nos seus anseios de dar um novo salto
tecnológico, como foi feito, em 1981, com o Projeto AMX, a gente não estaria
cumprindo a missão, não estaria garantindo o cumprimento de estratégia nacional
de defesa. Então, o que norteou a todo o momento o projeto foi isso.
Então, eu estava falando com o Brigadeiro Saito que a EMBRAER, hoje,
quando exporta um produto para um país, é demandada em offset. Não sei se os
senhores já sabiam disso. Por quê? O nível tecnológico da minha indústria me
coloca o quê? Em outro patamar. Quando a Mectron, a Aeroeletrônica, quando
essas indústrias são demandadas a exportar algum produto, elas estão sendo
demandadas em offset. E o que significa isso? Que a minha indústria já está num
patamar avançado no que se refere à capacidade tecnológica, ou seja, aquilo que a
gente chama de nível de maturidade tecnológica.
No caso do FX-2, o que fizemos para garantir? Como o Ministro disse que a
gente não teria projeto que não agregasse maior valor tecnológico, nós fomos às
nossas indústrias e perguntamos a elascionado, discutido e analisado pelas nossas indústrias. E com isso a gente tem
plena certeza de: “O que vocês precisam em termos de
tecnologia para galgar passos, no que se refere à maturidade tecnológica e produzir
um caça de quinta geração?”
Então, tudo que se refere à transferência de tecnologia no Projeto FX-2 foi
dire quê? Que o Projeto FX-2 está atendendo plenamente ao interesse
da indústria nacional. Isso é muito importante.
O que acontece com isso? Como eu disse, como não é um projeto de
prateleira — foi uma opção nossa —, isso agrega o quê? Pode agregar maiores
custos, maiores prazos e maiores riscos. Mas é justamente isso que faz a nossa
indústria crescer. Acho importante enfatizar isso.
...
Outra coisa que deve ser dita. No que diz respeito à estrutura industrial que o
Ministro Amorim colocou no que se refere a números de aviões produzidos, o que a
gente pode imaginar? Seria mais vantagem eu produzir 36 aviões no Brasil.
Esse é um desenho industrial da curva de aprendizado que nós discutimos
com as nossas indústrias e com a SAAB para poder o quê? Permitir que
treinássemos lá, fôssemos supervisionados lá e depois montássemos aqui. É o ciclo
de absorção do domínio tecnológico.
De novo, reforçando as palavras do Ministro: o projeto está plenamente de
acordo com o nosso pedido de oferta, com a legislação. A gente o coloca à
disposição, de novo, para os senhores, para qualquer tipo de análise.
E o mais importante é o cumprimento da missão da Força Aérea. Ao final,
quando, em 2021, essas aeronaves, nosso esquadrão estiver completo, teremos
plena certeza de que estaremos cumprindo nossa missão com aeronaves mais
modernas, e a nossa indústria será totalmente capaz de fabricar uma aeronave de
quinta geração e de manter esse avião no Brasil por 50 anos
(..)
O SR. JOSÉ AUGUSTO CREPALDI AFFONSO - É como eu falei para o
senhor. Por exemplo, o radar da aeronave. Nós tínhamos um radar de modelo
antigo. Quando a empresa nos apresentou a nova oferta, o radar era um novo, com
30% em termos de mais eficácia.
O SR. DEPUTADO EMANUEL FERNANDES - Isso é novo.
O SR. JOSÉ AUGUSTO CREPALDI AFFONSO - Não, o radar continua. O
equipamento era o radar, mas este radar era novo. Então, logicamente... Não era
um requisito novo, era um radar melhorado, e, logicamente, com um preço maior.
Então também está dentro desse valor.