Suecos admitem que caças que disputam licitação já sofreram três acidentes sem mortes
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
Representantes do governo da Suécia admitiram nesta quinta-feira que os aviões-caça Gripen, na disputa para serem adquiridos pelo Brasil, já sofreram três acidentes nos dez anos em que são fabricados pelo país --dois deles nos últimos quatro anos. O chefe da divisão de assuntos militares do Ministério da Defesa da Suécia, Mats Nilsson, disse que os três acidentes não tiveram relação com os motores das aeronaves.
"Operamos esse avião há mais de 10 anos. Só houve três acidentes, nenhum piloto faleceu, todos conseguiram ejetar com sucesso. O primeiro foi em 1999, quando o piloto fazia manobra de combate muito baixo. O segundo foi em 2005, no Oceano Índico, e conseguiu ejetar também facilmente. O terceiro foi em 2007, quando houve interferência entre a roupa anti-gravidade. Ele foi acidentalmente ejetado muito baixo, mas deu tudo certo. Isso já foi resolvido no avião", afirmou.
Há duas semanas, dois caça franceses Rafale, que estão na disputa com os suecos Gripen na venda para o Brasil, caíram sobre o Mar Mediterrâneo, provavelmente após colidirem no ar, segundo autoridades franceses. Somente um dos pilotos foi resgatado com segurança.
O ministro francês da Defesa, Hervé Morin, disse que, até o momento, "nenhum elemento é atribuído ao avião" na investigação sobre a queda
Nilsson saiu em defesa do modelo de caça fabricado pela Suécia que tem apenas um motor nas aeronaves. Segundo o militar, o voo com somente um motor aumenta a segurança por reduzir peso dos caças.
"É uma questão econômica. A tendência é mesmo ir para motor único. A segurança não é questão que se discuta. A situação de combate, a quantidade de motores não afeta o resultado. Agregar mais um motor no avião talvez você aumente em 20% a carga de peso e, além disso, combustível que tem que ser mais agregado. É mudança considerável", explicou.
O presidente da Saab, Ake Svensson, disse que os caça F-16 produzidos pelos Estados Unidos também têm motor único e são considerados os mais "famosos" do mundo. "Os americanos agora quando estão desenvolvendo sua aeronave mais recente também é de motor único. Eles são confiáveis e o preço é mais barato. O equilíbrio ideal está aí. Um motor é bem pesado. Se colocamos dois em uma aeronave, o tamanho também aumenta porque tem que carregar dois motores, fica mais pesado, e fica ainda maior", disse.
Além da França e da Suécia, os Estados Unidos também estão na corrida pela venda de aviões caça F-18 Super Hornet para o Brasil.
Tecnologia
Os representantes da Suécia participaram nesta quinta-feira de audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado para apresentar a proposta de venda dos caça ao Brasil. Na tentativa de convencer os senadores a defenderem a Suécia, Svensson disse que o compromisso do país não é apenas transferir tecnologia para o Brasil produzir suas futuras aeronaves --mas atuar em conjunto com a Embraer na sua fabricação.
"Acreditamos que vamos nos tornar dependentes da indústria brasileira. Não é que estamos transferindo tecnologia, queremos desenvolver em conjunto tecnologia. Isso é o mais importante do nosso produto. Vamos querer ir além da indústria bélica. E tecnologia que pode ser disseminada para outras áreas, como telefonia móvel, sistema de vigilância", afirmou.
O presidente da Saab disse acreditar que a Aeronáutica brasileira vai fazer uma escolha técnica sobre a aeronave que será vendida ao país.
"A nossa avaliação da Força Aérea no Brasil é completa, profissional. Oferecemos diferentes pacotes. Acreditamos que a avaliação da Aeronáutica brasileira vai formar uma boa base para decisão. É muito difícil fazer essas avaliações técnicas. Por isso a FAB tem grupo técnico para avaliar compra tão complexa que o Brasil tem que enfrentar."
Senadores da oposição criticaram o fato do governo brasileiro ter sinalizado a disposição em comprar os caça Rafale, da França, antes de analisar tecnicamente as propostas dos demais países. "A decisão cabe aos técnicos, que têm que decidir pela pranchetas, pelos números. Não em palácio, em convescote nenhum. Já basta Honduras. Não podemos mais errar em nossa política externa até de maneira deliberada", disse o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/bras ... 1830.shtml