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Re: VENEZUELA

Enviado: Ter Mai 29, 2018 1:08 am
por Sterrius
tgcastilho escreveu: Sáb Mai 26, 2018 6:56 pm
Sterrius escreveu: Sáb Mai 26, 2018 6:47 pm Colombia mesmo sob status de parceiro não recebe o beneficio da defesa automática sob agressão. (Nós sabemos que paises como os EUA e Holanda ajudariam por ter territorio por perto e interesse na região, mas isso é decisão individual deles e não da OTAN como instituição).
Racionalmente, com certeza que seria assim.

Mas a questão é que há muito que Maduro é um pain in the ass para muitos e como tal não tenho duvidas que grande parte da NATO participaria a missão. É tudo uma questão de saber vender a missão. E este estatuto ajuda a vender essa hipotética missão.

Cumprimentos.
Europa vc tem a Holanda com as ilhas holandesas, Inglaterra com a guiana e França com a Guiana. E esses interesses estão restritos a esses territórios.
Existe uma população espanhola mas ela é pequena, especialmente pq a espanha a anos mando todo mundo dar o fora.

EUA se preocupa com a "contaminação" da ideologia na America do sul, mas sob trump a Colômbia deixo de ser amigo e ela ta pisando em ovos até trump sair. (Trump chego a desdenhar da Colômbia e dos seus esforços anti-drogas).

Enquanto o desastre ficar limitado a Venezuela e refugiados nada realmente relevante geopoliticamente falando será feito.

Se Maduro se Aventurar os países vão auxiliar não por interesses na região mas para obter favores dos países realmente interessados. Ou seja, se ajudarem uma intervenção americana é para obter algo dos EUA ao invés de um interesse na Venezuela em si. Obvio que isso não os irá cegar para oportunidades que caiam no colo deles como contratos de negócios.


Mas geopoliticamente falando minha preocupação com a Otan na america do sul ta bem abaixo da lista de prioridades. De fato o maior problema da America do sul sempre foi e por muito tempo ainda será nós mesmos. Somos mais eficientes que qualquer tropa estrangeira em país vizinho.

Re: VENEZUELA

Enviado: Ter Mai 29, 2018 9:48 am
por FCarvalho
E notar que do ponto de vista militar, apesar de sermos um zero a esquerda em capacidade e operacionalidade, europeus com certeza se certificariam de não haver imbróglios conosco. Isso não significa tratar com a corja de ladrões em Brasília, mas diretamente com as ffaa's, que nestas horas caga e anda para qualquer governo instalado.
Há de se perguntar o que o cmdo das ffaa's pensa sobre a presença massiva de tropas da Otan bem na nossa fronteira. Mesmo que a título de resolver o problema venezuelano.

Abs

Re: UCRÂNIA

Enviado: Dom Jun 10, 2018 6:44 am
por Bourne
Túlio escreveu: Seg Mai 14, 2018 4:21 pm Tri essa, @Bourne, "não tem nada de estratégico": acaso as maiores reservas de petróleo e gás do mundo são irrelevantes, né cupincha? :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
Eu disse. Olha o que os chineses bonzinhos fizeram.
China fecha a torneira do crédito à Venezuela
No ano passado o país não recebeu recursos dos bancos institucionais chineses, que observam com preocupação a deterioração de sua crise econômica e política

A China interrompeu abruptamente a concessão de empréstimos à Venezuela, coincidindo com a deterioração da crise econômica e política do país latino-americano. Pela primeira vez em praticamente uma década, do ano passado até agora os bancos institucionais chineses não deram novos créditos a Caracas, um indicador que, de acordo com as fontes consultadas, responde à crescente preocupação do gigante asiático com a sustentabilidade de seus investimentos e a capacidade do Governo de Nicolás Maduro de devolver o que foi emprestado.

Por meio do China Development Bank (CDB) e do Eximbank, a China concedeu à Venezuela empréstimos no valor de 62,2 bilhões de dólares (aproximadamente 234,26 bilhões de reais) entre 2005 e 2016, de acordo com o relatório anual do centro de estudos Diálogo Interamericano, tornando-se o principal credor de um país que viu fechado seu acesso aos mercados financeiros internacionais. Caracas, que prometeu pagar os empréstimos em remessas de petróleo, encontrou sérias dificuldades para cumprir suas obrigações nos últimos anos diante da queda dos preços do petróleo e do declínio da produção de sua petrolífera estatal, a Petróleos de Venezuela (PDVSA).

Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da China afirma que a cooperação financeira entre os dois países “é completamente legal” e “funciona sem problemas”. No entanto, um alto funcionário do CDB, que preferiu manter o anonimato por causa da sensibilidade do assunto, afirmou a este jornal que “acompanhamos com preocupação tudo o que está acontecendo na Venezuela e estamos agindo de acordo com a situação”.

A entidade em que trabalha reduziu rapidamente sua exposição ao país: 5 bilhões de dólares emprestados em 2015, 2,2 bilhões de dólares em 2016 e zero em 2017. Tampouco foram divulgadas novas operações neste ano, mas os especialistas duvidam que existam. “Dificilmente será enviado mais dinheiro à Venezuela, a menos que as coisas mudem muito”, explica um gerente familiarizado com as operações do Fundo de Cooperação China-América Latina.

As dificuldades da Venezuela em pagar os empréstimos à China podem ser percebidas pela queda do valor do fornecimento de petróleo por parte da PDVSA ao país asiático: se em 2014 foram enviados a Pequim barris de petróleo no valor de 14,371 bilhões de dólares, em 2016 o número caiu para 5,803 bilhões de dólares, de acordo com dados da própria empresa.

A China, apesar do fato de que a crise na Venezuela ter começado muito antes de 2017, não deixou de conceder novos empréstimos à Venezuela até aquele ano. Margaret Myers, coautora do relatório do Diálogo Interamericano, explica que as autoridades chinesas “tinham alguma esperança de que, por meio de consultas com o Governo venezuelano ou financiando a produção de petróleo, poderiam ajudar a resolver a situação no país ou pelo menos manter o status quo. No entanto, não foi esse o caso. Desde 2016 e especialmente em 2017, perceberam que a melhor opção é simplesmente esperar e ver como a situação se resolve”.

Caracas tem empréstimos a reembolsar à China no valor de 19,3 bilhões de dólares. Pequim demonstrou flexibilidade com o Governo de Maduro e concedeu-lhe um período de carência de dois anos em 2016, no qual o isentou temporariamente de pagar o principal da dívida e exigiu apenas o pagamento de juros, um prazo que já expirou. O mais provável, segundo a agência Reuters, é que esse acordo seja estendido, o que daria algum oxigênio às autoridades venezuelanas. O CDB, o Eximbank e o Ministério das Relações Exteriores não quiseram dar sua versão sobre a renegociação ou extensão desse acordo, que deveria ser formalizado imediatamente.

“Eles não têm outra escolha”, diz Michael Pettis, professor de finanças da Universidade de Pequim e sócio da Fundação Carnegie, em referência ao papel de Pequim. “Você só pode fazer duas coisas se o seu credor não puder pagar: reestruturar a dívida ou anunciar sua inadimplência, e esta segunda opção é muito difícil de acontecer entre dois países”. Para o especialista, a única saída dada a atual situação é o perdão de parte da dívida, algo que a China não considera no momento porque implicaria o reconhecimento tácito de que parte de sua estratégia como investidor no estrangeiro resultou em fracasso. “[Pequim] vai tentar todas as alternativas possíveis até finalmente reconhecer que deve aceitar esse perdão”, diz Pettis.

No entanto, isso não significa que a China vá renunciar a tudo que foi investido na Venezuela na última década. Para Myers, embora as autoridades chinesas estejam cientes da deterioração da situação, farão todo o possível para manter a estrutura desses empréstimos e continuar com os contratos firmados. “O objetivo é manter intacta sua influência no setor petroleiro do país com quem estiver no poder nos próximos anos”, afirma.

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/0 ... 70906.html

Re: VENEZUELA

Enviado: Dom Jun 10, 2018 10:41 am
por Túlio
@Bourne, é uma versão requentada do que venho lendo desde o ano retrasado, que eu lembre. Aliás, se bem recordo, eu mesmo postei aqui a notícia de que a Vuvuzela já estava no SPC do mundo, incluindo China e Rússia.

É tudo uma questão de, vendo-se à beira da desgraça (que para gente assim não é o Povo desertando por causa da fome mas perder o poder), bastaria o Girafales dar uma relaxada (melhor, relativizar) naquela viagem de nacionalice e liberar alguns campos de petróleo para exploração exclusiva por parte dos citados Países. Ficaria melhor ainda se, como contrapartida, exigisse que as refinarias fossem construídas na Vuvuzela, aliviando o desemprego e, portanto, estabilizando aos poucos sua petroeconomia. Melhor ainda se ao menos parte da mão de obra envolvida na exploração e extração também fosse local, o que economicamente faz sentido e ajudaria ainda mais no rumo da estabilização.

Ou seja, há saída para La Revolución. O nó górdio é mais ou menos o mesmo que teria um novo governo do PT: dar um sussa na ladroagem, acostumada a enfiar a mão em todo o dinheiro que enxerga. Tipo mandar aprender a roubar com o PSDB/MDB, que deixavam uns farelos para a choldra...

Re: VENEZUELA

Enviado: Dom Jun 10, 2018 11:47 am
por Marechal-do-ar
Túlio, o Maduro já provou ser burro demais para conseguir sair dessa sinuca de bico, para a La Revolucíon se salvar vai ter que primeiro revolucionar o Maduro.

Re: VENEZUELA

Enviado: Dom Jun 10, 2018 11:55 am
por Túlio
Marechal-do-ar escreveu: Dom Jun 10, 2018 11:47 am Túlio, o Maduro já provou ser burro demais para conseguir sair dessa sinuca de bico, para a La Revolucíon se salvar vai ter que primeiro revolucionar o Maduro.
Mas é meu ponto, tempos desesperados exigem medidas desesperadas: tanto pode o Girafales abjurar de suas xenofóbicas nacionalices e ceder o suficiente para se manter agarrado na teta ou ser deposto por algum bovino mais pragmático, que faça exatamente o que falei. Não é possível que todo mundo lá seja tão BURRO que não consiga enxergar o óbvio, que é e sempre será entregar alguns anéis para poder salvar os dedos...

Re: VENEZUELA

Enviado: Dom Jun 10, 2018 2:12 pm
por Marechal-do-ar
Vai ver o Maduro é o único doido o bastante para aceitar ser presidente da Venezuela e por isso que ninguém mais o tira de la...

Re: VENEZUELA

Enviado: Seg Jun 11, 2018 12:51 pm
por gusmano
Marechal-do-ar escreveu: Dom Jun 10, 2018 2:12 pm Vai ver o Maduro é o único doido o bastante para aceitar ser presidente da Venezuela e por isso que ninguém mais o tira de la...
Ainda mais sabendo que para tirar o pais desse buraco, só mergulhando (ainda mais) em uma recessão.

Não tem solução fácil para a venezuela.

abs

Re: VENEZUELA

Enviado: Seg Jun 11, 2018 2:33 pm
por Bourne
O @Túlio quer ver uma articulação e visão que o Maduro nunca teve. Ou melhor, que a revolução bovina tenha uma visão maior do que chaves chegou a ter.

A Venezuela está em colapso. Quando fala as "instituições não funcionam" veja Venezuela. Não tem opção de por alguma coisa no lugar. Já começo a visualizar a situação de estado falido. Estilo do que se vê na África.

Re: VENEZUELA

Enviado: Seg Jun 11, 2018 5:15 pm
por Túlio
Bourne escreveu: Seg Jun 11, 2018 2:33 pm O Túlio quer ver uma articulação e visão que o Maduro nunca teve. Ou melhor, que a revolução bovina tenha uma visão maior do que chaves chegou a ter.

A Venezuela está em colapso. Quando fala as "instituições não funcionam" veja Venezuela. Não tem opção de por alguma coisa no lugar. Já começo a visualizar a situação de estado falido. Estilo do que se vê na África.
Eu não estou querendo nada, @Bourne, apenas disse que tempos desesperados exigem medidas desesperadas. É mentira isso? Que eu saiba não. Pior, quero mais é que os bovinos se ferrem legal.

O lance é outro: haja BURRICE para ter as maiores reservas de petróleo do mundo e ainda assim deixar o País inteiro fugir pro exterior só por uma "irrelevância" tipo passar fome, POWS!!!

Foi apenas a isso que me referi, o óbvio, não a "visões" & quetales... 8-]

Re: VENEZUELA

Enviado: Ter Jun 12, 2018 10:32 am
por Túlio
Venezuela: um pouquinho de coerência?


Falar de direitos humanos na Venezuela é um daqueles assuntos que me faz sentir solitário no Brasil atual. No discurso que predomina na esquerda, onde atua a maior parte das pessoas que lutam por uma sociedade livre, justa, diversa e inclusiva; o tema parece causar uma miopia coletiva. As secretarias internacionais do PT, PC do B e PSOL rasgam seda de amor acrítico pelos bolivarianos, quase como se desejando que tivéssemos lidado com os ‘nossos’ “golpistas” da mesma forma.

Já entre os críticos das arbitrariedades cometidas pelo governo venezuelano e a deterioração da crise econômica do país, acabo mal acompanhado por aqueles que apoiariam, por aqui, a mesma estirpe de medidas draconianas se fossem feitas contra militantes de esquerda. Num país embebido pelo discurso polarizado; aprendemos a ver nossos vizinhos por lentes vermelhas ou amarelas; numa dualidade de paraíso e inferno, que francamente não ajuda ninguém.

Já fiz, em um artigo publicado no Justificando, uma análise dessa névoa espessa que invade o discurso público. No mesmo artigo, trouxe uma perspectiva técnica de direitos humanos; citando os pareceres de respeitadas organizações de direitos humanos a nível global; e dos mecanismos internacionais de direitos humanos da ONU e da OEA. Não são acima de crítica, mas utilizam a metodologia internacionalmente reconhecida como melhores práticas para aferir a situação de direitos humanos de um país.

O artigo data de 18 de agosto de 2017, e já não reflete a situação corrente do país; que se deteriorou ainda mais. Com a vitória de Maduro nas eleições presidenciais do país; uma nova leva de fatos e denúncias sobre a legitimidade do pleito volta à evidência no imaginário nacional. Mais uma vez; falamos da ‘ditadura’ venezuelana, do perigo econômico do “comunismo” lá aplicado; e da falta de legitimidade do pleito; ora representado como fraudulento; ora como incontestável prova da pujança democrática do país e do amor inabalável do povo venezuelano por seu governante.

A primeira questão dissonante é que, na história dos pleitos ganhos pelos bolivarianos, o recente é o que menos pode contar com legitimidade democrática, ao menos pela perspectiva dos padrões internacionais do que se entende pelo termo. A mais contundente crítica veio da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que cita o país como faltando as condições mínimas para o pleito. O documento critica enquanto arbitrários os prazos e procedimentos expedidos pela controversa “Assembleia Constituinte”, e declara o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela como um órgão a qual “falta imparcialidade e objetividade” na aplicação da legislação eleitoral; citando influência indevida do governo em sua gestão, e decisões arbitrárias ou de exceção para beneficiar os bolivarianos em pleitos passados.

O mesmo relatório critica a “não-validação” de diversos partidos oposicionistas por motivos arbitrários, validando apenas 17 partidos (12 dos quais compõe a base do governo), comparado a 67 partidos na eleição de 2016. A Comissão também critica os critérios de desqualificação de candidatos; com prazos arbitrários estabelecidos para esse fim, que levou a um número recorde de candidatos declarados inelegíveis. Também criticam os prazos e falta de divulgação que impediram cerca de 1.9 milhões de venezuelanos jovens que estariam habilitados a votar, junto com a falta de sufrágio para o fluxo de venezuelanos que fugiram do país por questões de direitos humanos.

É importante, no contexto da esquerda brasileira, lembrar que o relatório de 2017, de tom semelhante, leva as assinaturas do Ex-Ministro Paulo Vannuchi, enquanto Comissionado; e do Ex-Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão; enquanto Secretário Executivo. Ambos são respeitadíssimos defensores de direitos humanos, e ocuparam pastas importantes nos governos Lula e Dilma. O órgão em si teve participação importante em vitórias de direitos humanos no contexto brasileiro; como o caso Maria da Penha – que deu origem à lei homônima – e os casos Ximenes Lopes e Gomes Lund. Nada deve ser lido acriticamente; mas dispensar como se fossem de “marionetes ianques” essas objeções, é falta de coerência intelectual.

Falemos também do contexto de direitos humanos na qual a eleição foi disputada. Já em 2017, houve crescentes pronunciamentos de experts independentes da ONU manifestando preocupação com a degradação da situação. Isso inclui uma manifestação conjunta de várias relatorias contra o uso de detenção sistemática de manifestantes e o uso crescente de tribunais militares para julgar civis. O relatório técnico apresentado pelo Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) documentou “extensas violações de direitos humanos pelas autoridades nacionais no contexto de manifestações”, categorizando como “sistemática” o uso de força excessiva e prisão arbitrária de manifestantes.

O relatório cita exemplos de uso de choques elétricos, espancamentos, posições de estresse, sufocamento, ameaças de violência sexual ou morte com a intenção de punir, humilhar ou aterrorizar os detentos, e também para extrair confissões e informação sobre atividades anti-governo. O ACNUDH também recebeu diversos relatos de violência e assédio à jornalistas pelas forças de segurança, e catalogou diversas instâncias onde os chamados “coletivos armados” pró-governo interviam em manifestações, atacavam manifestantes e invadiam as residências de opositores; muitas vezes com o consentimento e coordenação das autoridades e forças de segurança. O ACNUDH estima que esses coletivos são responsáveis por ao menos 27 mortes entre abril e julho de 2017. Nota também oito mortes de policiais causadas por manifestantes anti-governo.

O relatório deixa claro que a repressão de manifestações passa dos excessos pontuais das forças de segurança; mostrando intenção específica de dissuadir as manifestações, dando assim sinal de uma política sistemática de repressão. Isso pressupõe culpabilidade ou extrema omissão por parte do alto-escalão do governo. Não é questão de ter, como muitas vezes temos por aqui, uma polícia truculenta; mal-treinada, impune por seus excessos – é a repressão da dissidência, planejada e executada pelo governo enquanto política pública.

Já em Março de 2018, o Alto-Comissário Zeid Al-Hussein passou a recomendar a criação de uma Comissão de Inquérito pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, dizendo-se alarmado com a erosão de instituições democráticas no país. Ele chega a cogitar se as centenas de assassinatos extra-judiciais, prisões e tortura no contexto do conflito político atingem o nível de “crimes contra a humanidade”, previstos no estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI). A promotora do TPI, Fatou Bensouda, já inclusive instaurou inquérito preliminar para averiguar essa possibilidade, fazendo da Venezuela o primeiro país das Américas a ser investigado pelo órgão.

Tanto a OEA, a ONU e o Carter Center se negaram a enviar observadores internacionais para o pleito, citando falta de tempo hábil em vista do processo inusitadamente acelerado. A União Européia, o ACNUDH, e vários países da região se recusam a aceitar o resultado, que só contou com o reconhecimento significativo da Rússia e China, além dos aliados regionais Cuba, Nicarágua e Equador. Na falta dessa boa fé internacional; e na falta de mecanismos críveis de investigação internas de denúncias de fraudes; as acusações de compra de votos; mudanças arbitrárias de zonas eleitorais, e manipulação das urnas, não podem ser apuradas de forma crível.

Há muito o que se preocupar sobre a situação. Mas isso não quer dizer que nossos compatriotas de amarelo estejam certos quando vociferam contra o país. As mesmas fontes da ONU e OEA, por exemplo, criticam as sanções unilaterais impostas ao país pelos Estados Unidos; e repudiam veementemente qualquer tipo de intervenção militar externa utilizando o pretexto da crise política como estopim. Apesar de relatores da ONU darem o alarme sobre a deterioração das condições de vida causada pelo agravamento da situação econômica, ao menos um relator da ONU rejeita o uso do termo técnico ‘crise humanitária’ para descrever os problemas de suprimentos de certos setores. Ele explicita que tentativas de isolamento do país só acirrarão o problema; e sugere cooperação técnica internacional para ajudar a sanar os problemas.

Já passou da hora de abordarmos essa questão com mais coerência. A militância de esquerda pró-Venezuela, de um lado; e os comentaristas da Rede Globo, de outro; terão que adotar uma postura coerente – afinal, uma eleição é legítima quando um ou mais candidatos são proibidos de concorrer, após um processo criticado internacionalmente por não atender parâmetros mínimos de direitos humanos?

(Dica: a resposta deve ser aplicável em todos os países do mundo.*)

Não importa a ideologia – repressão sistemática de manifestações, julgamento de civis por tribunais militares, intimidação por milicianos; são coisas que deveríamos querer ver extirpadas do mundo. São hipócritas os que usam a Venezuela como isca para evitar discutir as questões de direitos humanos no Brasil, como se a comparação fosse apta. Porém, a hipocrisia de quem aceita o autoritarismo quando ele “vem pela esquerda” nada mais faz do que empoderar tal discurso. As vozes coerentes devem prevalecer.


Leonardo Nader é doutorando em Direitos Humanos e Política Global pela Scuola Superiore Sant’anna, em Pisa, na Itália. É mestre em Direito Internacional dos Direitos Humanos pela UPEACE e pela Universidade de Oxford.

http://justificando.cartacapital.com.br ... coerencia/


NOTA DO TÚLIO - Olhem a fuente, se esta não é isenta (nestes assuntos, claro), então não sei qual seria.

* - Óbvia puxada de brasa pro assado do Novo Cristo, mas eu mesmo já escrevi que deveriam deixar elle concorrer ou, em suas próprias palavras, "ser julgado pelo Povo nas urnas". A decepção ia ser grande, imaginem um candidato que, nos debates, responde apenas perguntas sobre seus crimes, tipo "o outro candidato promete que, se eleito, vai parar de roubar?" ou "pergunto ao outro candidato: foi bem tratado na prisão? Haveria melhoras que o senhor poderia sugerir para a sua próxima vez :twisted: ?" & quetales, seria melhor que qualquer sitcom. Pelo menos os citados debates mais o horário político da tevê iam ter graça (e com coadjuvantes excelentes, tipo o Bozonaro e o CangaCiro dizendo todo tipo de sandice), eu não ia perder por nada do mundo...

Re: VENEZUELA

Enviado: Ter Jun 12, 2018 11:47 am
por gusmano
Me parece um artigo extremamente lúcido, com exceção da "puxada de sardinha" pro lado do Lula ao "indicar" similaridade entre um processo (lula) a outro (oposição venezuelana..capriles entre outros). O processo do lula são outros 500, mas querendo ou não, seguiu todos o rito jurídico estabelecido no pais com um ou outro escorregão. Já na venezuela, não preciso nem comentar.

abs

Re: VENEZUELA

Enviado: Ter Jun 12, 2018 12:03 pm
por Túlio
gusmano escreveu: Ter Jun 12, 2018 11:47 am Me parece um artigo extremamente lúcido, com exceção da "puxada de sardinha" pro lado do Lula ao "indicar" similaridade entre um processo (lula) a outro (oposição venezuelana..capriles entre outros). O processo do lula são outros 500, mas querendo ou não, seguiu todos o rito jurídico estabelecido no pais com um ou outro escorregão. Já na venezuela, não preciso nem comentar.

abs
Índio véio, a intenção do autor é tão óbvia (notar, botou os parênteses separados do restante do texto) que só assinalei porque queria fazer o comentário pessoal que fiz. Qualquer eleição que for feita sem o Novo Cristo apenas legitimará o discurso de "martírio" e será fonte de novas e cada vez maiores instabilidades, ou alguém acha que algum dos auto-proclamados "candidatos" irá salvar a lavoura? Bozo, Loquita & Coroné só irão suscitar comentários tipo "até o Lulla-lau faria melhor, com roubalheira e tudo" e dificilmente chegarão ao fim de um só mandato (e isso se ganharem alguma coisa e até se tiver mesmo eleição em outubro).

Pior, será que nenhum dos DOIDOS que estão comandando o show se ligou que basta o Novo Cristo dar a caradura de morrer (lembremos, é véio, pinguço e até câncer já teve) em cativeiro para o Brasil, aí sim, pegar fogo? E com o resto do planeta jogando gasolina, só para ficar bem tri.

Nas buenas, cada vez entendo menos do que essa gente está brincando... [085] [085] [085] [085]

Re: VENEZUELA

Enviado: Ter Jun 12, 2018 12:45 pm
por Marechal-do-ar
Obrigado por nos trazer esse texto Túlio, há muito procurava por algo que não fosse uma crítica (ou apoio) superficial à eleição venezuelana.

Re: VENEZUELA

Enviado: Ter Jun 12, 2018 1:06 pm
por Bourne
Essa esquerda bundinha da zona sul do Rio. Ouve um grito que saem correndo para postar textão no facebook pelo iPhone. Vi um esses dias justificando a lisura da eleição venezuelana com argumento de que a participação eleitoral foi similar de outras democracias. É a ginástica argumentativa. Dou desconto porque tá velhinho. Pode ter sido afetado pela idade avançada. E digo mais, o PSOL está cheio de anti-judeus. Até os judeus do PSOL reclamam.

Aí é forçar a barra na comparação entre Brasil e Venezuela. O Brasil tem instituições que sustentam o estado, especialmente judiciário e militar. Além de conseguir articular e organizar as elites para que não se matem, incluindo cooptar os sindicados e trabalhadores para apoiarem o mesmo projeto. O Brasil um "grande líder" não derruba. É mais fácil cair antes. Duvidam? Cadê o capitão bonitão tentando libertar o Lula ou bombardeando o STF? Ou o sangue e prisões que Gleisi prometeu? Quantos morreram para evitar a prisão do nosso líder? Não aconteceu nada. Faz dois meses que está preso e nem o MST progressista aguentou o inverno.

Ainda verão que Lula estará na urna eletrônica. Ainda vai fazer campanha na cadeia. Só lá no fim que o STF diz que não pode e sobe o vice desconhecido para validar os votos.