Só que o partido do apagão de luz e de água é muito mais corrupto e faz muito menos pelo Brasil.
------------------------------------
Relatora da ONU rebate Alckmin e mantém críticas ao governo por crise hídrica em SP
Catarina de Albuquerque diz que, de forma geral, falta de água generalizada podem ser evitadas com planejamento
POR TIAGO DANTAS
22/10/2014 17:06 / ATUALIZADO 22/10/2014 18:52
Represa Jaguari, em Joanopolis, no interior de São Paulo, forma o sistema Cantareira e está com nível baixo - Fernando Donasci / Agência O Globo
SÃO PAULO - O governo de São Paulo enviou duas cartas à ONU para reclamar de críticas feitas pela relatora especial para água e saneamento, Catarina de Albuquerque, sobre a forma como a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) está lidando com a crise hídrica. Em entrevista concedida ao GLOBO nesta quarta-feira, Catarina rebateu as cartas, negou que suas críticas teriam o “propósito de inflamar a campanha eleitoral”, como escreveu Alckmin, e disse que mantém o que havia falado em agosto, durante visita não-oficial ao Brasil. Na ocasião, ela afirmou que o governo paulista deveria ter combatido o desperdício de água.
VEJA TAMBÉM
Em vídeo, Alckmin diz que há ‘proveito político’ de crise hídrica
Ministro do TCU quer auditoria em órgãos da União por conta da falta de água em três estados
Ex-secretário de Alckmin diz que presidente da ANA é ‘vagabundo’
Presidente da ANA diz que se não chover, Sabesp vai tirar água do lodo
— A seca obviamente tem a ver com as alterações climáticas e, às vezes, a gravidade das secas está fora do nosso controle — declarou Catarina ao GLOBO. — Mas há uma parte que é previsível. É por isso que, numa perspectiva dos direitos humanos, aquilo que digo para todos os governos é: “planejem, adotem medidas, preparem-se”. E isso aplica-se tanto ao caso de São Paulo quanto a de outros países do mundo. E acho que isso é bastante razoável.
Em 31 de agosto, o secretário-chefe da Casa Civil do governo paulista, Saulo de Castro Abreu Filho, enviou uma carta a Zeid Ra’ad Al Hussein, alto comissário da ONU para direitos humanos, pedindo que a organização corrigisse informações dadas por Catarina em uma entrevista publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo” naquele mesmo dia. O secretário argumentou que a taxa de desperdício de água nos municípios atendidos pela Sabesp é de 19,8% — e que sobe a 31,2% se forem levadas em conta as ligações irregulares. Na entrevista, era citado um índice de 40% de desperdício. Segundo a relatora da ONU, esse número se refere a uma taxa nacional de desperdício de água nas tubulações.
A segunda carta, assinada por Alckmin, foi enviada para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em 9 de setembro. Mais longa que o texto de Saulo, a mensagem dizia que Catarina “não tomou a iniciativa de se encontrar com representantes do governo estadual”, “fez as declarações apenas algumas semanas antes das eleições estaduais com o objetivo de inflamar a campanha eleitoral e, portanto, forçou a ONU a tomar uma posição política” e “incorreu em erros inaceitáveis”. Alckmin termina a carta dizendo que se uma correção não for feita, ele não terá certeza sobre a capacidade da ONU em organizar a Cúpula do Clima, que aconteceu em 23 de setembro em Nova York.
— Meu interesse é só um: promover a realização do direito humano a água e saneamento no mundo inteiro. E eu trabalho com todos os governos — disse Catarina, nesta quarta. — Uma das características que tenho é falar com toda a gente e ouvir toda a gente, indiferente de política do governo A, B ou C. Isso é indiferente para mim. Obviamente tenho zero interesse de influenciar o que for de eleições. Nunca fiz isso.
A relatora da ONU afirmou que viajou ao Brasil no fim de agosto para participar de palestras na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a convite de amigos professores. Ainda segundo Catarina, ela pagou as passagens de avião e participou de um terceiro evento: uma conferência sobre a crise em Campinas, no interior de São Paulo. O governo paulista disse que este último evento, realizado em 25 de agosto, foi organizado por um militante do PT. Catarina afirmou, porém, que desconhece o fato e que respondeu a convite feito pela companhia de saneamento do município, a Sanasa.
— Estive nos últimos três dias em Detroit, nos Estados Unidos (onde 50 mil famílias tiveram o abastecimento de água cortado porque não têm dinheiro para pagar as contas). O governo de Detroit é de esquerda, e estive criticando o governo. Critiquei também o governo da presidente Dilma (Rousseff, do PT) quando fiz meu relatório (sobre água e saneamento no Brasil, apresentado em junho). Você acha que me preocupo se critico A, B ou C? Não me interessa. Olho para situações. Se acho que podem melhorar, eu digo. Ponto final.
GOVERNO DIZ QUE NÃO ATACOU ONU
Em nota, o governo do estado afirmou que Alckmin “nunca ‘atacou’ a ONU”. Diz o texto: “o governador apenas aproveitou a oportunidade para indagar se a funcionária da organização, ao comentar a crise hídrica, falava em nome próprio ou em nome das Nações Unidas. O questionamento, ainda não foi respondido, decorre do fato de que vários veículos de comunicação descreveram as declarações da funcionária como sendo posição da ONU.” Ban Ki-moon deve responder a carta de Alckmin. Segundo a ONU, a posição da relatora especial não representa necessariamente a das Nações Unidas.
— Posso emitir meus juízos, minhas opiniões autonomamente, de forma independente. São essas as regras do jogo — disse Catarina, que continuou: — Agora não vou falar mais (sobre a situação de São Paulo). Tudo o que disse em agosto, mantenho: tem que se planejar, tem que se dar prioridade aos usos pessoais e domésticos da água, e não a indústrias e agricultura. Não quero colocar mais lenha na fogueira. O que disse, está dito. Não retiro nada.
Portuguesa, Catarina cumpre o mandato de relatora especial da ONU há seis anos. Nesse meio tempo, participou de 15 missões oficiais, uma delas ao Brasil, em dezembro do ano passado.
FALTA D’ÁGUA APÓS ELEIÇÃO
Moradores da capital paulista reclamam que começaram a notar falta d’água em suas casas após o primeiro turno das eleições. A porcentagem de pessoas que admitem ter ficado sem água pelo menos um dia subiu de 46%, em 13 de agosto, para 60%, em 17 de outubro, segundo pesquisa Datafolha divulgada segunda-feira. Os casos de desabastecimento que duram mais de cinco dias subiram de 28% para 38%.
No Parque dos Príncipes, na Zona Oeste de São Paulo, moradores dizem que ficaram sem água por nove dias, entre 7 e 15 de outubro. Depois disso, o abastecimento ficou irregular, segundo a empresária Cristina Correia, de 31 anos. No bairro, algumas pessoas compraram caminhão-pipa, enquanto outras usaram a água da piscina para atividades de limpeza:
— Semana passada estava vendo com um vizinho a possibilidade de comprar um caminhão-pipa para encher a caixa d’água. Tenho duas crianças em casa. Tivemos que economizar muito para passar esses dias todos sem água. Antes da eleição, isso ainda não tinha acontecido.Não tínhamos ficado nem um dia sem água.
A partir de setembro, a Sabesp, companhia de abastecimento de água, tem intensificado manobras para reduzir a pressão da água, segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Sabesp, Antônio da Silva. De acordo com ele, ao reduzir a pressão da água, a companhia reduz os vazamento, mas também dificulta a chegada da água em pontos mais altos. Quando a pressão volta ao normal, ainda leva um tempo para o sistema se regularizar.
— Para o sindicato, isso é um rodízio disfarçado. Não teria problema se avisassem a população sobre o que está acontecendo. Se as pessoas soubesse que no bairro delas a pressão da água vai cair, iriam se programar, economizar — diz Antônio. — Estou preocupado com esse verão: como vai ser o abastecimento das cidades que dependem do turismo, das empresas?
Nesta quarta-feira, o sistema Cantareira, responsável por abastecer a maior parte da Grande São Paulo, atingiu 3,2%.
Read more:
http://oglobo.globo.com/brasil/relatora ... z3IlVs0PuL